sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

PASSAGENS DE ANO DA MINHA INFÂNCIA




Confesso que não recordo nada de especial das passagens de ano da minha infância e juventude. A vida de há 60 anos nada tinha a ver com o consumismo dos tempos atuais. Havia pouco dinheiro no bolso do comum dos mortais e mesmo os mais abastados eram poupados. Talvez por serem, normalmente, de origem humilde. De modo que as festas que implicassem gastos um pouco mais elevados não gozavam da sua preferência.
Recordo que a chamada ceia do Natal, essa sim, era sentida pelas famílias como algo de especial, não faltando, por isso, o bacalhau com todos e os tradicionais bilharacos e rabanadas, de mistura com nozes, figos passados e um ou outro doce fora do usual. A ceia tinha sempre como condimento obrigatório e esperado a conversa sobre as prendas do Menino Jesus, nanja do Pai Natal, figura que não encaixava nas famílias católicas, que eram, nas Gafanhas, a maioria, quando surgiu, muito depois, por interesses comerciais, como é sabido.
Lembro que a revelação do segredo, de que o Menino não podia distribuir tanta prenda, era feita paulatinamente, sem dramas. Estou a ouvir a minha saudosa mãe a explicar, sorridente, enquanto mexia a massa de abóbora com ovos, farinha, açúcar e canela (não sei se está tudo), que o Menino Jesus, afinal, não podia distribuir os presentes, mas, mais do que isso, dava saúde ao nosso pai, que andava sobre as águas do mar, para ele ganhar dinheiro para prendas e para tudo o que fosse preciso.
Ora, na passagem do ano, uma semana depois, repetia-se a ceia do Natal. E era também nessa altura que surgiam mais uns presentinhos, para alegrar alguns descontente com o que recebeu no dia de ceia
Já rapaz, nunca saí de casa para festejar o Ano Novo. E quando adulto ousei experimentar foi noite estragada. Nunca gostei de barafundas. Só com a família, na traquilidade da minha casa, é que estou bem. E cada um que seja feliz à sua maneira. São o meus votos muito sinceros.
Bom ano para todos.
Fernando Martins

sábado, 24 de dezembro de 2011

Recordações da guerra colonial


MÃE, SIMPLESMENTE MÃE
Ângelo Ribau Teixeira

Ela era a mãe de um simples soldado. Vivia na sua terra, só, pois o marido tinha falecido havia uns tempos. Era pescador numa traineira da pesca da sardinha. Um dia, ao entrar na barra, a traineira bateu contra o molhe e afundou-se, tendo falecido grande parte da tripulação. O intenso nevoeiro que se fazia sentir,  a falta de radar que, naquela altura, ainda não estava instalado na embarcação, bem como o facto de a pesca ter sido muito boa, com sardinha da proa à ré, "pesada",  como se dizia da gíria,  terão contribuído para o desastre.
Recebi a notícia por um jornal que vinha a embrulhar uma encomenda de um companheiro de guerras.
Conhecia a maior parte dos tripulantes, alguns meus colegas de escola, outros desconhecidos e pessoas mais velhas, onde reconheci o pai do tal soldado, que se encontrava no Leste de Angola. Perguntei à minha mulher como tinha reagido aquela mãe, viúva e com o filho longe… sem mais ninguém…
— Mal, muito mal; Anda aí pela rua gritando, respondeu.
E acrescentou:
— O mar levou-me o marido; os “outros”, o meu filho. Malvados!
Era mais uma mãe. Simplesmente uma mãe só no mundo. Como tantas naquele tempo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

ESTÓRIA DE BONS MALANDROS

O QUE TEM DE SER TEM MUITA FORÇA! ​
Pois é, já que estamos em tempo de confissões, passo a responder ao meu querido amigo Prof. Manuel Olívio: a história repete-se! Na passagem de Ano de 1967, salvo o erro, alguém disse: “E se fôssemos ao mercado deitar abaixo as letras que dizem Ílhavo?”
“Não foi precisa discussão prévia: todos de acordo; sim que já era tempo de esses tipos aprenderem que o mercado é da GAFANHA! Pois claro, etc. e tal”. Previmos que o barulho das milhentas badaladas que o relógio da igreja dava à meia noite, acrescido do ribombar dos foguetes, mai-las sirenes dos barcos ecoando festivamente, abafariam o barulho que tínhamos que fazer para deitar as letras abaixo. Mas enganámo-nos. O problema não surgiu do barulho que fizemos! Mas é melhor contar o que então se passou.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Salgado Aveirense em decadência




João Magueta, um marnoto 
com saudades da safra do sal 


João Gandarinho Magueta,77 anos, sete filhos e dez netos, sente-se honrado por ter sido marnoto durante 30 safras. Ostenta, por isso, na parte exterior da sua casa, um painel cerâmico alusivo à sua vida nas salinas. E fala, a talho de foice, da vida dura que levou. Chegou a ser convidado por alunos da Universidade de Aveiro para explicar, em plena marinha, as várias fases da produção do sal. Também guarda, como boas recordações desses tempos, fotografias em plena faina. E continua com saudades dos trabalhos nas salinas. Tem muita pena de ver a situação do Salgado Aveirense em completa decadência. 

João Magueta mostra que a arte de produzir sal lhe está no sangue. Começou cedo, aos 11 anos, como moço do próprio pai, marnoto, natural da Gafanha da Encarnação, mas radicado na Gafanha da Nazaré depois do casamento. O João não andou na escola, mas aprendeu a ler e a fazer contas com o pai, que, seguindo hábitos familiares, ensinou os filhos. Exceto o mais novo, que já apanhou a lei da obrigatoriedade escolar. O exame da 4.ª classe veio mais tarde, por exigência de uma fábrica de cerâmica, em Aveiro, onde trabalhava depois das labutas na marinha. Foi preparado, já adulto, para esse exame pelo professor Ramos. 
Para além das tarefas de moço e marnoto, o João trabalhava no inverno onde era possível, como nas secas e até, mais tarde, como cobrador da Auto Viação Aveirense. 
Curiosamente, o seu avô, Manuel Magueta, mestre-escola e lavrador, ensinava, aos sábados e domingos e à semana quando chovia, na Gafanha da Encarnação quem gostasse de aprender a ler, a escrever e a fazer contas. Como era tradição, os alunos contribuíam, por ano, com alguns produtos agrícolas, pois que o dinheiro era escasso. 
João Magueta começou como moço, tendo ganho, no primeiro ano, de abril a setembro, 300 escudos, e recorda, com natural nostalgia, o contato com a água salgada sobre a qual incidia o sol forte, provocando, lentamente, a cristalização do sal. 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

