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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

ÍLHAVO NÃO É SÓ MAR...

Um texto de Manuel Cardoso Ferreira 

Mulheres da Gafanha (Do livro "As mulheres do meu país", de Maria Lamas)

Em Ílhavo existe um bom Museu Marítimo, com o seu polo Navio Museu Santo André. Para o ciclo "pesca do bacalhau" estar completo, falta a museulização de uma seca de bacalhau e a construção naval, actividades que tiveram grande desenvolvimento na Gafanha da Nazaré.
No entanto, em termos históricos e patrimoniais, o concelho de Ílhavo não pode limitar a sua oferta unicamente à temática marítima, ainda que, neste sector, seria importante a criação de um museu para valorizar os achados arqueológicos da ria, museu que ficaria muito bem instalado no Forte da Barra, um edifício militar que poderá ter origem no século XV.
Por exemplo, na Casa Gafanhoa deveria haver uma área que contemplasse a "conquista" dos areais das Gafanha, desde os tempos em que eram praticamente deserto até à pujança agrícola dos meados do século XX, incluindo a "participação" da apanha do moliço para a concretização dessa evolução, e ainda a florestação da actual mata nacional que fixou as dunas.
Em Vale de Ílhavo, a panificação e a moagem (onde houve moinhos de água e azenhas desde os primórdios da nacionalidade) mereciam um centro interpretativo que preservasse e valorizasse o património associado a essas duas actividades.
Um pouco por todo o concelho houve bastante agricultura, actividade que está um pouco representada na sala museu do Rancho da Casa do Povo de Ílhavo, situada na antiga escola primária da Gafanha da Boavista, e que também está presente na Casa Gafanhoa.
A História de Ílhavo é bastante antiga, teve inúmeros intervenientes (um, até foi primeiro-ministro) e com locais relevantes (igrejas e outros templos, casas nobres, forte da Barra, Palheiro de José Estevão, ruas e lugares: Ermida, Alqueidão, Vila de Milho, Sá...). Essa história e o espólio a ela ligada, incluindo o documental, merecem ser bastante valorizados de modo a dar a conhecer às gerações vindouras a relevância de Ílhavo em tempos idos.
Artistas também houve (e continua a haver) em Ílhavo. As exposições permanentes de Cândido Teles e João Carlos Celestino Gomes na Casa da Cultura de Ílhavo, e as cerâmicas artísticas no Museu da Vista Alegre provam isso, mas deixam antever o potencial que existe se a oferta for alargada também a outros artistas.
A arqueologia industrial também já se faz sentir no concelho, não havendo já memória dos antigos moinhos que existiram nas Gafanha, da construção artesanal naval de embarcações da ria (com as famosas bicicletas aquáticas dos irmãos Conde), das olarias, da fábrica de vidros, das carpintarias e serralharias de outrora, das antigas padarias...

NOTA: Transcrevi, com a devida vénia,  este oportuno texto do jornalista Manuel Cardoso Ferreira, publicado no Facebook. 

sábado, 13 de janeiro de 2018

RIA DOUTROS TEMPOS


O postal que reproduzo acima é mesmo um postal ilustrado, não com as cores naturais, mas com tonalidades que eram um luxo para a época. Um postal daqueles que os viajantes ou turistas enviavam pelos correios para assinalarem a sua passagem por terras ou paisagens diferentes das habituais dos seus quotidianos. A técnica aplicada não é para aqui chamada, que disso pouco ou nada sei, mas nem por isso deixa de ser agradável à vista. Presentemente, a evolução da arte fotográfica é tão intensa e tão rápida que nos deixa maravilhados. Contudo, este postal ilustrado conseguiu trazer até nós uma realidade que, também ela, está há décadas ultrapassada, mas presente na minha memória.
Os moliceiros cumpriam a sua missão de transportar o moliço que os homens e algumas mulheres apanhavam na laguna, com ancinhos largos próprios para esse serviço, num vaivém contínuo para abastecer os lavradores das Gafanhas e de outras terras ribeirinhas. E nesta zona, com a ponte da Cambeia a obrigar a manobras de arriar o mastro para o moliceiro poder passar, seja na maré baixa seja na alta, o esforço era realmente grande. Assisti a essa manobra várias vezes.
A borda, zona de acesso à ria, naquele local com Farol à vista, desde 1893, era espaço de descanso, dos primeiros mergulhos e primeiras braçadas de meninos, jovens e menos jovens, de apanha de berbigão, ameijoa, lingueirão de canudo, mas ainda de caranguejos fugidios. Também alguns lavradores apanhavam as algas e limos enlameados que a maré alta deixava quando as águas escorriam para o mar, para tornar mais férteis as areias das terras gafanhoas.

