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sexta-feira, 1 de março de 2019

A Gafanha


Fonte: Arquivo do Distrito de Aveiro, revista n.º 164, 1975. Autor: José Ferreira da Cunha e Sousa (1813-1912). O trabalho tem por título "Subsídios para a história de Ílhavo, Gafanha e Costa Nova". Publicarei o restante texto, por partes, para não cansar os leitores.

NOTA: Está garantido que nunca foram desterrados para as atuais terras gafanhoas gafos ou leprosos.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Um retrato bonito da Gafanha

Imagem que retrata tempos antigos

«A monografia da Freguesia rural de Ovar … contém elementos que explicam certos aspectos da etnografia ilhavense.
O próprio problema do povoamento da Gafanha não pode abstrair desta subordinação a Ovar; só a zona do Sul terá sido mais persistentemente ocupada por colonos de entre Mira e Vagos.
Tenho presentes documentos oficiais que pelo falecido historiador aveirense Marques Gomes me foram oferecidos, relativos ao protesto que os povos do concelho de Vagos levantaram ao aforamento dos areais do Sul pela família Pinto Basto; por um deles (ofício da Câmara de Vagos, de 6 de Junho de 1836, para o Governador Civil do Distrito) se verifica que esta municipalidade considerava os referidos areais “baldios deste concelho desde tempo imemorial”.
Seria de grande curiosidade para a história da região o conhecimento destes e de outros documentos ao assunto referentes; a história da Gafanha é, a bem dizer, de nossos dias, mas já por vezes há dificuldade em esclarecer determinados passos dela; em 1893 publicou-se a “Representação aprovada no comício que em 3 de Abril de 1893 se realizou na cidade de Aveiro com o fim de pedir o estabelecimento de um serviço de dragagem na Ria da mesma cidade”, folheto hoje muito raro, mas precioso para a história da região, e muitíssimo bem escrito; é assinado por Casimiro Barreto Ferraz Sacchetti, Edmundo de Magalhães Machado, e José Maria de Melo Matos, devendo supor-se que os dois últimos signatários tenham sido os seus redatores.
Pode dizer-se que alguns dos problemas vitais da verdejante e linda planície ainda hoje encontrariam a melhor solução nas páginas do esquecido opúsculo, que celebra nos seguintes termos o trabalho persistente profícuo de seus naturais:

… ainda que muitas pessoas se contam neste distrito que viram a Gafanha árida e despida de vegetação, como a maior parte dos areais do litoral, este trabalho foi tão proveitoso que é a Gafanha talvez um dos lugares deste distrito em que haja mais ouro amoedado, sem contar que literalmente fornece sustentação e trabalho a mais de oito mil pessoas sendo, por assim dizer, o celeiro dos concelhos de Aveiro, de Ílhavo, e ainda da maior parte do de Vagos.» 



António Gomes da Rocha Madail
In “Etnografia e História 
— Bases para a Organização 
do Museu Municipal de Ílhavo”
Ílhavo, Tip. Casa Minerva, 1934

sábado, 19 de agosto de 2017

Hipóteses para o vocábulo Gafanha



Das várias hipóteses que poderiam estar na origem do vocábulo Gafanha, nenhuma até hoje reuniu consenso. Indicam-se algumas, na esperança de que os estudiosos possam chegar a acordo sobre a mais plausível:

1. Gadanha, alfaia agrícola para cortar o junco, teria dado Gafanha;
2. Gafar, imposto por passagem de barco ou ponte, poderia levar a Gafanha, lugar de pagar o gafar;
3. Gafar, vaso para transportar sal, conduziria a Gafanha. Havia sal nesta região;
4. Gafo, leproso, estaria na origem de Gafanha, terra de gafos. Esta hipótese não tem consistência, por não haver qualquer registo histórico que a sustente;
5. Gafanha teria vindo de Gafaria, mas também não há qualquer vestígio histórico que nos elucide. Aliás, nas épocas seguintes à idade média já havia leprosarias para cuidar dos gafos;
6. Gafenho ou Gafanho poderia sugerir Gafanha, terra gafada, gretada, como a pele dos leprosos. A terra gretada era mais visível na maré baixa, em cujas lamas se abriam fendas com o sol;
7. A ideia de uma mulher de Aveiro, com gafa, que para esta região teria sido desterrada não passa de lenda;
8. O Gafanho ou Gafanhoto, inseto saltão, daria Gafanha? É apenas mais uma hipótese. Não havia assim tanta verdura nas dunas que justificasse a existência abundante de gafanhotos;
9. Gafano, homem impedido por doença ou outras razões de sair deste espaço, estaria na base Gafânia, donde resultaria Gafanha. 
10. Admite-se que Gafanha teve origem em Gatanho (tojo-gatão), que existia em terras dunares;
11. Gafanha poderia ter nascido de Galafanha, vocábulo surgido a partir de Gala, terra alagada, mais Fânia, espécie de junco.