RUA MESTRE MÓNICA




UM GAFANHÃO QUE PROJETOU A NOSSA TERRA
Não há dúvida de que o Mestre Manuel Maria Bolais Mónica projetou a nossa terra muito para além das fronteiras portuguesas. Construtor Naval desde muito novo, cuja arte aprendeu de seu pai José Maria Bolais Mónica, mal nasceu, em 11 de Julho de 1889, em Ílhavo, radicou-se na Gafanha da Nazaré. Precisamente no ano em que veio ao mundo, seu pai transferiu o estaleiro que possuída na sede do concelho para a Cale da Vila.
Disse que projetou a nossa terra para além das fronteiras portuguesas porque os navios que construiu, de linhas únicas, harmoniosas e belas, navegaram por mares muito ou pouco conhecidos, exibindo, com galhardia, a sensibilidade e a arte do Mestre Mónica.
O seu estaleiro foi, sem dúvida, uma escola da arte de manejar o machado e a enxó, oferendo ao país mestres qualificados, oriundos de vários cantos de Portugal, de alguma forma ligados às madeiras.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

GAFANHÕES NA PRIMEIRA GRANDE GUERRA DE 14-18




O Rubem da Rocha Garrelhas teve a gentileza, que agradeço, de me enviar a foto do seu avô materno, José Estanqueiro da Rocha, que participou na primeira Grande Guerra de 1914-1918, e que eu conheci pessoalmente. Tratava-se de um meu vizinho e parente, embora afastado, como o atesta o apelido Rocha. Haverá mais fotos de outros gafanhões, porventura guardadas nas arcas, que também participaram nessa guerra e que eu gostaria de recolher para memória futura. Fico à espera que mas enviem.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Aveirenses Ilustres: Marnotos da Ria de Aveiro

23 de Novembro de 2011 
Auditório do Museu da Cidade de Aveiro18.30 horas

Marnoto


«Marnotos da Ria de Aveiro: Homens robustos e tisnados, que trabalhavam normalmente, de sol a sol, de Fevereiro a Setembro, nas marinhas de sal. Numa mão traziam o ancinho, noutra o ugalho da lama ou o rapão do sal. Carregavam pesadas canastras cheiinhas de sal das salinas para as eiras e destas para os barcos saleiros. Tanto podiam ser cagaréus, como oriundos de localidades como a Gafanha da Nazaré, Mira, Aradas ou mesmo, Trás-os-Montes. Na sua maioria eram homens de fora do concelho, vinham para a marinha à segunda-feira e só regressavam a casa à sexta-feira. Dormiam no chão de feno ou de junco, ou numa caminha de madeira, no palheiro, onde também comiam o parco comer das provisões acarretadas. 
No século XIX, o operário salícola trajava manaia (espécie de calção) e camisa branca em linho ou tecido cru, sem colarinho e sem punhos; faixa preta ou encarnada; barrete de fazenda de lã ou chapéu preto de aba larga e lenço vermelho de algodão estampado.» 

Fonte: Boletim Municipal / Cultura e Património, ed. CMA, Dez. 1997, p. 48.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Gafanha da Nazaré: Rua Sacadura Cabral





Sacadura Cabral, um herói 
da Aviação Naval Portuguesa

A Rua Sacadura Cabral estende-se desde o Cruzeiro até à Av. José Estêvão, serpenteando em todo o seu traçado. Recebe, ao longo do seu percurso, diversas ruas e outros acessos, apresentando-se alcatroada. Antes desse melhoramento, foi ensaibrada, sucedendo a caminhos de terra batida, antigos, que justificam o seu atual piso, pouco alinhado.
Esta rua é uma homenagem ao piloto aviador do mesmo nome, colega de Gago Coutinho na histórica travessia aérea de Lisboa ao Rio de Janeiro, em 1922. Sacadura Cabral como piloto e Gago Coutinho como navegador constituíram, assim, uma dupla de renome mundial, na época, sendo certo que ainda nos nossos dias tal feito ocupa um lugar de mérito.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Seminário de Santa Joana Princesa - 2


Cortejo a favor do Seminário de Aveiro 

Seminário de Santa Joana Princesa

Das minhas memórias, recordo que participei num cortejo 
de oferendas a favor do Seminário, com o envolvimento 
de dezenas de paróquias da diocese. 
Foi isto em 30 de Junho de 1946

«Após o meio-dia toda a cidade [Aveiro] se animou com um grandioso cortejo de oferendas a favor da construção do Seminário de Santa Joana. As dezenas de paróquias da Diocese vieram com suas representações características, com seus ranchos folclóricos e com os seus donativos generosos. As ruas encheram-se dos mais variados cantos alegres e populares, dos sonoros acordes de diversas filarmónicas e da beleza dos carros alegóricos e garridos. Além do valor material que significou esta magnífica jornada de caridade, o cortejo constituiu mais um elemento a unir as terras do Bispado à volta do mesmo centro espiritual, fixado em Aveiro.» LVST 
Integrei o cortejo, a que se associaram empresas e católicos da nossa terra, com carros enfeitados e carregados de presentes, os mais diversos, desde géneros alimentícios, incluindo bacalhau, até materiais de construção e madeiras dos estaleiros. 
As pessoas partiam em grupo dos seus lugares rumo à concentração, junto à ponte de madeira que nos ligava a Aveiro. E assim seguimos a pé até ao destino. 
A minha memória diz-me ainda que as nossas ofertas mais miúdas foram depositadas nas barracas da Feira de Março, ainda não desmontadas. 
O que levava numa saca, que depois passou para um carro de vacas, já se me varreu da memória. Milho? Feijão? Não sei. Só sei que voltei a pegar nela, no Rossio, para a entregar numa barraca. Aí, o seu conteúdo passou para uma caixa e voltei satisfeito com a saca na mão para casa.

Fernando Martins,
no livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

NOTA: LVST - "Lima Vidal e o seu Tempo", de João Gonçalves Gaspar

Seminário de Santa Joana Princesa - 1



«Muitas coisas, quando se fizer a história do seminário, 
se as quiserem saber, têm que ir à minha campa 
e perguntar por elas às minhas cinzas 
que ainda por lá estiverem.» 

