quinta-feira, 31 de julho de 2008

GAFANHA DA NAZARÉ: Desporto

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CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DO FUTEBOL
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Em finais da década de 40 e início da década de 50, existiram três clubes de futebol não federado, na Gafanha da Nazaré e um na Gafanha da Encarnação. Mais tarde, já em meados da década de 50, surgiu na Cale da Vila implementado por um grupo de estudantes, o “INDEPENDIENTE”, que pretendia ser uma réplica da Académica de Coimbra. Também era de estudantes e também equipava todo de negro.
Não sei qual dos três clubes seria o mais antigo, já que eu era ainda muito criança, mas sei que havia na altura uma grande rivalidade entre eles e também com o “Estrela da Gafanha da Encarnação”. Outros tempos… os mesmos sentimentos, as mesmas paixões pelo futebol!... Eram instituições que viviam quase exclusivamente da carolice dos seus mentores, autênticos patrões que dispunham a seu bel-prazer e à sua custa, dos favores e desfavores dos resultados desportivos obtidos.
Vamos começar pelo União, já que foi esta instituição que sobreviveu durante mais tempo, e que acabou por estar na origem do actual Grupo Desportivo da Gafanha, em Agosto de 1957:

1. SPORT CLUCE UNIÃO GAFANHENSE, com Sede Social – BEBEDOURO, próximo da Igreja Matriz (casa do Aurélio da Neta) Campo de Jogos – FORTE DA BARRA Equipamento habitual – AZUL E BRANCO Último Presidente – HENRIQUE CORREIA (Motorista dos Estaleiros Mónica) Inicialmente o União utilizava um pelado existente no meio do juncal, na Ilha da Mó do Meio, espaço que chegou também a ser utilizado para provas de hipismo. Mais tarde, já no Campo do Forte da Barra, era necessário levantar os carris que atravessavam o pelado, sempre que o recinto era preciso para a realização dos jogos. 
O União talvez tenha sido o único dos três clubes que funcionava verdadeiramente como associação: - Tinha uma direcção e tinha sócios, enquanto que os outros dois, tinham um patrão, uma sede em casa desse patrão e eram financiados pelo mesmo patrão.

2. ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA GAFANHENSE Sede Social – CALE DA VILA (barbearia do senhor Ernesto Tavares) Campo de Jogos – POUSIO DO MILIONÁRIO CARLOS (Sítio das Lebres) Equipamento habitual – VERDE E BRANCO Presidente/Patrão – ERNESTO TAVARES A Associação era bastante apoiada pelo público da Cale da Vila, porque também se tratava do lugar da freguesia com maior densidade populacional. Era frequente a assistência em apoio à sua equipa, cantar: “A Associação trabalha Como eu quero Agora é que não falha Os nove a zero” Estas quadras eram cantadas até à exaustão durante os jogos e repetidas no regresso, pelo “meio das terras”, quando o resultado era favorável aos da Cale da Vila.

3. ATLÉTICO CLUBE DA MARINHA VELHA Sede social – MARINHA VELHA (casa do senhor Casqueirita) Campo de Jogos – PRAIAS DE JUNTO (próximo do moinho do Conde na Marinha Velha) Equipamento habitual – ENCARNADO E BRANCO Presidente/Patrão – MANUEL CASQUEIRA (Casqueirita) O senhor Casqueirita que também se dedicava ao amanho das terras, era um homem com jeito e apetência para a confecção de trajes para os “anjos” das procissões, bem como para as tarefas de cangalheiro, na organização de funerais e de seus aprestos. No entanto, nutria um amor muito especial pelo seu Atlético, onde gastou uma grande parte dos proventos que angariava nessas actividades.
Nesse tempo, ele já pagava a jogadores, para virem nas “horas vagas” do Beira Mar, dar uma ajudinha para derrotar os principais rivais. Como o campo de futebol se situava muito junto à Ria, muitas vezes o horário dos jogos tinha de ser compatibilizado com o horário das marés na baixa-mar. Durante a praia-mar, principalmente nas marés vivas, era frequente o campo ficar debaixo de água, impossibilitando, deste modo, a realização dos jogos.

