quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Arte da Xávega


A Arte da Xávega, que muitos conhecem pela utilização de juntas de bois que puxam a rede para a praia, não começou assim. O padre João Rezende diz, na sua Monografia da Gafanha, que “Até cerca de 1887 estava ainda em uso o processo de pesca no mar pelo arrasto ao cinto, que consistia em cada um dos pescadores prender, por uma laçada especial, a corda do cinto às duas cordas especiais da rede (o rossoeiro e a corda barca) e assim ligados, ou atrelados se quiserem, arrastarem a rede para fora da pancada do mar.” Diz o mesmo autor que foi Manuel Firmino, proprietário de companhas e político de Aveiro, quem primeiro substituiu, naquele ano, o arrasto ao cinto pela tracção do gado bovino.

terça-feira, 26 de maio de 2009

O esforço insano dos gafanhões

Frederico de Moura, o médico vaguense que também se dedicou à escrita, que dominava com perfeição e poesia, escreveu, em 1968, na revista "Aveiro e o seu Distrito", um "Apontamento para um trabalho sobre a paisagem de Aveiro", o seguinte, sobre o esforço do gafanhão: Claro que o Gafanhão – ou o avô do Gafanhão – quando se foi às lombas para as cultivar sabia que ia investir contra vidro moído totalmente carenciado de matéria orgânica que desse qualquer quentura ao berço de uma planta. Ele bem via a mica a faiscar-lhe no lombo e bem sentia o vento a transmutar-lhe, de momento a momento, o versátil. Citado por “Gafanha da Nazaré – Escola e comunidade numa sociedade em mudança”.

sábado, 23 de maio de 2009

Características dos gafanhões

Rocha Madahil escreveu em 1966 um artigo, baseado numa descrição dos finais do século passado (séc. XIX), o seguinte, como se pode ler em “Gafanha da Nazaré – Escola e comunidade numa sociedade em mudança”, de Jorge Arroteia e outros: “são denominados gafanhões os habitantes da Gafanha. O seu typo physionomico denuncia feição árabe. Os homens são robustos e de boas formas, e as mulheres de mediana estatura, mas cheias e vigorosas. São de carácter expansivo e índole benévola. É raridade o casamento de um gafanhão, homem ou mulher, fora da colónia, que talvez por isso conserva immutavel a sua feição primitiva.” Nota: Com tanta mistura de gentes de tantos sítios, estou em crer que Rocha Madail, se fosse vivo, ficaria altamente espantado com os actuais gafanhões e gafanhoas. FM

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Gafanha: Celeiro e horta

“Ainda que muitas pessoas se contam neste distrito que viram a Gafanha árida e despida de vegetação, como a maior parte dos areais do litoral, este trabalho foi tão proveitoso que é a Gafanha talvez um dos lugares deste distrito em que haja mais ouro amoedado, sem contar que literalmente fornece sustentação e trabalho a mais de oito mil pessoas sendo, por assim dizer, o celeiro e a horta dos concelhos de Aveiro, Ílhavo, e ainda da maior parte de Vagos.” Rocha Madail, em “Etnografia e História”, 1934, citado por “Gafanha da Nazaré – Escola e comunidade numa sociedade em mudança”

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Cantigas ao desafio na Gafanha da Nazaré