Lima Vidal, 
CV de 14-02 de 1950, (DA) 

Com a restauração da Diocese de Aveiro, concretizada em 11 de Dezembro de 1938, pela aplicação da Bula Omnium Ecclesiarum, D. João Evangelista de Lima Vidal tinha em mente já o sonho da abertura de um Seminário Diocesano. Porque «Uma Diocese sem seminário é como se fora um corpo sem alma. Nem teria mesmo a aparência duma máquina que se move com a pouca corda que se lhe dá» (DA), disse o primeiro Bispo da Diocese reconstituída, numa altura em que desejava, quanto antes, passar do sonho à realidade.
E se era importante e até fundamental o seminário para a formação dos futuros padres, não deixaria de o ser menos um edifício próprio, com espírito novo.
Trabalhos complexos foram necessários, até poder abrir as suas portas aos candidatos ao sacerdócio.
Depois de passar por alguns edifícios, provisoriamente, porque a vontade de D. João era levantar um seminário de raiz, a construção do actual edifício do Seminário de Santa Joana Princesa avançou poucas semanas depois do concurso das fundações, que ocorreu em 23 de Março de 1945, sob a direcção da Comissão Comercial, da qual fazia parte um gafanhão, Benjamim Fidalgo, que aqui registo para memória futura. DA
Antes, porém, da construção do Seminário de Santa Joana Princesa, iniciaram-se obras noutra zona de Aveiro, que foram interrompidas, a favor do aproveitamento do barro ali existente, necessário à indústria cerâmica. E aqui surge um gafanhão, muito rico, o Dr. José Maria da Silva, ex-padre e depois professor de Liceus. Dispunha-se ele a construir, sozinho, o seminário. DA

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Dia de S. Martinho — 11 de novembro




Bom Dia de S. Martinho para todos 

Como manda a tradição, celebra-se hoje o Dia de S. Martinho. Se a nossa região fosse terra de vinhos, teríamos de provar o vinho novo com as castanhas. Assim, limitar-nos-emos a beber um vinho qualquer, ao gosto de cada um, ou a também tradicional jeropiga. Vou pelo que estiver à mão.
Que me lembre, as castanhas numa foram a base da alimentação das nossas gentes, o que acontece mais nas terras de muitas e boas castanhas. Neste caso, é sabido que as castanhas serviam para confecionar boas e substanciais sopas, alguns doces e até para acompanhar carne assada. Garanto que as castanhas são um excelente complemento.
Por cá, pelas nossas terras, opta-se pelas castanhas assadas. Antigamente em caçarolas de barro, com buracos, e temperadas com sal grosso. Eram saborosas, sim senhor. Mas nada que se compare às que comprávamos nas pontes, o olho da cidade, em Aveiro. Vinham embrulhadas em papel de jornal e em folhas das listas telefónicas já retiradas de uso. Sabiam muito bem. Uma dúzia de apetitosas castanhas, de casca esbranquiçada, pelo fogo e talvez pelo sal, descontando umas tantas pobres que vinham sempre na rede das mãos dos vendedores, eram delícias que nos enriqueciam o paladar, para além de nos aquecerem um pouco o corpo e a alma.
Agora, são, normalmente, assadas num qualquer fogão a gás ou elétrico, mas que não é a mesma coisa, lá isso não é. Garanto-vos. Nem as cozidas me sabem tão bem como as assadas. Gostos temperados noutros tempos, por certo.
Bom dia de S. Martinho para todos.

FM

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

O GATA SEMPRE VAI RENASCER?




O GATA (Grupo Activo de Teatro Amador) foi fundado em 27 de Setembro de 1973 e os ensaios decorriam no edifício da Casa do Povo, na Chave, cujo presidente era o Dr. Humberto Rocha. A primeira peça a subir ao palco, no salão paroquial da Gafanha da Nazaré, foi “O Mar”, de Miguel Torga, no dia 13 de Julho de 1974, «perante 800 espectadores, num espaço calculado para 400 pessoas sentadas», como se lê no jornal Timoneiro desse mês e ano. 
É justo lembrar alguns nomes desse memorável espectáculo:
Artistas: Eva Gonçalves, Fátima Ramos, Irene Ribau, Eduarda Fernandes, Fátima Gonçalves, Dinis Ramos, José Alberto, Carlos Margaça, Horácio Bola, Carlos Bola, Herlander Loureiro, Alberto Margaça e Silvério Marçal.
Ensaiador, Augusto Fernandes; Encenador e Sonoplasta, Humberto Rocha; Luminotécnico, Eduardo Teixeira; e Contra-regra, Luís Miguel.
Outras peças se sucederam e novos espectáculos surgiram, quer na Gafanha da Nazaré, quer noutras terras do país, numa permuta saudável com vários grupos de teatro.

NOTAS: 

1. Ao abordar este assunto, não posso deixar de manifestar a minha tristeza ao verificar que o Teatro, para além do GATA, nunca conseguiu impor-se entre o nosso povo. As diversas manifestações teatrais, esporadicamente levadas a palco, não passaram disso mesmo.
Há décadas, muitos jovens mostraram à saciedade que tinham jeito e talento, mas nunca conseguiram dar o salto para voos mais altos.
Presentemente, com as condições de que dispõe a Gafanha da Nazaré, seria óptimo que os mais entusiastas pela arte de Talma se congregassem para ressuscitar o GATA ou para avançar com outro projecto, quiçá diferente, alimentado para outros sonhos.


2. Evoco hoje com estas simples linhas a necessidade de acordar a nossa juventude, de todas as idades, para esta vertente da arte. Consta-me que a ADIG já pensou nisso e que até já trocou impressões com Humberto Rocha, um gafanhão muito dado a iniciativas que mexam com as pessoas. Gostaria de o ver a recomeçar o teatro entre nós, fazendo ressuscitar o GATA que ele próprio ergue há anos. Se ele quiser, a aposta terá garantias de sucesso.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Agosto, mês de inverno para as marinhas


Ponte da Cambeia, Portas d'Água e Jardim ao fundo

Recordações da minha juventude

Estávamos em Agosto. Era o primeiro mês de “Inverno” para as marinhas (palavra de marnoto), dado que começavam os primeiros nevoeiros e a produção de sal diminuía a olhos vistos!
— Hoje trouxe uns sacos para levar sal para casa, diz o marnoto. Quando chegar o Inverno tenho de ter sal para salgar o porco, quando for a matadela. Logo não vamos para o Egas. Vamos para a Cambeia, que tenho lá a minha mulher à espera com o carro dos bois.
E assim foi. Terminados os trabalhos do dia, foram enchidos os sacos e transportados em padiola para a bateira.
Depois de arrumadas as alfaias no palheiro, fechado este e arrumadas as chaves num buraco de ratas, demos início ao regresso a casa. O vento era fraco, mas mesmo assim içámos a vela, e lá viemos, desta vez em direcção ao Esteiro Oudinot, por onde chegaríamos à Cambeia. Mais adiante, no Jardim do Oudinot, as árvores, que eram altas, impediam o vento de chegar à vela, pelo que a solução era os moços saltarem para terra e com uma corda (a cirga), puxarem eles a bateira pelo Esteiro fora, que tinha cerca de dois quilómetros de comprimento, enquanto iam conversando.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Escola de outros tempos


