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domingo, 7 de abril de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 339


POSTAL DO PORTO – 204 



A DESARRISCA 

Caríssima/o: 

Certamente estarás como eu e perguntarás: na Pascoela e fala da desarrisca?!... 
É assim, também o tempo devia ser outro, o frio não nos larga… 
Mas os mais novos perguntarão ‘o que é lá isso da desarrisca?’… e, convenhamos que é difícil de explicar; podemos usar palavras, imagens, diapositivos, vídeos, com som e tudo, mas há uma coisa que não se repete: as pessoas (gente de corpo e alma que vivia!). Se disser que havia dois mandamentos da Santa Madre Igreja que ordenavam ‘2º - Confessar-se ao menos uma vez cada ano. 3º - Comungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição.’, estou em crer que haverá muitos incrédulos… 
Ora, havia as reuniões de Confessores e as Confissões Gerais. Então o Chefe da Família ia à Sacristia e fazia a desarrisca, no livro próprio para o efeito onde estavam inscritas todas as famílias, por lugares, e com a sua constituição. Com marca própria se assinalava que o mandamento tinha sido cumprido e se dava o respectivo “emolumento”… 

Agora quantas perguntas! E se … não se confessavam? E se …? E se …? 

Bem, ainda hoje se podem encontrar muitos desses livros nos arquivos próprios e alguns reservam-nos surpresas e curiosidades. 

Se tiveres à mão o livro “Língua e Costumes da Nossa Gente”, de Maria Donzília de Jesus Almeida e Oliveiros Alexandrino Ferreira Louro, podes consultar, na página 187 e seguintes, o Rol dos Confessados de 1869. Talvez encontres alguns avós… Os meus bisavós maternos, do Forte da Barra, e o meu avô paterno, do Paredão, lá têm o nome escarrapachado. 

E o postal para mais não dá. Boa Pascoela. 

Manuel

domingo, 31 de março de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 338


POSTAL DO PORTO – 203 



BOTE-ME A SUA BÊNÇÃO 

Quedemo-nos neste Domingo de Páscoa a reviver e gozar alguns momentos que nos enrijavam o corpo e nos enchiam o espírito. 
A primeira bênção que recebíamos no tempo pascal era a bênção do lume! Como nos sabia bem e aquecia a alma aquele calorzinho que saía da boca do forno! Pés descalços, uns panitos coçados a cobrir a pele, frio de rachar, num tiritar constante até ranger os dentes, que consolo aquelas chamas coloridas e mesmo o fumo que nos fazia chorar! E havia magia nesse fogo pascal: o negrume preto dos tijolos do forno tornava-se vermelho irradiante! Que maravilha! Abençoado fogo! 
Mas uma segunda bênção vinha até nós: os folares, o pão doce e os ovos. Víamos o suor cair do rosto de nossos pais e mães enquanto misturavam, amassavam, batiam, atiravam ao ar, e voltavam a amassar. Com que afã viviam estes momentos! E a Mãe benzia o pão ‘S. Vicente te acrescente…’ e traçava uma grande Cruz na massa que agora ficava a descansar para levedar, para crescer. E cobria-se com um pano sobre o mexão atravessado na masseira. Depois de cozidos, os folares eram uma bênção para as nossas bocas sedentas de pão e para nossos estômagos esquecidos de pão de trigo e doce. Então dos ovos a bênção era a dobrar: alimento de doentes e dias festivos; estes, cozidos e pintados na panela e recozidos no forno, são manjar de festim que sabe a outro Mundo! Abençoado folar! 
Por fim, tudo culminava com a bênção do Padrinho e com a bênção da Madrinha. ‘Bote-me a sua bênção’ era o pedido que se ouvia e sentia e repetia, agora dirigido a padrinhos e madrinhas. ‘Se não pedires a bênção, não tens folar!’ Mas chegado o dia de Páscoa, em casa dos padrinhos, os joelhos iam a terra e o ‘bote-me a sua bênção’ ouvia-se respeitosamente e era correspondido com o solene ‘Deus te abençoe!’. 

Pois que a todos nós, Deus nos abençoe! 

Manuel 

domingo, 17 de março de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 336


POSTAL DO PORTO – 201 



FUMO… FUMO BRANCO! 

Caríssima/o: 

“Onde há fumo, há fogo!” 

