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sábado, 16 de março de 2019

Entrevista que concedi ao "Correio do Vouga"

Foi à sombra da Igreja que surgiram 
as principais instituições da Gafanha da Nazaré 




A Gafanha da Nazaré, paróquia e freguesia, tem vindo a celebrar os 100 anos de existência. D. Manuel II assinou o decreto no dia 23 de Junho de 1910 (provavelmente, o último de criação de uma freguesia na monarquia), enquanto o Bispo de Coimbra criou canonicamente a paróquia no dia 31 de Agosto de 1910. Para assinalar o centenário, entre outras iniciativas, publicou-se o livro “Gafanha da Nazaré, 100 anos de vida”, da autoria de Fernando Martins, antigo professor do ensino básico, diácono, director do “Correio do Vouga” entre 1992 e 2004, profundo conhecedor da terra que o viu nascer. Entrevista conduzida por Jorge Pires Ferreira. 

CORREIO DO VOUGA – Escreveu este livro (apresentado publicamente no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, no dia 7 de Agosto) num tempo recorde. Tal deve-se, também, ao facto de há muito investigar e escrever sobre a Gafanha da Nazaré… 

FERNANDO MARTINS – A paróquia fez-me o desafio no final de 2009: um livro para celebrar o centenário. Aceitei a missão, embora pensasse que não seria tarefa para uma pessoa só. Fiquei encarregado de arranjar uma equipa, mas depois resolvi assumir integralmente a tarefa da escrita. Na minha óptica, teria menos trabalho, evitando reuniões e revisões do trabalho de outros, até porque, de facto já tinha alguma coisa escrita e tenho as minhas próprias ideias. A verdade é esta: a paróquia tem 100 anos e eu vivi quase três quartos desse período. Março, Abril e Maio foram os meses mais intensos de investigação e escrita. 

O livro não é uma autobiografia, mas alimenta-se certamente das suas vivências… 

Eu estive sempre, desde menino, integrado na paróquia, desde a pré-JOC (Juventude Operária Católica – de que seria dirigente diocesano). Na freguesia, a mesma coisa. Sempre lutei, desde jovem, em defesa da Gafanha, quer integrando os seus organismos e associações, quer escrevendo nos jornais da JOC, no “Timoneiro” [mensário da paróquia], como correspondente do Comércio do Porto… 

Hoje prossegue essa defesa na rádio e na imprensa regional e nos seus blogues Pela Positiva e Galafanha. Mas o uso mais eficaz da comunicação social talvez tenha sido aquando da elevação a vila… 

Sim, antes da Gafanha ser elevada a vila (1969), dinamizei a campanha pela comunicação social, que na altura eram os jornais. Trouxe cá, com a colaboração do Daniel Rodrigues, um jornalista do “Diário Popular”, o Ângelo Granja, que fez a reportagem: “Do deserto nasceu uma vila” (21-12-1966). O processo de recolha de elementos para o processo de elevação foi elaborado pelo P.e Domingos Rebelo e por mim. Fui próximo dele e também de outros párocos. 

O Daniel fez várias reportagens no “Comércio de Porto”, um jornal que na altura não era lido aqui. Tinha apenas um leitor. Fez-se então uma campanha de porta a porta, com ardinas a apregoar o jornal que trazia a reportagem do pedido de vila. Na minha sala foi dado um lanche aos jornalistas convidados para visitar a Gafanha da Nazaré… 

Apesar de há muito escrever sobre a Gafanha, encontrou aspectos novos na investigação para este livro? 

Destaco uns artigos que saíram no “Diário de Lisboa”, em 1947. Alguém alertou o jornal para o descontentamento que havia na Gafanha da Nazaré. Nas reuniões da Câmara só se falava da Ílhavo e da Costa Nova. Um enviado especial não identificado fez quatro reportagens. Penso que terá sido Carolina Homem Cristo, directora da revista “Eva”, a alertar o jornalista para o descontentamento. “Mão fina de mulher trouxe à nossa redacção…”, diz o jornal. Falava-se então da pretensão da Gafanha se desligar de Ílhavo e integrar Aveiro. Tínhamos na altura cinco mil habitantes. O mestre Mónica dinamizou uma petição que apresentou ao governador civil. Toda a gente assinou. A petição não seguiu para Lisboa porque o governador achava que era gente de mais. Procurei esse documento no Governo Civil, mas não o encontrei. Pode ter sido levado pelo fogo que entretanto atingiu o edifício. Houve uma manifestação em Aveiro com grande participação popular, mas o governador não apareceu. “Levei lá a gafanhotada toda”, dizia o mestre Manuel Maria Bolais Mónica [construtor naval]. 

As reivindicações contra Ílhavo são uma constante da história da Gafanha da Nazaré? 

Ainda em relação a este episódio, deixe-me dizer-lhe que depois foram entrevistar João Senos, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, que disse: “Acredito que daqui a uns tempos a Gafanha da Nazaré não pertencerá a Aveiro nem a Ílhavo, porque será um concelho”. Disse aquilo para amaciar o pessoal. Mais tarde, um vereador escreveu para o jornal a protestar que o presidente não queria dizer isso. O jornalista respondeu que “podia não ter querido dizer isso, mas foi o que disse”. 

Havia de facto mal estar entre a Gafanha e Ílhavo. O presidente da Câmara era sempre um ilhavense. Isso só foi atenuado quando foi para a presidente Humberto Rocha (da Gafanha da Nazaré), seguido de Ribau Esteves (da Gafanha da Encarnação), que apagou todas essas fogueiras. Ribau Esteves teve a preocupação de alterar a situação, cumprindo a lei de distribuição de verbas proporcional ao número de pessoas e ao território. 