Subsídios para a história da Gafanha



(Clicar nas imagens para ampliar)


Quando se recorda a escola de antigamente, não faltam críticas à actual. Naquele tempo é que era, dizem alguns. E começam a desfiar conhecimentos outrora decorados, nem se sabe para quê. Rios e afluentes de Portugal e das colónias, serras e caminhos-de-ferro, vidas de reis contadas ao pormenor, citando batalhas e guerras, mulheres e filhos que os fizeram felizes e infelizes. É, ainda hoje, para os da minha idade, um nunca mais acabar. Haveria, dizem os estudiosos, algumas razões.
Os tempos e os métodos são outros. A escola não pode parar na descoberta das melhores pedagogias que preparem para a vida. E tem-no conseguido. Sem dúvida.

A “Monografia da Gafanha” traz até nós a informação referente aos que, depois da Escola Primária, seguiram mais além. Reportando-nos aos que habitavam a nossa terra, aqui fica a nossa singela homenagem, citando apenas os que não estão, por qualquer motivo, referidos no texto:
Francisco Fernandes Caleiro, diplomado em 1905 pela antiga Escola de Ensino Normal de Aveiro. Foi professor na escola masculina da Glória, Aveiro. Nos meus tempos de jovem, falava-se muito deste professor, como grande conhecedor da Língua Portuguesa.
Carolina Augusta de Almeida Martins, diplomada pela Escola Distrital de Aveiro em 1908, foi professora na escola feminina da Cale da Vila.
Manuel dos Santos da Silva Vergas Júnior, diplomado em 1911 pela escola do Ensino Normal de Aveiro, foi professor em Ílhavo.
A partir desta data, começa a crescer o número de diplomados e licenciados oriundos da Gafanha da Nazaré ou aqui radicados. 

Fernando Martins

No livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

Nota: Nas imagens, provas do exame da 3.º classe de Manuel Cirino da Rocha, em 1915, rubricadas pelo professor Domingos Cerqueira, que era ou veio a ser Inspector Escolar e autor do livro Cartilha Escolar, para a 1.ª classe. Permitam que chame a atenção para a caligrafia do então aluno, para a ausência de erros ortográficos e para o tipo de exercícios matemáticos usados.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Outubro de 1969 — Gafanha da Nazaré é elevada a vila



Porto de Pesca Longínqua

Elevação a Vila da Gafanha da Nazaré

Sendo presidente da Junta da Freguesia o comerciante da nossa terra Albino Miranda, a autarquia iniciou o processo do pedido ao Governo da elevação a vila da Gafanha da Nazaré. Os documentos a apresentar incluíam a indicação das infra-estruturas sociais, culturais, desportivas, religiosas e recreativas, bem como tudo o que dissesse respeito ao desenvolvimento e ao progresso demográfico, económico, social, comercial e industrial. 
Paralelamente a essa vertente oficial, em que colaboraram alguns amigos, nomeadamente o Prior Domingos e eu próprio, fiquei responsável pela divulgação do projecto através da comunicação social. Era também uma forma de difundir o sonho dos habitantes da Gafanha da Nazaré. 
O vespertino “Diário Popular” foi o primeiro jornal, que se saiba, a fazer uma reportagem sobre a pretensão das nossas gentes, feita pelo jornalista Ângelo Granja e publicada em 21-12-1966. No antetítulo sublinhava «Do deserto nasceu um oásis…» e no título «A Gafanha da Nazaré luta pela sua elevação à categoria de vila». Numa caixa, destacava «Aspirações de uma aldeia conquistada às dunas e transformada numa das mais importantes do País». Acompanhei a equipa de reportagens e recebi-a em minha casa. 
Seguiu-se o Comércio do Porto, graças à excelente colaboração do jornalista Daniel Rodrigues, correspondente, em Aveiro, daquele matutino portuense, que aproveitou as suas reportagens, inclusivamente, para se lançar na Gafanha da Nazaré aquele diário, onde apenas tinha um leitor, que a loja de jornais e revistas do ilhavense José Quinteles Pereira, antecessora do actual Quiosque Terramar, lhe vendia diariamente, perto da igreja, em espaço arrendado, que foi dos pais de Dona Maria da Luz Rocha. 
O decreto da elevação a Vila, assinado pelo Presidente da República, Américo Thomaz, em 29 de Outubro de 1969 e publicado no Diário do Governo n.º 254 (1.ª série), na mesma data, especificava, precisamente, as razões que justificavam a categoria de Vila, a saber:

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Mónicas na Figueira da Foz — 1


Foto da Rede Global


Continuando a debruçar-me sobre a “Monografia da Freguesia de S. Julião da Figueira da Foz” da autoria de Rui Ascensão Ferreira Cascão, registo a presença dos Mónicas no capítulo dedicado à Construção Naval naquelas paragens. Na página 212 e seguintes lá está: «Além dos anteriores, em 1919, existia mais um estaleiro, pertencente à Fomentadora Marítima Figueirense, L.da , situado na Carneira e dirigido pelo “velho mestre Mónica”. Esta empresa industrial fora constituída em 13 de Julho de 1918, sendo o seu capital (110.000$00) subscrito por 45 sócios, na sua esmagadora maioria da Figueira. O seu objectivo social era a construção, reparação e negociação de navios, bem como a sua exploração industrial e comercial.»

