sábado, 30 de abril de 2016

Estrada da Gafanha ao Forte

30-IV-1861
Ponte da Cambeia e  Portas d'Água
«Com a conclusão do lanço da Gafanha ao Forte, terminaram neste dia os trabalhos de construção da estrada da Barra, iniciados em 12 de Março de 1860 (Padre João Vieira Resende, Monografia da Gafanha, pg. 181) – A.»

Calendário Histórico de Aveiro 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

Nota: Seria interessante saber se havia,  antes da construção, qualquer caminho para passagem de pessoas ou gado. Talvez de terra batida. Ou simplesmente areias soltas ainda virgens, sem casas... Quem avança com alguma ideia?

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Apelidos e Alcunhas da Gafanha

Recolha de António Augusto Afonso, 
residente nos EUA

António Augusto Afonso


António Augusto Afonso é um gafanhão que muito estimo. Tem quase 92 anos e emigrou para os EUA há bastante tempo. Longe da sua Gafanha, tem sempre as nossas gentes e tradições na memória e no coração. O meu amigo recorda histórias que vivenciou e outras que fazem parte do imaginário dos gafanhões. Descreve cenas do quotidiano da sua infância, juventude e vida adulta, citando nomes, apelidos e alcunhas com uma facilidade enorme. 
Quando as saudades apertam, tem a gentileza de me telefonar, em datas marcantes, para trocar impressões e para se sentir informado. Reconheço pela voz as emoções que o assaltam por se sentir próximo destes ares, através do telefone, e percebo a alegria de saber novas da terra, da ria e do mar, graças à maresia que lhe corre nas veias. Tudo assume como presentes no seu espírito. 
Há tempos enviou-me quadras rimadas em que joga com apelidos e alcunhas dos gafanhões. Julgo que não falta nada. Fruto, obviamente, do resultado de muito pensar e registar. Seria uma enorme pena para todos nós fechar a sete chaves estas quadras que constituem um património inquestionável.
A história de uma terra, mas ainda de um povo e de uma família, precisa de ser partilhada e constantemente enriquecida. Não há, quer da parte de António Afonso quer de minha parte, qualquer intenção de ofender seja quem for. A memória de toda a gente aqui retratada, apenas pelos apelidos e alcunhas, merece toda a nossa estima. Daí que eu dedique aos nossos antepassados e seus descendentes esta publicação, para memória futura. Mas o autor é claro, logo a abrir o seu relato.
Muito obrigado pela vossa compreensão.

Fernando Martins

NOTA: Se houver falhas agradeço informações para completar a lista. 

Apelidos e alcunhas da Gafanha

Ó gafanhões da minha terra
De cá de longe, eu vos saúdo!...

Ó terra que eu amo, eu te saúdo.
Ó terra da boa gente!...
É o que diz quem o sabe,
E muito mais quem o sente.

Ó gafanhões da minha terra
De longe, vos venho saudar.
Com vossos apelidos e alcunhas
Mas a todos respeitar.

Com seus apelidos e alcunhas
Que já lhes vêm de seus avós,
Ninguém sabe donde lhes vieram,
E muito menos quem lhos pôs.

Alguns bastante engraçados
E até originais e bizarros
Tais como Cigarras ou Grilos
Salsas, Vinagres ou Cigarros

Bolas que não rolam nas Relvas,
Fidalgos sem fidalguias nem brasão
Reis, Condes e Marqueses
E até Frades sem gabão.

E que siga a Rusga e viva a Alegria
Com Guitarras e Violas, Fadistas e Cantadores
E Estanqueiros, Cordeiros e Parceiros,
E Carapelhos, Coelhos e… Caçadores.

Teixeiras, Casqueiras e Ferreiras
Camões, Camarões e Calções
Os Ribeiros, os Ribaus e os Maus
Esgueirões, Carranjões e Gafanhões.

Vergas, Peixotos e Calhotos
Caçoilos, Palhaços e Palhaças
Tavares, Tarrincas e Petingas
Mateiros, Mónicas e Margaças.

Páscoas, Dias e Santos
Rochas, Facicas e Barricas
Marques, Varetas e Maguetas
Piorros, Pônas, Laricas e Janicas.