O abandono da Gafanha da Nazaré estava especialmente patente na questão eléctrica… 

Quando nos finais da década de 1940 a energia eléctrica passou para a Costa Nova, com a intenção de chegar ao Farol da Barra, a Gafanha continuava sem nenhuma espécie de energia. Foi aí que o povo se reuniu, de certa forma revoltado, e fez a Cooperativa Eléctrica, que foi a maior acção da unidade de um povo que apostava em si próprio. Era uma das maiores cooperativas de Portugal, porque todos os habitantes faziam parte dela. Para terem energia eléctrica tinham de ser sócios. Durou até depois do 25 de Abril. A cooperativa só foi dissolvida com a nacionalização da distribuição da energia e a criação da EDP. Era eu o presidente da assembleia-geral da cooperativa. 

Que importância teve a paróquia nesta comunidade relativamente jovem? 

Há quem me diga que o livro fala muito da paróquia. Mas foi sem dúvida nenhuma à sombra igreja que surgiram as principais instituições. Restaurou-se, por exemplo, o Grupo Desportivo da Gafanha, tendo eu empurrado para presidente da assembleia-geral o P.e Domingos Rebelo, na década de 50 do século passado. Outro exemplo: o Grupo Etnográfico nasceu a partir do desafio do P.e Miguel Lencastre. A catequese fazia sempre uma festa no final do ano com peças de base bíblica e cantorias, às vezes sem nexo. O P.e Miguel laçou o desafiou: por que é que vocês não fazem umas danças como as dos vossos avós? O Alfredo Ferreira da Silva era na altura o presidente da catequese e é hoje o presidente do Etnográfico. As reuniões destes grupos e da cooperativa eram nas salas da igreja. Até a primeira Junta de Freguesia, segundo a acta, “reuniu-se na sacristia do lado sul da igreja paroquial”. 

Os padres foram pessoas determinantes no destino da Gafanha? 

Sim, conforme a época. Não tinham rasgos, como hoje se vê, em termos pastorais. A pastoral era de manutenção, tradicionalista, como noutros lugares. Só não conheci o Prior Sardo, que morreu 1925. Eu nasci em 1938. Do segundo prior, P.e Guerra, nunca me lembro de ter feito uma homilia. A missa era em latim, as mulheres estavam sentadas no chão, os homens à volta, de pé. Alguns, mais ricos, tinham cadeiras. O Sr. João Catraio, de que falo no meu livro, tinha uma com genuflectório. 

Mas o primeiro, o Prior Sardo (1873- 1925), foi fundamental para a criação da freguesia. 

O P.e João Ferreira Sardo foi um grande político. O P.e João Vieira Resende escreveu no jornal “O Ilhavense”, em 1958, que era importante ele meter-se na política para chegar aos seus fins, criar a paróquia e a freguesia: O P.e Sardo “dava ordens e directrizes em que era obedecido sem restrições ou quaisquer objecções, criando por esta forma ambiente favorável à criação da freguesia, que ele desde há muito tempo trazia em mente”. Era o “rei daquelas terras”. O Prior Sardo tornou-se vereador e foi vice-presidente da Câmara de Ílhavo. Aproveitando uma saída temporária do presidente, ordenou o pagamento da rua da Gafanha de Aquém até à Gafanha da Nazaré. E liderou, na realidade, o processo de criação da paróquia e freguesia. 

Entre os fundadores da freguesia e paróquia, além do povo, D. Manuel II, D. Manuel de Bastos Pina (Bispo de Coimbra) e o Prior Sardo, colocou no seu livro Nossa Senhora da Nazaré. Porquê? 

Porque andava tudo à volta do seu culto. Ninguém sabe como surgiu aqui o seu culto, que será anterior à constituição da paróquia. Quando o Bispo de Coimbra mandou os examinadores para confirmarem se havia condições, o povo disse que queria que a padroeira fosse Nossa Senhora da Nazaré. Assim ficou. 

Hoje a Gafanha está muito ligada ao mar, principalmente às actividades portuárias. No início também foi assim? 

Ao contrário do que muita gente pensa, não foi assim. Colhi esse testemunho dos mais velhos. Eram principalmente agricultores, embora hoje haja pouca agricultura. Tinham a ria ao pé, mas não pescavam, nem apanhavam o moliço. Os moliceiros vinham da Murtosa e de Estarreja. 

Mas a formação geológica da Gafanha – ou mesmo das Gafanhas – está muito dependente da regularização da Barra… 

Sim, mas quando abriram a Barra, em Abril de 1808, durante as Guerras Peninsulares [os barcos para a manutenção do exército luso-inglês já passaram pela Barra), o crescimento não foi de rompante. Mas hoje podemos dizer que a Gafanha é filha do porto, sem dúvida nenhuma. O primeiro estaleiro veio para aqui em 1889. 

Velha história é a da origem etimológica do nome “Gafanha”. Há hoje alguma teoria que seja mais consensual? 

Brinco com isso no livro. Uma teoria que diz que provém de “gadanha”, alfaia de cortar o junto e o recebolo. Como o gafanhão era muito iletrado e deturpava muito as palavras, gadanha teria dado origem a Gafanha. Outra teoria diz que provém de “pagar o gafar”, um imposto para atravessar a ria. Outra, ainda, diz que era uma “terra gafada”, cheira de gretas da lama e do sol, como a pele dos leprosos… Ou que provém de “gafo”, leproso. Mas não consta que os leprosos viessem para aqui, embora os houvesse em Vagos e Mira. 

A minha ideia é que “Gafanha” provenha de “Galafanha”, “Gala + Fânia”, que é também a opinião do Monsenhor João Gaspar, que muito prezo. “Gala” quer dizer “terra alagada” (há uma Gala na Figueira da Foz); “fânia” é junco, que existe em abundância nas margens da ria. 

Para terminar, o que destaca como motivo para visitar a Gafanha da Nazaré? 

Tenho andado um bocado obcecado com a paisagem da ria. O desenvolvimento é muito bonito, mas tiraram a ria à Gafanha da Nazaré. A ria desaparece dos nossos olhares em toda a faixa até à Barra. Os portos industrial, comercial, de pesca longínqua e costeira ocuparam toda a faixa da ria. Só temos acesso à ria, muito apertado, na Associação Náutica e Recreativa da Gafanha da Nazaré. Julgo que a Câmara está interessada em desenvolver nova ligação. 