domingo, 16 de outubro de 2011

Ensino Primário obrigatório em Portugal

«O ensino primário, obrigatório, foi promulgado, no século XIX, mais precisamente, no dia 7 de Setembro de 1835. Por curiosidade, dei-me ao trabalho de analisar o Decreto do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino: determina as matérias a serem ensinadas na Instrução Primária; estabelece que a instrução primária é gratuita para todos os cidadãos em escolas públicas; incumbe às Câmaras Municipais e aos párocos empregar todos os meios prudentes de modo a persuadir ao cumprimento desta obrigação, junto dos pais. 
A partir daí, foram-se sucedendo os decretos e Cartas de Lei, que regulamentavam a institucionalização e obrigatoriedade do Ensino Primário. Dessa legislação emitida pelo governo, saltou-me à vista pelo insólito do texto, o Decreto do Governo de 28 de Setembro de 1884, que passo a transcrever: Os que faltarem a este dever, (Ensino Primário Obrigatório) serão avisados, intimidados, repreendidos e por último multados em 500 até 1000 reis; serão preferidos para o recrutamento do exército e da armada os indivíduos que não souberem ler nem escrever; serão criadas escolas especiais para meninas e definidos os objectos de ensino. Se por um lado se fazia o apelo ao cumprimento da escolaridade obrigatória, surge como algo paradoxal, a preferência para a defesa do estado, de indivíduos analfabetos! O poder legislativo, desde, há séculos, que se baseia na incongruência e omissão.»
(...)
Ler mais aqui

Maria Donzília Almeida


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Festas na Gafanha da Nazaré



S. Tomé, imagem que veio da primeira igreja matriz

Diz a tradição que sempre houve festas na Gafanha da Nazaré. Mesmo antes da criação da paróquia e freguesia o povo organizava e participava nas festas, muitas delas, senão mesmo todas, feitas à sombra dos padroeiros e outros santos da comunidade católica. 
Além da festa da padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, há registos e memórias de outras: Nossa Senhora da Conceição (Muito participada por todos, em especial pelos marítimos ligados à pesca do bacalhau), São Tomé (com promessas dos lavradores referentes ao gado), Mártir São Sebastião, Nossa Senhora dos Navegantes (no Forte) e São João (na Barra). 
Posteriormente, vieram as festas de Nossa Senhora dos Aflitos (Chave) e São Pedro (na Cale da Vila) eram festas que se estendiam no Verão, depois ou durante as colheitas, como necessidade de descompressão para quem trabalhava duramente nos campos. 
Havia ainda datas festivas, que entusiasmavam o nosso povo, celebradas com alegria, nomeadamente, o Natal e a Páscoa, cada uma com características próprias. Destas, destacamos o Natal, a que se associava os Reis. 
Contudo, não faltava a alegria, sempre que motivo surgisse. A “botadela” na marinha, o erguer da casa, a “matadela” do porco, as novenas, as romarias da região, como o São Paio da Torreira, a Senhora da Saúde, a Senhora das Areias e a Santa Maria de Vagos, entre outras. Mas também os casamentos e baptizados, as primeiras comunhões, as visitas de Nossa Senhora de Fátima e os encerramentos da catequese, entre outras. 
Romarias mais distantes estiveram, desde sempre, nas agendas dos gafanhões. A pé ou de camioneta, em especial ao santuário de Fátima, como ainda hoje acontece.

Do livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Um gafanhão com ideias sobre o melhoramento da Barra de Aveiro


José Maria da Silva nasceu na Gafanha da Nazaré e foi ordenado padre, em Coimbra (pertencíamos à Diocese de Coimbra), em 1911. Naquela cidade continuou a estudar, na universidade coimbrã, sendo simultaneamente pároco de Santo António dos Olivais. Licenciou-se em Letras e diplomou-se pela Escola Normal Superior de Lisboa. Foi professor nos liceus de Angra, Beja, Braga e Porto, tendo sido aposentado   no Liceu Alexandre Herculano desta última cidade. Antes, tinha abandonado o sacerdócio e casou. Um filho faleceu ainda jovem. Os seus herdeiros, sobrinhos, viviam maioritariamente, tanto quanto sei, na Gafanha da Nazaré. 
Dedicou-se a negócios ligados ao volfrâmio e outros, mas nunca se esqueceu da sua e nossa terra. Ajudou na construção do Seminário de Santa Joana Princesa e até se envolveu nos problemas relacionados com os melhoramentos da Barra de Aveiro, com esta proposta de obras, que foi naturalmente contestada pelos engenheiros do setor. 
José Maria da Silva faleceu em 23 de Abril de 1955.

sábado, 8 de outubro de 2011

Acessos ao Porto Bacalhoeiro

(Clicar na imagem para ampliar)


Acessos ao Porto Bacalhoeiro, de há décadas. Hoje, estas imagens pouco ou nada dizem às gerações mais novas. Eu, quando por lá passo, nem sempre me entendo com os novos arruamentos. Há quem concorde, há quem discorde, mas a verdade é que o mundo não pode deixar de rodar, com o progresso ou com a falta dele. Quem terá por aí fotos com mais qualidade sobre a nossa terra?

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ponte da Cambeia e Portas d'Água




Para memória futura, aqui ficam, numa só imagem, duas fotos de épocas diferentes. Se é verdade que não podemos viver só passado, precisamos dele para não esquecermos as nossas raízes, 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Gafanhões na Primeira Grande Guerra — 1914-1918



Há tempos, dei comigo a pensar nos gafanhões da Gafanha da Nazaré que participaram na Primeira Grande Guerra de 1914-1918. Tinha ouvido rumores de que não foram poucos os que tiveram de partir, forçados,  para a guerra. Tentei algumas diligências, através de serviços que eu supunha terem registos de quem foi e de quem regressou, mas dei com o nariz na porta. Em Lisboa, por exemplo, para confirmar o que quer que fosse, tinha que levar elementos identificativos dos eventuais combatentes naturais da nossa terra. Não os tinha. Ainda tentei, mas pouco encontrei.
Em contato com alguns amigos, ao sabor do vento, nomeadamente, com o antigo presidente da Junta de Freguesia Mário Cardoso, lá se conseguiu registar um ou outro nome, alguns ainda sujeitos a confirmação.
Aqui ficam os seus nomes, na esperança de se conseguirem outros com a ajuda dos meus amigos:


João Maria Garrelhas, n. 19-8-1891; f. 23-10-1977;
João Ramos Luzio;
João Maria Ferreira (o Bicho);
Manuel Maria Nunes;
Bernardino Soares;
José Francisco da Rocha Júnior;
Manuel da Cruz Ramos;
Manuel Palhais Cravo (o ti Catarréu). Nasceu em 1893 e faleceu a 7/11/1960. Fez as campanhas de África durante a 1.ª Guerra Mundial e foi dado com inapto para continuar, devido à perfuração dos tímpanos provocada pelo troar dos canhões, regressando então a casa, tendo casado entretanto! Só depois de terminada a guerra, imigrou para França para participar na sua reconstrução. (Dados fornecidos por Armando Fidalgo Cravo, seu filho)
José Filipe, conhecido por Guincho. Faleceu pouco depois do regresso de França, com perturbações provocados pelos gases que o atingiram. 