Brancos, Louros e Russos,
Vechinas, Bichos e Bichões
Alhos, Labregos e Cagarutos
Pintos, Retintos e Cagões.

Patas, Penitates e Lourenços
Valentes, Vicentes e Ritos
Torres, Píncaros e Ramos
Cravos, Flores e Bonitos.

Alcatrazes, Maçaricos e Gaivotas
Melros, Piscos e Cucos
Roques, Rolas e Rolos
Raposas, Zanagos e Zucos.

Albuquerques, Alves e Almeidas
Catraios, Catarréus e Catarinos
Serrões, Guerras e Serras
Tomazes e Ferrazes, Cirinos e Marcelinos.

Sousas, Soares e Sardos
Guinchos, Gulaimos e Perselhas
Sarabandos, Estudantes e Galantes
Anastácios, Garcês e Garrelhas.

Carecas, Caleiros e Calistos
Barba Azul, Pinhos e Gandarinhos
Mateus, Matias, Matos e Ratos
Vidreiros, Vieiras e Vilarinhos.

Calores, Neves e Geadas
Covas, Calatrós e Serafins
Bisas, Brióis e Serapões
Martinhos, Martelos e Martins.

Caixotes, Loureiros e Monteiros
Marçalos, Arrais e Morais
E com Lopes, Lés e Cafés,
Serão ainda muitos mais.

E ainda Silvas e mais Silvas
Com Carvalhos, Nogueiras e Pereiras
Figueiras, Macieiras e Salgueiros,
E a grande floresta de Oliveiras.

Não é possível contar-vos a todos
Por ser elevado o número. Contudo…
Ó gafanhões da minha terra,
Com todo o respeito, daqui de longe, vos saúdo.

António Augusto Afonso


NOTA posterior: O meu amigo António Augusto Afonso faleceu nos Estados Unidos em Abril de 2017, com 92 anos.  Ver aqui 

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Gafanha da Nazaré — Quinta década

1950-1959

Com a aplicação do Despacho 100/45, esta década saiu fortemente beneficiada. Os estaleiros souberam aproveitar a dinâmica imposta pelo despacho, respondendo aos desafios das empresas de pesca. Mais navios, mais pescas, mais trabalho nas secas, mais empresas paralelas, mais gente. O mesmo sucedendo com o tratamento do fiel amigo e sua secagem natural, ao sol e vento. Um pouco mais tarde, em estufas, de que foi pioneira a EPA — Empresa de Pesca de Aveiro.
As empresas de pesca do bacalhau recorreram a pessoal de várias regiões do país, nomeadamente das Beiras e do Norte, que aqui se estabeleceram. Daí resultaram problemas sociais graves, no início, já que em deficientes habitações se alojam diversas famílias, em situações deploráveis. 
Distinguiram-se nessas migrações pessoas de Fafe, que vieram para trabalhar nas secas do bacalhau. Trouxeram forte vontade de lutar e de poupar, pensando certamente no regresso, mas muitas por aqui se fixaram, integrando-se plenamente nas Gafanhas, em especial na Gafanha da Nazaré. Trouxeram, também, os seus usos e costumes, bem como os seus cantares, que exibiam de manhã e à noite, na ida e no regresso do trabalho. Está na memória de muitos gafanhões a forma descontraída e rápida como faziam meias, nas suas caminhadas, enquanto cantavam as modinhas da época e das suas terras.
Em 15 de Janeiro de 1952 é fundada a mais antiga associação da nossa freguesia, ainda em atividade: Grupo Columbófilo da Gafanha da Nazaré. Foram seus fundadores João Nunes Bola, Joaquim Robalo Campos, Augusto Francisco Ferreira e Joaquim Pereira. Tinha como objetivos principais cuidar, criar, selecionar e treinar pombos-correios para competição em concursos, quer a nível nacional quer internacional, organizados pela Federação Portuguesa de Columbofilia.
Com 85 associados maioritariamente da Gafanha da Nazaré, mobiliza para esses concursos, semanalmente, 1250 pombos, só da nossa freguesia, durante seis meses.
Nesta década verifica-se um acidente gravíssimo, que, felizmente, não provocou vítimas mortais. A ponte de madeira que ligava o Forte à Barra ruiu com o peso de uma camioneta, do senhor Manuel Russo, carregada com cinco toneladas de areia. 
O Mercado da Gafanha começa a criar raízes, em novo espaço, e entra na paróquia o quarto Prior, Padre Abílio Augusto Saraiva. Entre a saída do Prior Bastos e a entrada do Prior Saraiva acumulou o serviço paroquial, interinamente, o Padre António Diogo, ao tempo Prior da Gafanha da Encarnação.
Dá os primeiros passos a Obra da Providência, enquanto o Grupo Desportivo da Gafanha vê oficializados os seus estatutos. 
Em 1955 assume a paroquialidade da Gafanha da Nazaré o Padre Domingos Rebelo, que intensificou entre nós o culto a Nossa Senhora e implementou o estudo bíblico, como resposta à entrada na freguesia das ideias protestantes. 
Em agosto de 1958, D. Domingos da Apresentação Fernandes assume as responsabilidades de Bispo de Aveiro, sucedendo a D. João Evangelista. 
O jornal “O Ilhavense” transcreve de “O Século”, com data de 11 de novembro de 1958, um texto intitulado “Gafanha — Terra de Agricultores e Marinheiros, quer trabalhar para o seu progresso e para benefício da economia nacional”. E a dado passo lê-se:

