quarta-feira, 30 de março de 2011

Escritores fascinados pela Ria de Aveiro - 1

Luís de Magalhães, in "A Arte e a Natureza em Portugal"

(Clicar na imagem para ampliar)

In "Origens da Ria de Aveiro", de Orlando de Oliveira

N OTA: É bom, muito bom mesmo, recordar a forma como alguns artistas cantaram a nossa Ria. Vou tentar mostrar isso.

domingo, 27 de março de 2011

Gago Coutinho em S. Jacinto

Gago Coutinho, o segundo da direita para a esquerda

«Em 1946, o Almirante Gago Coutinho visitou a Escola com o seu nome [Escola de Aviação Naval Gago Coutinho, em S. Jacinto]. Foi a última vez que o ilustre marinheiro esteve em S. Jacinto, aonde foi recebido pelo Comandante Cardoso de Oliveira e por toda a guarnição que o acarinhou de modo especial.
Depois de uma cerimónia no hangar, com o outro herói da Travessia a tecer elogios a Sacadura Cabral, seu companheiro de viagem, o pessoal ligado ao voo transportou pelo ar, sentado numa cadeira, o patrono da Escola que agradeceu, comovido, a manifestação de carinho e simpatia.»

In "Hidro-Aviões nos Céus de Aveiro", de Joaquim Nunes Duarte

quarta-feira, 23 de março de 2011

Cronologia relacionada com o Porto de Aveiro — 7


1875 — Publicação da Memória de Silvério Augusto Pereira da Silva, engenheiro director das obras da barra — Barra de Aveiro. “Revista das Obras Públicas e Minas”, t. VI, n.º 64 e 66.

1884, 6 de Março — Criação da Circunscrições hidráulicas, sob a égide do Ministério das Obras Públicas, regulamentada pela Lei de 2/10/1886.

1887 — Extinção da Junta Administrativa e Fiscal das Obras de Aveiro (JAFOA) e criação das circunscrições hidráulicas. O Porto de Aveiro passou a pertencer à 2.ª Circunscrição Hidráulica.

1887-1898 — Nomeação de Melo de Mattos, engenheiro hidrográfico, como director das obras da barra.

1891 — Regulamento da Junta de Administração das Obras do Melhoramento da Barra do Douro, de 26 de Abril de 1891, (aprovado por portaria de 26 de Abril de 1892) que se revelará como modelo de administração dos portos.

1893, 3 de Abril — Uma comissão local endereçou ao Governo o pedido de um serviço de dragagens para a Ria, a 3 de Abril, , significativamente, o dia comemorativo da abertura da barra, em 1808.

1897—Carta da Associação Comercial do Distrito de Aveiro, enviada ao Ministério das Obras Públicas, sobre a necessidade de uma Junta especial para superintender as obras.

Notas:

1. Fonte: “A Barra e os Portos da Ria de Aveiro — 1808-1932”;
2. Continua.

terça-feira, 22 de março de 2011

Um poema de Élio Tavares


O HOMEM DO LEME

Em qualquer navio, que nos mares navega,
vai sempre, firme no seu posto, o HOMEM DO LEME!
Suas hábeis mãos giram sem cessar a roda,
ora a bombordo, ora a estibordo,
enquanto o seu olhar na bússola se fixa,
para o rumo manter sempre certo.
Lá vai, sempre atento, o TIMONEIRO,
quer navegue em mar chão e sereno,
quer afronte as alterosas vagas.
Leva na alma a mais certa bússola.
— Nossa Senhora dos Navegantes,
e no coração os seus maiores amores,
invisíveis mas sólidas âncoras,
que o prendem à terra distante e querida:
a mulher, os filhos, os pais saudosos!
E murmura, como em prece, o homem do leme:
— Roda que dos meus me apartaste,
leva-me de novo, segura e certa,
para junto daqueles que tanto amo!

Élio Tavares

segunda-feira, 21 de março de 2011

Cronologia relacionada com o Porto de Aveiro — 6

1852, 30 de Agosto — Criação do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria (MOPCI).

1856, Junho — Esteve, interinamente, o engenheiro Augusto Maria Fidié como director das obras da barra.

1857 — Movimento de opinião, encabeçado pelo deputado José Estêvão, em sessão dos Paços do Concelho, na defesa da atenção do Governo sobre a barra e porto de Aveiro.

1858 — Criação da Associação Comercial de Aveiro.

1858 — Criação da Junta Administrativa e Fiscal das Obras de Aveiro (JAFOA), de acordo com o Decreto de 9 de Setembro. Esta instituição manter-se-á até 1887.

1858-1886 — Permanência do engenheiro Silvério Augusto Pereira da Silva, como director das Obras da barra de Aveiro e ainda responsável pelas obras do distrito.

