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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Descontentamento de gafanhões em relação a Ílhavo



Mestre Mónica


Os tempos mudaram, mas é bom recordar

Tenho-me interrogado inúmeras vezes sobre o porquê de um certo espírito de descontentamento de gafanhões em relação a Ílhavo, que não em relação aos ilhavenses. Na minha meninice e juventude era notória até uma atitude de revolta.
Com o tempo, e sobretudo depois de na primeira cadeira autárquica se sentar um gafanhão, gestos de descontentamento e revolta começaram a atenuar-se. Hoje, em plena democracia, as relações tornaram-se cordiais, pese embora os naturais pontos de vista divergentes dos vários partidos políticos existentes.
Sabe-se que a Câmara de Ílhavo, desde a criação da freguesia da Gafanha da Nazaré e mesmo antes disso, mostrou um desprezo incompreensível pelas Gafanhas e pelos gafanhões. Nas sessões camarárias, pouco ou nada se falava deles. Apenas entravam nas agendas Ílhavo e Costa Nova. Tudo o mais era relegado para as calendas gregas.
Em 1936, o ponto de ruptura atingiu nível elevado. A energia eléctrica passou por cima da Gafanha da Nazaré para a Costa Nova e Barra, porque o Farol necessitava dela, e os gafanhões foram ignorados. Não havia dinheiro para eles nem para as indústrias e comércio locais.
A revolta deu origem à Cooperativa Eléctrica, para nos dar luz e energia. E só em 1939 foi possível aos gafanhões olharem-se cara a cara à noite.
Por essa e outras razões, o “Diário de Lisboa” foi alertado para as injustiças de que se queixavam os nossos avós. E em 14 de Agosto de 1947 inicia a publicação de uma reportagem, desdobrada em quatro publicações, com início na primeira página e continuação nas centrais, intitulada “A Ria de Aveiro e a sua Gente”, da responsabilidade de um «enviado especial». Começa assim:

terça-feira, 10 de maio de 2011

Aprender a ler na Gafanha


É ponto assente que muitos dos primitivos povoadores da Gafanha eram, academicamente falando, analfabetos ou semianalfabetos. Teriam a cultura da experiência feita, do contacto com os familiares e amigos e do pequeno mundo que limitava os seus horizontes. Escolas não havia. Alguns padres preparavam os candidatos ao sacerdócio, sendo garantido e normal que um ou outro aluno derivasse para outras áreas do saber.
Do testemunho oral que colhi, do meu privilegiado interlocutor, João Catraio, à hora da sesta, no Verão, ou ao serão, no Inverno, os jovens de qualquer idade aprendiam a ler, escrever e fazer contas com mestres, sem estudos para além do essencial, colhidos talvez da mesma forma que agora seguiam.
Na época das colheitas, os pais ou os próprios alunos pagavam aos senhores mestres com géneros, da melhor maneira que podiam. Uns mais do que outros, conforme as posses. 

Fernando Martins

Fonte: "Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"

quarta-feira, 2 de março de 2011

Gafanha: primeiras adubações químicas em 1927

Junça

Na MONOGRAFIA DA GAFANHA, o padre Resende sublinha a riqueza do moliço, constituído por limos, sibarro, sirgo, seba, folhada ou alface-do-mar, fita gorga e rabos ou rabão. Diz também que a seba e a fita desapareceram desde a Cambeia até à Murraceira com as obras da Barra em 1936. Este estrume verde constituía, pela sua composição orgânica e química, um precioso adubo que muito ajudou na transformação destas areias improdutivas em espaços verdejantes. Acrescenta o Padre Resende que, “nos sapais das praias de cabeço, também abundavam a junça, a bajunça e, mais para o seco, o junco e o feno, que subministravam bela cama para os estábulos e que, fermentados com os excrementos dos animais, fornecem por sua vez um ótimo adubo que, diga-se de passagem, por muito tempo era mal apreciado e se ia vender às ribeiras de Vagos, de Aradas, de Salreu e do Boco. Outro tanto acontecia às cinzas do borralho”. Claro que estes adubos naturais logo deixaram de ser vendidos para serem utilizados pelos gafanhões. As cinzas, por exemplo, eram empregadas como fertilizantes de cebolas e alhos. Em 1927 fizeram-se as primeiras experiências de adubações químicas, com bons resultados.

