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domingo, 3 de março de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 334

POSTAL DO PORTO – 199 




PROSTRADOS… LEMBRA A QUARESMA! 

Hora de ponta na cidade; sabeis como é: trânsito intenso, nervos à flor da pele, bichas, apitadelas, acelerações, travagens bruscas, e ainda muitas situações que na banda desenhada dão uma certa vida às quadrículas, mas que francamente me abstenho de transcrever em letra que gente possa ler. 
Qualquer um pode ser apanhado. Também nessa tarde esperei em casa que viessem pelas duas netas que nos fizeram companhia. Lição de música com hora marcada. Entraram no carro da mãe que ainda conseguiu fazer inversão de marcha, mas foi apanhada… Que arrelia! 

Pela minha parte tinha outro compromisso, adeus, e segui pelo passeio, observando (e ouvindo) reações de ar carrancudo. Mas na esquina da rua esticavam-se pescoços para a direita e ecoavam gargalhadas. Fiquei curioso! Não precisei de alterar o meu percurso e fui seguindo no meu ritmo que já não pode ser muito apressado. 
Se vos disser o que vi grande vai ser a vossa admiração, tal como a minha, com muitos pontos de exclamação!!! E o que vi?! Um homem deitado na estrada, atravessado! Um carro parado e o condutor fora, de braços abertos, de braços cruzados, gesticulando! Não ouvia as palavras, mas o «deitado» não se mexia… 

Então, sem mesmo fechar os olhos, eu já estava no passeio frente ao Zézé das Caldeiradas, pé descalço, calça arregaçada, a fazer arruaça com outros companheiros. Em tudo havia semelhança com o que se passava ali na rua Central de Francos, mas as diferenças eram muito significativas para mim: na rua José Estêvão (ainda não havia avenidas!) o homem que se deitava era nosso conhecido, o Pessa. E ele não se deitava… Quando o carro se aproximava, sempre a uma velocidade razoável, ele atirava-se (com toda a propriedade: projetava-se!) para a frente do carro… Chiadeira infernal dos pneus e, não poucas vezes, condutores furiosos que só não lhe esmurravam os fagotes porque alguém pulava e chamava à razão a fúria. Mas era cada calafrio! 

E aqui está como numa tarde de sol frio de fevereiro me transportei ao solo pátrio por uma razão não muito edificante. Já agora duas conclusões: 
O trânsito, passados três quartos de hora, normalizou. 
A segunda, mais do que conclusão, uma proposta: introduzir no nosso código da estrada o sinal que copiei da legislação dum país europeu que foi muito falado por causa da carne de cavalo. Assim os automobilistas não precisavam de se incomodar, apenas respeitar o código. 

Manuel 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Passeio a Águeda, no tempo do Padre Bastos



Por gentileza do Ângelo, aqui está mais uma fotografia, registada durante um passeio a Águeda, organizado pelo Padre Bastos. Recordo que o Padre Bastos foi pároco da Gafanha da Nazaré entre 24 de abril de 1948 e 18 de novembro de 1950. Portanto, esta foto tem mais de meio século. É obra. Já agora, quem é que identifica esta juventude? Dão-se alvíssaras!


****

Mais uma achega do Ângelo Ribau


 De cócoras: - Carlos Belo, Nelson Mónica e Oscar Simões
 De pé:         - Manuel Olivio, Diamantino Ribau, Altónio Alves (Drogas), Fernanda Conde, Manuela ?, Maria do Nico,   ??  Filho do Sr. Júlio  de Aveiro, Eduardo Correia, Raul Ventura, ??, Manuel Sardo.
Por trás      - ?? Creio que era irmão do que está ao lado do Manuel Sardo.

domingo, 11 de março de 2012

Recordando Dona Gracinda dos Correios


Dona Gracinda

Gracinda Marques da Silva foi uma funcionária dos Correios que trabalhou entre nós até se reformar. Mais concretamente, desde 1946 a 1983. Trata-se de uma pessoa que irradiava simpatia, mostrando-se prestável para toda a gente. Segundo informações que me foram prestadas pelo seu sobrinho por afinidade e meu amigo, Henrique Neves, a Dona Gracinda está presentemente no Lar do Professor, em Aveiro, tem 92 anos, de  saúde frágil, mas com uma lucidez considerável. 