ETC

A lista poderá ser alterada a todo o momento…

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O linguajar dos gafanhões


A maneira de falar...

«A maneira de falar, um tanto ou quanto cantada, com alguma malícia pelo meio, entre risadas contagiantes, é que me encantava.
Levemos a nossa memória até lá atrás e ouçamos a Ti Maria e o Ti Atóino. Vinha ela desaustinada porque a canalha lhe estragara as batatas ali ao pé da escola da Tia Zefa. Estava arrenegada.
O ti Atóino vinha da borda, onde andara ao moliço para o aido. Antes da maré, porém, deitara-se a descansar, com o corpo moído, na proa da bateira que ia à rola. Sem saber como, e com uma nassa, apanhou uns peixitos para a ceia (o jantar de hoje). Já não era mau. Naquele dia não comeriam caldo de feijão com toucinho, com um bocado de boroa. Sempre seria melhor.
— Atão queras ver, Atóino, o que a canalha da scola fez? Andou por riba das batatas a achar a bola e ‘stragaram-me tudo. Tamém andaram à carreira atrás uns dos oitros a amandar pedras e ao acaça. Se andassem com relego, ainda vá que não vá. Mas nã. Andavam a toda a brida, como que a atiçar comigo. E se calhar a professora estava abuzacada na sala. Isto está mal, no achas?
— Pois é verdade, Ti Maria. Nã são coisa que se faça. Anda um home a gastar dinheiro em batatas e buano, muitas vezes sem se astrever e estes mariolas, num’stante deixam tudo ‘struído. Era só a gente atirar-lhe com um balde d’ auga, para eles aprenderem. São a mode tolinhos e alonsas. Mariolas!. Vossemecê já falou com a professora? Se ainda nã, vá lá e diga-lhe que ó despois não se arresponsabiliza. São uns desalservados, uns desintoados.
— Tens razão, Atóino. Vou lá num‘stante, antes que seja tarde. Amanhê tamém falo cos pais. Sempre são homes e melheres pra darem uns estrincões aos miúdos, pra eles aprenderem. Opois num se quexem.»

Fernando Martins,
de uma palestra proferida num colóquio
do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Senhora dos Navegantes



Procissão da Senhora dos Navegantes, Setembro de 1926 (Arquivo do Porto de Aveiro)

Como estas, haverá outras fotografias dos princípios do século XX nos arquivos pessoais dos meus amigos. Vamos lá à procura delas. As fotos que hoje apresento fazem parte dos arquivos do Porto de Aveiro.

Ver mais aqui

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Descontentamento de gafanhões em relação a Ílhavo



Mestre Mónica


Os tempos mudaram, mas é bom recordar

Tenho-me interrogado inúmeras vezes sobre o porquê de um certo espírito de descontentamento de gafanhões em relação a Ílhavo, que não em relação aos ilhavenses. Na minha meninice e juventude era notória até uma atitude de revolta.
Com o tempo, e sobretudo depois de na primeira cadeira autárquica se sentar um gafanhão, gestos de descontentamento e revolta começaram a atenuar-se. Hoje, em plena democracia, as relações tornaram-se cordiais, pese embora os naturais pontos de vista divergentes dos vários partidos políticos existentes.
Sabe-se que a Câmara de Ílhavo, desde a criação da freguesia da Gafanha da Nazaré e mesmo antes disso, mostrou um desprezo incompreensível pelas Gafanhas e pelos gafanhões. Nas sessões camarárias, pouco ou nada se falava deles. Apenas entravam nas agendas Ílhavo e Costa Nova. Tudo o mais era relegado para as calendas gregas.
Em 1936, o ponto de ruptura atingiu nível elevado. A energia eléctrica passou por cima da Gafanha da Nazaré para a Costa Nova e Barra, porque o Farol necessitava dela, e os gafanhões foram ignorados. Não havia dinheiro para eles nem para as indústrias e comércio locais.
A revolta deu origem à Cooperativa Eléctrica, para nos dar luz e energia. E só em 1939 foi possível aos gafanhões olharem-se cara a cara à noite.
Por essa e outras razões, o “Diário de Lisboa” foi alertado para as injustiças de que se queixavam os nossos avós. E em 14 de Agosto de 1947 inicia a publicação de uma reportagem, desdobrada em quatro publicações, com início na primeira página e continuação nas centrais, intitulada “A Ria de Aveiro e a sua Gente”, da responsabilidade de um «enviado especial». Começa assim:

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Festa do Trabalho na Seca Nova - 1957


No Timoneiro de março de 1957, encontrei esta pequena notícia alusiva à Festa do Trabalho que se realizou na EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), também conhecida por Seca Nova ou Seca do Egas,  promovida pela JOCF (Juventude Operária Católica Feminina), no dia 10 de fevereiro do mesmo ano. 

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Crianças austríacas refugiadas de guerra na Gafanha da Nazaré


Uma estória

Só me dão sopa

Meninos e meninas das minhas idades, deles guardo a sensação de que a maioria conseguiu adaptar-se ao nosso estilo de vida. Outros, nem por isso.
Quando as famílias que os receberam se situavam a um nível social médio, com filhos ou familiares das mesmas idades, era notória a alegria das crianças: brincavam, riam e folgavam com naturalidade; outras, em famílias sem filhos e sem crianças por perto, mostravam-se naturalmente mais reservadas. Procuravam, quando podiam, as suas compatriotas para conversarem e conviverem. Nenhuma, que me lembre, falava português, mas iam-se adaptando e descobrindo as nossas palavras e expressões.
Algumas começaram a encontrar-se em casas de famílias com melhores condições de acolhimento e então era agradável ver a satisfação com que passavam o dia. Ali comiam e se divertiam.
Depois começaram a querer ficar mais tempo até que um dia assisti a uma cena triste. A criança recusava-se a regressar à família de acolhimento. Entre choros e lágrimas, agarrada à senhora que havia acolhido uma sua amiga, justificava a sua recusa dizendo, repetidamente: «só me dão sopa... só me dão sopa!»

Do livro "Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"




Uns dias de férias, fora dos ambientes habituais, fazem sempre bem à mente e ao corpo. Longe dos meus livros e arquivos, mas também à volta com o iPad2, uma nova forma de lidar com o mundo virtual, não pude conviver com os meus leitores e amigos, como era meu gosto. Retomo hoje, na certeza de que continuarei atento ao mundo que me cerca, de raio sem limite.