A nossa sala de visitas é o Jardim Oudinot, com o navio-museu Santo André. Não temos grandes monumentos. Há algumas estátuas e uma âncora que evoca os homens da nossa terra que andaram e andam no mar, mas somos uma terra pobre em história. Por sermos pobres temos de dar mais valor às nossas coisas. 


Entrevista publicada no “Correio do Vouga” em 1 de setembro de 2010


NOTA: Confesso que não sei se alguma vez publiquei nos meus blogues esta entrevista que concedi ao Correio do Vouga.Pelo sim pelo não, achei por bem publicá-la agora, por sugestão de uma mensagem que registei hoje, 16 de março.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Gafanha da Nazaré — Décima década

2000 – 2009


Jardim Oudinot
Santo André no Canal de Mira, no Oudinot

Entrámos na décima década de vida da freguesia e paróquia com a certeza de que o centenário teria de ser um acontecimento para ficar na memória do nosso povo. Cem anos não se celebram todos os dias e se olharmos para trás, para apreciar os caminhos andados, temos de reconhecer e admirar a luta constante e tenaz que foi necessária para alcançar o progresso, em vários setores, do material ao espiritual, numa perspetiva de contribuir de forma significativa para o bem-estar de todos os gafanhões, sejam eles de origem ou por opção pessoal.
Fixando os nossos olhares na idosa senhora que é a Gafanha da Nazaré, vemos, com ternura, quanto ela quer e tem rejuvenescido nas últimas décadas, com os pés bem assentes no trabalho exemplar que nos foi legado pelos nossos avós. 
Durante o Jubileu do ano 2000 há referências à construção da Tenda de Jacob, espaço de convívio e reflexão, na zona da Colónia Agrícola, e em novembro de 2007 são dadas por concluídas as obras em todo o recinto, agora denominado Centro de Recursos Mãe do Redentor.
Para preservar a memória dos seus princípios como freguesia e paróquia, foi inaugurada a Casa Gafanhoa, símbolo do viver de um agricultor rico, que merece novas estruturas de apoio, para dinamizar a divulgação do nosso artesanato e de sinais escritos e outros do nosso passado.
Sentimos, nesta década, que seria importante preparar-lhe uma boda festiva e condigna. Foi elevada à categoria de cidade, o bicentenário da abertura da Barra de Aveiro foi celebrado com pompa e circunstância e o Jardim Oudinot, ampliado e com adaptações aos novos ares, foi oferecido à nossa terra e arredores, como era de justiça, tornando-se numa sala de visitas da região, em especial, e do concelho de Ílhavo, em particular.
O velho e glorioso Santo André, um arrastão que chegou a ser campeão na pesca do bacalhau, foi salvo da sucata e transformado, com muita dignidade, em navio-museu, integrado no Museu Marítimo de Ílhavo, este último de projecção mundial.
A igreja matriz, dedicada a Nossa Senhora da Nazaré, foi profundamente melhorada, com bom gosto, apresentando-se agora muito mais funcional e disposta a acolher novas propostas pastorais para um futuro mais de acordo com a Boa Nova, com projetos de um futuro espiritual mais dinâmico e interventivo.
Em 8 de dezembro de 2006, D. António Francisco dos Santos, até então Bispo Auxiliar de Braga, foi nomeado pelo Santo Padre para Bispo de Aveiro.
Com a saída do Prior Fidalgo, assume o cargo de Administrador Paroquial o Padre Paulo Cruz, pároco da Costa Nova e da Praia da Barra, que contou com a colaboração no serviço paroquial do Padre Luís Filipe. Não foi, nem podia ser, um período de grandes alterações no quotidiano da paróquia, salvo uma ligação mais próximo que ambos conseguiram imprimir nos contactos com o povo. 
Entrou também na paróquia um novo Prior. É ele o Padre Francisco Melo, jovem e dinâmico sacerdote, que aposta em implementar uma pastoral de serviço a todos os gafanhões e a quantos optaram por residir nesta terra, com nova organização e com redobrada atenção à pastoral social. Paralelamente, é nomeado Prior da Gafanha da Encarnação, ao mesmo tempo que é responsável pela Vigararia da Pastoral Geral da Diocese de Aveiro.

sábado, 29 de outubro de 2016

Postal Ilustrado: Farol da Barra


Mesmo no Inverno, é sempre agradável passear por recantos bonitos, como este da Praia da Barra, onde o Farol, dos mais altos de Portugal, é o centro de muitas atenções.

NOTA:

1. Em 2005 (como o tempo passa!...) publiquei em dezembro esta fotografia com uma curta mensagem, decerto para chamar a atenção para este símbolo da nossa região. Repito a publicação,  hoje e aqui, no meu Galafanha, que na altura ainda não tinha visto a luz do dia;

2. Para conhecer as histórias dos Faróis Portugueses, clique aqui.


terça-feira, 27 de setembro de 2016

Escolas da Gafanha da Nazaré



NOTA:

1. A propósito do meu post editado neste meu blogue sobre a Escola da Cambeia, conhecida na minha infância por Escola da Ti Zefa, proprietária do edifício que ainda hoje existe, publico aqui a lista das escolas que elaborei em 2010, onde fica claro o registo da homologação dos diversos edifícios escolares. Sobre a Escola da Marinha Velha, a cuja inauguração assisti, tinha eu 17 anos, confirmo a data de 1955. E recordo o discurso que  o Presidente da Junta, Manuel da Rocha Fernandes Júnior, então proferiu.  Apoiava-se ele num texto, julgo que do livro da segunda classe, em que uma menina, ao colo de um adulto, foi convidada a ler um edital que os presentes, analfabetos,  não saberiam decifrar. A família do Senhor Rocha, homem que muito estimei, não terá encontrado o referido discurso no seu espólio;
2. Os números do quadro são referentes a 2010.