Fernando Martins

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

POSTAL ILUSTRADO — "Monografia da Gafanha"


Padre Rezende

A Monografia da Gafanha pode e deve ser considerada um postal ilustrado da região das Gafanhas dos concelhos de Ílhavo e Vagos, pois trata-se de uma obra de referência aberta a todos os que gostam e estudam esta zona habitada desde o século XVII. Foi escrita pelo primeiro pároco da Gafanha da Encarnação, P. João Vieira Rezende, e a primeira edição viu a luz do dia em 1938. Na altura, o autor sublinhado que, «por sugestão de pessoas interessadas pelas coisas da Gafanha, nos resolvêramos a publicar alguns documentos inéditos, que viriam derramar luz sobre a ignorada história desta região».
A segunda edição, profundamente melhorada, saiu em 25 de fevereiro de 1944, contando com um subsídio do Instituto para a Alta Cultura, e foi prefaciada por Orlando Ribeiro, professor catedrático de Geografia da Faculdade de Letras de Lisboa. E nesse prefácio, o ilustre cientista, referindo-se à Gafanha, diz que «temos aqui um exemplo, importantíssimo e raro, de povoamento que pode seguir-se desde o início e em todas as fases da sua evolução: povoamento que, como noutros lugares do nosso litoral, tem na base os foros, as courelas cultivadas por famílias, que arroteiam o maninho, criam o solo arável, à força de adubos, levantam casa na sorte que cultivam, transformam o areal estéril em plaino produtivo salpicado de habitações dispersas».
A Monografia da Gafanha apresenta, nas suas 364 páginas, bastante informação, dizendo, entre muitos outros assuntos, o que é a Gafanha, o seu povoamento, os seus primeiros proprietários, famílias preponderantes, a fé do povo, a barra e as suas diferentes posições até se fixar na última, em 3 de abril de 1808, a agricultura, as praias, a instrução e pormenores sobre as casas, a lavoura, usos e costumes.

​Fernando Martins​

sábado, 19 de agosto de 2017

Hipóteses para o vocábulo Gafanha



Das várias hipóteses que poderiam estar na origem do vocábulo Gafanha, nenhuma até hoje reuniu consenso. Indicam-se algumas, na esperança de que os estudiosos possam chegar a acordo sobre a mais plausível:

1. Gadanha, alfaia agrícola para cortar o junco, teria dado Gafanha;
2. Gafar, imposto por passagem de barco ou ponte, poderia levar a Gafanha, lugar de pagar o gafar;
3. Gafar, vaso para transportar sal, conduziria a Gafanha. Havia sal nesta região;
4. Gafo, leproso, estaria na origem de Gafanha, terra de gafos. Esta hipótese não tem consistência, por não haver qualquer registo histórico que a sustente;
5. Gafanha teria vindo de Gafaria, mas também não há qualquer vestígio histórico que nos elucide. Aliás, nas épocas seguintes à idade média já havia leprosarias para cuidar dos gafos;
6. Gafenho ou Gafanho poderia sugerir Gafanha, terra gafada, gretada, como a pele dos leprosos. A terra gretada era mais visível na maré baixa, em cujas lamas se abriam fendas com o sol;
7. A ideia de uma mulher de Aveiro, com gafa, que para esta região teria sido desterrada não passa de lenda;
8. O Gafanho ou Gafanhoto, inseto saltão, daria Gafanha? É apenas mais uma hipótese. Não havia assim tanta verdura nas dunas que justificasse a existência abundante de gafanhotos;
9. Gafano, homem impedido por doença ou outras razões de sair deste espaço, estaria na base Gafânia, donde resultaria Gafanha. 
10. Admite-se que Gafanha teve origem em Gatanho (tojo-gatão), que existia em terras dunares;
11. Gafanha poderia ter nascido de Galafanha, vocábulo surgido a partir de Gala, terra alagada, mais Fânia, espécie de junco.