Fernando Martins

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Agosto da minha meninice



Ponte da Cambeia



Quando hoje contemplo a azáfama do mês de agosto, não posso deixar de retroceder até aos tempos da minha meninice, com muito menos praia, sobretudo para as classes mais humildes. Havia na maioria das famílias trabalhos agrícolas e os pais tinham que se envolver em diversas tarefas para sustentar as suas gentes. 
As férias eram mais voltadas para a ria, onde os filhos chapinhavam nas águas serenas da laguna, ao mesmo tempo que apanhavam cricos, mexilhão, burriés, navalhas, caranguejos e tudo o mais que viesse à rede. Para consumo próprio e, eventualmente, para vizinhos e familiares. Nessa altura, ainda se viam por aqui pessoas dos lados de Mira e Vagos, que apanhavam sobretudo cricos, que depois transportavam em burros, provavelmente para vender. 
Aos domingos, muito raramente, lá se ia até à Praia da Barra, para molhar os pés e pouco mais. Contudo, recordo famílias que tinham o hábito de ir à beira-mar, principalmente as mais ilustradas e com mais posses, ligadas às indústrias e ao comércio. Os de Ílhavo frequentavam a Costa Nova, como é sabido, mantendo-se, presentemente, essa tradição e gosto.
A malta miúda costumava dar os primeiros passos na natação no esteiro pequeno; o esteiro grande, que ladeava o Jardim Oudinot com fruta apetecível, era só para quem sabia nadar e com força para o atravessar. Recordo que os miúdos nadavam nus e sem preconceitos, quais naturistas puros e sem mácula; as miúdas, essas atiravam-se ao esteiro de vestido fino, porque era verão. E quando saíam da água, davam um certo espetáculo, como se pode facilmente imaginar. 

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A Rua da Saudade convoca-nos para a lembrança dos nossos entes queridos





A Rua da Saudade ladeia o cemitério da Gafanha da Nazaré. Como o próprio nome indica, convoca-nos para a lembrança dos nossos entes queridos, amigos e conhecidos, com quem nos cruzámos nos caminhos da vida. Agora só nos vêm à memória com recordações que nos fazem reviver tempos agradáveis e às vezes menos agradáveis.
Quando entramos no cemitério, é certo e sabido que, de uma ponta à outra, recordamos tantos rostos, tantas histórias, tantas vivências, mas também algumas ausências junto de familiares e amigos a quem nem sempre demos a devida atenção. A Rua da Saudade serve ainda para nos sugerir, a nós, crentes, uma oração dirigida ao Senhor de todos os dons, para que cuide dos que ali repousam, acolhendo-os no seu seio misericordioso.
O Cemitério Paroquial, como foi designado na altura da sua construção, foi benzido no dia 25 de julho de 1921. E com a sua inauguração, os falecidos na Gafanha da Nazaré deixaram de ser sepultados no cemitério de Ílhavo, acabando o sacrifício que isso representava, tanto na altura dos óbitos como nos dias de Todos os Santos e Fiéis Defuntos.
Sem acessos fáceis, os funerais tornavam-se um trabalho penoso e demorado. A pé até Ílhavo, as populações reclamavam um cemitério na freguesia, o que só veio a acontecer naquele ano. Avançando com um pouco de história, lembramos que o nosso cemitério foi sucessivamente acrescentado em 28 de dezembro de 1933 e em abril de 1939. Em 16 de julho de 1938 a Câmara pagou 1150 escudos pela planta do cemitério da Gafanha da Nazaré, certamente para legalizar as diversas alterações entretanto feitas.
Sublinha o livro “Gafanha – Nossa Senhora da Nazaré” que em 21 de novembro de 1926 a Junta de Freguesia “deliberou oferecer o terreno para a sepultura do Prior Sardo» e que em 19 de dezembro do mesmo ano foi reconhecido «que o Cemitério está todo tomado e que era urgente tomar as devidas providências para adquirir uma parcela de terreno para a sua ampliação», o que veio a acontecer em março de 1927». Em 27 de Janeiro daquele ano foi decidido abrir a estrada do cemitério.
A Capela das Almas começou a ser construída em outubro do mesmo ano. Foi dada por concluída em 30 de dezembro de 1933. As obras de ampliação e de melhoramentos continuaram através dos tempos até aos nossos dias, sendo de sublinhar que, por força do desenvolvimento demográfico da freguesia, essas obras se tornaram frequentes, desde a inauguração do cemitério até hoje.
Nos últimos tempos, registaram-se significativos melhoramentos: novos talhões bem alinhados, Jazigo dos Priores da Gafanha da Nazaré, e Capela Mortuária (junto à igreja matriz), construída pela Câmara Municipal de Ílhavo, presentemente sob administração da Junta de Freguesia.

 Fernando Martins

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Portas d'Água



Portas d'Água

Para memória futura, aqui fica uma expressiva foto das famosas Portas d'Água, Cambeia, Gafanha da Nazaré, que nos ligavam ao Forte da Barra e depois à Barra e Costa Nova. Hoje está lá um bocadinho, que nos remete para tempos da nossa meninice e juventude.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A nossa região na Ilustração Portuguesa

Rasgando Leivas na Ilustração Portuguesa, 1910, 14 de Março, n.º 212. Escrito por António Maria Lopes, de Ílhavo, em 2-3-1910
Desafio: exercício de identificação, no todo ou em parte. Aceitam-se sugestões.

domingo, 7 de agosto de 2011

Posse dos Órgãos Sociais da ADIG: Discurso do presidente



DISCURSO DO ACTO DE POSSE DA DIRECÇÃO DA ADIG 

Começo por dar uma visão retrospectiva da vida na Gafanha da Nazaré. A nossa terra emergiu de um areal imenso, inóspito e desprezado, fustigado pela nortada inclemente que aqui temos com fartura. 
Em 1868 – altura em que por aqui já muita coisa havia mudado – Frederico de Moura, caracterizava assim o viver da nossa gente: 
– “Com enxadões desmedidos fazem surribas que vão ao centro da terra! Nasce-lhes água sob os pés descalços e encardidos. E, só depois, é que vem a tarefa de incorporar na terra remexida, até ao tutano, o moliço arrancado do fundo gordo dos canais. Algas e peixe podre para enterrar, lodo para impermeabilizar o fundo da regadeira e aí está a comedoria que serviu de mantença ao milagre das Gafanhas.” 
“Quem surriba chão de areia não encontra onde enterrar raízes de esperança (...)! Quem lança a semente num ventre que é maninho, não pode ter esperanças de fecundação. E, por isso, o gafanhão, antes de cultivar a lomba, teve de corrigir-lhe a esterilidade servindo-se da Ria, que lhe passa à ilharga, procurando nela a nata com que amamentou a semente que deixou cair, amorosamente, naquele chão danado. E humanizou a duna.” (Sic)

Cá estou de novo

Depois de um período de férias, longe do computador e dos meus blogues, cá estou de novo para prosseguir  na caminhada que me torna mais vivo e atuante. Neste blogue, a colaboração dos meus amigos e leitores será sempre uma mais-valia, para bem das nossas terras. Fotos, recordações, pedaços de história, estórias, tudo poderá servir para nos irmanar nesta vontade de criar laços de proximidade e partilha. Fico à espera.