O rei que abriu portas à criação da freguesia e paróquia

D. Manuel II 
D. Manuel II
O último Rei de Portugal, D. Manuel II, nunca esperou vir a sentar-se no trono do Reino. Tão-pouco havia sido preparado para tais funções. Era segundo filho e o trono, por herança dinástica, seria para seu irmão Luís Filipe.
Quis o destino que o regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, de triste memória, o levasse a sentar-se na cadeira que tinha sido ocupada por seu pai, o Rei D. Carlos.
D. Manuel sobe ao trono com apenas 18 anos. Sem a preparação adequada, enfrentou imensos problemas, que ia ultrapassando com a ajuda de políticos que considerou capazes, mas que não estiveram à altura de impedir os avanços da República. E face aos conselhos que os mais próximos lhe dirigiam para que interviesse junto dos partidos, monárquicos e republicanos, de várias correntes, escreveu em Maio de 1909: «Querer que o rei intervenha nas lutas entre os políticos parece-me um erro. Muito interferiu meu pai, e bem triste fim teve», como escreveu Margarida Melo em “O Rei sem Trono”
Na visita que fez à região, em 1908, D. Manuel II passou pela Gafanha da Nazaré, visitou as obras da Barra e regressou a Aveiro, pela Ria. Numa sessão solene, na Câmara Municipal, condecorou um gafanhão, António Roque, que conduziu o barco em que viajou, com a «medalha de mérito, philantropia e generosidade».
Em 1910, no dia 23 de Junho, abre as portas legais para a criação da freguesia e paróquia, com decreto que terá sido o último que assinou para esse fim.
Pouco depois, aquando da implantação da República, em 5 de Outubro, segue para o exílio em Inglaterra. Respeitou quanto pôde e o deixaram o novo regime, nunca escondendo o seu amor à Pátria e aos portugueses. A República também o respeitou, atribuindo-lhe uma pensão para que pudesse viver com dignidade longe dos portugueses.
Com saudades da Pátria, morreu a 2 de Julho de 1932, vítima de um edema da glote.
A 2 de Agosto, o Governo de Salazar «toma a iniciativa da sua trasladação, decretando um funeral de Estado. O corpo do último rei de Portugal fica depositado em S. Vicente de Fora».

Fernando Martins

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Gafanha da Nazaré: Algumas datas para esclarecer



1. A ereção canónica da paróquia de Nossa Senhora da Nazaré aconteceu em 31 de agosto de 1910 por decreto do Bispo de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina, a cuja diocese pertencíamos.  Só em 11 de dezembro de 1938, com a restaurada Diocese de Aveiro, é que deixámos a diocese coimbrã.

2. No dia 27 de outubro de 1910, verificou-se a instalação e primeira sessão da Comissão Paroquial da freguesia da Gafanha, concelho de Ílhavo, que ficou assim constituída:
Presidente: José Ferreira de Oliveira
Tesoureiro: António Teixeira
Secretário: Manuel Nunes Ribau
Vogais: Jacinto Teixeira Novo, José Maria Fidalgo e Manuel Ribau Novo.
O tesoureiro não assinou a ata por ter faltado à sessão. Veio a falecer algum tempo depois.

3. A instalação da Primeira Junta da Paróquia da Gafanha da Nazaré teve lugar a 2 de janeiro de 1914. Ficou assim constituída:
José Ferreira de Oliveira
João Sardo Novo
José Maria Fidalgo
Manuel Ribau Novo
José da Silva Mariano
Manuel José Francisco da Rocha
Manuel Conde
Secretariou Alberto Ferreira Martins
Na mesma sessão, os presentes elegeram por unanimidade, José da Silva Mariano como presidente, João Sardo Novo como tesoureiro e Alberto Ferreira Martins como secretário. Posteriormente, a nova junta nomeou para vice-presidente Manuel José Francisco da Rocha.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Gafanha da Nazaré — Nona Década

1990 - 1999
Centro Cultural
Inauguração do Centro Social Paroquial Nossa Senhora da Nazaré
Silva Peixe
Humberto Rocha, primeiro gafanhão na presidência da CMI
Nossa Senhora da Nazaré
Fundação Prior Sardo

Prior Sardo
Alexandrina Cordeiro
Não podemos ficar indiferentes ao que continuamente se tem feito e continua a fazer na nossa freguesia e paróquia. Perfeitamente integrada na comunidade diocesana e regional de que faz parte, a Gafanha da Nazaré jamais foi terra indiferente aos ventos de mudança e do progresso.
O Congresso dos Leigos e o Sínodo Diocesano foram processos dinâmicos e renovadores da nossa maneira de ser e de estar na sociedade envolvente.
 Em Maio de 1990 morre o poeta popular Silva Peixe, natural de Ílhavo, conhecido por Poeta-Marinheiro. Cantou a Gafanha diversas vezes, ou não fosse ele um ilhavense atento às nossas terras e gentes.

Gafanha — Terra de Fé

Gafanha, terra de Fé,
És bem bonita, confesso,
— Um vergel da Nazaré —
Sempre em constante progresso!

O teu porto sobranceiro,
Que te dá tanto valor,
Leva a cidade d’Aveiro
A criar-te um grande amor!

Tens estaleiros navais,
E o Vouga passa-te aos pés.
Há sempre barcos nos cais,
És linda de lés a lés!

As tuas cores garridas
Encantam e não me esquecem,
Andam paisagens perdidas,
Pintores não aparecem!

COLUMBANOS E MALHOAS
Deixai o eterno sono,
Vinde pintar coisas boas,
BELEZAS QUE NÃO TÊM DONO!