Painel cerâmico

A Dona Gracinda, como era mais conhecida, no seu posto de trabalho ou na rua, nasceu a 19 de Julho de 1919 e iniciou a sua carreira profissional quando terminou os estudos no Liceu Nacional de Aveiro. Entrou nos Correios (atuais CTT) para cobrir faltas de funcionárias, na mesma cidade, em 1943, sendo colocada, posteriormente, no referido ano, em Mira, onde permaneceu até 1946. E neste último ano foi transferida  ainda para a Gafanha da Nazaré, onde se manteve até ser aposentada. 
Na sua residência, em Aveiro, foi encontrado pelos seus familiares o painel cerâmico que ilustra este texto, como sinal de distinção pelo zelo  com que cuidou da casa que habitou, cedida pela empresa. Contudo, a Dona Gracinda nunca o terá exibido, decerto por modéstia.
Daqui a felicitamos pelo que fez pelos gafanhões, desejando-lhe muitos mais anos de vida.

Nota: Os anos passam, mas nem sempre as gerações sucessivas  podem (ou  sabem)  preservar a memória de quem as serviu nos mais diversos cargos públicos ou privados, sobretudo os que cumpriram as suas tarefas profissionais com proficiência e proximidade. É por isso que eu, sempre que posso, dou corpo ao prazer de  recordar pessoas que muito deram à nossa comunidade.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Recordações da guerra colonial


MÃE, SIMPLESMENTE MÃE
Ângelo Ribau Teixeira

Ela era a mãe de um simples soldado. Vivia na sua terra, só, pois o marido tinha falecido havia uns tempos. Era pescador numa traineira da pesca da sardinha. Um dia, ao entrar na barra, a traineira bateu contra o molhe e afundou-se, tendo falecido grande parte da tripulação. O intenso nevoeiro que se fazia sentir,  a falta de radar que, naquela altura, ainda não estava instalado na embarcação, bem como o facto de a pesca ter sido muito boa, com sardinha da proa à ré, "pesada",  como se dizia da gíria,  terão contribuído para o desastre.
Recebi a notícia por um jornal que vinha a embrulhar uma encomenda de um companheiro de guerras.
Conhecia a maior parte dos tripulantes, alguns meus colegas de escola, outros desconhecidos e pessoas mais velhas, onde reconheci o pai do tal soldado, que se encontrava no Leste de Angola. Perguntei à minha mulher como tinha reagido aquela mãe, viúva e com o filho longe… sem mais ninguém…
— Mal, muito mal; Anda aí pela rua gritando, respondeu.
E acrescentou:
— O mar levou-me o marido; os “outros”, o meu filho. Malvados!
Era mais uma mãe. Simplesmente uma mãe só no mundo. Como tantas naquele tempo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Seminário de Santa Joana Princesa - 2


Cortejo a favor do Seminário de Aveiro 

Seminário de Santa Joana Princesa

Das minhas memórias, recordo que participei num cortejo 
de oferendas a favor do Seminário, com o envolvimento 
de dezenas de paróquias da diocese. 
Foi isto em 30 de Junho de 1946

«Após o meio-dia toda a cidade [Aveiro] se animou com um grandioso cortejo de oferendas a favor da construção do Seminário de Santa Joana. As dezenas de paróquias da Diocese vieram com suas representações características, com seus ranchos folclóricos e com os seus donativos generosos. As ruas encheram-se dos mais variados cantos alegres e populares, dos sonoros acordes de diversas filarmónicas e da beleza dos carros alegóricos e garridos. Além do valor material que significou esta magnífica jornada de caridade, o cortejo constituiu mais um elemento a unir as terras do Bispado à volta do mesmo centro espiritual, fixado em Aveiro.» LVST 
Integrei o cortejo, a que se associaram empresas e católicos da nossa terra, com carros enfeitados e carregados de presentes, os mais diversos, desde géneros alimentícios, incluindo bacalhau, até materiais de construção e madeiras dos estaleiros. 
As pessoas partiam em grupo dos seus lugares rumo à concentração, junto à ponte de madeira que nos ligava a Aveiro. E assim seguimos a pé até ao destino. 
A minha memória diz-me ainda que as nossas ofertas mais miúdas foram depositadas nas barracas da Feira de Março, ainda não desmontadas. 
O que levava numa saca, que depois passou para um carro de vacas, já se me varreu da memória. Milho? Feijão? Não sei. Só sei que voltei a pegar nela, no Rossio, para a entregar numa barraca. Aí, o seu conteúdo passou para uma caixa e voltei satisfeito com a saca na mão para casa.