Na noite passada, lembrei-me da taberna do Ti Manuel Maria Bola e das desgarradas que lá ouviam. Era eu ainda menino!
Era lá que os passantes iam beber o seu copo e comer a sua bucha.
Os que vinham de burro - normalmente vender laranja de Mira - deixavam os burros amarrados às argolas existentes para o efeito, chumbadas na parede. Outros que vinham a negócio, serranos, por vezes traziam as suas violas, e então, depois dos copos, era ouvi-los a cantarem ao desafio.
Recordo-me que o meu avô nos explicava como era:
-Um, desafiante, lançava o "Mote" (Era um verso com quatro linhas). O desafiado respondia com um verso de dez linhas, a última das quais tinha que ser, por ordem, uma das linhas constantes do mote! E as cantigas seguiam-se com um dos cantadores a responder ao outro.
Fiz uma "cantiga" cuja letra serviria para os tempos actuais, e que anexo, para o vosso comentário.
Ângelo Ribau
Lembranças da Mocidade Quando eu era pequenino No tempo do meu avô Minha terra tinha coisa Que hoje já se acabou Havia uma guerra Havia pessoas que lutavam Que morriam Que tornavam heróis Os que venciam Os que morriam deixavam a terra Para eles acabava-se a guerra Os que ficavam lutavam Para poderem sobreviver na terra Quando eu era pequenino Na casa de meu avô Havia milho na caixa Que não nos deixava passar fome Havia horta no quintal Que não nos deixavam passar mal Havia uma vaca que dava leite Para a gente se alimentar Até se fartar Era assim No tempo do meu avô Tinha coisa boa Que hoje já não tem Tinha praias onde ia tomar banho Com autorização de minha mãe Tinha juncal Onde fazia ninho o pardal Tinha tanta coisa boa Que ao recordar Até pareço falar à toa Minha terra tinha coisa Agora me lembro. Foi em Setembro Tinha acabado a guerra. O meu avô chamou E indicou o céu mole Onde centenas de aviões passavam E encobriam o sol Estes são os vencedores. Diz Deixaram para traz milhões de mortos São os heróis da guerra Que hoje já se acabou

domingo, 17 de maio de 2009

Toca a Marchar

Estaleiros Mónica
"Conforme ficou prometido, continuamos neste número a republicar letras de marchas sanjoaninas da Gafanha da Nazaré. Desta feita, calha a vez a Cale da Vila. Parece o nome derivar do lugar estar situado junto a uma cale ou caminho de água, canal fundo, esteiro, que conduzia à vila, talvez a vila de Aveiro, elevada a cidade em 1759, no tempo do Marquês de Pombal, o que faz remontar as origens da Cale da Vila pelo menos no nome· a antes da segunda metade do século XVIII. São referidas habitações sazonais, isto é precárias ou apenas existentes em períodos de trabalho, como as fainas da recolha do sal ou da pesca de companha, desde o tempo de D. Dinis, havendo documento de seu filho Afonso IV, o do reconhecimento das Canárias, que refere construção de barcas, barinéis ou caravelas para a pesca e comércio. Também se sabe da importância de Aveiro e decerto das suas redondezas gafanhosas, mesmo "avant la lettre», resultantes da primeva exploração da TERRA NOVA DOS BACALHAOS, que se seguiu a descoberta dessa costa do nordeste americano. Mas o que já é menos discutível e confirmado por documentos e testemunhos de vivos de provecta idade é, por exemplo, a construção do navio ADÍLIA nos terrenos marginais da Cale da Vila pelo pai do celebrado Mestre Mónica, em 1890."
Oliveiros Louro e Marcos Cirino
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quarta-feira, 13 de maio de 2009

