quinta-feira, 17 de março de 2011

Lento e penoso calvário da vara



EPOPEIA DA RIA


Élio Tavares

Aos quatro ventos as alvas velas enfunadas,
Pela Ria singravam esbeltos moliceiros.
— Trabalho e poesia de mãos dadas!
É quando do parado vento, as velas
Inertes pendiam nos mastros verticais,
Começava o lento, penoso calvário da vara,
Essa cruz que o bronzeado barqueiro
Toda a vida carregava no ombro dorido,
Enquanto o longo ancinho recolhia
A verde, fecunda manta do “moliço”…
— Valeu a pena?
Ainda que o Poeta não houvesse dito
Que «tudo vale a pena, se a alma não é pequena»,
Afirmo eu que foi a alma humilde,
Mas grande e generosa do homem da Ria
Que sonhou e realizou essa epopeia
Feita de trabalho, dor e amor,
Que transformou a sáfara duna,
Salgada e dos ventos batida,
Em verdejante campina de pão
E o charco imundo em vergel florido!

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