Descartamos à partida o que se refere a Gafaria, Gafos e Gafanha (mulher desterrada, ao jeito dos leprosos). Não se conhece registo escrito desta lenda ou história da mulher aveirense atirada para aqui. Não se compreende a teoria da Gafaria, porque, diz João Gonçalves Gaspar, como é que «a caridade cristã medieval ou pós-medieval, nesse tempo em que até havia instituições para tratarem os referidos doentes, poderia consentir que tais pessoas, tão carecidas de cuidados, (...) fossem desamparadas nos infindos areais incultos ou nos pântanos doentios e enclausuradas entre os canais da ria sem o mínimo conforto de viver?».1
Curiosamente, Galafanha aparece no “Diccionário Geographico Abbreviado das oito províncias dos Reinos de Portugal e Algarves”, de Pedro José Marques, com data de 1853, como zona do Concelho de Vagos, quando é suposto aceitar que antes disso já existia e se falava de Gafanha.

Posto isto, é justo afirmar que temos andado no encalço de alguns estudiosos: Padre Rezende, Joaquim da Silveira, José Leite de Vasconcelos, Gonçalves Viana, João Gonçalves Gaspar, Manuel Maria Carlos, Pinho Leal e outros, com pesquisas próprias em dicionários e leituras avulsas, sem nunca termos encontrado, garantidamente, a origem da palavra Gafanha que nos convencesse. E se de facto a origem esteve mesmo na Gadanha?

Fernando Martins

(1) GASPAR, João Gonçalves, Formação da Ria e povoamento da região de Aveiro, Boletim Cultural da Gafanha da Nazaré, nº 2

Fonte: “Ílhavo Terra Milenar”

quarta-feira, 1 de março de 2017

Teresa Reigota: Um exemplo a seguir

“Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”



“Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo” é um livro de Teresa Filipe Reigota, natural da Gafanha da Nazaré e residente na Gafanha da Boavista, S. Salvador. Gafanhoa de gema, como gosta de afirmar, esta professora aposentada tem uma indesmentível paixão pela etnografia. 
Com seu marido, o também professor aposentado João Fernando Reigota, funda o Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo, em 1984. O envolvimento nas tarefas de recolhas, pesquisas e estudos, levou-a a sentir a necessidade de preservar e divulgar os usos e costumes das gentes que a viram nascer e das quais guarda gratas recordações. Assim nasceu o livro “Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”, que vai ser lançado no dia 24 de Outubro, sábado, pelas 21 horas, no Centro Cultural de Ílhavo, em cerimónia que encerra as celebrações das Bodas de Prata do Rancho Regional.
Sobre este livro pronunciar-me-ei numa outra altura, pois considero importante não só manifestar a agradável impressão que a sua leitura me suscitou, mas também estimular a nossa juventude para que se embrenhe nestes estudos, fundamentais à cultura da identidade do povo que somos e que queremos continuar a ser, sobretudo no que diz respeito à manutenção dos valores que enformam a nossa sociedade.
Garanto, aos meus amigos, que a leitura deste trabalho da Teresa Reigota, inacabado como todas as obras do género, suscitará em cada um a revivência de estórias iguais ou semelhantes às que a autora agora nos oferece. E como recordar é viver, estou em crer que todos aceitarão a minha proposta.

