«Em 3 de Abril, domingo, verificou que o desnível era de dois metros do interior para o exterior. Às 7 horas da tarde, em segredo, acompanhado por Verney (3), pelo marítimo Cláudio e poucas pessoas mais, arrancam a pequena barragem de estacas e fachina que defendia o resto da duna na cabeça do molhe, cortam a areia com pás e enxadas, e Luís Gomes de Carvalho, abrindo um pequeno sulco com o bico da bota no frágil obstáculo que separava a ria do mar, dá passagem à onda avassaladora da vasante para a conquista da libertação económica de Aveiro depois de uma opressão que durara sessenta anos.»
“O Porto de Aveiro”, 1923, pág. 8
(3).Verney, João Carlos Cardoso, nomeado superintendente das obras em 20 de Novembro de 1801.
Também António Feliciano de Castilho se referiu à importância da abertura da Barra no seu poema «A faustíssima exaltação de S. M. F. o Senhor D. João VI ao trono»:
Árduas fadigas, derramadas somas
Ao Vouga nunca destruir poderão
A barreira que entrada ao mar tolhia;
Em teus dias, Senhor, um génio grande,
(O preceito foi Teu, e Tua a glória)
As cadeias quebrou que o rio atavam
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O nome de Oudinot, que o sábio plano
Deu qual deste também, qual desempenhas
Engenhoso Carvalho em nossos dias;
Mas teu grande saber a mais se avança. (OPV)
Certo da importância de uma barra estável para o desenvolvimento das terras aveirenses, Luís Gomes de Carvalho dirigiu uma carta ao regente, futuro Rei D. João VI, ausente no Brasil, para onde se deslocara com toda a família, num gesto que assumiu como forma de manter a independência de Portugal, face à Guerra Peninsular, desencadeada em 1807 por Napoleão Bonaparte.
Na carta, Luís de Carvalho considera, de forma muito original e profética, que o dia 3 de Abril foi, «em certo modo, um segundo dia de criação em que se operou, como por um prodígio, uma conveniente e necessária separação das águas, e dos terrenos, que estavam na mais fatal confusão».
Continua....
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