Assim dizia o nosso povo, e sabia do que falava. A fogueira era uma constante e dominava a vida das nossas aldeias, dos nossos lugares e cantos, marcando as relações de vizinhança. O lume tinha de estar sempre aceso e, para poupar nos amorfos, o brasido mantinha-se por baixo da cinza, na certeza que na manhã seguinte, afastada a cinza e com uma forte sopradela, o fumo subia nos ares saído da chaminé. Quando as brasas se tinham apagado, forte contrariedade, ia-se a casa da vizinha pedir umas brasas acesas para reacender a fogueira. Não vamos pelo ritual, que se iniciava pelas bicas e pela busca de gravetos que aguentassem a fogueira. Nossas Mães esfalfavam-se a procurar, machadar e transportar à cabeça, raízes e ramos de ‘stramagueiras e outros arbustos das motas da Junta. Como a fartura não era nenhuma, a maior parte das vezes, esta lenha ia para a fogueira sem estar seca; a fumaça era tão densa que não se via nada dentro da cozinha e os olhos choravam… Não havendo chouriços para o fumeiro, eram as panelas e as traves do telhado que ficavam com a ‘cura’… 

domingo, 3 de março de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 334

POSTAL DO PORTO – 199 




PROSTRADOS… LEMBRA A QUARESMA! 

Hora de ponta na cidade; sabeis como é: trânsito intenso, nervos à flor da pele, bichas, apitadelas, acelerações, travagens bruscas, e ainda muitas situações que na banda desenhada dão uma certa vida às quadrículas, mas que francamente me abstenho de transcrever em letra que gente possa ler. 
Qualquer um pode ser apanhado. Também nessa tarde esperei em casa que viessem pelas duas netas que nos fizeram companhia. Lição de música com hora marcada. Entraram no carro da mãe que ainda conseguiu fazer inversão de marcha, mas foi apanhada… Que arrelia! 

Pela minha parte tinha outro compromisso, adeus, e segui pelo passeio, observando (e ouvindo) reações de ar carrancudo. Mas na esquina da rua esticavam-se pescoços para a direita e ecoavam gargalhadas. Fiquei curioso! Não precisei de alterar o meu percurso e fui seguindo no meu ritmo que já não pode ser muito apressado. 
Se vos disser o que vi grande vai ser a vossa admiração, tal como a minha, com muitos pontos de exclamação!!! E o que vi?! Um homem deitado na estrada, atravessado! Um carro parado e o condutor fora, de braços abertos, de braços cruzados, gesticulando! Não ouvia as palavras, mas o «deitado» não se mexia… 

Então, sem mesmo fechar os olhos, eu já estava no passeio frente ao Zézé das Caldeiradas, pé descalço, calça arregaçada, a fazer arruaça com outros companheiros. Em tudo havia semelhança com o que se passava ali na rua Central de Francos, mas as diferenças eram muito significativas para mim: na rua José Estêvão (ainda não havia avenidas!) o homem que se deitava era nosso conhecido, o Pessa. E ele não se deitava… Quando o carro se aproximava, sempre a uma velocidade razoável, ele atirava-se (com toda a propriedade: projetava-se!) para a frente do carro… Chiadeira infernal dos pneus e, não poucas vezes, condutores furiosos que só não lhe esmurravam os fagotes porque alguém pulava e chamava à razão a fúria. Mas era cada calafrio! 

E aqui está como numa tarde de sol frio de fevereiro me transportei ao solo pátrio por uma razão não muito edificante. Já agora duas conclusões: 
O trânsito, passados três quartos de hora, normalizou. 
A segunda, mais do que conclusão, uma proposta: introduzir no nosso código da estrada o sinal que copiei da legislação dum país europeu que foi muito falado por causa da carne de cavalo. Assim os automobilistas não precisavam de se incomodar, apenas respeitar o código. 

Manuel 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 332



POSTAL DO PORTO – 197 



UM CASAMENTO SINGULAR 

Caríssima/o: 

Esquecendo o Carnaval e sacudindo as Cinzas, somos saudados por S. Valentim. Não fujamos ao mote e saboreemos uma imagem inusitada da qual nem o pó aspirei: 