Fernando Martins,
no livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

NOTA: LVST - "Lima Vidal e o seu Tempo", de João Gonçalves Gaspar

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Agosto, mês de inverno para as marinhas


Ponte da Cambeia, Portas d'Água e Jardim ao fundo

Recordações da minha juventude

Estávamos em Agosto. Era o primeiro mês de “Inverno” para as marinhas (palavra de marnoto), dado que começavam os primeiros nevoeiros e a produção de sal diminuía a olhos vistos!
— Hoje trouxe uns sacos para levar sal para casa, diz o marnoto. Quando chegar o Inverno tenho de ter sal para salgar o porco, quando for a matadela. Logo não vamos para o Egas. Vamos para a Cambeia, que tenho lá a minha mulher à espera com o carro dos bois.
E assim foi. Terminados os trabalhos do dia, foram enchidos os sacos e transportados em padiola para a bateira.
Depois de arrumadas as alfaias no palheiro, fechado este e arrumadas as chaves num buraco de ratas, demos início ao regresso a casa. O vento era fraco, mas mesmo assim içámos a vela, e lá viemos, desta vez em direcção ao Esteiro Oudinot, por onde chegaríamos à Cambeia. Mais adiante, no Jardim do Oudinot, as árvores, que eram altas, impediam o vento de chegar à vela, pelo que a solução era os moços saltarem para terra e com uma corda (a cirga), puxarem eles a bateira pelo Esteiro fora, que tinha cerca de dois quilómetros de comprimento, enquanto iam conversando.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Festas na Gafanha da Nazaré



S. Tomé, imagem que veio da primeira igreja matriz

Diz a tradição que sempre houve festas na Gafanha da Nazaré. Mesmo antes da criação da paróquia e freguesia o povo organizava e participava nas festas, muitas delas, senão mesmo todas, feitas à sombra dos padroeiros e outros santos da comunidade católica. 
Além da festa da padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, há registos e memórias de outras: Nossa Senhora da Conceição (Muito participada por todos, em especial pelos marítimos ligados à pesca do bacalhau), São Tomé (com promessas dos lavradores referentes ao gado), Mártir São Sebastião, Nossa Senhora dos Navegantes (no Forte) e São João (na Barra). 
Posteriormente, vieram as festas de Nossa Senhora dos Aflitos (Chave) e São Pedro (na Cale da Vila) eram festas que se estendiam no Verão, depois ou durante as colheitas, como necessidade de descompressão para quem trabalhava duramente nos campos. 
Havia ainda datas festivas, que entusiasmavam o nosso povo, celebradas com alegria, nomeadamente, o Natal e a Páscoa, cada uma com características próprias. Destas, destacamos o Natal, a que se associava os Reis. 
Contudo, não faltava a alegria, sempre que motivo surgisse. A “botadela” na marinha, o erguer da casa, a “matadela” do porco, as novenas, as romarias da região, como o São Paio da Torreira, a Senhora da Saúde, a Senhora das Areias e a Santa Maria de Vagos, entre outras. Mas também os casamentos e baptizados, as primeiras comunhões, as visitas de Nossa Senhora de Fátima e os encerramentos da catequese, entre outras. 
Romarias mais distantes estiveram, desde sempre, nas agendas dos gafanhões. A pé ou de camioneta, em especial ao santuário de Fátima, como ainda hoje acontece.

Do livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Agosto da minha meninice