Fernando Martins

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Gafanha



Painel patente na exposição "Ílhavo - Terra Milenar", no Centro Cultural de Ílhavo.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Apelidos e Alcunhas da Gafanha

Recolha de António Augusto Afonso, 
residente nos EUA

António Augusto Afonso


António Augusto Afonso é um gafanhão que muito estimo. Tem quase 92 anos e emigrou para os EUA há bastante tempo. Longe da sua Gafanha, tem sempre as nossas gentes e tradições na memória e no coração. O meu amigo recorda histórias que vivenciou e outras que fazem parte do imaginário dos gafanhões. Descreve cenas do quotidiano da sua infância, juventude e vida adulta, citando nomes, apelidos e alcunhas com uma facilidade enorme. 
Quando as saudades apertam, tem a gentileza de me telefonar, em datas marcantes, para trocar impressões e para se sentir informado. Reconheço pela voz as emoções que o assaltam por se sentir próximo destes ares, através do telefone, e percebo a alegria de saber novas da terra, da ria e do mar, graças à maresia que lhe corre nas veias. Tudo assume como presentes no seu espírito. 
Há tempos enviou-me quadras rimadas em que joga com apelidos e alcunhas dos gafanhões. Julgo que não falta nada. Fruto, obviamente, do resultado de muito pensar e registar. Seria uma enorme pena para todos nós fechar a sete chaves estas quadras que constituem um património inquestionável.
A história de uma terra, mas ainda de um povo e de uma família, precisa de ser partilhada e constantemente enriquecida. Não há, quer da parte de António Afonso quer de minha parte, qualquer intenção de ofender seja quem for. A memória de toda a gente aqui retratada, apenas pelos apelidos e alcunhas, merece toda a nossa estima. Daí que eu dedique aos nossos antepassados e seus descendentes esta publicação, para memória futura. Mas o autor é claro, logo a abrir o seu relato.
Muito obrigado pela vossa compreensão.

Fernando Martins

NOTA: Se houver falhas agradeço informações para completar a lista. 

Apelidos e alcunhas da Gafanha

Ó gafanhões da minha terra
De cá de longe, eu vos saúdo!...

Ó terra que eu amo, eu te saúdo.
Ó terra da boa gente!...
É o que diz quem o sabe,
E muito mais quem o sente.

Ó gafanhões da minha terra
De longe, vos venho saudar.
Com vossos apelidos e alcunhas
Mas a todos respeitar.

Com seus apelidos e alcunhas
Que já lhes vêm de seus avós,
Ninguém sabe donde lhes vieram,
E muito menos quem lhos pôs.

Alguns bastante engraçados
E até originais e bizarros
Tais como Cigarras ou Grilos
Salsas, Vinagres ou Cigarros

Bolas que não rolam nas Relvas,
Fidalgos sem fidalguias nem brasão
Reis, Condes e Marqueses
E até Frades sem gabão.

E que siga a Rusga e viva a Alegria
Com Guitarras e Violas, Fadistas e Cantadores
E Estanqueiros, Cordeiros e Parceiros,
E Carapelhos, Coelhos e… Caçadores.

Teixeiras, Casqueiras e Ferreiras
Camões, Camarões e Calções
Os Ribeiros, os Ribaus e os Maus
Esgueirões, Carranjões e Gafanhões.

Vergas, Peixotos e Calhotos
Caçoilos, Palhaços e Palhaças
Tavares, Tarrincas e Petingas
Mateiros, Mónicas e Margaças.

Páscoas, Dias e Santos
Rochas, Facicas e Barricas
Marques, Varetas e Maguetas
Piorros, Pônas, Laricas e Janicas.

Brancos, Louros e Russos,
Vechinas, Bichos e Bichões
Alhos, Labregos e Cagarutos
Pintos, Retintos e Cagões.

Patas, Penitates e Lourenços
Valentes, Vicentes e Ritos
Torres, Píncaros e Ramos
Cravos, Flores e Bonitos.

Alcatrazes, Maçaricos e Gaivotas
Melros, Piscos e Cucos
Roques, Rolas e Rolos
Raposas, Zanagos e Zucos.

Albuquerques, Alves e Almeidas
Catraios, Catarréus e Catarinos
Serrões, Guerras e Serras
Tomazes e Ferrazes, Cirinos e Marcelinos.

Sousas, Soares e Sardos
Guinchos, Gulaimos e Perselhas
Sarabandos, Estudantes e Galantes
Anastácios, Garcês e Garrelhas.

Carecas, Caleiros e Calistos
Barba Azul, Pinhos e Gandarinhos
Mateus, Matias, Matos e Ratos
Vidreiros, Vieiras e Vilarinhos.