«Há precisamente 130 anos, no dia 5 de Fevereiro de 1876, Francisco Martins Sarmento contraiu matrimónio com Maria de Freitas de Aguiar. A cerimónia, que decorreu à porta fechada na Colegiada da Oliveira e à qual não compareceram os noivos, foi bastante sui generis, conforme o revela o relato de uma das testemunhas, João Lopes de Faria: 
"Às 8 horas da noite, na igreja Colegiada, contraem o sacramento do matrimónio o Dr. Francisco Martins de Gouveia Morais Sarmento e D. Maria da Madre de Deus Freitas Aguiar, por seus representantes, do noivo, seu primo José Ribeiro Martins da Costa, e da noiva o Dr. Rodrigo de Freitas Araújo Portugal, sendo ministro do acto o cónego-cura José António Rodrigues Cardoso e testemunhas os únicos dois assistentes (por ser à porta fechada) António Lopes de Faria e seu filho João Lopes de Faria, empregados da Colegiada, aos quais os pré-noivos deram boas gratificações."»(in Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria - Publicado por Sociedade Martins Sarmento) 

Pela transcrição e alertando que não são 130 anos mas 137 os anos que passaram desde o dia 5 de fevereiro de 1876, 

Manuel

domingo, 10 de fevereiro de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 331


POSTAL DO PORTO – 196 


OS CAMELOS 

Caríssima/o: 

Um amigo fez-me chegar às mãos um texto que me fez algumas cócegas no raciocínio; pensei logo aproveitá-lo para o partilhar e com isso ajudar alguém que ande em fase de preguiça intelectual mais aguda. 

«Vamos lá a fazer bem as contas!!!! 

Um homem, que tinha 17 camelos e 3 filhos, morreu.
Quando o testamento foi aberto, dizia que metade dos camelos ficaria para o filho mais velho, um terço para o segundo e um nono para o terceiro. 

O que fazer?
Eram dezassete camelos; como dar metade ao mais velho? Um dos animais deveria ser cortado ao meio?
Tal não iria resolver, porque um terço deveria ser dado ao segundo filho. E a nona parte ao terceiro.
É claro que os filhos correram em busca do homem mais erudito da cidade, o estudioso, o matemático.
Ele raciocinou muito e não conseguiu encontrar a solução: matemática é matemática!
Então alguém sugeriu: 
- É melhor procurarem quem saiba de camelos, não de matemática.
Procuraram assim o Sheik, homem bastante idoso e inculto, mas com muito saber de experiência feito.
Contaram-lhe o problema.» 

Aconselho a que se faça uma ligeira pausa e que cada um tente novamente encontrar uma solução. 

Adiante:

«O velho riu e disse: 
- É muito simples, não se preocupem.

Emprestou um dos seus camelos - eram agora 18 - e depois fez a divisão. Nove foram dados ao primeiro filho, que ficou satisfeito. Ao segundo coube a terça parte - seis camelos e ao terceiro filho, foram dados dois camelos - a nona parte. Sobrou um camelo: o que foi emprestado.

O velho pegou o seu camelo de volta e disse: 
- Agora podem ir.

Esta história foi contada no livro "Palavras de fogo", de Rajneesh e serve para ilustrar a diferença entre a sabedoria e a erudição. 
Ele conclui dizendo: "A sabedoria é prática, o que não acontece com a erudição. A cultura é abstracta, a sabedoria é terrena; a erudição são palavras e a sabedoria é experiência."» 

Sejamos práticos com sabedoria… 
E se em vez de camelos fossem burros, qual seria a solução? 

Brinquemos ao carnaval! 

Manuel

domingo, 3 de fevereiro de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 330

POSTAL DO PORTO – 195 



CANARICES 

Caríssima/o: 

Vivemos, há dois sábados, debaixo duma tempestade feroz que destruiu e devastou tudo por onde passou: casas, casebres, muros, árvores, frutos, … e até pessoas. Quando apanhados e arrastados, a confusão e a desorientação estrangulam-nos e, depois do discernimento, roubam-nos a voz e a possibilidade de gritar por socorro. Então, aos baldões ou rojando pelas pedras e areias enlameadas, fugimos à cata de uma revessa que nos premeie com alguma tranquilidade. 

Já noite seria quando nos encontrámos na sala e ouvimos o pipilar dos dois canários que não davam sinais da passagem do furacão. Por momentos se esqueceu a agitação, o baloiçar, o reboliço, para reviver o encontro primeiro com os passaritos: o Gaivota e a Pinta. A coisa mais simples do Mundo: 
- Ó Manel, queres um canário? – perguntou, oferecendo, o Ricardo. E logo a Leonilde acudiu: 
- Para esse macho, o Gaivota, a fêmea indicada é esta, mais escura… 
E foi assim que me encontrei neste cenário encantado de tratador e criador! Olhem bem e só: criador! 