FM

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ensino das primeiras letras na Gafanha

Da Cartilha Maternal de João de Deus

É ponto assente que muitos dos primitivos povoadores da Gafanha eram, academicamente falando, analfabetos ou semianalfabetos. Teriam a cultura da experiência feita, do contacto com os familiares e amigos e do pequeno mundo que limitava os seus horizontes. Escolas não havia. Alguns padres preparavam os candidatos ao sacerdócio, sendo garantido e normal que um ou outro aluno derivasse para outras áreas do saber.
Do testemunho oral que colhi, do meu privilegiado interlocutor, João Catraio, à hora da sesta, no Verão, ou ao serão, no Inverno, os jovens de qualquer idade aprendiam a ler, escrever e fazer contas com mestres, sem estudos para além do essencial, colhidos talvez da mesma forma que agora seguiam.
Na época das colheitas, os pais ou os próprios alunos pagavam aos senhores mestres com géneros, da melhor maneira que podiam. Uns mais do que outros, conforme as posses.

In "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um texto sobre Mestre Mónica

A propósito da história da "Nau Portugal", o Administrador-Geral do Porto de Lisboa, Eng. Salvador de Sá Nogueira, diz do Mestre Mónica o seguinte, no "Arquivo do Distrito de Aveiro":

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Emigração



As causas das migrações são diversíssimas. Desde a fome à guerra, desde a falta de trabalho ao risco da aventura, desde as perseguições políticas aos desafios de familiares e amigos, desde o desejo de cortar com um passado de tristezas e misérias ao sonho de construir um futuro mais risonho para si e para os seus. Tudo serve para justificar ou para optar pela emigração.
Olhando para o século de vida da Gafanha da Nazaré, como freguesia, recordo, por conhecimento director desde a década de quarenta do século passado, altura em que comecei a reter na memória vivências mais consistentes, muitos casos de emigração, uns bem sucedidos e outros nem por isso.
A emigração foi uma realidade em todo país, com fortes implicações na região de Aveiro. E mesmo sem me fixar nos dados estatísticos amplamente estudados, não necessariamente importantes no contexto deste trabalho, importa frisar que os gafanhões também embarcaram no movimento migratório, quer por motivos económicos, que pelo sonho de chegar mais alto.
Familiares meus rumaram aos EUA no princípio do século XX, o mesmo tendo acontecido com vizinhos. E de muitos ouvi falar que lhes seguiram as pisadas. Depois foi o Brasil, Argentina, Venezuela. Mais tarde “emigraram” para Angola e Moçambique. Ainda o Canadá e depois, com grande impacto na região, a França, Luxemburgo e Alemanha, onde presentemente muitos labutam.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Primórdios da Gafanha - II

1855 — Em 1855 é construído o lanço da estrada de Aveiro à Gafanha e a ponte de madeira, necessária, para atravessar o canal.


1860 — Pouco tempo depois, em 1860, por influência de José Estêvão Coelho de Magalhães, inicia-se a construção da primeira estrada que atravessou a Gafanha, seguindo da ponte até ao Forte. Foi concluída no ano seguinte.

1863 — Em 3 de Dezembro de 1863 construiu-se, no Forte, a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, sob a direcção do engenheiro Silvério Pereira da Silva, a expensas dos Pilotos da Barra, sendo piloto-mor um tal Sousa. Foi uma resposta à religiosidade dos homens do mar e de suas famílias.

1875 — Em 1875 é construída uma nova capela, ao lado da antiga e pelo lado norte, no lugar da Chave (por vezes diz-se Cale da Vila), dedicada, como a primeira, a Nossa Senhora da Nazaré, que viria a ser a primeira igreja matriz, embora provisoriamente.

Dos capelães, até à criação da freguesia, há notícia dos Padres Jorge Vinagre, de Aveiro, João Rocha, o Borracha, de Ílhavo, e João Ferreira Sardo, da Gafanha, que seria o primeiro pároco da novel paróquia.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Primórdios da Gafanha - I

Século XVII — Os registos mais antigos garantem que nesta faixa se fixaram, no século XVII, os avós dos gafanhões que, no princípio do século XX, quiseram organizar-se como comunidade administrativa e religiosa, pugnando por aquilo que consideravam ser justo para a sua identidade, enquanto se reviam como sociedade organizada, trabalhadora e solidária. Eram fundamentalmente agricultores. Ainda não seriam identificados como gafanhões.


