Confesso que pessoalmente, por razões que nem sei explicar, nunca fui dado a festejos carnavalescos. Pura e simplesmente passavam-me ao lado, como ainda hoje passam, não obstante reconhecer que é justo que cada um viva as suas alegrias como muito bem lhe der na real gana. Vestir-me à margem do normal, usar máscara e participar em cortejos de carnaval, nem pensar.
Recordo, no entanto, os meus tempos de menino e rapaz, longe dos cortejos organizados de agora. Nas Gafanhas não havia nada disso. Sentado no passeio frente à minha casa, com a mãe, o irmão e um ou outro amigo, mais umas pessoas idosas com conversas de nada, por ali ficávamos a ver quem passava. E passavam então os entrudos, como se dizia. Penso que mais homens que mulheres. Uns a pé e outros de bicicleta. O gabão era traje que predominava. Máscara sempre. Umas conversas simples, disfarçando a voz. De vez em quando lá vinha uma bicicleta, supostamente com duas pessoas. Era uma apenas, com um boneco de palha vestido, para imitar o colega do que dava aos pedais.
Depois veio a moda das bisnagas para molhar as pessoas que estavam ou que passavam. E mais tarde as bombas compradas nas lojas ou feitas pelos mais habilidosos, que se faziam rebentar atirando-as ao chão. Houve problemas por causa das bombas, feitas com pólvora dos foguetes que não rebentavam nas festas e que a malta aproveitava para animar o carnaval. Um jovem chegou a ficar sem uma das mãos, por causa dessas brincadeiras.
Na minha memória ainda havia as cegadas e umas danças, do encadeado e outras, apresentadas por grupos que se organizavam para o efeito. Puro amadorismo, ao que suponho. Mas era uma forma de ocupar o tempo, quando não se sonhava com televisão.
As cegadas não eram mais do que peças de teatro simples e engraçadas, tudo para fazer rir a malta. As cegadas do meu canto eram montadas pelo Armando Ferraz. Provavelmente, com a ajuda de outros, mas ele era a figura principal, o que sabia do assunto.
Ainda lembro que à noite, nas vésperas do carnaval, não faltavam pessoas que, espontaneamente, se vestiam (Homens de mulheres e mulheres de homens) e mascaravam para visitar famílias amigas. A aposta era levar os visitados a descobrirem a identidade dos entrudos. Esta cena de se identificarem os entrudos também se aplicava aos que passavam pelas ruas, caso eles parassem e metessem conversa.
FM
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