Criador e a sério, era o Manuel da ti Áurea, o Manuel Gafanhão. Aquilo até dava gosto ver o bigode dele a rir-se às escâncaras quando abria a porta da gaiola e os canários saíam e em liberdade perfeita andavam pela casa e se permitiam poisar-lhe na mão, no ombro… Pasmo, quase incredulidade! Uma das maiores canarices que presenciei e que muitas lágrimas fez correr foi a que naquela tarde o seu canário de estimação protagonizou: imaginai a porta da gaiola aberta inadvertidamente e o canário, o tal, o especial, sair sorrateiro, e pé ante pé aproximar-se da janela da marquise entreaberta e, num abrir de asas, projetar-se para o espaço… E lá foi! 

Ora o irmão, o Carlos da ti Áurea, também lhe conservou o gosto e acha que não há maior maravilha que, sentado, apreciar a ninhada dos canários! 
Como a vida é um círculo, o Ricardo, que é seu primo, informou-me muito ufano: 
- Olha este aqui: é o pai deles todos! Foi o Carlos que mo ofereceu quando regressei da Alemanha! 

A limpeza e a calma das dezenas de passarinhos mostraram-me um casal feliz e amigo, partilhando uma das suas riquezas. 

Bom ano, Amigos! 

Manuel


domingo, 20 de janeiro de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 328

POSTAL DO PORTO – 193 


UM SERMÃO 

Caríssima/o: 

Sinceramente que nunca me preocupei com a sorte do galo pilhado nos Reis desse longínquo ano (muito criança eu era para tal) e menos ainda com o «ladrão». O certo, contudo, é que, depois de enviar o postal para publicar, encontrei um extrato dum sermão de Padre António Vieira. Deixou-me um tanto confuso, pois agora não sei quem era o ladrão: se a dona que o queria comer se quem efetivamente se regalou com ele! 
Para evitar más interpretações (que possam surgir depois da leitura do sermão) sempre direi que quem quer que formule ou imagine comparação com os dias que vamos vivendo por ela se responsabilizará. 
E pregou assim: 

«Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este género de vida, porque a mesma sua miséria, ou escusa, ou alivia o seu pecado, como diz Salomão: Non grandis est culpa, cum quis furatus fuerit: juratur enim ut esurientem impleat animam. 

O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera (…) 

Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. – Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. 

Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: 

- Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. 

- Ditosa Grécia, que tinha tal pregador!» [Padre António Vieira – Sermão do Bom Ladrão – 1655] 

E a minha confusão aumentou quando no final o pregador proclama: Ditosa Grécia! 

Manuel 

domingo, 13 de janeiro de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 327



POSTAL DO PORTO – 192 



E o galo, … viste-lo? 

Caríssima/o: 

Sempre que há festa na Terra, renova-se o ambiente, estralejam os foguetes e o riso é mais pronto e fagueiro, escancara-se a salgadeira e o jantar ressuma cheiro e aguça o paladar. Ah, meus amigos, a alegria espelhada nos rostos, provocada pela fartura, espalha-se por todo o canto. 
Também no dia do Cortejo de Reis a cena se repete: o lume acende-se mais cedo, as cozinheiras enchem-se de brios, a canela espalha-se sobre o arroz doce ou a aletria e cresce água na boca da pequenada que espreita na esperança de lamber a colher ou ter sorte maior e poder rapar o tacho! Oh maravilha! 

Porém, nesse ano, chegou o dia e a tradição não se cumpriu: a fogueira espreitou tímida para cozinhar um caldo magro. E ninguém reagiu: em breve a irmãzita seria batizada e não se podiam dar ao luxo de, em tão poucos dias, se banquetearem com duas bodas. 
Não foi por isso que deixaram de correr e fazer algazarra quando apareceu a estrela e logo se sumiu que o palácio do Herodes estava perto. Cavalgada ligeira e os três Reis a conferenciarem para prepararem a visita ao senhor de Jerusalém! 

O auto esgotou-se rápido e, mal a estrela foi levantada, a debandada foi geral com as mães mais apressadas para os últimos gravetos no borralho. 
Só que, na última volta do caminho, a porta do pátio escancarada provocou-lhes um arrepio; a corrida acelerou. Ainda não tinham chegado e já a criação a cacarejar lhes dizia que alguém abriu a tramela. E um baque sufocou-os: Será que…? 
- Qu’é do galo, … viste-lo? 
De facto, o galo tinha desaparecido misteriosamente! 
Maldita a hora!... Ai se eu o apanhava aqui… 
A guerra tinha terminado há poucos anos, a fome era negra e, à mínima distração a boda podia ficar estragada. E foi o caso: do galo assado nem o cheiro! 