Descartamos à partida o que se refere a Gafaria, Gafos e Gafanha (mulher desterrada, ao jeito dos leprosos). Não se conhece registo escrito desta lenda ou história da mulher aveirense atirada para aqui. Não se compreende a teoria da Gafaria, porque, diz João Gonçalves Gaspar, como é que «a caridade cristã medieval ou pós-medieval, nesse tempo em que até havia instituições para tratarem os referidos doentes, poderia consentir que tais pessoas, tão carecidas de cuidados, (...) fossem desamparadas nos infindos areais incultos ou nos pântanos doentios e enclausuradas entre os canais da ria sem o mínimo conforto de viver?».1
Curiosamente, Galafanha aparece no “Diccionário Geographico Abbreviado das oito províncias dos Reinos de Portugal e Algarves”, de Pedro José Marques, com data de 1853, como zona do Concelho de Vagos, quando é suposto aceitar que antes disso já existia e se falava de Gafanha.

Posto isto, é justo afirmar que temos andado no encalço de alguns estudiosos: Padre Rezende, Joaquim da Silveira, José Leite de Vasconcelos, Gonçalves Viana, João Gonçalves Gaspar, Manuel Maria Carlos, Pinho Leal e outros, com pesquisas próprias em dicionários e leituras avulsas, sem nunca termos encontrado, garantidamente, a origem da palavra Gafanha que nos convencesse. E se de facto a origem esteve mesmo na Gadanha?

Fernando Martins

(1) GASPAR, João Gonçalves, Formação da Ria e povoamento da região de Aveiro, Boletim Cultural da Gafanha da Nazaré, nº 2

Fonte: “Ílhavo Terra Milenar”