 Generalidades

 Nesses tempos, apesar das dificuldades de transporte e embora eu fosse bastante jovem, já nutria um carinho muito especial pelo UNIÃO. Com o meu amigo José “Perrana” (falecido muito jovem), nós deslocávamo-nos de bicicleta aos lugares onde o União ia jogar com outras equipas da sua igualha. Nós íamos a Vilar, à Costa do Valado, ou à Oliveirinha nos arredores de Aveiro. Mas também nos deslocávamos a Fermentelos, no concelho de Águeda, ou à Amoreira da Gândara, no concelho de Anadia, apenas pelo prazer de ver jogar o Hortênsio, o Fernando Vaz (Alentejano) e seus pares. Armando Cravo

 NOTA: Agradeço ao meu amigo Armando Cravo a disponibilidade com que acedeu ao convite para colaborar neste meu blogue, com o único objectivo de nos ajudar a reviver tempos idos. É com estes contributos que é possível deixar aos vindouros as marcas indeléveis do nosso passado, de que tanto nos orgulhamos. Assim outros se juntem a nós…

FM
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GAFANHA DA NAZARÉ: Desporto

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Complexo Desportivo da Gafanha em construção, na Colónia Agrícola


As rivalidades entre os clubes da Gafanha da Nazaré

As rivalidades próprias de qualquer desporto também naqueles tempos se viveram com alguma paixão. Os jogos não eram oficiais, já que se tratava de clubes não filiados em qualquer Associação, excepção feita para o Atlético que, segundo na altura foi amplamente divulgado, chegou a ser clube oficial, porém sem qualquer proveito desportivo. E a paixão dos seus dirigentes, por pressão logicamente psicológica dos respectivos adeptos, chegava ao ponto de procurarem e convidarem jogadores famosos, expressamente para cada jogo, pertencessem eles aos clubes rivais da terra, a outros clubes amadores da região ou ao Beira-Mar que já era instituição de respeito na altura. O importante era ganhar, custasse o que custasse. E, tal como hoje, também naquela época as vitórias ou derrotas eram comentadas com fervor clubista e com promessas de “vingança” para a próxima vez, que podia ser no domingo seguinte.
A curiosidade maior dos muitos adeptos estava em saber quem é que jogava e em que clube! E se os dirigentes não eram suficientemente diligentes ou bastante abonados para cativar os melhores jogadores, podiam muito bem preparar as malas e desandar. Esses dirigentes não serviam. E ainda hoje é assim. Aliás, o único dirigente, que saibamos, que acompanhou sempre o seu clube, desde o nascimento até à morte, foi o senhor Casqueira, mais conhecido por Casqueirita. Quando ele se cansou de gastar quanto tinha e não tinha com o seu Atlético, o clube morreu. É que, naqueles tempos, como hoje, os profissionais ou aparentados podem levar um clube à ruína, principalmente se não houver ponderação nos gastos e realismo nas contratações.
FM

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terça-feira, 29 de julho de 2008

GAFANHA DA NAZARÉ: Os primeiros clubes


Os primeiros clubes

Os primeiros gafanhões eram, sem dúvida, mais dados ao trabalho do que ao desporto. Aliás, nem outra coisa seria de admitir, se imaginarmos o esforço desenvolvido no dia-a-dia para alcançarem o milagre da transformação destas terras em oásis verdejante. 
Os tempos livres, quando os tinham, passavam-nos a cantar e a bailar, sobretudo aos fins-de-semana e no termo dos trabalhos agrícolas e outros, especialmente aquando do fabrico dos adobes nos areais da mata, na altura da cobertura da casa em construção, nas desmantadelas, nas rasgadelas de tiras para fabrico caseiro de mantas chamadas de farrapos, e noutros serviços que envolviam diversas pessoas.
Desporto seria mais com os rapazes. Sem preocupações de praticar desporto oficial, os gafanhões limitavam-se a dar uns pontapés na bola, entre diversos jogos populares, como o pião e a macaca para os mais jovens, e o futebol e a malha para os mais espigadotes ou adultos. Claro que nas tabernas não faltava o jogo de cartas, mais concretamente a sueca. Mas isso são outras histórias a que um dia haveremos de voltar. Hoje ficamo-nos pelo Futebol que nos nossos dias arrasta milhões de pessoas e envolve somas astronómicas em todos os quadrantes da Terra. 
Lembramos, e com que saudades!, antigos clubes que há mais de seis décadas por aqui congregavam a juventude da Gafanha da Nazaré. E faziam-no com tal garra que ainda sentimos o entusiasmo com que os jogos eram aguardados e disputados. Referimo-nos, concretamente, à Associação Desportiva Gafanhense que tinha o seu quartel-general na Cale da Vila, à União Desportiva Gafanhense (Sport Clube União Gafanhense) que cantava de galo na Cambeia, e ao Atlético Clube da Marinha Velha que, como o nome indica, se impunha no lugar que o baptizou. Mas não se julgue que só o Futebol foi rei nesse tempo. Também o Basquetebol e a Natação, mais sob a responsabilidade da Associação, por aqui se praticavam nessa data já um pouco distante da nossa meninice. 
O Futebol, esse sim, foi sempre o desporto favorito dos gafanhões e todas as tentativas para implantar outro qualquer saíam muitas vezes frustradas, com poucas mas muito dignas excepções. Mas continuemos a remexer nas gavetas da nossa memória, com a ajuda do tio João, para lembrar o que foram os jogos entre esses dois clubes rivais da nossa terra. 
Antes, porém, diga-se que a Associação tinha o seu campo de jogos nas areias da mata, na zona denominada das lebres (haveria, por ali, tantas lebres que se justificasse o baptismo?), em terra batida, como os outros campos existentes por aqui; o Atlético no campo da borda, onde presentemente está o porto de pesca costeira, com o moinho do tio Conde à vista, sujeitando-se os jogadores e a assistência a ver a bola fugir levada pela corrente, principalmente em hora de maré cheia, isto se entretanto um mais afoito não conseguisse salvá-la das águas salgadas, como tantas vezes presenciei.
A União aproveitava a cedência do campo do Forte que a JAPA (Junta Autónoma do Porto de Aveiro), actualmente APA (Administração do Porto de Aveiro) mandara construir ali bem perto do Forte Novo ou Castelo da Gafanha. Serviu, como as actuais gerações sabem, o Grupo Desportivo da Gafanha até 1983, embora, por falta de iluminação no novo complexo desportivo, os treinos nocturnos ali tivessem continuado durante cerca de dois anos.