1677 — Em 1677, afirma o Padre Resende na sua MG, que «São feitos aforamentos por leiras, sendo de concluir que a cultura dos areais da Gafanha fosse anterior a essa data. Seriam seus agricultores os primitivos povoadores da Gafanha: Manuel da Rocha Tanoeiro, de Vagos; António Matias; Manuel Rodrigues Chino; Manuel Alves Zagalo; Domingos Francisco Bico.»

De 1677 a 1727 — O «Conde de Aveiras, ao tempo directo senhorio das Quintas da Mó-do-Meio, Preguiceiro e Carramão, isto é, de toda a orla que borda a Ria desde o actual Estaleiro até à mota que dá passagem para a Costa Nova», faz «vários aforamentos dessas quintas por leiras e, por último, vende-os ao capitão-mor, Luís da Gama Ribeiro Rangel de Quadros e Maia, governador da Barra de Aveiro e Juiz da Alfândega e seu pai Carlos Ribeiro da Maia, de Aveiro, que por sua vez as venderam por arrematação a Francisco António Camelo, o qual as deixou por herança a seu filho Fernando José Camelo, e este juntamente com toda a sua casa as deixou por testamento a seu segundo primo João Lopes Ferreira». (MG)

1800 — A Gafanha era já bastante povoada, na sua maioria por foreirosm, e em 1808, a 3 de Abril, Luís Gomes de Carvalho, «pelas sete horas da tarde, abrindo um pequeno sulco com o bico da bota, no frágil obstáculo que separava a ria do mar, deu passagem à onda avassaladora da vazante para a conquista da libertação económica, depois de uma opressão que durara sessenta anos», como escreveu o Comandante Rocha e Cunha, em 1923. É altura de sublinhar que a Gafanha muito ficou a dever à nova Barra de Aveiro, podendo nós, com propriedade, dizer que a nossa terra é filha do porto.

1818 — Dez anos depois, em Abril de 1818, é assinada a escritura da Capela de Nossa Senhora da Nazaré no lugar da Gafanha e em 21 de Março de 1835 dá-se a transferência religiosa da Gafanha, de Vagos para Ílhavo. A desanexação civil acontecerá, oficialmente, em 31 de Dezembro de 1853. Porém, somente em 24 de Outubro de 1855 é que, na prática, tal aconteceu. Há quem defenda que foi em 19 de Setembro de 1856.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Primórdios da Gafanha


A PENÍNSULA DA GAFANHA
JÁ PERTENCEU À DIOCESE DO PORTO?

A península da Gafanha abrange uma fatia de terreno de mais de 25 quilómetros de comprimento por cinco de largura. Banhada pela Ria de Aveiro e com o som do mar bem nítido, esteve inicialmente ligada a Ovar. Lê-se na brochura “Mar e Ria abraçam Santa Maria” que «Ao inquérito de 1758, que deu origem às “Memórias Paroquiais” (ou Dicionário Geográfico, coordenado pelo Padre Luís Cardoso), respondia o Pároco de Ovar que junto à “Barra Velha”, na Vagueira, a confrontar com Mira, existia um marco de pedra com as letras VAR, significando que todo o território a poente da Ria, incluindo a península da Gafanha e as Capelas da Senhora das Areias (S. Jacinto) e da N.ª Sr.ª do Bom Sucesso (Torreira), pertenciam a Ovar.»

A mesma brochura lembra que a Península da Gafanha, entre o canal de S. Jacinto e o Oceano, «esteve incluída no Senhorio de Vagos e nas Casas da Feira e do Infantado e Cabido da Sé do Porto. Daí a grande ligação a Santa Maria de Vagos (e não tanto a Ílhavo ou a Aveiro) e ao padroado de S. Cristóvão de Cabanões (Ovar)»

FM

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Acta da instalação e 1.ª sessão da Comissão Paroquial Administrativa da Freguesia da Gafanha