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

GAFANHAS — O espaço que hoje habitamos

(Mapa) - Registo feito por Mons. João Gaspar

O espaço que hoje habitamos, com mar e ria a limitá-lo na sua grande parte, não é de sempre. Observando mapas e lendo registos fica-nos a certeza de que o mar foi dono das atuais Gafanhas.
A restinga de areia que se formou ao longo de 25 séculos, protegendo-nos dos avanços e ataques do oceano, foi criando condições capazes de atrair pessoas habituadas a enfrentar dificuldades, muitos séculos depois.
Orlando de Oliveira avança com a certeza de que a laguna vem do tempo da fundação da nacionalidade. «Podemos dizer com orgulho que a Ria de Aveiro e Portugal se formaram ao mesmo tempo. Nasceram simultaneamente por alturas do século XII e poderíamos dizer, fantasiando um pouco, que, enquanto os nossos primeiros Reis e os seus homens iam dilatando as terras peninsulares, a Mãe-Natureza ia conquistando ao mar esta joia prodigiosa que generosamente viria ofertar às nossas terras alavarienses.» (1)
Sublinhe-se que a língua de areia que inclui as nossas praias, estendendo-se até à Vagueira, esteve dependente administrativamente do concelho de Ovar. Com a abertura da Barra, em 3 de abril de 1808, as companhas da xávega, que até aí operavam em S. Jacinto, voltaram-se para os areais da futura Costa Nova do Prado, por dificuldades de acesso para o outro lado do canal. Costa Nova, por oposição à costa velha de S. Jacinto. (2)
Pescadores, comerciantes de pescado, proprietários das companhas e outras gentes ali se foram fixando. E por decreto de 24 de outubro de 1855 a posse administrativa passa para Ílhavo.
O Padre João Vieira Rezende, primeiro prior da Gafanha da Encarnação, diz: «Denomina-se Gafanha toda a região arenosa dos concelhos de Ílhavo e Vagos com cerca de 25 quilómetros de comprimento por 5 de largura, abraçada do norte ao sul (lado poente) pelo rio Mira e do norte ao sul (lado nascente) pelo rio Boco, afluentes da Ria-de-Aveiro, e confinando ao sul com uma linha que, saindo dos Cardais de Vagos, vai fechar ao norte do lugar do Poço-da-Cruz, freguesia de Mira. Pela identidade da sua origem, topografia, condições de vida, costumes, etc., consideramos como uma continuação da Gafanha a duna situada naqueles dois concelhos, entre o Oceano e a Ria.» (3)
Entretanto, a Barra e Costa Nova, separadas das Gafanhas pelo Canal de Mira, passaram a estar incluídas, respetivamente, nas freguesias das Gafanhas da Nazaré e Encarnação, aquando da sua criação.» (4)
O Canal de Mira foi palco, entre 1918 e 1920, de uma operação de grande vulto para a época, destinada a abrir passagem para o oceano do Vapor Desertas, que havia encalhado ao sul da Costa Nova, em 18 de novembro daquele primeiro ano. Nessa operação, muitos dos nossos antepassados foram trabalhadores de pá e enxada na abertura de um canal por onde haveria de passar o vapor, via
Canal de Mira, até ao Atlântico. Com essa operação, o canal foi-se alargando quase até aos nossos dias.
No limite sul, a Mata da Gafanha forma uma barreira que se estende da parte norte da Gafanha da Nazaré até à Gafanha da Boa Hora, tornando-se,
indiscutivelmente, um ex-líbris da nossa região. O padre João Vieira Rezende diz que «A sementeira do penisco, começada a norte em 1888, tem sido muito morosa, ultrapassando somente depois de 1939 o sítio da capela de N. Senhora-da-Boa-Hora. Hoje [1944] está ligada com a Mata de Mira». (5)  Serviu para defesa dos terrenos agrícolas que lhe ficavam a Sul, sendo, presentemente, como desde a sementeira do penisco, o pulmão do nosso concelho.
Os trabalhos da sementeira, como se compreenderá, necessitaram de mão de obra de muitos gafanhões, e não só, tal como aconteceu com o projeto e construção da Colónia Agrícola da Gafanha, em meados do século XX. (6)
Na Mata da Gafanha há diversos equipamentos sociais, culturais, empresariais, religiosos e desportivos, a par de ruinas de casas de campo típicas da antiga Colónia Agrícola, inaugurada em 8 de dezembro de 1958.(7) Muitas dessas casas de habitação foram, entretanto, modificadas e adaptadas ao viver atual. De todas as instituições, destacamos apenas algumas, nomeadamente, o Movimento de Schoenstatt, os Complexos Desportivos, as Piscinas Municipais, a EMER – Escola Municipal de Educação Rodoviária, os parques de merendas, cemitérios, etc.

Fernando Martins

Fonte: “Ílhavo Terra Milenar”

(1) OLIVEIRA, Orlando — Origens da Ria de Aveiro, Câmara Municipal de Aveiro, 1988
(2) FONSECA, Senos da — Ílhavo, Ensaio Monográfico, séc. X ao séc. XX
(3) REZENDE, João Vieira, Monografia da Gafanha, 1944
(4) Gafanha da Nazaré (1910) e Gafanha da Encarnação (1926)
(5) REZENDE, João Vieira — obra citada
(6) Ver Gafanha da Nazaré
(7) MARTINS, Fernando — Gafanha da Nazaré – 100 anos de vida, Paróquia da Gafanha da Nazaré, 2010

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

"ÍLHAVO - TERRA MILENAR"

