João Magueta, um marnoto
com saudades da safra do sal
João Gandarinho Magueta,77 anos, sete filhos e dez netos, sente-se honrado por ter sido marnoto durante 30 safras. Ostenta, por isso, na parte exterior da sua casa, um painel cerâmico alusivo à sua vida nas salinas. E fala, a talho de foice, da vida dura que levou. Chegou a ser convidado por alunos da Universidade de Aveiro para explicar, em plena marinha, as várias fases da produção do sal. Também guarda, como boas recordações desses tempos, fotografias em plena faina. E continua com saudades dos trabalhos nas salinas. Tem muita pena de ver a situação do Salgado Aveirense em completa decadência.
João Magueta mostra que a arte de produzir sal lhe está no sangue. Começou cedo, aos 11 anos, como moço do próprio pai, marnoto, natural da Gafanha da Encarnação, mas radicado na Gafanha da Nazaré depois do casamento. O João não andou na escola, mas aprendeu a ler e a fazer contas com o pai, que, seguindo hábitos familiares, ensinou os filhos. Exceto o mais novo, que já apanhou a lei da obrigatoriedade escolar. O exame da 4.ª classe veio mais tarde, por exigência de uma fábrica de cerâmica, em Aveiro, onde trabalhava depois das labutas na marinha. Foi preparado, já adulto, para esse exame pelo professor Ramos.
Para além das tarefas de moço e marnoto, o João trabalhava no inverno onde era possível, como nas secas e até, mais tarde, como cobrador da Auto Viação Aveirense.
Curiosamente, o seu avô, Manuel Magueta, mestre-escola e lavrador, ensinava, aos sábados e domingos e à semana quando chovia, na Gafanha da Encarnação quem gostasse de aprender a ler, a escrever e a fazer contas. Como era tradição, os alunos contribuíam, por ano, com alguns produtos agrícolas, pois que o dinheiro era escasso.
João Magueta começou como moço, tendo ganho, no primeiro ano, de abril a setembro, 300 escudos, e recorda, com natural nostalgia, o contato com a água salgada sobre a qual incidia o sol forte, provocando, lentamente, a cristalização do sal.