"Aos vinte e sete dias do mês de Outubro de mil novecentos e dez, na casa provisoriamente destinada às sessões da Comissão Paroquial da freguesia da Gafanha, concelho de Ílhavo, compareceram os cidadãos abaixo assinados nomeados membros daquela comissão por alvará do Governo Civil de Aveiro com data de vinte e quatro do corrente, e o cidadão Dr. Samuel Tavares Maia, administrador interino do concelho de Ílhavo que lhes conferiu a respectiva posse. Todos por sua honra juraram cumprir com os seus deveres de cidadãos da República Portuguesa e com zelo e patriotismo pugnarem pelo bem desta freguesia seguindo as normas da mais imparcial justiça e procurando por todos os meios ao seu alcance fomentar o desenvolvimento social, intelectual e material dos seus paroquianos.
Tendo tomado posse os membros efectivos da comissão constituíram-se imediatamente em sessão, nomeando secretário da mesma Manuel Nunes Ribau, e elegendo por escrutínio secreto o seu presidente e tesoureiro, recaindo a eleição respectivamente nos cidadãos José Ferreira de Oliveira e António Teixeira, e deliberando que as suas sessões se efectuarão no primeiro e terceiro domingo de cada mês pelas duas horas da tarde, provisoriamente em casa do vogal António Teixeira.
E mais nada havendo a tratar foi encerrada a sessão da qual se lavrou a presente acta que vai ser assinada por todos e por mim, Manuel Nunes Ribau, secretário, que a escrevi e assino.

O Presidente – José Ferreira de Oliveira
O Tesoureiro – (em branco)
O Secretário – Manuel Nunes Ribau
Jacinto Teixeira Novo
José Maria Fidalgo
Manuel Ribau Novo"

Notas:
1. O Tesoureiro António Teixeira não assinou esta acta por ter faltado á sessão n.º 2 de 6/11/1910. Veio a falecer algum tempo depois.
2. Esta Comissão Paroquial dirigiu os destinos da nossa terra desde 27/10/1910 até 31/12/1913
3. Em 2 de Janeiro de 1914 tomou posse a primeira Junta da Paróquia da Gafanha da Nazaré.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Gafanha: região rica?

Em 1934, Rocha Madail afirma: Ainda que muitas pessoas se contam neste distrito que viram a Gafanha árida e despida de vegetação, como a maior parte dos areais do litoral, este trabalho foi tão proveitoso que é a Gafanha talvez um dos lugares deste distrito em que haja mais ouro amoedado, sem contar que liberalmente fornece sustentação e trabalho a mais de oito mil pessoas sendo, por assim dizer, o celeiro e a horta dos concelhos de Aveiro, Ílhavo, e ainda da maior parte de Vagos. In Gafanha da Nazaré – Escola e comunidade numa sociedade em mudança

sábado, 25 de julho de 2009

António Ribau

"O mar estava ruim. Que fez ele? Carregou a pistola e na antiga cadeia do Forte, que pertencia aos pilotos da Barra, tomou posição e mandou entrar o navio que entrou mesmo. Se a sua ordem desse para torto, seria o seu último dia de vida. Tal não sucedeu. A propósito de superstições e bruxas a desenfeitiçar pescarias leia-se a curiosíssima página do livro “Nossa Senhora da Nazaré” referente à fundação da capela do senhor dos Aflitos ou a correspondente da Monografia."
Manuel Olívio da Rocha
Ler mais aqui

terça-feira, 16 de junho de 2009

Princípios da Gafanha

“Principia a história da Gafanha no terceiro quartel do séc. XVII e começos do XVIII: existem documentos de que pelos anos de 1677, 1682 e 1727 fizera o Conde de Aveiras aforamentos de quintas que bordam a Ria, desde o sítio do actual Esteiro até à mota que dá passagem para a Costa Nova, ainda que já antes de 1677 devia ter havido alguns cultivadores da Gafanha. (…) Grande porção do antigo areal adaptou-o pois o homem assim sucessivamente à cultura, com trabalho e suor, aproveitando a fertilidade do solo, e os adubos que a Ria lhe ministrava: cultura da batata, feijão, milho, centeio, algum vinho…" Etnografia Portuguesa de José Leite de Vasconcelos

sábado, 6 de junho de 2009

Era a Gafanha um areal inculto e desprezado

“Era a Gafanha um areal inculto e desprezado, a que só no último quartel do século XVII começam a fazer referência alguns actos de aforamento, com que principiou a cultivar-se a região: e logo se seguem as primeiras notícias de casas, de colonos, de povoadores vindos de fora e de gente da terra que cresce e se multiplica, como aquela simbólica Joana Maluca, que deixou 9 filhos e 66 netos e por isso passou, indevidamente, por progenitora dos gafanhões! Temos aqui um exemplo, importantíssimo e raro, de povoamento que pode seguir-se desde o início e em todas as fases da sua evolução: povoamento que, como noutros lugares do nosso litoral, tem na base os foros, as courelas cultivadas por famílias, que arroteiam o maninho, criam o solo arável à força de adubos, levantam casa na sorte que cultivam, transformam o areal estéril em plaino produtivo salpicado de habitações dispersas…”
Orlando Ribeiro
In Introdução à “Monografia da Gafanha