Calores, Neves e Geadas
Covas, Calatrós e Serafins
Bisas, Brióis e Serapões
Martinhos, Martelos e Martins.

Caixotes, Loureiros e Monteiros
Marçalos, Arrais e Morais
E com Lopes, Lés e Cafés,
Serão ainda muitos mais.

E ainda Silvas e mais Silvas
Com Carvalhos, Nogueiras e Pereiras
Figueiras, Macieiras e Salgueiros,
E a grande floresta de Oliveiras.

Não é possível contar-vos a todos
Por ser elevado o número. Contudo…
Ó gafanhões da minha terra,
Com todo o respeito, daqui de longe, vos saúdo.

António Augusto Afonso


NOTA posterior: O meu amigo António Augusto Afonso faleceu nos Estados Unidos em Abril de 2017, com 92 anos.  Ver aqui 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Transformar em húmus as dunas da Gafanha


«É certo que de cada popa se vê um Portugal diferente, conforme a latitude: verde e gaiteiro em cima, salino e moliceiro no meio, maneirinho e a rilhar alfarroba no fundo. Camponeses de branqueta e soeste a apanhar sargaço na Apúlia, marnotos a arquitectar brancura em Aveiro, saloios a hortelar em Caneças, ganhões de pelico a lavrar em Odemira, árabes a apanhar figos em Loulé. Metendo o barco pela terra dentro, é mesmo possível ir mais além. Assistir, em Gaia, à chegada do suor do Doiro, ver transformar em húmus as dunas da Gafanha, ter miragens nos campos de Coimbra, quando a cheia afoga os choupos, fotografar as tercenas abandonadas do Lis, contemplar, no cenário da Arrábida, a face mística da nossa poesia, ou cansar os olhos na tristeza dos sobreirais do Sado. Mas são vistas… Imagens variegadas dum caleidoscópio que vai mudando no fundo da mesma luneta de observação.»

Miguel Torga 
Em "Portugal"

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Renascimento

Lavradeira è espera do moliço?

Resolvi, depois de muito refletir, retomar a vida normal deste meu espaço dedicado à Gafanha. A razão é simples: Nos últimos tempos, tem aumentado o número de contactos sobre a nossa terra. As questões vêm das mais variadas fontes e interesses. Por simples curiosidade, da parte de jovens, por motivos de estudo e elaboração de teses, por necessidade de conhecerem as Gafanhas, terras em que se instalaram. 
Sei que será um acréscimo de trabalho, mas nem por isso quero deixar de ser útil aos meus contemporâneos. Afinal, este desafio, mais um, será um renascimento, tarefa que devemos tomar como normal nas nossas vidas.



quinta-feira, 21 de julho de 2011

Gafanhões

Sob os pinheiros da Gafanha
Na praia da Costa Nova: Partida de um barco de pesca tripulado por gafanhões

NOTA: Volto a publicar estas fotos, porque alguns leitores não as puderam ver com nitidez.

domingo, 17 de julho de 2011

terça-feira, 17 de maio de 2011

Gafanha em "Recordações de Aveiro"

Foto da Família Ribau, cedida pelo Ângelo Ribau



António Gomes da Rocha Madail escreveu na revista “Aveiro e o seu Distrito”, n.º 2 de 1966, um artigo com o título de “Impressões de Aveiro recolhidas em 1871».   Cita, em determinada altura, “Recordações de Aveiro”, de Guerra Leal, que aqui transcrevo:

