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A mostrar mensagens de agosto, 2010

Gafanha da Nazaré: Os primeiros tempos da freguesia e paróquia - 2

Nas capitais de Distrito e nos grandes centros não faltam, todavia, manifestações de regozijo pela mudança do regime em 5 de Outubro. Os jornais dão conta desses movimentos, apesar de alguma indiferença por parte dos povos simples, como são os nossos antepassados, tanto mais que os contactos com as zonas urbanas de Aveiro, Ílhavo e Vagos estão muito limitados, por carência de acessos fáceis. “O Século” e o “Diário de Notícias”, de âmbito nacional, bem como periódicos regionais e locais, referem, com destaque, o modo festivo como Aveiro e Ílhavo recebem a revolução de 5 de Outubro. Diz “O Século” de 10-X-1911: «O povo [de Ílhavo] estava na maior anciedade por falta de notícias, quando chegou de Aveiro o administrador do concelho, participando que a Republica estava proclamada. N’essa occasião, o sr. Eduardo Craveiro soltou um estridente viva à Republica…» Vasco Pulido Valente, no entanto, afirma que, «na melhor das hipóteses, os republicanos não passavam de 100 000. Em 1910 o PRP [Pa

Gafanha da Nazaré: Os primeiros tempos da freguesia e paróquia

A igreja da primeira década A freguesia da Gafanha da Nazaré é criada numa época marcada por algumas transformações importantes, tanto para o País como para a Igreja Católica. Os moradores, povo crente, sabem escudar-se na Igreja e nas suas organizações para cimentar novas raízes neste espaço de areias soltas e movediças, onde levantam modestas habitações. Como desde os primeiros tempos da sua fixação, nesta zona de ria e mar, a construção das habitações convoca a troca de saberes e a ajuda mútua. Desde o fabrico dos adobes, nas dunas, terra de ninguém e de um ou outro proprietário, junto à actual Mata da Gafanha, até ao levantar da casa em terreno oferecido pelos pais dos nubentes.

A Gafanha da Nazaré na poesia

Barra - Junho de 1922 Gafanha — Terra de Fé Gafanha, terra de Fé, És bem bonita, confesso, — Um vergel da Nazaré — Sempre em constante progresso! O teu porto sobranceiro, Que te dá tanto valor, Leva a cidade d’Aveiro A criar-te um grande amor! Tens estaleiros navais, E o Vouga passa-te aos pés. Há sempre barcos nos cais, És linda de lés a lés! As tuas cores garridas Encantam e não me esquecem, Andam paisagens perdidas, Pintores não aparecem! COLUMBANOS E MALHOAS Deixai o eterno sono, Vinde pintar coisas boas, BELEZAS QUE NÃO TÊM DONO! Silva Peixe NOTA: Manuel Silva Peixe, natural de Ílhavo, onde nasceu a 12 de Abril de 1902, ficou conhecido como poeta-marinheiro. Faleceu a 3 de Maio de 1990.

Praia da Barra: Hélio Tavares, um homem bom

Conheci o senhor Hélio Tavares pela sua colaboração regular no “Timoneiro”. Debruçava-se prioritariamente sobre temas regionais, onde não faltava a ria, o moliceiro, a história da região e a vivência religiosa. Era solteiro e catequista, mas distinguia-se pela simplicidade no viver e no falar. Muito sereno e muito ponderado, mostrava-se sempre pronto para ajudar quem precisasse. Morava na Barra, com sua mãe idosa, em casa própria e vivia de rendas no Verão. Era um homem extremamente bom. Um dia, os seus artigos não apareceram no cartório, como era costume. Considerei que haveria razões para o senhor Hélio se atrasar. E o jornal saiu sem a sua colaboração.Os seus artigos, manuscritos, mostravam uma caligrafia certinha e cuidada. De vez em quando surgia com um poema a condizer. Vim a saber que o senhor Hélio estava internado no Hospital  Rovisco Pais, na Tocha. Estranhei o facto, mas não o associei à doença da Lepra.