Silva Peixe

Com novo prior, o Padre José Fidalgo, desde 17 de Dezembro de 1989, novas ideias emergem e novos desafios se impõem. O Centro Social Paroquial, inicialmente vocacionado para o apoio à Terceira Idade, é inaugurado a 4 de Maio de 1991.
Neste mesmo ano, surge na Praia da Barra uma associação vocacionada para defender, sob o ponto de vista cívico, os interesses e anseios daquela estância balnear — Associação dos Amigos da Praia da Barra.
A Fundação Prior Sardo inicia intervenção social de resposta às mais diversas carências das famílias e pessoas.
No ano seguinte, em 31 de Agosto, data da criação da paróquia, é inaugurada no jardim com aquele nome a estátua do Prior Sardo, na presença do Bispo de Aveiro, D. António Marcelino, do governador civil, Gilberto Madail, demais autoridades e várias centenas de pessoas. Descerrou a estátua, a convite de Gilberto Madail, a primeira batizada na Gafanha da Nazaré, pelo Prior Sardo, Alexandrina Cordeiro.
Em 1993, pela primeira vez na história do Município de Ílhavo, é eleito um gafanhão, Humberto Rocha, para a presidência da Câmara Municipal.
Em 1994, no adro da igreja matriz, é inaugurada uma estátua de Nossa Senhora da Nazaré, para assinalar o Ano Internacional da Família.
O Centro Cultural da Gafanha da Nazaré foi inaugurado em 1996, abrindo as portas às mais diversas expressões culturais da nossa terra e região, promovendo iniciativas destinadas aos mais variados quadrantes, desde a infância à terceira idade, desde a juventude à gente adulta, para todos os gostos e sensibilidades.
Pólo da Biblioteca Municipal, sala de exposições, anfiteatros para espetáculos e conferências e Fórum da Juventude com Internet integram o Centro Cultural.
Depressa, porém, se concluiu que apresentava lacunas e que urgia proceder a uma profunda remodelação. É o que acontecerá na próxima década.
Ainda nesta década foi constituída a Associação Náutica e Recreativa da Gafanha da Nazaré.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Gafanha da Nazaré — Sexta Década

1960-1969
A ponte que ruiu em 1994
Cada década está recheada de acontecimentos, qual deles o mais expressivo. Mas há alguns que deixaram marcas indeléveis, pela negativa, que jamais poderão ser apagadas da alma do povo. Refiro-me à Guerra Colonial que, alimentada por obsessões irrealistas e por princípios políticos ultrapassados, feriu Portugal e os portugueses.
Com o Concílio Vaticano II, anunciador de novas esperanças para a Igreja e para o Mundo, aconteceu o contrário da guerra: as marcas foram agora pela positiva. A Igreja aceitou o desafio de João XXIII e varreu os bolores e o pó dos corredores do Vaticano, deixando entrar rajadas de ar fresco.
O concílio abriu as portas à discussão e à reflexão no dia 25 de Dezembro de 1961 e encerrou os seus trabalhos no dia da Imaculada Conceição, 8 de Dezembro, do ano de 1965. Uma nova caminhada eclesial saltava os muros do Vaticano e abria-se ao mundo.
Em 1962, é nomeada Bispo de Aveiro D. Manuel de Almeida Trindade, com o Concílio Vaticano II já a decorrer, sendo considerado, por isso, um bispo conciliar. Entrou na nossa diocese em 23 de Dezembro daquele ano, depois da sua ordenação episcopal, em 16 do mesmo mês.
A Gafanha da Nazaré dá mais um salto nos caminhos do progresso, atingindo a categoria de vila, em respeito pelo seu crescente incremento industrial, aliado à sua situação geográfica, que lhe granjeou posição de excepcional relevo no conjunto portuário de Aveiro. Ainda se intensificou a emigração para França e Alemanha, sobretudo. 
A inauguração da ponte da Gafanha, junto à Friopesca, com a presença do ministro das Obras Públicas, Eng. Arantes e Oliveira, e demais autoridades locais e regionais, também aconteceu nesta década. Mas a nova ponte veio a ruir em 29 de novembro de 1994, por força das correntes que, activadas por aterros laterais ali colocados inadvertidamente, puseram a nu pilares centrais. Foi reaberta no dia 3 de janeiro de 1995.


Destaques nesta década 

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Gafanha da Nazaré — Quinta década

1950-1959

Com a aplicação do Despacho 100/45, esta década saiu fortemente beneficiada. Os estaleiros souberam aproveitar a dinâmica imposta pelo despacho, respondendo aos desafios das empresas de pesca. Mais navios, mais pescas, mais trabalho nas secas, mais empresas paralelas, mais gente. O mesmo sucedendo com o tratamento do fiel amigo e sua secagem natural, ao sol e vento. Um pouco mais tarde, em estufas, de que foi pioneira a EPA — Empresa de Pesca de Aveiro.
As empresas de pesca do bacalhau recorreram a pessoal de várias regiões do país, nomeadamente das Beiras e do Norte, que aqui se estabeleceram. Daí resultaram problemas sociais graves, no início, já que em deficientes habitações se alojam diversas famílias, em situações deploráveis. 
Distinguiram-se nessas migrações pessoas de Fafe, que vieram para trabalhar nas secas do bacalhau. Trouxeram forte vontade de lutar e de poupar, pensando certamente no regresso, mas muitas por aqui se fixaram, integrando-se plenamente nas Gafanhas, em especial na Gafanha da Nazaré. Trouxeram, também, os seus usos e costumes, bem como os seus cantares, que exibiam de manhã e à noite, na ida e no regresso do trabalho. Está na memória de muitos gafanhões a forma descontraída e rápida como faziam meias, nas suas caminhadas, enquanto cantavam as modinhas da época e das suas terras.
Em 15 de Janeiro de 1952 é fundada a mais antiga associação da nossa freguesia, ainda em atividade: Grupo Columbófilo da Gafanha da Nazaré. Foram seus fundadores João Nunes Bola, Joaquim Robalo Campos, Augusto Francisco Ferreira e Joaquim Pereira. Tinha como objetivos principais cuidar, criar, selecionar e treinar pombos-correios para competição em concursos, quer a nível nacional quer internacional, organizados pela Federação Portuguesa de Columbofilia.
Com 85 associados maioritariamente da Gafanha da Nazaré, mobiliza para esses concursos, semanalmente, 1250 pombos, só da nossa freguesia, durante seis meses.
Nesta década verifica-se um acidente gravíssimo, que, felizmente, não provocou vítimas mortais. A ponte de madeira que ligava o Forte à Barra ruiu com o peso de uma camioneta, do senhor Manuel Russo, carregada com cinco toneladas de areia. 
O Mercado da Gafanha começa a criar raízes, em novo espaço, e entra na paróquia o quarto Prior, Padre Abílio Augusto Saraiva. Entre a saída do Prior Bastos e a entrada do Prior Saraiva acumulou o serviço paroquial, interinamente, o Padre António Diogo, ao tempo Prior da Gafanha da Encarnação.
Dá os primeiros passos a Obra da Providência, enquanto o Grupo Desportivo da Gafanha vê oficializados os seus estatutos. 
Em 1955 assume a paroquialidade da Gafanha da Nazaré o Padre Domingos Rebelo, que intensificou entre nós o culto a Nossa Senhora e implementou o estudo bíblico, como resposta à entrada na freguesia das ideias protestantes. 
Em agosto de 1958, D. Domingos da Apresentação Fernandes assume as responsabilidades de Bispo de Aveiro, sucedendo a D. João Evangelista. 
O jornal “O Ilhavense” transcreve de “O Século”, com data de 11 de novembro de 1958, um texto intitulado “Gafanha — Terra de Agricultores e Marinheiros, quer trabalhar para o seu progresso e para benefício da economia nacional”. E a dado passo lê-se:

«Terra árida e sem vegetação, queimada por um sol ardente e desabrigada, exposta aos ventos agrestes e calor sufocante; terra mártir, condenada ao abandono pelos dons da natureza, foi à custa de “sangue suor e lágrimas” dos seus habitantes que a Gafanha atingiu o atual alto grau, podendo orgulhar-se de ocupar lugar de relevo como centro industrial.
(…)
Mas um dia, um ser humano, mais forte e persistente, cheio de coragem e com ardor, cavou terra, remexeu-a, estrumou-a com os moliços da Ria, plantou e colheu o fruto do seu trabalho; a vegetação tinha começado. O homem mais uma vez vencera.»

A Colónia Agrícola é inaugurada e anexada, sob o ponto de vista pastoral, à freguesia de S. Salvador. Nasce o Timoneiro e a Catequese adapta-se às novas pedagogias. O protestantismo entra na Gafanha da Nazaré para ficar. Há novo Bispo de Aveiro. Instituições dão os primeiros passos.
Ainda nesse ano, Humberto Delgado disputa as eleições presidenciais, confrontando-se com Américo Tomás. Este vence oficialmente as eleições, mas a oposição democrática denuncia a fraude, atribuindo a vitória ao general que tinha garantido, na campanha eleitoral, que demitiria «obviamente» o chefe do Governo, António Oliveira Salazar.
Como consequência da campanha eleitoral, Salazar promove, em agosto de 1959 uma revisão constitucional, na qual se suprime o sufrágio direto para a eleição do Presidente da República, substituindo-o por um sufrágio indireto, proporcionado por um colégio eleitoral de total confiança do Governo.
Nessa mesma altura, na tomada de posse da União Nacional (partido único no País), Salazar ameaça rever a concordata se a Hierarquia da Igreja católica não for capaz de assegurar a manutenção da «frente nacional» entre o Estado Novo e os católicos. É justo lembrar que se deve em grande parte à Acão Católica esta tomada de consciência do povo português face aos problemas sociais, políticos, mas ainda face aos direitos fundamentais dos cidadãos.
Em 1959, Aveiro celebrou o milénio da sua existência, graças à referência feita pela Condessa Mumadona, quando legou as suas marinhas de sal que possuía em Alavarium. Também celebrou o bicentenário da sua elevação a cidade. Os festejos foram diversos e como nota interessante, para nós, o Mestre Manuel Maria Bolais Mónica, com a sua arte e saber, ergueu na ponte da Dobadoura um mastro de um navio, que assinalou durante algum tempo as referidas efemérides.
Nesta década e por iniciativa do Prior Domingos dão-se os primeiros passou para a organização da Catequese paroquial, destinada em especial à infância. Até aí, as senhoras mestras, e um ou outro mestre, encarregavam-se da tarefa de educar na fé as crianças, normalmente até à primeira comunhão. O crisma recebia-se sem qualquer preparação específica. O autor destas linhas foi crismado por D. Domingos da Apresentação Fernandes, por simples aviso. Todos em fila, com os padrinhos escolhidos no momento (um adulto era, como foi o meu caso, padrinho de muitos crismandos. depois aderiu a uma Igreja Evangélica), sem mais.

Fernando Martins

terça-feira, 5 de abril de 2016

Gafanha da Nazaré — Quarta Década

1940 – 1949


A quarta década foi marcada por avanços significativos em vários campos, que elevaram a qualidade de vida das populações. Em 1940, o sector da saúde viu chegar a primeira farmácia — Farmácia Morais —, que ainda é hoje [2010] propriedade da atual diretora técnica, Maria Ester da Silva Ramos Morais. Por pura coincidência, na mesma altura montaram consultório na nossa terra os médicos Maximiano Ribau, da Gafanha da Nazaré, e Joaquim António Vilão, natural de Mata-dos-Lobos, Figueira de Castelo Rodrigo. Um outro médico, natural da Gafanha da Nazaré, mas residente em Ílhavo, onde casou, José Rito, também aqui dava consulta. Foi o primeiro clínico gafanhão.
O célebre desastre da Nau Portugal, que adornou na ria, aquando do bota-abaixo, tornou mais famoso o Mestre Mónica, que, segundo a tradição popular, havia previsto essa situação. Na altura, a nossa terra foi muito badalada, persistindo na memória de muitos o que aconteceu, com a Nau a deitar-se lentamente na laguna.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Nossa Senhora de Fátima na Gafanha da Nazaré

Desde 1917 que o povo da Gafanha da Nazaré dedicou a Nossa Senhora de Fátima uma veneração muito especial e em 1951 a paróquia recebeu-a, por um dia, com manifestações de júbilo.
De 17 a 24 de novembro de 1957, e para preparar a celebração das bodas de ouro episcopais de D. João Evangelista de Lima Vidal, mais uma vez a Imagem de Nossa Senhora de Fátima esteve entre nós.
«Esta peregrinação concluiu (julho de 1959) com um cortejo cívico desde o Paço Episcopal até ao Estádio Mário Duarte celebrando-se aí Missa campal e, no fim, apoteose; esta concentração diocesana fez parte das Comemorações do Milénio de Aveiro e do bicentenário da sua elevação a cidade» (Diocese de Aveiro, págs. 533 e 534).
A Gafanha da Nazaré participou ativamente nesta peregrinação e ainda hoje se recorda, com muita saudade, a vivência dessa semana em que o povo pôde mostrar quanto ama Nossa Senhora de Fátima.
Formaram-se comissões que se encarregaram da ornamentação das ruas, com flores e iluminação, para assim ser homenageada, na sua passagem em procissão pelas principais ruas da Gafanha da Nazaré.
E recorde-se, também, que houve várias peregrinações da paróquia ao Santuário de Fátima e que, principalmente a 13 de maio e de outubro há sempre grupos que ali se deslocam a pé e de outros modos, fazendo penitência e oração.