1864 — Lei de 25 de Junho de 1864, que institui o Domínio Público Marítimo.

1874 — Exposição suscitada pela Câmara Municipal de Aveiro aos “proprietários das marinhas, comerciantes e muitos outros cidadãos” (reunião a 28 de Dezembro e exposição de 9 de Janeiro de 1874) e outra da Associação Comercial de Aveiro (sem data, mas da mesma ocasião).

Notas:

1. Fonte: “A Barra e os Portos da Ria de Aveiro — 1808-1932”;
2. Continua.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Lento e penoso calvário da vara



EPOPEIA DA RIA


Élio Tavares

Aos quatro ventos as alvas velas enfunadas,
Pela Ria singravam esbeltos moliceiros.
— Trabalho e poesia de mãos dadas!
É quando do parado vento, as velas
Inertes pendiam nos mastros verticais,
Começava o lento, penoso calvário da vara,
Essa cruz que o bronzeado barqueiro
Toda a vida carregava no ombro dorido,
Enquanto o longo ancinho recolhia
A verde, fecunda manta do “moliço”…
— Valeu a pena?
Ainda que o Poeta não houvesse dito
Que «tudo vale a pena, se a alma não é pequena»,
Afirmo eu que foi a alma humilde,
Mas grande e generosa do homem da Ria
Que sonhou e realizou essa epopeia
Feita de trabalho, dor e amor,
Que transformou a sáfara duna,
Salgada e dos ventos batida,
Em verdejante campina de pão
E o charco imundo em vergel florido!

terça-feira, 15 de março de 2011

Cronologia relacionada com o Porto de Aveiro — 5



1834 — Foi nomeado Celestino Soares, como director das obras da barra, substituindo Luís Gomes de Carvalho.

1834 — Triunfo pleno da causa liberal.

1835 — Criação dos distritos administrativos representados na Junta Geral do Distrito e no Governo Civil.

1835 — Nomeação do primeiro governador civil de Aveiro.

1837 — Nomeado o engenheiro Francisco da Paula Sousa Pegado e, no ano seguinte, Francisco L. Moreira Freixo para directores das obras da barra.

1838 — Francisco Lopes Moreira Freixo, era indicado como engenheiro director das obras.

1843 — Foi nomeado director das obras da barra, o engenheiro José Luís Lopes, substituído, interinamente, pelo presidente da Câmara de Aveiro, que pouco depois entregava o seu governo ao engenheiro Gomes Palma.

1846 — Maria da Fonte, ou Revolução do Minho.

1846 — Patuleia, ou Guerra da Patuleia.

1847-1856 — É indicado como director das obras da barra o engenheiro Agostinho Lopes Pereira Nunes.

1851 — Inauguração do período da Regeneração, que se seguiu à insurreição militar de 1 de Maio de  1851, que levou à queda de Costa Cabral e dos governos de inspiração setembrista.

Notas:
1. Fonte: “A Barra e os Portos da Ria de Aveiro — 1808-1932”;
2. Continua.

sexta-feira, 11 de março de 2011

O carolo era feita na mó manual

Mó manual

O medo da água da ria deu lugar à aventura do moliceiro e da bateira. «A maré está feita diz de forma poética o Padre Resende, nosso cicerone, neste como noutros trabalhos e o barco começa a adernar. O sol aproxima-se do zénite e os estômagos latejam em vão, estão vazios. O José da Luz, de ceroulas curtas, camisa de estopa, e de careca tisnada pelos raios solares, com os filhos impando de mocidade, olha sofregamente para a pequena cozinha voltada para a Ria, aguado pelas batatas e pela sardinha, e às vezes pelo carnêro... que a Luz lá lhes preparara. As telhas da choupana já não fumegam, o que é sinal certo de que o repasto já espera os laboriosos moliceiros. Duas bombadas de vertedoiro a aliviar o barco da água escorrida do moliço e... ala para a fossa ou para a borda.»
E como era a alimentação desta gente que se casou com os areais e com a Ria para deles viver? Pasmem os que, nos nossos dias, têm tudo à mesa e a todas as horas e em abundância. Salienta o nosso cicerone: «A alimentação média, diária e habitual de cada família de seis pessoas, é a seguinte: ao almoço somente broa; ao meio-dia (jantar) caldo com ou sem carne; à noite (ceia) dois quilos de batatas inteiras ou cortadas, com ou sem peixe, a que se adiciona algumas vezes cebola com algumas gotas de azeite. Muitas vezes a ceia é caldo que cresceu do jantar, ou papas condimentadas com feijão e carolo de milho, cozidos no caldo que ficou do jantar. Esta família gasta diariamente três a três quilos e meio de broa. O vinho raramente aparece às refeições.» O carolo era feito na mó manual.