(…) 
«No seguimento d'esta estrada ha uma ponte de um só arco, por baixo da qual atravessa o canal que vai a Ilhavo, Vista Alegre, Vagos, etc., e ha tambem a ponte denominada das Cambeias, proxima à Gafanha. 
É curiosa e de data pouco remota a historia d'esta povoação original, que occupa uma pequena peninsula. Era tudo areal quando das partes de Mira para alli vieram os fundadores d' aquelIa colonia agricola, que á força de trabalho e perseverança conseguiu, com o lodo e moliço da ria, transformar uma grande parte do areal em terreno productivo. Foi crescendo a população, que já hoje conta uns 200 fogos, e o que fôra esteril areal pouco a pouco se transformou em fertil e extensa campina, que fornece o mercado de Aveiro de muito milho, feijão, ervilha, batata, hortaliça, gallinhas, ovos, etc. 
Os anhos da Gafanha são muito apreciados, pelo sabor agradavel e especial da carne. 
Não ha alli arvores fructiferas nem vinhas, porque a camada de terra productiva, pela sua pequena profundidade, lhes não permite crescimento. 
São denominados gafanhões os habitantes da Gafanha, a seu typo physionomico denuncia feicão árabe, os homens são robustos e de boas fórmas, e as mulheres de mediana estatura, mas cheias e vigorosas. São de caracter expansivo e indole benevola. É raridade o casamento de um gafanhão, homem ou mulher, fora da colonia, que talvez por isso conserva immutavel a sua feição primitiva. Cada nova casa edificada é signal de que um novo casal se estabeleceu. Há alli duas capelIas, modestas, mas decentes, edificadas e consagradas ao culto, à custa da colonia. 
Em junho do anno passado vivia, e talvez viva ainda, a matriarcha d'aquelIa povoação. Chamavam-lhe a tia Joanna e parecIa que, embebecida no fumo do seu cachimbo, se deslembrava da conta do tempo abrangido pelos seus 90 janeiros. É a idade que nos disseram deveria ter.» 
(…)

sábado, 9 de outubro de 2010

Origem do vocábulo GAFANHA

Resumo elaborado por João Gonçalves Gaspar

Ao longo da minha vida abordei vezes sem conta a questão da origem do vocábulo Gafanha. Outros o fizeram do mesmo modo. Todos na ânsia de descobrir qual a sua verdadeira fonte. Uns ficam convencidos duma razão e outros tantos discordam dela. Não vale a pena voltar ao assunto em pormenor, porque estaria a malhar em ferro frio. Aqui deixo, contudo, uma síntese, só para dizer que talvez valha a pena alertar os nossos concidadãos para a decifração do enigma, como passatempo interessante. Só isso.
Por norma descartamos a ideia dos gafos (leprosos), muito embora eles existissem na região de Vagos e Mira. Ainda há poucos anos foram detectados alguns casos. O Hospital Rovisco Pais não foi instalado na Tocha por acaso.
A gadanha, que a MG refere, até estaria em sintonia com o linguajar dos primeiros gafanhões, habituados que estavam a trocar as consoantes. Ainda hoje há quem o faça.
Gafar como imposto e vasilha para transportar sal podia, muito bem, estar na origem da palavra Gafanha. E sal sempre por aqui houve, desde tempos imemoriais. Pinho Leal, no seu dicionário “Portugal antigo e Moderno”, diz, em 1874, que Gafanha podia significar o «lugar onde se paga o gafar» ou «ao qual não se pode ir sem pagar o gafar».
A hipótese de terra gafada, com as suas gretas que as areias, cobertas de lamas, mostravam quando o sol batia, fica à mercê da nossa imaginação.
A gafanha, mulher gafada, que de Aveiro para aqui teria sido desterrada, por ter morfeia, sendo por isso desprezada, também não me repugna.
Gafanha, mato lá para os lados de Sangalhos, há muitas décadas, não deixa de ser um motivo para, tipo charada, nos entretermos.
O gafanho ou gafanhão (saltão), gafanhoto, não me parece lógico. Por que razão nos haviam de ligar àquele insecto? Nem por aqui havia verdura para seu alimento…
Gafanho, nome de tojo, planta rasteira, será mais um caminho para seguir, tal como gatanho (tojo-gatão), sem perder muito tempo.
Gafanha de Galafanha, proveniente esta de Gala (terra alagada) mais Fânia (junco), terá a sua vertente etimológica, ao jeito de quem anda a escolher palavras para chegar à Gafanha de hoje.
Gafano seria, portanto, o homem destas terras, que estava gafado (agarrado, submetido) pelas doenças, pagando a passagem do esteiro. Gafânia ou Gafanha seria portanto a terra dos Gafanos.
Posto isto, é justo afirmar que andei no encalço de alguns estudiosos: Padre Rezende (MG), Joaquim da Silveira (MG), José Leite de Vasconcelos (EP), Gonçalves Viana (EP). João Gonçalves Gaspar (BCGN), Manuel Maria Carlos (JT), Pinho Leal e pesquisas próprias em dicionários e outras leituras avulsas, sem nunca ter encontrado, garantidamente, a origem da palavra Gafanha.