Ponte da Cambeia



Quando hoje contemplo a azáfama do mês de agosto, não posso deixar de retroceder até aos tempos da minha meninice, com muito menos praia, sobretudo para as classes mais humildes. Havia na maioria das famílias trabalhos agrícolas e os pais tinham que se envolver em diversas tarefas para sustentar as suas gentes. 
As férias eram mais voltadas para a ria, onde os filhos chapinhavam nas águas serenas da laguna, ao mesmo tempo que apanhavam cricos, mexilhão, burriés, navalhas, caranguejos e tudo o mais que viesse à rede. Para consumo próprio e, eventualmente, para vizinhos e familiares. Nessa altura, ainda se viam por aqui pessoas dos lados de Mira e Vagos, que apanhavam sobretudo cricos, que depois transportavam em burros, provavelmente para vender. 
Aos domingos, muito raramente, lá se ia até à Praia da Barra, para molhar os pés e pouco mais. Contudo, recordo famílias que tinham o hábito de ir à beira-mar, principalmente as mais ilustradas e com mais posses, ligadas às indústrias e ao comércio. Os de Ílhavo frequentavam a Costa Nova, como é sabido, mantendo-se, presentemente, essa tradição e gosto.
A malta miúda costumava dar os primeiros passos na natação no esteiro pequeno; o esteiro grande, que ladeava o Jardim Oudinot com fruta apetecível, era só para quem sabia nadar e com força para o atravessar. Recordo que os miúdos nadavam nus e sem preconceitos, quais naturistas puros e sem mácula; as miúdas, essas atiravam-se ao esteiro de vestido fino, porque era verão. E quando saíam da água, davam um certo espetáculo, como se pode facilmente imaginar. 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Recordações: Pombos-correios na Gafanha da Nazaré

Largada de pombos-correios na dia do município

Os corredores de fundo

Quando os pombos-correios começaram a sobrevoar, em bando, a nossa terra, na década de cinquenta, longe estaríamos de pensar que esta “paixão” de alguns gafanhões chegasse tão longe. Mobilizar 1250 pombos, todas as semanas, para concursos nacionais e internacionais, durante seis meses, não será tarefa fácil.
Nos princípios, em data que não posso precisar, fui convidado para assistir a um encontro de formação destinado a columbófilos da Gafanha da Nazaré. O palestrante, dos lados do Porto, era especialista no assunto e com fama de campeão.
Foi um gosto ouvi-lo, sobre o tratamento, seleção e arte de treinar campeões. E pelas perguntas que lhe faziam os participantes, compreendia-se que não estavam ali para brincar. Os pombos-correios tinham e têm, pelo que ouvi, horários para cumprir, alimentação selecionada e regrada, regras para atender as sugestões do dono e truques para entrarem no pombal sem perda de tempo, que os minutos e segundos contam bastante nos concursos.
Imagino quanto sofrem os columbófilos da nossa terra, e não só, quando algum pombo se perde no caminho durante as provas em que têm de mostrar resistência, capacidade de sofrimento, e um sentido de orientação, que lhes é próprio, muito apurado.

Fernando Martins

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Migalhas de boroa para sopas de café

Migalhas

«Conheci um padeiro que distribuía o pão de bicicleta, num cesto de duas abas, pendentes no porta-bagagem. Um dia recusou vender pão, só porque o filho da casa, ingenuamente, o informou de que a mãe tinha duas caixas de milho. 
Um amigo, que costumava comprar boroa na sua padaria, na Barra, quando chegou a sua vez, deparou-se com um dilema. A boroa estava esgotada e o meu amigo, mais velho do que eu uns anitos, viu-se obrigado a comprar as migalhas que restavam na bancada de mármore. Questionado por mim para que serviam as migalhas, que havia pago como se fossem um pedaço de boroa, limitou-se a dizer-me que se destinavam a sopas de café.»

Nota: Esta estória aconteceu no tempo da Segunda Grande Guerra

Fernando Martins

Do livro "Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"

domingo, 27 de março de 2011

Gago Coutinho em S. Jacinto

Gago Coutinho, o segundo da direita para a esquerda

«Em 1946, o Almirante Gago Coutinho visitou a Escola com o seu nome [Escola de Aviação Naval Gago Coutinho, em S. Jacinto]. Foi a última vez que o ilustre marinheiro esteve em S. Jacinto, aonde foi recebido pelo Comandante Cardoso de Oliveira e por toda a guarnição que o acarinhou de modo especial.
Depois de uma cerimónia no hangar, com o outro herói da Travessia a tecer elogios a Sacadura Cabral, seu companheiro de viagem, o pessoal ligado ao voo transportou pelo ar, sentado numa cadeira, o patrono da Escola que agradeceu, comovido, a manifestação de carinho e simpatia.»