terça-feira, 26 de maio de 2009

O esforço insano dos gafanhões

Frederico de Moura, o médico vaguense que também se dedicou à escrita, que dominava com perfeição e poesia, escreveu, em 1968, na revista "Aveiro e o seu Distrito", um "Apontamento para um trabalho sobre a paisagem de Aveiro", o seguinte, sobre o esforço do gafanhão: Claro que o Gafanhão – ou o avô do Gafanhão – quando se foi às lombas para as cultivar sabia que ia investir contra vidro moído totalmente carenciado de matéria orgânica que desse qualquer quentura ao berço de uma planta. Ele bem via a mica a faiscar-lhe no lombo e bem sentia o vento a transmutar-lhe, de momento a momento, o versátil. Citado por “Gafanha da Nazaré – Escola e comunidade numa sociedade em mudança”.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Gafanha: Celeiro e horta

“Ainda que muitas pessoas se contam neste distrito que viram a Gafanha árida e despida de vegetação, como a maior parte dos areais do litoral, este trabalho foi tão proveitoso que é a Gafanha talvez um dos lugares deste distrito em que haja mais ouro amoedado, sem contar que literalmente fornece sustentação e trabalho a mais de oito mil pessoas sendo, por assim dizer, o celeiro e a horta dos concelhos de Aveiro, Ílhavo, e ainda da maior parte de Vagos.” Rocha Madail, em “Etnografia e História”, 1934, citado por “Gafanha da Nazaré – Escola e comunidade numa sociedade em mudança”

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO


Planta da Barra em 1843. Arquivo do Porto de Aveiro

Ao longo do ano de 2008 assistiu-se, com agrado, às diferentes iniciativas e cerimónias destinadas a assinalar os duzentos anos da abertura da Barra de Aveiro. Organizaram-se exposições muito interessantes e elucidativas sobre os antecedentes que levaram à execução do projecto, a complexidade dos trabalhos a executar, a tremenda dificuldade para os levar a cabo, a importância do seu funcionamento para o progresso verificado paulatinamente na região, a qualidade dos responsáveis e executores principais, que foram homenageados, como era natural. 
Seria justo que tivesse sido dado um minuto de glória aos muitos trabalhadores anónimos que, com o suor do seu rosto, deram corpo ao projecto que permitiu salvar o pouco que já restava de Aveiro e mudar a face de toda a região envolvente, que se tornou um pólo de desenvolvimento e progresso notáveis.
Muitos terão sacrificado a sua vida, quer perecendo em acidentes de trabalho, afogados ou esmagados, como era natural em tempos em que a segurança não era objecto de normas estritas e vigiadas como hoje, nem os meios disponíveis correspondiam ao necessário. Muitos vieram de longe perseguindo uma oportunidade de ganhar o magro pão para a família que ficava lá atrás, sobretudo no último ano, em que os trabalhos foram acelerados, empregando-se para isso toda a gente disponível e lançando mão de todos os recursos possíveis. Esses vinham dispostos a suportar todos os sacrifícios que lhes permitissem levar para casa tudo o que pudessem poupar do pagamento do seu esforço. 
No decurso de investigações que tenho desenvolvido sobre o povoamento da Gafanha desde o século XVII até aos nossos dias, deparou-se-me um assento de óbito que me obrigou a uma reflexão sobre esses trabalhadores anónimos, desprotegidos e esquecidos, que pagavam com o seu corpo as tristes condições a que se viam submetidos devido à sua miséria. Transcrevo-o, sem mais comentários, pois a sua crua simplicidade é eloquente: “ Requeixo - Manoel de Oliveira da Estrada 
Em dois de Março de mil oitocentos e sete anos faleceu da vida presente sem sacramentos por se achar morto junto às paredes de Nossa Senhora da Conceição cujas estão na veia da Gafanha e aí morreu com frio vindo ajudar a abrir a Barra Manoel de Oliveira da Estrada do Lugar e Freguesia de Requeixo casado que era com Maria Francisca filho de João de Oliveira e Francisca João do Lugar da Taipa da mesma Freguesia foi amortalhado em um lençol que lhe deu a Santa Casa da Misericórdia e acompanhado pelos Irmãos da dita Santa Casa era ordinário na altura magro barbas e cabelo preto salpicado de branco e foi sepultado no Adro desta Igreja de Vagos de que fiz este assento que assinei era ut supra (Assinatura) O Parº. Manoel de Almª. e Payva…” 

