terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Formação do espaço que hoje habitamos — 4

Carta de Luís Gomes de Carvalho dirigida ao príncipe, futuro D. João VI

A nova entrada da barra, mesmo sem obras que consolidassem o trabalho realizado por Luís Gomes de Carvalho, deixou antever uma ria limpa que purificasse os ares e evitasse epidemias devastadoras. Para além disso, com as tropas napoleónicas a provocarem estragos, a barra mostra a sua importância estratégica, ao permitir a entrada de trinta e oito navios, protegidos pelo brigue de guerra “Port Mahon”, que transportavam alimentos e forragens para o Exército Inglês que operava na zona e se dirigia para o Porto, como se lê em “Aveiro 2009 — Recordando Efemérides”, de João Gonçalves Gaspar.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Transformar em húmus as dunas da Gafanha


«É certo que de cada popa se vê um Portugal diferente, conforme a latitude: verde e gaiteiro em cima, salino e moliceiro no meio, maneirinho e a rilhar alfarroba no fundo. Camponeses de branqueta e soeste a apanhar sargaço na Apúlia, marnotos a arquitectar brancura em Aveiro, saloios a hortelar em Caneças, ganhões de pelico a lavrar em Odemira, árabes a apanhar figos em Loulé. Metendo o barco pela terra dentro, é mesmo possível ir mais além. Assistir, em Gaia, à chegada do suor do Doiro, ver transformar em húmus as dunas da Gafanha, ter miragens nos campos de Coimbra, quando a cheia afoga os choupos, fotografar as tercenas abandonadas do Lis, contemplar, no cenário da Arrábida, a face mística da nossa poesia, ou cansar os olhos na tristeza dos sobreirais do Sado. Mas são vistas… Imagens variegadas dum caleidoscópio que vai mudando no fundo da mesma luneta de observação.»

Miguel Torga 
Em "Portugal"

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Rua Complexo Desportivo

Homenagem a todos os que contribuíram
para a construção do Complexo Desportivo


Em boa hora batizaram uma rua da nossa terra com o nome de Complexo Desportivo da Gafanha. E digo em boa hora porque esse gesto reflete a importância de uma estrutura desportiva que, presentemente, acolhe centenas de atletas de todas as idades, em especial ligados ao Grupo Desportivo da Gafanha (GDG). Mas ainda reflete o esforço que diversas pessoas e entidades empreenderam para que o Complexo Desportivo fosse uma realidade.
Como é bem sabido, julgamos nós, os clubes amadores de futebol, que existiram na Gafanha da Nazaré, desde há muitas décadas, treinavam e jogavam em campos improvisados ou adaptados, minimamente, à prática do desporto-rei. Depois, por iniciativa da JAPA (Junta Autónoma do Porto de Aveiro), foi construído, no Forte da Barra, um campo, que foi posto à disposição do Grupo Desportivo da Gafanha, o mais representativo clube da nossa terra. Era um campo pelado, com balneários construídos para o GDG e que chegou a ter iluminação para treinos, já que os jogadores e treinadores tinham as suas profissões.
Nos finais da década de 60, do século passado, um gafanhão sugeriu os terrenos incultos da Colónia Agrícola como sendo a localização ideal para a instalação do novo campo de futebol do Gafanha, e em 20 de Março de 1976 o Secretário de Estado da Estruturação Agrária assina e autentica o Alvará de Cedência Gratuita à Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, para usufruto do Grupo Desportivo da Gafanha, de uma parcela agrícola com 8,5 hectares.

Formação do espaço que hoje habitamos (3)


«Em 3 de Abril, domingo, verificou que o desnível era de dois metros do interior para o exterior. Às 7 horas da tarde, em segredo, acompanhado por Verney (3), pelo marítimo Cláudio e poucas pessoas mais, arrancam a pequena barragem de estacas e fachina que defendia o resto da duna na cabeça do molhe, cortam a areia com pás e enxadas, e Luís Gomes de Carvalho, abrindo um pequeno sulco com o bico da bota no frágil obstáculo que separava a ria do mar, dá passagem à onda avassaladora da vasante para a conquista da libertação económica de Aveiro depois de uma opressão que durara sessenta anos.»

“O Porto de Aveiro”, 1923, pág. 8

(3).Verney, João Carlos Cardoso, nomeado superintendente das obras em 20 de Novembro de 1801.

Também António Feliciano de Castilho se referiu à importância da abertura da Barra no seu poema «A faustíssima exaltação de S. M. F. o Senhor D. João VI ao trono»:

Árduas fadigas, derramadas somas
Ao Vouga nunca destruir poderão
A barreira que entrada ao mar tolhia;
Em teus dias, Senhor, um génio grande,
(O preceito foi Teu, e Tua a glória)
As cadeias quebrou que o rio atavam

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O nome de Oudinot, que o sábio plano
Deu qual deste também, qual desempenhas 
Engenhoso Carvalho em nossos dias;
Mas teu grande saber a mais se avança. (OPV)

Certo da importância de uma barra estável para o desenvolvimento das terras aveirenses, Luís Gomes de Carvalho dirigiu uma carta ao regente, futuro Rei D. João VI, ausente no Brasil, para onde se deslocara com toda a família, num gesto que assumiu como forma de manter a independência de Portugal, face à Guerra Peninsular, desencadeada em 1807 por Napoleão Bonaparte.
Na carta, Luís de Carvalho considera, de forma muito original e profética, que o dia 3 de Abril foi, «em certo modo, um segundo dia de criação em que se operou, como por um prodígio, uma conveniente e necessária separação das águas, e dos terrenos, que estavam na mais fatal confusão».

Continua....

Aos homens do mar

  Aos homens da nossa terra, que do mar fizeram a sua vida. Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré 1996 «Ó mar salgado, quanto do teu sal s...