In "Hidro-Aviões nos Céus de Aveiro", de Joaquim Nunes Duarte

domingo, 12 de dezembro de 2010

O exame da terceira classe

Escola da Ti Zefa, onde fiz o exame da 3.ª classe

Quando encontrei o meu amigo João [nome fictício], na avenida principal da cidade, nem sequer soube, de repente, como era o seu nome. Emigrante há décadas, só de tempos a tempos vinha à terra, sempre no mês de Agosto, mês em que eu habitualmente saía para gozar, longe da rotina, uns dias de lazer. Esta coincidência de desencontros a fio fez de nós uns simples desconhecidos.
Saí de casa logo de manhã cedo com vontade de caminhar ao deus-dará, usufruindo de um sol que tardava em aparecer para nos aquecer. Ruas cheias de gente que deambulava a caminho da igreja matriz, para a missa dominical, ou em busca de um lugar num café do centro da cidade para saborear a “bica” e ler o jornal. Das pastelarias e padarias saíam pessoas apressadas com saquinhos de pão fumegante que apetecia comer, logo ali, barrado com manteiga. Carros passavam decerto com destinos marcados e no quiosque eu esperava ansioso o diário que todos os dias costumo ler, na convicção de que iria ter acesso a alguma novidade, daqueles que nos prendem a atenção e nos deixam a pensar.
Da berma da rua, uma voz, forte e alegre, chama por mim, feliz pelo encontro. Olho e vejo um rosto conhecido de há muito tempo. Do tempo da escola primária, da Escola da Ti Zefa, onde o professor Ribau nos ensinou as primeiras letras e nos encaminhou na vida.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

As Senhoras Mestras da Catequese

Igreja Antiga



A Minha Mestra Joana Rosa Bola

A minha Mestra, senhora Joana Rosa Bola, recebia-nos numa sala onde ficávamos sentados no chão, em círculo. Ela, se bem recordo, estava sentada numa manta de tiras. Extremamente bondosa, tinha uma paciência de santa e um sorriso encantador.
Solteira, vivia um pouco da agricultura, mas também era tecedeira, onde fazia passadeiras e mantas de tiras a quem lhas encomendava. As pessoas, sobretudo mulheres e raparigas casadoiras, levavam-lhe as tiras feitas de roupa velha. Escuras para as passadeiras e brancas para as mantas. Faziam-nas ao serão ou em dias de muito frio e chuva, que impediam os trabalhos agrícolas. Num desses serões, a que assisti, um namorado cortava as tiras, enquanto a menina as ia ligando, antes de fazer os rolos.
A senhora Mestra dedicava muito do seu tempo ao ensino da catequese, assumindo essa tarefa como missão. Recordo com saudade a maneira como ela nos olhava e a devoção com que nos iniciava nos caminhos da fé e da devoção a Jesus Sacramentado e a Nossa Senhora.
Era um ensino fortemente voltado para a repetição das orações fundamentais e para os conhecimentos básicos, em especial, o Pai-Nosso, Ave-Maria, Salve-Rainha, Confissão, entre outras. Não ficavam de fora os Mandamentos da Lei Deus e os Mandamentos da Santa Madre Igreja, os Pecados Veniais e Mortais, os Sacramentos, etc.
A senhora Mestra era-o para toda a vida. Quando me cruzava com ela, tinha sempre uma atenção para com esta mulher, boa por condição e generosa por natureza. E ela jamais deixava de nos sorrir e de nos perguntar pormenores da nossa vida, alegrando-se com o que ouvia de bom. Esse meu comportamento era estimulado por minha mãe. Decerto acontecia com os meus colegas e amigos, meninos e meninas, já que na catequese não havia discriminação de sexos como, aliás, acontecia na escola primária, em que havia salas para rapazes e salas para raparigas. 

Fernando Martins


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Efeméride: 5 de Outubro de 1910

Será que os gafanhões estiveram a par
do que se passou em Lisboa nessa data?