«Terra árida e sem vegetação, queimada por um sol ardente e desabrigada, exposta aos ventos agrestes e calor sufocante; terra mártir, condenada ao abandono pelos dons da natureza, foi à custa de “sangue suor e lágrimas” dos seus habitantes que a Gafanha atingiu o atual alto grau, podendo orgulhar-se de ocupar lugar de relevo como centro industrial.
(…)
Mas um dia, um ser humano, mais forte e persistente, cheio de coragem e com ardor, cavou terra, remexeu-a, estrumou-a com os moliços da Ria, plantou e colheu o fruto do seu trabalho; a vegetação tinha começado. O homem mais uma vez vencera.»

A Colónia Agrícola é inaugurada e anexada, sob o ponto de vista pastoral, à freguesia de S. Salvador. Nasce o Timoneiro e a Catequese adapta-se às novas pedagogias. O protestantismo entra na Gafanha da Nazaré para ficar. Há novo Bispo de Aveiro. Instituições dão os primeiros passos.
Ainda nesse ano, Humberto Delgado disputa as eleições presidenciais, confrontando-se com Américo Tomás. Este vence oficialmente as eleições, mas a oposição democrática denuncia a fraude, atribuindo a vitória ao general que tinha garantido, na campanha eleitoral, que demitiria «obviamente» o chefe do Governo, António Oliveira Salazar.
Como consequência da campanha eleitoral, Salazar promove, em agosto de 1959 uma revisão constitucional, na qual se suprime o sufrágio direto para a eleição do Presidente da República, substituindo-o por um sufrágio indireto, proporcionado por um colégio eleitoral de total confiança do Governo.
Nessa mesma altura, na tomada de posse da União Nacional (partido único no País), Salazar ameaça rever a concordata se a Hierarquia da Igreja católica não for capaz de assegurar a manutenção da «frente nacional» entre o Estado Novo e os católicos. É justo lembrar que se deve em grande parte à Acão Católica esta tomada de consciência do povo português face aos problemas sociais, políticos, mas ainda face aos direitos fundamentais dos cidadãos.
Em 1959, Aveiro celebrou o milénio da sua existência, graças à referência feita pela Condessa Mumadona, quando legou as suas marinhas de sal que possuía em Alavarium. Também celebrou o bicentenário da sua elevação a cidade. Os festejos foram diversos e como nota interessante, para nós, o Mestre Manuel Maria Bolais Mónica, com a sua arte e saber, ergueu na ponte da Dobadoura um mastro de um navio, que assinalou durante algum tempo as referidas efemérides.
Nesta década e por iniciativa do Prior Domingos dão-se os primeiros passou para a organização da Catequese paroquial, destinada em especial à infância. Até aí, as senhoras mestras, e um ou outro mestre, encarregavam-se da tarefa de educar na fé as crianças, normalmente até à primeira comunhão. O crisma recebia-se sem qualquer preparação específica. O autor destas linhas foi crismado por D. Domingos da Apresentação Fernandes, por simples aviso. Todos em fila, com os padrinhos escolhidos no momento (um adulto era, como foi o meu caso, padrinho de muitos crismandos. depois aderiu a uma Igreja Evangélica), sem mais.