Fonte: “Gafanha — N.ª S.ª da Nazaré,
de Manuel Olívio Rocha e Manuel Fernando da Rocha Martins,
1986


segunda-feira, 14 de março de 2016

Gafanha da Nazaré — Terceira Década

1930 -1939

Algumas considerações 
sobre a nossa freguesia e paróquia

A terceira década da vida da freguesia e paróquia foi assinalada por três grandes acontecimentos:  Em 1933 é aprovada a constituição da República, sob o signo da política de Salazar, que haveria de se impor ao país até ao 25 de Abril de 1974. Antes da sua publicação, Salazar, em 1932, na tomada de posse, afirma, categoricamente, como que a garantir o comando geral da política portuguesa: «Sei muito bem o que quero e sei para onde vou.»
Sem participação democrática, fechada sobre si mesma, a constituição estabelecia um regime corporativo e indiferente às democracias que se iam estabelecendo na Europa. Foi essa política que proclamou, pela voz de Oliveira Salazar, a célebre frase do «orgulhosamente sós», em defesa do Portugal multicultural, multirracial e multicontinental.
Em 1938, a Diocese de Aveiro foi restaurada, sendo constituída por paróquias das Dioceses de Coimbra, Porto e Viseu. Deixámos, então, a Diocese de Coimbra. 
Ainda em 1938, os gafanhões assumem mais um grande projeto de unidade, com a criação da Cooperativa Eléctrica da Gafanha da Nazaré. Até essa altura, a iluminação estava entregue ao candeeiro a petróleo ou às lamparinas e velas.
A emigração continua e as indústrias e o comércio multiplicam-se. Pesca do bacalhau e secas dão mais vida à nossa terra e região. Estaleiros requerem técnicos e artistas da enxó e do machado.
Nesta década surge na região Carlos Roeder, um empresário com visão de futuro e fundador na década seguinte dos Estaleiros de São Jacinto.

terça-feira, 8 de março de 2016

Gafanha da Nazaré — Segunda Década

Prior Guerra
1920 - 1929

Algumas considerações
sobre a nossa freguesia e paróquia

Dez anos depois, a vida continuava, num crescendo notório. Em 1921, no dia 25 de julho, é benzido o Cemitério Paroquial, terminando o sacrifício dos enterros e demais trabalhos inerentes aos funerais. As obras da igreja matriz prosseguiam e empregos sucediam-se. A agricultura continuava a ser a base da subsistência do povo. Emigração foi mais um caminho de desenvolvimento pessoal e familiar.
Schwalbach Lucci, citado por Jorge Arroteia em “Gafanha da Nazaré — Escola e comunidade numa sociedade em mudança”, diz, em 1918:
«Alguns indivíduos compraram a terra a crédito e, após a transacção, emigraram temporariamente para a Califórnia, forcejando por juntar a soma precisa para o pagamento da dívida contraída. Não é uma deslocação de carácter permanente, pois deixaram frequentemente a substituí-los nos trabalhos da metrópole as esposas: até servem de arrais.»

quinta-feira, 3 de março de 2016

Gafanha da Nazaré: Festas na paróquia

Nossa Senhora da Conceição
(foto de Humberto Rocha)

Diz a tradição que sempre houve festas na Gafanha da Nazaré. Mesmo antes da criação da paróquia e freguesia o povo organizava e participava nas festas, muitas delas, senão mesmo todas, feitas à sombra dos padroeiros e outros santos da comunidade católica. 
Além da festa da padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, há registos e memórias de outras: Nossa Senhora da Conceição (Muito participada por todos, em especial pelos marítimos ligados à pesca do bacalhau), São Tomé (com promessas dos lavradores referentes ao gado), Mártir São Sebastião, Nossa Senhora dos Navegantes (no Forte) e São João (na Barra).
Posteriormente vieram as festas de Nossa Senhora dos Aflitos (Chave) e São Pedro (na Cale da Vila). Eram festas que se estendiam pelo verão, depois ou durante as colheitas, como necessidade de descompressão para quem trabalhava duramente nos campos.

terça-feira, 1 de março de 2016

Evolução demográfica da Gafanha da Nazaré

Mulheres da seca (década de 40 do séc. XX
Anos - habitantes


1911 - 2441
1920 - 2827
1930 - 3308
1940 - 4116
1950 - 5475
1960 - 7497
1970 - 7870
1981 - 11187
1991 - 11638
2001 - 13617
2011 - 14756

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Gafanha da Nazaré — Primeira Década

1910-1919

Igreja inaugurada em 14 de janeiro de 1912

A freguesia da Gafanha da Nazaré é criada numa época marcada por algumas transformações importantes, tanto para o País como para a Igreja Católica. Os moradores, povo crente, sabem escudar-se na Igreja e nas suas organizações para cimentar novas raízes neste espaço de areias soltas e movediças, onde levantam modestas habitações.
Como desde os primeiros tempos da sua fixação, nesta zona de ria e mar, a construção das habitações convoca a troca de saberes e a ajuda mútua. Desde o fabrico dos adobes, nas dunas, terra de ninguém e de um ou outro proprietário, junto à actual Mata da Gafanha, até ao levantar da casa em terreno oferecido pelos pais dos nubentes. 
Erguidas as paredes, apenas deixam mais ou menos concluídos a cozinha e um quarto. Tudo o mais fica para mais tarde, quando houver poupanças ou heranças. Quarto de banho não existe, mas não faltam os currais para o gado e para a criação. 
A agricultura em terrenos dos pais ou arrendados é a base da subsistência. Outros “andam de fora” como jornaleiros e seareiros, expressão usada nos registos de casamento, baptizado ou óbito.
Depois a pesca, as obras da barra, estaleiros, as secas e demais empresas ligadas às indústrias e comércio. Há conhecimento de que gafanhões emigram para os Estados Unidos e para o Brasil.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Alberto Ferreira Martins merece ser recordado