Rádio Terra Nova: Passado não pode ficar esquecido

Para a história da Rádio Terra Nova
Rádio Terra Nova – De novo no ar
No dia 12 de Junho de 1986, nasceu na vila da Gafanha da Nazaré, mais propriamente na Rua Gil Eanes, 31, uma menina a quem foi posto o nome de “TERRA NOVA”. Como todas as crianças, aprendeu a balbuciar, gatinhar, andar e falar! Até ao dia 24 de Dezembro de 1988 fez-se mulher e teve muitos filhos a quem chamou ouvintes. Não sabendo bem porquê, nesse dia foi separada de todos eles e privaram-na de falar e dizer o que lhe ia na alma. Qual é a mãe que não quer comunicar com o seu filho mesmo que ele esteja muito longe? Haverá porventura alguma? Será que algo ou alguém tem o direito de lhe “roubar” esse prazer, esse gesto de amor? TERRA NOVA estava certa que não, e por isso mesmo “presa” entre quatro paredes não deixou de “lutar” com quantas forças tinha para reaver o que de direito lhe pertencia: liberdade de expressão e comunicação. Lutou até 26 de Março, dia em que se reencontrou com as pessoas que lhe querem bem. Está novamente no convívio de todos nós, 24 horas por dia, sempre alerta, pronta para informar com rigor todos os seus “filhos”, sem distinções ou discriminações de qualquer espécie. TERRA NOVA é a “voz dos sem voz” e propõe-se tudo fazer para ajudar a unir toda a sua família sem olhar a raças, etnias ou minorias. Quer preservar os valores característicos da sua região e a cultura portuguesa, e instalar relações de solidariedade, convívio e boa vizinhança entre todos quantos a acompanham no seu dia-a-dia. Hoje TERRA NOVA é uma mãe feliz que vos contou em poucas palavras a sua história e que vos disse que não perdeu a esperança, o sonho e o amor. Isso ninguém “rouba” a ninguém!!! Continue na sintonia dos 105 MHZ 24 horas por dia e já agora seja feliz. Maria do Céu In TIMONEIRO de Abril de 1989

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Movimento de Schoenstatt: A propósito de um Festival da Canção…

Santuário de Schoenstatt
A propósito de um Festival da Canção, que aqui divulguei, há tempo, li hoje um comentário do João Alberto Roque, o qual, pelo seu interesse, aqui sublinho, com o objectivo de suscitar reacções, sempre agradáveis de ler. Contudo, o meu atraso merece uma explicação: Com a vida agitada que levo, esqueço-me, com frequência, de ler ou reler os comentários. E quando o faço sou levado a concluir que, se estivesse mais atento, talvez na altura própria pudesse encaminhar para algumas pessoas questões neles levantadas, em especial para ajudar a reescrever a história do Movimento de Schoenstatt entre nós. De qualquer forma, aqui prometo mais atenção no futuro. Leiam, então, este comentário do João Alberto Roque e depois acrescentem qualquer coisinha.

 Fernando Martins

  EU FUI DOS PRINCIPAIS INTERVENIENTES...

Eu fui dos principais intervenientes… É agradável dar de caras com estas recordações. Já não me lembrava dos pormenores – tinha vinte e três anos na altura – mas, pelo que li, penso que está tudo bem. Nesse ano fiz parte da organização e era um dos autores de três canções concorrentes (ai a ética… mas de acordo com o regulamento só os elementos do Júri não podiam concorrer e eram sempre pessoas credenciadas e imparciais). Aliás não era frequente ganhar um Gafanhão.
Nesse ano ganhou o Cândido Casqueira numa canção com poema do Pina e o Sérgio ficou em segundo com uma canção de que eu era um dos autores. Eu sempre fui mais dado para a escrita… já não recordo se a “letra” era feita só por mim ou trabalho de equipa com o Sérgio e o Falcão. Com muita pena minha, nunca tive jeito para cantar sem ser em coro. Estas canções foram feitas no acampamento da Juventude Masculina de Schoenstatt.
Parece que me estou a ver a escrever junto ao rio Vouga em Sejães… Muitas canções nasciam nesses acampamentos. Duas com o grande amigo Sérgio Ribau e outra com o meu irmão Vítor. Outro que estava quase sempre envolvido era o Rogério Fernandes. O Movimento era uma grande escola de cidadania…
Tínhamos muita autonomia e éramos responsáveis na mesma proporção. Gostava de ver este Festival retomado. Aliás fiz uma proposta nesse sentido, há menos de dois anos, aos jovens de Schoenstatt, não me pondo fora de colaborar e de motivar outros antigos dirigentes a criarmos um grupo que anualmente os apoiasse. Talvez se perceba melhor a importância deste festival se disser que era uma das raras oportunidades de se revelarem talentos como aconteceu, por exemplo, com a Jacinta, a minha prima Alda Casqueira e muitos outros.