Gente da Nossa Terra: Padre João Maria Carlos

"Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

Etc. Aqui chegado, fica-me a certeza de que o etc. é a melhor maneira de concluir este modesto trabalho. Ele representa o muito que ficou por dizer para memória futura. O crescimento da Gafanha da Nazaré durante um século indicia um futuro ainda maior, alicerçado na responsabilidade colectiva das suas gentes, que não perderão a oportunidade de continuar a aproveitar as condições extraordinárias que a mãe-natureza lhes tem oferecido. A sensação que colhi diz-me que muitos acontecimentos, vivências, projectos realizados e por realizar, emoções, sonhos e anseios ficaram na berma dos caminhos, sem espaço para ocupar um lugar no autocarro da história. Ficarão para a próxima viagem, se Deus quiser. 2010, ano do centenário Fernando Martins NOTA: Do livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

Rua Comendador Egas Salgueiro

Egas Salgueiro, o primeiro à direita, ao lado de Américo Tomás Era uma honra trabalhar na Empresa de Pesca de Aveiro A Rua Comendador Egas Salgueiro estendia-se desde a Rua Gil Vicente até à EPA – Empresa de Pesca de Aveiro. Com as obras da cintura portuária e da via-férrea de ligação ao Porto Comercial, ficou cerceada. Porém, foi uma rua com a sua história, já que dava acesso à mais importante, durante décadas, empresa de pesca do país. Inicialmente, o acesso à EPA fazia-se por um caminho “cheio de entulho”, como nos confidenciou há dias o antigo presidente da Junta de Freguesia, Mário Cardoso. E nessa altura, porque aquela empresa merecia um acesso com o mínimo de dignidade, o empresário Egas Salgueiro avançou com uma comparticipação de 20 contos para que tal obra de realizasse. Isto passou-se em 1955. Egas Salgueiro foi um notável empresário das pescas que muito contribuiu para o desenvolvimento da Gafanha da Nazaré e da região. A sua empresa era das mais conceituadas do país, se

Gafanha da Nazaré: Causas das migrações

As causas das migrações são diversíssimas. Desde a fome à guerra, desde a falta de trabalho ao risco da aventura, desde as perseguições políticas aos desafios de familiares e amigos, desde o desejo de cortar com um passado de tristezas e misérias ao sonho de construir um futuro mais risonho para si e para os seus. Tudo serve para justificar ou para optar pela emigração. Olhando para o século de vida da Gafanha da Nazaré, como freguesia, recordo, por conhecimento directo desde a década de quarenta do século passado, altura em que comecei a reter na memória vivências mais consistentes, muitos casos de emigração, uns bem sucedidos e outros nem por isso. A emigração foi uma realidade em todo país, com fortes implicações na região de Aveiro. E mesmo sem me fixar nos dados estatísticos amplamente estudados, não necessariamente importantes no contexto deste trabalho, importa frisar que os gafanhões também embarcaram no movimento migratório, quer por motivos económicos, que pelo sonho de che

Aprender a ler e a escrever nas Gafanhas há 100 anos

É ponto assente que muitos dos primitivos povoadores da Gafanha eram, academicamente falando, analfabetos ou semianalfabetos. Teriam a cultura da experiência feita, do contacto com os familiares e amigos e do pequeno mundo que limitava os seus horizontes. Escolas não havia. Alguns padres preparavam os candidatos ao sacerdócio, sendo garantido e normal que um ou outro aluno derivasse para outras áreas do saber. Do testemunho oral que colhi, do meu privilegiado interlocutor, João Catraio, à hora da sesta, no Verão, ou ao serão, no Inverno, os jovens de qualquer idade aprendiam a ler, escrever e fazer contas com mestres, sem estudos para além do essencial, colhidos talvez da mesma forma que agora seguiam. Na época das colheitas, os pais ou os próprios alunos pagavam aos senhores mestres com géneros, da melhor maneira que podiam. Uns mais do que outros, conforme as posses. FM Nota: Do livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

Festa dos Reis na Gafanha da Nazaré

Centenário da freguesia e paróquia Manuel Caçoilo da Rocha Manuel Caçoilo da Rocha e a festa dos Reis Pouco se sabe das festas de Natal e Reis, que hoje suscitam tantas vivências entre nós. Curiosamente, ou talvez não, o Padre Resende nada diz sobre o Cortejo dos Reis. Mas a tradição garante que os cortejos fazem parte da nossa maneira de viver esta quadra tão significativa. Leopoldo Oliveira, 83 anos, genro de Manuel Caçoilo da Rocha, um abastado e influente comerciante da nossa terra, com estabelecimento perto da igreja onde se vendia de tudo, conta-nos o envolvimento da família na festa dos Reis. Depois de reforçar a ideia de que não havia efectivamente cortejo no verdadeiro sentido da palavra, refere que foi o sogro o dinamizador daquilo que hoje temos a nível dos Reis. A partir da obra “Mártir do Gólgota” de Perez Escrich, Manuel Caçoilo da Rocha seleccionou as cenas que considerava fundamentais e ensaiou os primeiros autos em sua casa, envolvendo a família.