Fernando Martins

terça-feira, 19 de abril de 2016

Gafanha da Nazaré: Elevada a cidade em 2001

Lei n.º 32/2001 de 12 de Julho

Forte da Barra
Elevação da Gafanha da Nazaré,
no concelho de Ílhavo,
à categoria de cidade

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, para valer como lei geral da República, o seguinte:
Artigo único

A vila de Gafanha da Nazaré, no concelho de Ílhavo, é elevada à categoria de cidade.
Aprovada em 19 de Abril de 2001.
O Presidente da Assembleia da República, 
António de Almeida Santos.
Promulgada em 7 de Junho de 2001.
Publique-se.
O Presidente da República, 
JORGE SAMPAIO.
Referendada em 29 de Junho de 2001.
O Primeiro-Ministro, 
António Manuel de Oliveira Guterres.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Gafanha da Nazaré — Quarta Década

1940 – 1949


A quarta década foi marcada por avanços significativos em vários campos, que elevaram a qualidade de vida das populações. Em 1940, o sector da saúde viu chegar a primeira farmácia — Farmácia Morais —, que ainda é hoje [2010] propriedade da atual diretora técnica, Maria Ester da Silva Ramos Morais. Por pura coincidência, na mesma altura montaram consultório na nossa terra os médicos Maximiano Ribau, da Gafanha da Nazaré, e Joaquim António Vilão, natural de Mata-dos-Lobos, Figueira de Castelo Rodrigo. Um outro médico, natural da Gafanha da Nazaré, mas residente em Ílhavo, onde casou, José Rito, também aqui dava consulta. Foi o primeiro clínico gafanhão.
O célebre desastre da Nau Portugal, que adornou na ria, aquando do bota-abaixo, tornou mais famoso o Mestre Mónica, que, segundo a tradição popular, havia previsto essa situação. Na altura, a nossa terra foi muito badalada, persistindo na memória de muitos o que aconteceu, com a Nau a deitar-se lentamente na laguna.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Nossa Senhora de Fátima na Gafanha da Nazaré

Desde 1917 que o povo da Gafanha da Nazaré dedicou a Nossa Senhora de Fátima uma veneração muito especial e em 1951 a paróquia recebeu-a, por um dia, com manifestações de júbilo.
De 17 a 24 de novembro de 1957, e para preparar a celebração das bodas de ouro episcopais de D. João Evangelista de Lima Vidal, mais uma vez a Imagem de Nossa Senhora de Fátima esteve entre nós.
«Esta peregrinação concluiu (julho de 1959) com um cortejo cívico desde o Paço Episcopal até ao Estádio Mário Duarte celebrando-se aí Missa campal e, no fim, apoteose; esta concentração diocesana fez parte das Comemorações do Milénio de Aveiro e do bicentenário da sua elevação a cidade» (Diocese de Aveiro, págs. 533 e 534).
A Gafanha da Nazaré participou ativamente nesta peregrinação e ainda hoje se recorda, com muita saudade, a vivência dessa semana em que o povo pôde mostrar quanto ama Nossa Senhora de Fátima.
Formaram-se comissões que se encarregaram da ornamentação das ruas, com flores e iluminação, para assim ser homenageada, na sua passagem em procissão pelas principais ruas da Gafanha da Nazaré.
E recorde-se, também, que houve várias peregrinações da paróquia ao Santuário de Fátima e que, principalmente a 13 de maio e de outubro há sempre grupos que ali se deslocam a pé e de outros modos, fazendo penitência e oração.

Fonte: “Gafanha — N.ª S.ª da Nazaré,
de Manuel Olívio Rocha e Manuel Fernando da Rocha Martins,
1986


Aos homens do mar

  Aos homens da nossa terra, que do mar fizeram a sua vida. Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré 1996 «Ó mar salgado, quanto do teu sal s...