FM 

FILARMÓNICA GAFANHENSE - 6

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V – A Filarmónica Gafanhense não pode parar A Filarmónica Gafanhense não pode parar. Executaram-se várias reformas e houve melhorias nas partes melódicas, harmónicas, percussão e até visual. Entre 1985 a 1990, todo o instrumental foi substituído por novas aquisições, tendo por base o “Lamiré normal”. Em 2001, após convite formal, assumiu o cargo de director artístico o músico Arnaldo Manuel Seiça Ribeiro, da Gafanha de Aquém, freguesia de S. Salvador, Ílhavo, onde nasceu em 1957. Iniciou os seus estudos musicais de solfejo e clarinete em 1964, sob orientação de seu pai, músico executante de clarinete na Filarmónica Ilhavense. De 1965 a 1969, frequentou as classes de solfejo e acordeão, sob a orientação da professora Rosa da Silva Matos, participando, enquanto aluno desta professora, em espectáculos públicos, em diferentes localidades. Entre os anos de 1969 a 1971, integrou a Banda dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo (Música Nova), como executante de clarinete, sob a direcção de Luís Catão. Em 1980, ingressa no Conservatório de Música de Aveiro “Calouste Gulbenkian”, na classe de piano e composição. Entre os anos de 1971 e 1999, integra grupos musicais de diferentes estilos, tendo efectuado diversos concertos por todo o País. Participou em vários festivais de música ligeira, como compositor e intérprete, tendo efectuado inúmeros registos, gravando discos e participando em espectáculos ao vivo, com cantores de música ligeira. Leccionou a disciplina de Expressão e Educação Musical no ensino oficial desde 1981, tendo sido professor titular da classe de Acordeão no Conservatório de Aveiro, entre 1986 a 1989. Em paralelo, tem desenvolvido funções pedagógicas nas áreas da formação musical, em piano, órgão e acordeão. Frequentou o Curso de Direcção de Bandas com o professor Robert Houlihan. A partir de Novembro de 2003, Fernando Manuel Tavares Lages, nascido a 18 de Junho de 1962, na Freguesia da Junqueira, Concelho de Vale de Cambra, assumiu a direcção artística da Filarmónica Gafanhense. Iniciou os seus estudos musicais na banda da sua terra, com 13 anos de idade, tendo ingressado na Banda de Música da então Região Militar Centro, sedeada em Coimbra, em 1979, aos 17 anos, como voluntário, onde permaneceu até 1982. Durante vários anos passou por outras bandas militares e em 1998 foi convidado a assumir a direcção artística da Banda Recreativa União Pinheirense, onde permaneceu durante quatro anos. Em 2002, frequentou o curso de direcção de banda orientado pelos professores Robert Houlihan, Adelino Mota e Carlos Marques. :