Fernando Martins

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Efeméride Gafanhoa: Nascimento de Joana Maluca

1788 – 7 de Setembro – Nasce Joana Rosa de Jesus

Em 7 de Setembro de 1788 nasceu Joana Rosa de Jesus, também conhecida por Joana Maluca ou Joana Gramata. Viria a falecer em 1878, com 90 anos de idade, portanto.
O apelido Maluca veio de seu marido, José Domingos da Graça, a quem chamavam “o Maluco”, no dizer do primeiro pároco da Gafanha da Encarnação, padre João Vieira Rezende, autor da Monografia da Gafanha.
Quando faleceu, Joana Maluca deixou nove filhos e 66 netos, que chegou a conhecer, tendo todos eles deixado prole.
Diz o Padre Rezende: “É claro que, uma geração tão numerosa e florescente, entroncada numa idade tão provecta, e a quem ela assistia como senhora, e rainha, deu-lhe o direito de crismar a sua povoação, a Gafanha-da-Gramata, com a alcunha que ela tinha recebido do marido. Era de justiça o privilégio, que os lugares circunvizinhos lhe concederam. Aparecer no local mal povoado uma macróbia, chefiando um povo de 66 netos, dava direito a consagração que ficasse marcando nas gerações futuras – mesmo como aproveitável lição contra as nefandas práticas do maltusianismo, agora em moda.
“Ainda hoje [1944] existem na Gafanha da avó Maluca, na Gafanha-da-Maluca, muitos Domingos da Graça, seus descendentes, mais conhecidos por Malucos. Desta vez foi a Joana maluca quem deu o nome a esta Gafanha."

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O GAFANHÃO HUMANIZOU A DUNA

Quem surriba chão de areia...
“Quem surriba chão de areia não encontra onde enterrar raízes de esperança e quem irriga duna virgem sabe que mija numa peneira! Quem lança a semente em ventre que é maninho não pode ter esperanças de fecundação. E, por isso, o Gafanhão, antes de cultivar a lomba, teve de corrigir-lhe a esterilidade servindo-se da Ria que lhe passa à ilharga, procurando nela a nata que amamentou a semente que deixou cair, amorosamente, naquele chão danado. E humanizou a duna.” Frederico de Moura Citado em “Gafanha da Nazaré – Escola e comunidade em mudança”

sábado, 23 de maio de 2009

Características dos gafanhões

Rocha Madahil escreveu em 1966 um artigo, baseado numa descrição dos finais do século passado (séc. XIX), o seguinte, como se pode ler em “Gafanha da Nazaré – Escola e comunidade numa sociedade em mudança”, de Jorge Arroteia e outros: “são denominados gafanhões os habitantes da Gafanha. O seu typo physionomico denuncia feição árabe. Os homens são robustos e de boas formas, e as mulheres de mediana estatura, mas cheias e vigorosas. São de carácter expansivo e índole benévola. É raridade o casamento de um gafanhão, homem ou mulher, fora da colónia, que talvez por isso conserva immutavel a sua feição primitiva.” Nota: Com tanta mistura de gentes de tantos sítios, estou em crer que Rocha Madail, se fosse vivo, ficaria altamente espantado com os actuais gafanhões e gafanhoas. FM

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Denomina-se Gafanha...

:
“Denomina-se Gafanha toda a região arenosa dos concelhos de Ílhavo e Vagos com cerca de 25 quilómetros de comprimento por 5 de largura, abraçada do Norte ao Sul (lado poente) pelo rio Mira e do Norte ao Sul (lado nascente) pelo rio Boco, afluentes da Ria-de-Aveiro, e confinando pelo Sul com uma linha que, saindo dos Cardais de Vagos, vai fechar ao Norte do lugar do Poço-da-Cruz, freguesia de Mira. Pela identidade da sua origem, topografia, condições de vida, costumes, etc., consideramos como uma continuação da Gafanha a duna situada naqueles dois concelhos, entre o Oceano e a Ria.” “Monografia da Gafanha”, 2.ª edição, 1944, do Padre João Vieira Rezende

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TRADUÇÃO

GAFANHA -Séculos X-XII

O mar já andou por aqui... E se ele resolve regressar? Não será para o meu tempo, mas pode acontecer um dia!