Uma exposição 
com visita obrigatória

Fernando Caçoilo e Paulo Costa apostaram neste desafio

Moliço, laguna, indústrias, agricultura

Marca da Faina Maior

Padeiros, Sal, Moliço


Se o conhecimento não for partilhado 
não serve para nada

«Pode haver muito conhecimento, mas se não for partilhado pela comunidade, se ficar guardado na gaveta, não serve absolutamente para nada», disse o presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, Fernando Caçoilo, na inauguração da exposição “Ílhavo, Terra Milenar”, aberta ao público no dia 15 de outubro, no Centro Cultural de Ílhavo. Referiu que «o passado nos dá força e conhecimento para percebermos o que devemos fazer para o futuro das nossas gerações». 
A exposição, que ficará patente até 17 de abril de 2017, poderá vir a ser enriquecida pelo contributo dos munícipes, mas não só, graças ao desafio lançado a todos os presentes pelos autarcas e demais responsáveis da equipa que coordena o projeto — CIEMar-Ílhavo —, que abarca o estudo do passado até ao presente, rumo ao futuro, com mais de dois anos de pesquisas. Nas investigações, têm-se envolvido técnicos credenciados e voluntários com gosto pelo conhecimento da história de terras ilhavenses.
Paulo Costa, vereador da Cultura e dinamizador deste aliciante trabalho, que considera «ambicioso», frisa a importância de todos conhecermos melhor a nossa história «mais sistematizada». Adianta que nos próximos seis meses serão desenvolvidas diversas iniciativas, de forma regular, nomeadamente, conversas, colóquios e debates, dirigidas a vários públicos. 
Admite que a partir deste trabalho-base haverá investigações mais profundas, estando em preparação uma monografia do município «a várias mãos». Salienta que a história do povo «nunca está escrita» porque precisa constantemente de ser «reescrita». Nessa linha, Paulo Costa está certo de que esta exposição «deverá ser um incentivo para conversar e para discutir», no sentido de «conhecermos o passado para prepararmos o futuro». Garantiu, também, que o projeto “Ílhavo, Terra Milenar” vai chegar às escolas.
O visitante encontra no Centro Cultural uma mostra elucidativa e bem ordenada, com painéis que retratam o nosso passado milenar, onde sobressaem vestígios pré-históricos descobertos em Vale de Ílhavo e peças artísticas de pintura e escultura, diversos utensílios da agricultura, salicultura, cerâmica e pescas de antanho, mas também de indústrias locais.
Datas marcantes, cronologias bem alinhadas, evolução demográfica, arqueologia, elementos ambientais, hipóteses do surgimento do vocábulo Gafanha, criação das novas freguesias das Gafanhas por desmembramento de S. Salvador, referências à elevação de Ílhavo e Gafanha da Nazaré a cidades e da Gafanha da Encarnação a vila, entre muitos outros pormenores, podem ser apreciados na exposição.
Esta mostra insere-se nas comemorações dos 720 anos da municipalidade de Ílhavo, podendo ser visitada entre terça e sexta-feira, das 11 às 18h, e aos sábados, das 14 às 19h.

Fernando Martins

Nota: Texto escrito para publicação no jornal Timoneiro. 

quinta-feira, 30 de junho de 2016

GALAFANHA abre-e a novos horizontes


Tenho andado às voltas com a ideia de alterar o estatuto editorial do meu blogue Galafanha. Criado com a ideia de divulgar a Gafanha Nazaré e pugnar pelo seu progresso, veio agora ao meu espírito a necessidade de ampliar os seus horizontes, abarcando as demais Gafanhas, fundamentalmente porque o povo que esteve nas suas origens é o mesmo. 
Eu sei que não é tarefa fácil, mas o melhor será experimentar, esperando eu colaboração, numa perspetiva de partilha sadia e sem confrontos azedos, de todos os amigos. 

Fernando Martins

quinta-feira, 31 de março de 2016

Gafanhas: Notas soltas


No ano de 1937 completou-se a construção do primeiro Cinema na Gafanha da Nazaré, sendo seus proprietários Manuel Fernandes Caleiro, José António dos Santos e José Vieira.
Além dos telefones para os serviços da Aviação de S. Jacinto, do Farol da Barra e da Mata Nacional, há dois telefones públicos na Gafanha da Nazaré [1944] e dez particulares na mesma freguesia.
Até ao ano de 1939 não houve fontes em toda a região das Gafanhas. A água para uso interno ainda agora é captada em covas instáveis e abertas nas antigas vertentes das dunas, ou em poços construídos junto das habitações.
Esta água tem sido fina, cristalina, inodora, leve e saborosa. Ultimamente começou a declinar com o revestimento florestal e herbáceo das dunas e dos terrenos aráveis, o que levou à sua exploração em sítios ainda não inquinados pelas raízes e pelos detritos terrosos.