à margem do assento: “ Fiz 1 Nocturno era pobre” (e assinou o Pároco). Inclinemo-nos em silenciosa homenagem, em nome dos primeiros habitantes da “Gafenha”, nossos antepassados, respeitosos e solidários protagonistas de esforçada aventura de sobrevivência e progresso. Orquídea Ribau


NOTA: A partir de hoje, os meus Blogues vão passar a contar com mais uma colaboradora. Orquídea Ribau, da Gafanha da Encarnação, tem-se dedicado à pesquisa história relacionada com a Gafanha. Folgo em poder contar com ela. 
Ao mesmo tempo, quero dizer aos meus leitores que os meus Blogues continuam abertos a outras colaborações, sempre pela positiva. 
Os meus agradecimentos sinceros à Orquídea, com votos de grandes êxitos culturais, profissionais e pessoais.


FM

segunda-feira, 30 de março de 2009

Povoamento da Gafanha: História ou lenda?

Diz o Padre Rezende, na sua Monografia da Gafanha: 

(…) “Esta tradição diz-nos que a Gafanha teve como primeiros habitantes quatro criminosos, a quem a Justiça do tempo, que se não pode precisar, mandou cumprir a pena de degredo nesta África Continental. Si vera est fama não têm os nossos briosos gafanhões pergaminhos muito honrosos e limpos com que possam gloriar-se. Felizmente que estes povos desmentem cabalmente a tradição desonrosa. Adiante. 
O argumento colhe, e senão vejamos. Não é ainda hoje designado com o nome da Quinta-dos-Degregados um extenso território ao norte da Torreira, de que a Gafanha se pode considerar o prolongamento? Esta designação supre quaisquer documentos abonatórios das condenações presidiárias para esta região semi-africana. É presumível que tais documentos existam, mas não é fácil que cheguem às mãos de qualquer obscuro investigador das coisas da Gafanha. (…) 
Para satisfazer, porém, a uma tradição corrente, voltemos aos quatro criminosos, dos quais um, segundo se diz, seria murtoseiro (vulgarmente chamado marinhão) e que se instalou no local que, por isso, ainda agora se denomina Quinta-do-Marinhão; outro vareiro (habitante de Ovar), que construiu a sua cabana onde actualmente existe a Quinta-do-Vareiro; um outro, de proveniência desconhecida, que se fixou onde agora conhecemos a Quinta-do-Carramão, que dele tirou o nome; e o quarto, de quem também não me puderam informar a proveniência e bem assim para onde foi a arrastar a sua suposta grilheta.”

terça-feira, 10 de março de 2009

A Gafanha, por Campos Lima

Sobre o que escreveu Campos Lima, Leite de Vasconcelos diz o seguinte: "Do segundo escrito, consta-me, por um Catálogo, que saíram a lume, pelo menos, três fascículos. Obtive casualmente um exemplar do 3.º (impresso em Famalicão e publicado em Lisboa em 1909), que vejo ser de carácter politico-utopístico. Já se mostrou que no Rei da Gafanha havia também algo de política. Por eu não haver lido o Rei da Gafanha, nem dois fascículos de Campos Lima, foi que escrevi acima segundo penso. Acrescentarei que me faltou tempo para fazer maiores buscas."
NOTA: É curioso como se escreveu nos princípios do século XX , utilizando a vocábulo Gafanha, sem que os escritos tivessem algo a ver com a história desta terra e do seu povo. Contudo, sabe-se que, a partir daí, muito mais se escreveu, agora com estudos académicos, que seria interessante divulgar. É óbvio que eu, como amador destes assuntos, não tenho tempo nem acesso a muitos escritos sobre a Gafanha. Porém, quero admitir que um dia destes surja por aqui alguém com vontade de dar uma ajuda... FM

Arquivo do blogue

TRADUÇÃO

GAFANHA -Séculos X-XII

O mar já andou por aqui... E se ele resolve regressar? Não será para o meu tempo, mas pode acontecer um dia!