Manuel


domingo, 6 de janeiro de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 326



POSTAL DO PORTO – 191 



O CORTEJO DE REIS 

Caríssima/o: 

Já não me lembro de o dia 6 de janeiro calhar ao domingo. Este ano é, pois, especial e permite que o dia de Reis se festeje como gostamos: no seu dia! Bem, isto é só uma maneira de falar que nem desabafo chega a ser… 

Epifania… Dia de Reis! 

Haja festa e cortejo! 

Era tradição na nossa Terra (e creio que ainda é) ser esta a primeira grande festa, manifestação popular. Agora o que nem toda a gente pensa é no muito trabalho necessário para que o povo saia para a rua e se regozije a gosto e a preceito. Só um pequeno exemplo: os cânticos e os ensaios… 

Claro, para que saia tudo bem e até pareça que é mesmo assim, todos vamos atrás e cantarolamos e gostamos e estava tudo tão certinho, houve muito trabalho, muita canseira, uma montanha de organização. (Só cá para nós: sabes quando começam os ensaios?) 

De facto, estes ensaios são um quebra-cabeças à prova de bala: horários que convenham a todos, espaços para se reunirem, escolha das músicas e dos cânticos, instrumentistas e instrumentos… E a chuva? E o frio? E o sono? 

Mas o cortejo correu bem, com muita animação, o tempo até ajudou, os donativos razoáveis, … para o ano cá estaremos novamente, para adorar o Menino! 

Lembremos e prestemos a nossa homenagem aos que, por “amor à camisola”, participam, colaboram e animam a Comunidade para que esta se sinta feliz e envolvida nesta atividade cuja realização se perde na memória dos tempos. 

De uma forma especial, queria reverenciar os ensaiadores que, ano após ano, são a alma de todos estes festejos. Na pessoa do senhor Rocha [Manuel da Rocha Fernandes Júnior, n. 6-01-1907, +18-04-1985], que foi ensaiador de excelência, deixo a minha gratidão e reconhecimento. 

Um bom e animado Cortejo de Reis vos deseja o 

Manuel


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 325


POSTAL DO PORTO - 190 


VIMOS DE LÁ TÃO LONGE… 

Caríssima/o: 

Reiniciemos uma viagem, interrompida algures, mas questionada, solicitada e requerida várias vezes e de alguns modos. Agora, por alvitre do administrador do blogue, se mo permitirdes, e embora com algumas dificuldades, retomo-a. 
Começo no número 190, número redondo que na circunstância não assume qualquer simbologia, é apenas um número; neste caso, é a continuação de uma sequência iniciada em agosto de 1973 e que foi sendo publicada até ao número 189, em dezembro de 1994. 
Ou seja, a um ciclo de vinte anos de publicação, seguiram-se quase outros vinte com diferentes escritos e suportes. Sempre no mesmo espírito de fazer memória do passado, com os olhos no futuro, mas os pés bem assentes no presente, inicia-se este novo ciclo que só Deus sabe até onde nos levará. 
Àqueles que já nos conhecemos, apenas direi que da minha parte não vos darei mais do que aquilo que esperais: escritos curtos, sem pretensões nem intenção de substituir o sermão do pregador da quaresma, tão só imagens fugidias do passado ou impressivas do presente e sempre à espera do vosso comentário, sugestão ou correção. 
Aos novos ou que só agora me acompanharem, peço a vossa compreensão e a desculpa pelo esforço que fareis para entender/atingir a largura da nossa passada. Podeis contar com a minha total disponibilidade para esclarecer ou corrigir algum ponto disforme, confuso ou retorcido. 
Como o postal é do Porto, certo, certo mesmo, daqui partirei por vezes e para muitas direções; contudo, normalmente, o ponto de chegada será a borda da Ria. 
Não resta mais, creio, que desejar um 

Bom Ano! 

Manuel 

NOTA: Imagem da rede. 
 

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TRADUÇÃO

GAFANHA -Séculos X-XII

O mar já andou por aqui... E se ele resolve regressar? Não será para o meu tempo, mas pode acontecer um dia!