Fonte: Monografia da Gafanha do Padre João Vieira Rezende

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Formação do espaço que hoje habitamos — 4

Carta de Luís Gomes de Carvalho dirigida ao príncipe, futuro D. João VI

A nova entrada da barra, mesmo sem obras que consolidassem o trabalho realizado por Luís Gomes de Carvalho, deixou antever uma ria limpa que purificasse os ares e evitasse epidemias devastadoras. Para além disso, com as tropas napoleónicas a provocarem estragos, a barra mostra a sua importância estratégica, ao permitir a entrada de trinta e oito navios, protegidos pelo brigue de guerra “Port Mahon”, que transportavam alimentos e forragens para o Exército Inglês que operava na zona e se dirigia para o Porto, como se lê em “Aveiro 2009 — Recordando Efemérides”, de João Gonçalves Gaspar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Formação do espaço que hoje habitamos (2)

Formação da restinga

Neste vaivém, a laguna aveirense foi sofrendo as consequências da impossibilidade do rejuvenescimento das suas águas, que se tornaram putrefactas e, naturalmente, fonte de doenças respiratórias e outras. A laguna em morte lenta ia matando e afugentando gentes próximas. 
Várias tentativas se sucederam para abrir a passagem das águas do Atlântico para a ria, escancarando frágeis portas a embarcações que demandavam Aveiro e região. Desde a Torreira a Mira, no espaço de tempo compreendido entre 1200 e 1808, altura em que a Barra de Aveiro assentou arraiais de vez, a ligação à ria fez-se na Torreira, Mira, Quinta do Inglês, Vagueira, Costa Nova e Senhora das Areias. 



Localização da barra através dos  tempos  (fig. 3)

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Formação do espaço que hoje habitamos (1)

O espaço seco que hoje habitamos, com o mar e a ria a limitá-lo na sua grande parte, não é de sempre. Observando mapas e lendo registos fica-nos a certeza de que o mar foi dono das atuais Gafanhas. 
Há mil anos as águas salgadas dominavam toda esta região, em jeito de quem sonha com uma ria e o rio Vouga abertos ao mundo.
A restinga de areia que se formou ao longo de 25 séculos, protegendo-nos dos avanços e ataques do oceano, foi criando condições capazes de atrair pessoas habituadas a enfrentar dificuldades.
Orlando de Oliveira, no seu livro “Origens da Ria de Aveiro” (ORA), avança com a certeza de que a laguna, delimitada como presentemente a podemos ver, vem do tempo da fundação da nacionalidade.
«Podemos dizer com orgulho que a Ria de Aveiro e Portugal se formaram ao mesmo tempo. Nasceram simultaneamente por alturas do século XII e poderíamos dizer, fantasiando um pouco, que, enquanto os nossos primeiros Reis e os seus homens iam dilatando as terras peninsulares, a Mãe-Natureza ia conquistando ao mar esta joia prodigiosa que generosamente viria ofertar às nossas terras alavarienses.»(ORA)

O mar no início da nacionalidade (Figura 1)

Entre os séculos X e XII, o oceano tocava em Mira, Vagos, Ílhavo, Aveiro, Cacia e por aí acima. Entretanto, a restinga de areia que o mar trazia e levava com a mesma ligeireza foi-se fixando, afastando-se da linha definida por aquelas terras, e até ao século XIX, com um cordão dunar muito vulnerável, foi dando garantias de poder ser habitada sem receio. Lentamente mas em crescendo, até ao presente.

Nota: Mapa preparado por João Gonçalves Gaspar

In "Gafanha da Nazaré — 100 anos de vida"

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TRADUÇÃO

GAFANHA -Séculos X-XII

O mar já andou por aqui... E se ele resolve regressar? Não será para o meu tempo, mas pode acontecer um dia!