João Alberto Roque

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré canta o nosso folclore

Intervenção do Grupo Etnográfico na 1.ª Conferência Primavera, iniciativa da paróquia da Gafanha da Nazaré, ontem, 7 de Maio, no salão Mãe do Redentor.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO

Planta da Barra em 1843. Arquivo do Porto de Aveiro
Ao longo do ano de 2008 assistiu-se, com agrado, às diferentes iniciativas e cerimónias destinadas a assinalar os duzentos anos da abertura da Barra de Aveiro. Organizaram-se exposições muito interessantes e elucidativas sobre os antecedentes que levaram à execução do projecto, a complexidade dos trabalhos a executar, a tremenda dificuldade para os levar a cabo, a importância do seu funcionamento para o progresso verificado paulatinamente na região, a qualidade dos responsáveis e executores principais, que foram homenageados, como era natural. Seria justo que tivesse sido dado um minuto de glória aos muitos trabalhadores anónimos que, com o suor do seu rosto, deram corpo ao projecto que permitiu salvar o pouco que já restava de Aveiro e mudar a face de toda a região envolvente, que se tornou um pólo de desenvolvimento e progresso notáveis. Muitos terão sacrificado a sua vida, quer perecendo em acidentes de trabalho, afogados ou esmagados, como era natural em tempos em que a segurança não era objecto de normas estritas e vigiadas como hoje, nem os meios disponíveis correspondiam ao necessário. Muitos vieram de longe perseguindo uma oportunidade de ganhar o magro pão para a família que ficava lá atrás, sobretudo no último ano, em que os trabalhos foram acelerados, empregando-se para isso toda a gente disponível e lançando mão de todos os recursos possíveis. Esses vinham dispostos a suportar todos os sacrifícios que lhes permitissem levar para casa tudo o que pudessem poupar do pagamento do seu esforço. No decurso de investigações que tenho desenvolvido sobre o povoamento da Gafanha desde o século XVII até aos nossos dias, deparou-se-me um assento de óbito que me obrigou a uma reflexão sobre esses trabalhadores anónimos, desprotegidos e esquecidos, que pagavam com o seu corpo as tristes condições a que se viam submetidos devido à sua miséria. Transcrevo-o, sem mais comentários, pois a sua crua simplicidade é eloquente: “ Requeixo - Manoel de Oliveira da Estrada Em dois de Março de mil oitocentos e sete anos faleceu da vida presente sem sacramentos por se achar morto junto às paredes de Nossa Senhora da Conceição cujas estão na veia da Gafanha e aí morreu com frio vindo ajudar a abrir a Barra Manoel de Oliveira da Estrada do Lugar e Freguesia de Requeixo casado que era com Maria Francisca filho de João de Oliveira e Francisca João do Lugar da Taipa da mesma Freguesia foi amortalhado em um lençol que lhe deu a Santa Casa da Misericórdia e acompanhado pelos Irmãos da dita Santa Casa era ordinário na altura magro barbas e cabelo preto salpicado de branco e foi sepultado no Adro desta Igreja de Vagos de que fiz este assento que assinei era ut supra (Assinatura) O Parº. Manoel de Almª. e Payva…” à margem do assento: “ Fiz 1 Nocturno era pobre” (e assinou o Pároco). Inclinemo-nos em silenciosa homenagem, em nome dos primeiros habitantes da “Gafenha”, nossos antepassados, respeitosos e solidários protagonistas de esforçada aventura de sobrevivência e progresso. Orquídea Ribau
NOTA: A partir de hoje, os meus Blogues vão passar a contar com mais uma colaboradora. Orquídea Ribau, da Gafanha da Encarnação, tem-se dedicado à pesquisa história relacionada com a Gafanha. Folgo em poder contar com ela. Ao mesmo tempo, quero dizer aos meus leitores que os meus Blogues continuam abertos a outras colaborações, sempre pela positiva. Os meus agradecimentos sinceros à Orquídea, com votos de grandes êxitos culturais, profissionais e pessoais.
FM

Aos homens do mar

  Aos homens da nossa terra, que do mar fizeram a sua vida. Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré 1996 «Ó mar salgado, quanto do teu sal s...