Fernando Martins

domingo, 24 de julho de 2011

FÉRIAS

De quando em vez é preciso parar, para descansar e para refletir. Penso que há muito devia ter feito isto. Escrever todos os dias, para os meus blogues e não só, começa a pesar. Os meus amigos e leitores podem, porém, ficar cientes de que voltarei logo que possível... Até breve.

Fernando Martins

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Gafanhões

Sob os pinheiros da Gafanha
Na praia da Costa Nova: Partida de um barco de pesca tripulado por gafanhões

NOTA: Volto a publicar estas fotos, porque alguns leitores não as puderam ver com nitidez.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Milagre Botânico

O milagre botânico do jardim do canal de Oudinot

A revista "Aveiro e o seu Distrito", que já não se publica, leva-me a visitá-la de quando em vez para ficar a saber um pouco mais da história da nossa região. No seu número 23/25 de 1977/1978, a ilustrar um texto, tem esta foto com a legenda que aqui deixo. Como curiosidade, há o facto de se reconhecer, há 33 anos, como milagre botânico, a existência de vegetação com água salgada por todos os lados. Isto concluo eu.

domingo, 17 de julho de 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

RÁDIO TERRA NOVA celebra Bodas de Prata



Terra Nova deu os primeiros passos 
em 12 de julho


A RTN nasceu na década de 80 do século passado, num período de baixa de preços dos equipamentos de emissão. Um pouco por todo o mundo, e em Portugal também, surgiram rádios locais, muitas vezes direcionadas para simples bairros. Pretendia-se divulgar iniciativas de instituições dos mais variados ramos, que nunca tinham vez nem voz nas rádios nacionais. O boom das “rádios piratas” foi de tal ordem elevado, que as entidades oficiais não tiveram qualquer hipótese de impedir o seu funcionamento.
Em 12 de julho de 1986, a RTN, mesmo sem batismo, foi para o ar, na sede da Cooperativa Cultural. Diz a sua história que eram 11.30 horas de um sábado. «Ligámos apenas um amplificador e passámos música gravada», recorda Vasco Lagarto.
Em 31 de dezembro de 1988 “calou-se”, por imposição do processo de legalização entretanto iniciado. Mas em 26 de março de 1989, num domingo de Páscoa, agora com alvará e com as exigências de legislação entretanto aprovada, reiniciou as suas emissões, assumindo um projeto voltado para as realidades culturais, sociais, desportivas e outras das comunidades envolventes, num raio de ação que hoje chega aos 50 quilómetros.
Posteriormente, adotou o nome Terra Nova, não só em homenagem a quantos viveram a saga da Faina Maior — Pesca do Bacalhau — nos mares do mesmo nome, mas ainda por refletir o sonho de quantos apostam numa terra nova, no respeito pelo progresso sustentado e pelos direitos humanos.
A sua programação assenta na informação e na atualidade regional e nacional, juntamente com uma cuidada escolha musical. Os programas de “palavra”, com personalidades que, pela sua formação académica ou experiência profissional, têm um papel preponderante na realidade regional, ocupam sempre lugar especial.
Com estúdios centrais na Gafanha da Nazaré, em espaço cedido no Centro Cultural da nossa terra, emite em FM 105.0Mhz, para os concelhos de Ílhavo, Aveiro, Vagos, Estarreja, Murtosa, Ovar, Oliveira de Azeméis, Albergaria-a-Velha, Águeda, Oliveira do Bairro, Anadia, Cantanhede e Mira.

Fernando Martins
"Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Naufrágio do "Maria da Glória"


Navio-motor "Maria da Glória"

Depois daquilo, eu nunca mais fui capaz de ser o mesmo home!

«Ah gentes amigas, s’aqui, nestes bancos do bacalhau, cada home dos nossos qu’as ondas comeram, ficasse assinalado por uma alminha acesa, como é d’uso lá nas nossas terras, podem crer, amigos, qu’atão este mar saria todo ele um luzeiro, maior qu’aquele qu’enche a Cova d’Iria, no treze de Maio!» 

Isto, tal qual, ouvi-o eu ao ti’Zé Caçoilo. E é verdade. 
Bernardo Santareno, 
em ”Nos Mares do Fim do Mundo” 



segunda-feira, 4 de julho de 2011

Igreja matriz no centro da freguesia



Igreja antiga

A igreja devia ficar no centro 
da freguesia e ficou mesmo


«Alguns dias antes da inauguração e por ordem da comissão e do senhor Prior Sardo fui à missa à capela que se situava na Chave acompanhado de alguns homens, com a missão de transportar as imagens para a nova igreja que ainda nem sequer estava concluída. 
Era dia de semana e a missa terminou por volta das 7 horas da manhã. Era ainda noite, portanto, e, talvez por isso, não houve oposição dos vizinhos da capela que, segundo se dizia, não deixariam tirar as imagens nem os objectos de culto. Num outro dia trouxemos os altares, dos quais só se aproveitaram dois porque os outros eram de canto. 
Nem desta vez houve barulho como se esperava e alguns vizinhos da capela ainda nos ajudaram a carregar os altares e nos emprestaram cordas. E repare que nesse dia apareceu muita gente. 
Trouxemos também o sino que é o pequeno da nossa actual igreja, mas a pedra de ara só veio no próprio dia da inauguração. 
Como em tudo, há sempre quem não concorde. Foi o que aconteceu também nessa altura. Os da Chave queriam lá a igreja, os da Cale da Vila queriam-na no seu lugar, mas a verdade é que para servir a todos ela devia ficar no centro da freguesia e ficou mesmo.»

João Catraio,
em entrevista ao Timoneiro,
Maio de 1971