Em 5 de Outubro de 1910 é implantada a República em Portugal, gerando um ambiente de crispação entre os defensores do antigo regime e do novo, como é natural. Imbuída do espírito anticlerical, até parece que a Igreja Católica e os seus seguidores são inimigos a abater, acusados de serem a razão do atraso em que vivíamos. Aliás. Antero do Quental, numa “Conferência do Casino”, em 27 de Maio de 1871, atribui ao catolicismo «as causas da decadência dos povos peninsulares».
Com a lei da separação de 20 de Abril de 1011, há a nacionalização dos bens da Igreja, a abolição do ensino religioso nas escolas e a perseguição ao clero, em especial aos jesuítas e a quantos se mostrem discordantes das ideias republicanas no poder. De positivo, salientamos a separação da Igreja e do Estado, pondo fim a séculos de convivência, nem sempre pacífica.
Decreta-se a lei do divórcio e tratamento igual para todas as religiões, terminando a ligação umbilical entre o Estado e a Igreja Católica.
Nas capitais de Distrito e nos grandes centros não faltam, todavia, manifestações de regozijo pela mudança do regime em 5 de Outubro. Os jornais dão conta desses movimentos, apesar de alguma indiferença por parte dos povos simples, como são os nossos antepassados, tanto mais que os contactos com as zonas urbanas de Aveiro, Ílhavo e Vagos estão muito limitados, por carência de acessos fáceis.
“O Século” e o “Diário de Notícias”, de âmbito nacional, bem como periódicos regionais e locais, referem, com destaque, o modo festivo como Aveiro e Ílhavo recebem a revolução de 5 de Outubro. Diz “O Século” de 10-X-1911: «O povo [de Ílhavo] estava na maior anciedade por falta de notícias, quando chegou de Aveiro o administrador do concelho, participando que a Republica estava proclamada. N’essa occasião, o sr. Eduardo Craveiro soltou um estridente viva à Republica…»

In “Gafanha da Nazaré — 100 anos de vida”

domingo, 26 de setembro de 2010

Navio-museu Santo André


Alegria na chegada; a tristeza vinha depois

O navio-museu “Santo André” conduz-me sempre a recordações indeléveis, com saudades e memórias de mau pai, Armando Lourenço Martins, mais conhecido por Armando Grilo, contra-mestre do arrastão que foi campeão das pescas durante muito tempo. Fazia duas viagens por ano e o meu pai só podia estar connosco em curtas férias, ainda por cima envolvido nos trabalhos de preparação para novas viagens.
A partida para mais uma viagem era dia de luto em casa, com a nossa mãe chorosa e eu e o meu irmão calados. Não tínhamos palavras para dizer. E a vida continuava, com as saudades presentes, atenuadas pela ânsia da chegada, só possível no tempo próprio e com boa carga de bacalhau.
Com a partida do banco, rumo a casa, vinha a alegria, e os preparativos da recepção começavam, aumentando exponencialmente, para que o pai encontrasse tudo direitinho. Casa, quintal, as coisas pessoais de cada um arrumadinhas, que os avisos da mãe não paravam, lembrando que o pai não gostaria disto e daquilo.
O dia da chegada era festa. Corrida para a Barra, olhando sofregamente o arrastão a entrar, com os tripulantes a acenar com força, bonés no ar, como que a dizer «estou aqui!». Nova corrida para o porto de pesca longínqua, junto à EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), empresa do “Santo André”. E nós ansiosos para entrar no navio.

sábado, 18 de setembro de 2010

Seminário de Santa Joana: Um cortejo em que participei





Das minhas memórias, recordo que participei num cortejo de oferendas a favor do Seminário, com o envolvimento de dezenas de paróquias da diocese. Foi isto em 30 de Junho de 1946.
«Após o meio-dia toda a cidade [Aveiro] se animou com um grandioso cortejo de oferendas a favor da construção do Seminário de Santa Joana. As dezenas de paróquias da Diocese vieram com suas representações características, com seus ranchos folclóricos e com os seus donativos generosos. As ruas encheram-se dos mais variados cantos alegres e populares, dos sonoros acordes de diversas filarmónicas e da beleza dos carros alegóricos e garridos. Além do valor material que significou esta magnífica jornada de caridade, o cortejo constituiu mais um elemento a unir as terras do Bispado à volta do mesmo centro espiritual, fixado em Aveiro.»
Integrei o cortejo, a que se associaram empresas e católicos da nossa terra, com carros enfeitados e carregados de presentes, os mais diversos, desde géneros alimentícios, incluindo bacalhau, até materiais de construção e madeiras dos estaleiros.
As pessoas partiam em grupo dos seus lugares rumo à concentração, junto à ponte de madeira que nos ligava a Aveiro. E assim seguimos a pé até ao destino.
A minha memória diz-me ainda que as nossas ofertas mais miúdas foram depositadas nas barracas da Feira de Março, ainda não desmontadas.
O que levava numa saca, que depois passou para um carro de vacas, já se me varreu da memória. Milho? Feijão? Não sei. Só sei que voltei a pegar nela, no Rossio, para a entregar numa barraca. Aí, o seu conteúdo passou para uma caixa e voltei satisfeito com a saca na mão para casa.