FM

quinta-feira, 10 de março de 2011

Ainda a origem da palavra Gafanha

«Maximiniano Lemos, na obra História da Medicina em Portugal, enumera as gafarias e, no caso de Aveiro, distingue “a da Gafanha, concelho de Ílhavo e a d’igual nome no concelho de Vagos”, (1899, pág. 52.

Mais recentemente, José Tavares Afonso e Cunha, in Notas Marinhoas, reafirma que:

O nome Gafanha se deve não aos hipotéticos “gafos” para lá refugiados do convívio humano mas sim à “gafeira” da própria terra. A base do topónimo é “gafo” e o sufixo formativo “enho” como em nortenho, ferrenho, rouquenho e similires. Será, então, Gafanha uma variante de ordem puramente fonética como acontece, por exemplo, com redenho-redanho, gatenho-gatanho, casenho-casanho e outros, (1995, p.33).

Sendo assim, seria a própria terra a padecer dessa doença pelo que maior respeito nos merecem aqueles que, materializando hercúlea tarefa, transformaram estes terrenos maninhos em terras de pan.»

In “Língua e Costumes da Nossa Gente”, de Maria Donzília de Jesus Almeida e Oliveiros Alexandrino Ferreira Louro

quarta-feira, 9 de março de 2011

Eventual origem da palavra Gafanha

No livro “Língua e costumes da nossa gente”, de Maria Donzília de Jesus Almeida e Oliveiros Alexandrino Ferreira Louro, aventam-se outras hipóteses para a origem da palavra Gafanha. Aqui fica uma delas:

«Cale flâmula — flâmula ꞊ bandeirinha a assinalar os fundos da ria ou do antigo delta fundo. Esta hipótese, como a de “fan”, tipo de farol ou facho luminoso antigo, não está documentada em nenhum dos grandes Gaspar e Resende mas o “fan” está no Viterbo e “flâmula” consta dos dicionários.»

terça-feira, 8 de março de 2011

Aradas: O entrudo da nossa infância

Lavadeira de Aradas (rede global)

Somos mais ou menos da mesma geração por isso as memórias não serão muito diferentes. O que talvez faça a diferença são os locais onde fomos criados e as tradições que por aí vivemos.
Sou de uma freguesia do concelho de Aveiro (Aradas) e o entrudo era vivido com muita alegria. Muitas partidas que pregávamos uns aos outros sempre com o objectivo de festejar estes 3 dias que também eram de férias. Os mais novos procuravam entre as roupas dos avós e demais adultos da família adereços que lhes permitissem divertir-se. Os mais velhos acompanhavam-nos, por vezes com uma máscara, sabendo de antemão que elas não eram muito bem-vindas. Assim trajados, todos iam para a rua, batíamos às portas uns dos outros e o grupo ia engrossando assim como iam engrossando as risadas e brincadeiras malucas, muitas delas predestinadas por aqueles que não gostavam tanto de alinhar nestas brincadeiras.
As serpentinas ajudavam ao colorido, as gaitas e os pequenos tambores, feitos por nós, também ajudavam ao ruído da festa. E, rua acima rua abaixo, fazíamos do carnaval um espaço de confraternização, de alegria, de convívio entre pequenos e grandes.
Convém dizer que os mascarudos (eram assim chamados pela criançada) iam para a rua só depois de um bom almoço, onde não faltava uma feijoada à maneira (muitas famílias matavam o porco) ou o melhor galo da capoeira.
Este era o carnaval da minha infância. Não era melhor nem pior do de hoje. Era o nosso carnaval. Era a nossa forma de convidar os outros à alegria, de fazer alegria e convívio. São momentos que fazem parte das minhas (nossas) memórias e que ao passá-las aos mais novos só ajuda a que não morram, que as nossas tradições ainda sejam preservadas, facto que comprovamos ao ver em muitas das nossas terras o carnaval trapalhão tão característico da nossa identidade de portugueses. Bem-hajam por isso.

Maria de Lurdes Menezes

Nota: Resposta de Maria de Lurdes Menezes ao meu desafio sobre o entrudo da nossa infância, que agradeço.
FM