Reedito o talão correspondente ao primeiro subscritor dos 85 gafanhões que se responsabilizaram pela construção da igreja da Gafanha da Nazaré, antes ainda da nossa terra ser paróquia e freguesia, o que veio a acontecer apenas depois do decreto de D. Manuel II, rei de Portugal. assinado em 23 de junho de 1910.
Nas minhas buscas sobre a nossa terra, o senhor Alberto Ferreira Martins era pessoa habitualmente presente e com habilitações, o que se prova, no mínimo, pela caligrafia que usava. As atas da Junta de Freguesia, que tive o cuidado de ler e de transcrever algumas, no tempo em que não havia fotocópias, mostravam que o senhor Alberto Martins escrevia corretamente. Nessa altura, perguntei algo sobre ele, mas nada de relevante descobri. Fiz mal. Hoje lembrei-me de voltar ao tema. Espero encontrar algumas portas abertas, porque ele merece ser recordado. Vou aguardar algumas informações dos amigos.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Gafanha da Nazaré — Filha do Porto de Aveiro



Quem hoje visita a GAFANHA DA NAZARÉ, se embrenha no seu emaranhado casario, onde o contraste entre o rico e o pobre se tornam flagrantes, e percorre a zona portuária e industrial, talvez nem imagine o que foi o viver dos primeiros habitantes que por aqui se foram fixando desde o século XVII, e, sobretudo, nos finais do século XIX e princípios do século XX.
A gente humilde que por esta região se foi quedando no amanho da terra pouco fértil, porque muitas vezes lavada pelas águas salgadas, nem sequer sonhava com a Gafanha que estava a construir e fadada para polo de desenvolvimento. Antes da abertura da Barra, que aconteceu em 3 de Abril de 1808, a região lagunar era terra doentia e as águas estagnadas muito contribuíram para isso. Mas depois, quando “Pelas sete horas desse dia, Luís Gomes, abrindo um pequeno sulco com o bico da bota, no frágil obstáculo que separava a ria do mar, deu passagem à onda avassaladora da vazante para a conquista da libertação económica, depois de uma opressão que durara sessenta anos”, como descreve o Comandante Rocha e Cunha, a Gafanha viu nascer novas esperanças.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Formação do espaço que hoje habitamos (3)


«Em 3 de Abril, domingo, verificou que o desnível era de dois metros do interior para o exterior. Às 7 horas da tarde, em segredo, acompanhado por Verney (3), pelo marítimo Cláudio e poucas pessoas mais, arrancam a pequena barragem de estacas e fachina que defendia o resto da duna na cabeça do molhe, cortam a areia com pás e enxadas, e Luís Gomes de Carvalho, abrindo um pequeno sulco com o bico da bota no frágil obstáculo que separava a ria do mar, dá passagem à onda avassaladora da vasante para a conquista da libertação económica de Aveiro depois de uma opressão que durara sessenta anos.»

“O Porto de Aveiro”, 1923, pág. 8

(3).Verney, João Carlos Cardoso, nomeado superintendente das obras em 20 de Novembro de 1801.

Também António Feliciano de Castilho se referiu à importância da abertura da Barra no seu poema «A faustíssima exaltação de S. M. F. o Senhor D. João VI ao trono»:

Árduas fadigas, derramadas somas
Ao Vouga nunca destruir poderão
A barreira que entrada ao mar tolhia;
Em teus dias, Senhor, um génio grande,
(O preceito foi Teu, e Tua a glória)
As cadeias quebrou que o rio atavam

……………………….
…………………………

O nome de Oudinot, que o sábio plano
Deu qual deste também, qual desempenhas 
Engenhoso Carvalho em nossos dias;
Mas teu grande saber a mais se avança. (OPV)

Certo da importância de uma barra estável para o desenvolvimento das terras aveirenses, Luís Gomes de Carvalho dirigiu uma carta ao regente, futuro Rei D. João VI, ausente no Brasil, para onde se deslocara com toda a família, num gesto que assumiu como forma de manter a independência de Portugal, face à Guerra Peninsular, desencadeada em 1807 por Napoleão Bonaparte.
Na carta, Luís de Carvalho considera, de forma muito original e profética, que o dia 3 de Abril foi, «em certo modo, um segundo dia de criação em que se operou, como por um prodígio, uma conveniente e necessária separação das águas, e dos terrenos, que estavam na mais fatal confusão».

Continua....

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Formação do espaço que hoje habitamos (2)

Formação da restinga

Neste vaivém, a laguna aveirense foi sofrendo as consequências da impossibilidade do rejuvenescimento das suas águas, que se tornaram putrefactas e, naturalmente, fonte de doenças respiratórias e outras. A laguna em morte lenta ia matando e afugentando gentes próximas. 
Várias tentativas se sucederam para abrir a passagem das águas do Atlântico para a ria, escancarando frágeis portas a embarcações que demandavam Aveiro e região. Desde a Torreira a Mira, no espaço de tempo compreendido entre 1200 e 1808, altura em que a Barra de Aveiro assentou arraiais de vez, a ligação à ria fez-se na Torreira, Mira, Quinta do Inglês, Vagueira, Costa Nova e Senhora das Areias. 



Localização da barra através dos  tempos  (fig. 3)

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TRADUÇÃO

GAFANHA -Séculos X-XII

O mar já andou por aqui... E se ele resolve regressar? Não será para o meu tempo, mas pode acontecer um dia!