Fernando Martins

In "Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"

Fonte: Memórias pessoais e "Lima Vidal e o seu tempo"

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Pessoal das secas – 1938




Nota: Registos fotográficos do capitão Fernandes, gentilmente cedidas pelo também capitão e seu filho Óscar Fernandes, por intermédio do Júlio Cirino. Este é um sinal evidente das riquezas culturais guardadas em arcas cheias de recordações que fazem parte da nossa história comum. Tenho dito e escrito vezes sem conta que este património merece ser divulgado e comentado, ou não faça ele parte da identidade forjada durante décadas pelos nossos antepassados. Aqui ofereço, mais uma vez, este meu espaço a todos os conterrâneos...
Pessoal das secas que seria interesssante identificar.

FM

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Praia da Barra: Hélio Tavares, um homem bom

Conheci o senhor Hélio Tavares pela sua colaboração regular no “Timoneiro”. Debruçava-se prioritariamente sobre temas regionais, onde não faltava a ria, o moliceiro, a história da região e a vivência religiosa. Era solteiro e catequista, mas distinguia-se pela simplicidade no viver e no falar. Muito sereno e muito ponderado, mostrava-se sempre pronto para ajudar quem precisasse. Morava na Barra, com sua mãe idosa, em casa própria e vivia de rendas no Verão. Era um homem extremamente bom.
Um dia, os seus artigos não apareceram no cartório, como era costume. Considerei que haveria razões para o senhor Hélio se atrasar. E o jornal saiu sem a sua colaboração.Os seus artigos, manuscritos, mostravam uma caligrafia certinha e cuidada. De vez em quando surgia com um poema a condizer.
Vim a saber que o senhor Hélio estava internado no Hospital  Rovisco Pais, na Tocha. Estranhei o facto, mas não o associei à doença da Lepra.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O TORPEDEAMENTO DO LUGRE "GAMO"




«Aos 22 dias do mês de Agosto do ano de 1918, pelas 14 horas, encontrava-se o lugre português “Gamo” ancorado nos Bancos da Terra Nova, nos baixos do Eastern Shrals, entre os leijos Sunder e Nain Fathms, sendo o seu capitão João Fernandes Mano ( O Agualusa) e seu piloto João Maria da Madalena e mais trinta e sete pessoas de equipagem.
Este navio achava-se estanque de quilha à borda, carregado, com cerca de seis mil quintais de bacalhau salgado, equipado e munido com todos os necessários para poder empreender a sua viagem dos bancos da Terra Nova para Lisboa .
Pelas 15 horas do mesmo dia, como já não tivéssemos mais sal para salgar bacalhau e estando o navio bastante carregado, mandou o capitão suspender a ancora, mas em virtude de se encontrar a mesma enlocada, não foi possível suspende-la .
Então o capitão mandou içar todas as velas para assim forçar a amarra e ver se arrancava a ancora,… assim trabalhando-se até as 22 horas com diversas manobras sem resultado algum.
No dia seguinte (23), pelas 9 horas da manhã, vendo o capitão que não era possível arrancar a ancora, mandou novamente içar todas as velas e cortar a amarra.»

Ler mais aqui

sábado, 26 de junho de 2010

Columbofilia na Gafanha da Nazaré


Em 15 de janeiro de 1952, foi fundada a mais antiga associação da nossa freguesia, ainda em atividade: Grupo Columbófilo da Gafanha da Nazaré. Foram seus fundadores João Nunes Bola, Joaquim Robalo Campos, Augusto Francisco Ferreira e Joaquim Pereira. Tinha, e continua a ter, como objetivos principais, cuidar, criar, selecionar e treinar pombos-correios para competição em concursos, quer a nível nacional quer internacional, organizados pela Federação Portuguesa de Columbofilia.
Com 85 associados, maioritariamente da Gafanha da Nazaré, mobiliza para esses concursos, semanalmente, 1250 pombos, só da nossa freguesia, durante seis meses.

Nota: Com acordo ortográfico

Arquivo do blogue

TRADUÇÃO

GAFANHA -Séculos X-XII

O mar já andou por aqui... E se ele resolve regressar? Não será para o meu tempo, mas pode acontecer um dia!