O entrudo da minha infância e juventude




Confesso que pessoalmente, por razões que nem sei explicar, nunca fui dado a festejos carnavalescos. Pura e simplesmente passavam-me ao lado,  como ainda hoje passam, não obstante reconhecer que é justo que cada um viva as suas alegrias como muito bem lhe der na real gana. Vestir-me à margem do normal, usar máscara e participar em cortejos de carnaval, nem pensar.
Recordo, no entanto, os meus tempos de menino e rapaz, longe dos cortejos organizados de agora. Nas Gafanhas não havia nada disso. Sentado no passeio frente à minha casa, com a mãe, o irmão e um ou outro amigo, mais umas pessoas idosas com conversas de nada, por ali ficávamos a ver quem passava. E passavam então os entrudos, como se dizia. Penso que mais homens que mulheres. Uns a pé e outros de bicicleta. O gabão era traje que predominava. Máscara sempre. Umas conversas simples, disfarçando a voz. De vez em quando lá vinha uma bicicleta, supostamente com duas pessoas. Era uma apenas, com um boneco de palha vestido, para imitar o colega do que dava aos pedais.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Cronologia relacionada com o Porto de Aveiro – 4


Cópia de uma planta relativa ao projecto da abertura da barra


1808, 3 de Abril — Abertura da Barra de Aveiro, às 7 horas da noite, «para evitar que perecesse alguma parte do país que acedia neste dia a ver a referida acção».

1809 — 2.ª Invasão Francesa, com a ocupação da cidade do Porto. Em Maio, tropas Luso-Britânicas sob o comando do general Arthur Wellesley e do comandante-em-chefe, o marechal William Carr Beresford, venceram a chamada batalha do Douro, conquistando a cidade do Porto (29 de Maio).

1809, 13 de Maio — Entrada na Barra de Aveiro de um comboio de embarcações inglesas, formado por 39 navios de transporte com mantimentos e munições e um bergantim de guerra, na direcção Ovar/Porto, em auxílio do exército português, aquando da 2.ª Invasão Francesa.

1810 — 3.ª Invasão Francesa.

[1813-1815] — Luís Gomes de Carvalho, engenheiro e director das obras da barra, redigiu a Memória Descritiva ou notícia circunstanciada do plano e processo dos efectivos trabalhos hidráulicos empregados na abertura da Barra de Aveiro… Primeira Parte.

[1820] — Revolução Liberal.

1823 — O engenheiro Luís Gomes de Carvalho esteve como director das obras até esta data, altura em que foi levado para a cidade do Porto, na tentativa de o defender de violências físicas, pelo estado difícil da Barra de Aveiro.

1828-1834 — Lutas entre miguelistas e liberais com a vitória destes últimos — período de instabilidade governativa.

Nota:
1. Texto e foto de "A Barra e os Portos da Ria de Aveiro - 1808 -1932;
2. A cronologia vai continuar.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Gafanha: primeiras adubações químicas em 1927

Junça

Na MONOGRAFIA DA GAFANHA, o padre Resende sublinha a riqueza do moliço, constituído por limos, sibarro, sirgo, seba, folhada ou alface-do-mar, fita gorga e rabos ou rabão. Diz também que a seba e a fita desapareceram desde a Cambeia até à Murraceira com as obras da Barra em 1936. Este estrume verde constituía, pela sua composição orgânica e química, um precioso adubo que muito ajudou na transformação destas areias improdutivas em espaços verdejantes. Acrescenta o Padre Resende que, “nos sapais das praias de cabeço, também abundavam a junça, a bajunça e, mais para o seco, o junco e o feno, que subministravam bela cama para os estábulos e que, fermentados com os excrementos dos animais, fornecem por sua vez um ótimo adubo que, diga-se de passagem, por muito tempo era mal apreciado e se ia vender às ribeiras de Vagos, de Aradas, de Salreu e do Boco. Outro tanto acontecia às cinzas do borralho”. Claro que estes adubos naturais logo deixaram de ser vendidos para serem utilizados pelos gafanhões. As cinzas, por exemplo, eram empregadas como fertilizantes de cebolas e alhos. Em 1927 fizeram-se as primeiras experiências de adubações químicas, com bons resultados.

FM

terça-feira, 1 de março de 2011

Cronologia relacionada com o Porto de Aveiro – 3

Eng. Reinaldo Oudinot


1802, 2 de Janeiro — Aviso Régio solicitando a deslocação a Aveiro, dos engenheiros Reinaldo Oudinot e Luís Gomes de Carvalho, para procederem a um estudo para a abertura da obra da Barra.

1802, Março — Início de obras no cais de Aveiro.

1802, Março — Início de obras na barra sob a direcção de Luís Gomes de Carvalho.

1806, 9 de Março — Tentativa, mal sucedida, de abertura da barra.

1807, 28 de Fevereiro — Tentativa, falhada, de abertura da barra.

1807 — 1.ª invasão de Portugal pelos exércitos napoleónicos.

1807, 27 de Novembro — A Família Real segue para o Rio de Janeiro.

1807, Junho — Atentado contra o engenheiro Luís Gomes de Carvalho.

(Continua...)

Aos homens do mar

  Aos homens da nossa terra, que do mar fizeram a sua vida. Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré 1996 «Ó mar salgado, quanto do teu sal s...