Arrais Gabriel Ançã
O Arrais Gabriel Ançã
Pelo Dr. Frederico de Moura
Eu estou a vê-lo. Tenho-o guardado na retina desde a infância – desde a infância que, como coisa nenhuma, sabe guardar retratos pelos tempos fora, envolvê-los em névoa de sonho e cercá-los de um nimbo de ternura humana. Mas, de vê-lo a exprimi-lo, de tê-lo a comunicá-lo, vai uma distância que a minha pobre pena não vence e que a minha palavra não consegue percorrer antes da laringe me ficar afónica.
A bruma da distância, é certa, vincou-lhe mais as sombras, marcou-lhe mais os traços, deixou-o mais descarnado de fundos diluentes, com as proeminências e os ângulos mais pontiagudos. A visão da adolescência enriqueceu-lhe a figura tisnada e rude de um bafo quente de humanidade e de uma legenda brônzea de heroísmo. Mas foi tal o respeito que a sua figura me transmitiu que, agora, até tenha medo de lhe tocar para a trazer para aqui.