domingo, 27 de julho de 2008

A Nossa Gente



Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira

Não somos muito dado a elogios. Achamos que todos temos a obrigação de dar o nosso melhor à comunidade, sem esperar benesses nem honras. Como pessoas e como cristãos. Mas há casos e casos. Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira são dos tais casos que não podem ficar esquecidos. Pelo seu testemunho de vida e pela sua entrega aos outros, aos que mais sofrem, há mais de meio século. Decerto como muitos outros das nossas comunidades, de quem ninguém fala, mas que encarnam vidas exemplares.
Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira começaram há 50 anos um trabalho que ainda hoje mantêm de pé, único no País, na altura. O apoio a raparigas em perigo moral, a mães solteiras abandonadas pela família e ex-prostitutas. Como vicentinas, que ainda são, não se limitaram a reivindicar fosse o que fosse. Fizeram o que podiam e souberam fazer, fundando a OBRA DA PROVIDÊNCIA. Sem alardes, sem parangonas nos órgãos de comunicação social. Lutando contra muitos, mesmo no seio da Igreja a que sempre pertenceram como pessoas empenhadas.
Desde há meio século, ainda hoje têm como projecto de vida olhar para os mais pobres. Diz-se, com carinho, que se reúnem todos os dias. Depois da missa. Não para dizerem mal da vida alheia, mas para procurarem soluções urgentes para os problemas dos que não têm auxílio de ninguém. Nem mesmo de departamentos oficiais que tinham obrigação de estar mais atentos. E não resolveram elas muitos problemas a pedido de organismos estatais? Mas fizeram-no e fazem-no com inteira disponibilidade e espírito cristão. Sem teologias e filosofias tantas vezes balofas.
Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira são duas MULHERES que se complementam. Razão e coração sempre de braço dado. A olhar para os mais carentes. Há 50 anos. São de verdade um sinal preclaro de vidas exemplares. Como muitas outras, certamente. E nelas, homenageamos os cristãos e outros que se dão à comunidade a tempo inteiro. Sem nada esperarem em troca.
F.M.
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NOTA: Texto publicado no "Correio do Vouga" de 25 de Junho de 2003
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quarta-feira, 23 de julho de 2008

Obra do Apostolado do Mar na Diocese de Aveiro - 4

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Edifíco pré-fabricado numa fase adiantada da construção


“AINDA A OLHAR O STELLA MARIS”

Como já aludimos no último número, quedámo-nos de novo junto do Stella Maris. Observara que um dos nossos capitães, cujo nome, ainda que autorizado, omito, estava acompanhado de familiares a prestar atenção ao alçado lateral, onde uma nova varanda, de bom traço, surgiu há pouco tempo.
O jornalista quer novidades, pontos de vista, opiniões divergentes, embora! E “pescar” um capitão dos mares brancos e frios da Terra Nova, ao sol da nossa verde Gafanha e a “sonhar” o Stella Maris, era estar “de quarto” em terra, era continuar de vigia…
Cá como lá, é preciso aproveitar a hora. E a rede-diálogo lançada trouxe nas malhas mais uma opinião rija:
– Meu caro capitão, posso colher de si umas frases-chave, que sejam sensação, sobre esta obra?
– Meu amigo, não! Entre homens do mar, duvido que encontre o que quer. Nós olhamos e sentimos sempre mais do que falamos, e numa palavra dizemos tudo!
– Não será bem assim… e hoje mesmo queremos prová-lo!
– Ai não tenha dúvida: a ausência prolongada habitua-nos a um mundo silencioso e o polvo de mil braços do “diz-se que…” recebe da nossa parte um encolher de ombros tão desajeitado, que o atira logo ao mar.
– Bom, isso acreditamos. Mas… agora são outras falas, capitão! Não é o ontem que aconteceu. É o Stella de amanhã…
– Tanto faz ser, como não ser! Palavras bonitas, não são connosco, homem. Comigo pelo menos! Deixe lá de pensar agora no jornal, que às vezes até estrangula uma opinião sincera e vamos os dois olhar para isto. Sabe uma? Quando você chegou, estava o meu filho mais velho a dizer-me:
– Ó pai, eles não se terão lembrado de pôr aqui ao lado um relvado, para darmos uns chutos? Achei piada e respondi:
– Pois tens razão: aqui vale a pena jogar-se, rapaz! O Stella Maris é avançado centro! Mas logo me ocorreu por isso, que realmente são horas de ir pensando em coisas a fazer e um desafio de futebol como receita para a construção, não era disparate. Que diz? (Meteu-me o braço, disposto a cavaquear. Fugi-lhe).
– Que digo? Que me vou embora, com a tarefa cumprida. Pois se já vai assim o entusiasmo, para quê procurá-lo mais? E abalámos impressionados com o calor que por aqui já toma esta obra do Apostolado do Mar, o Stella Maris, que bem pode chamar-se o Stella Maris da Beira Litoral, o Stella Maris de quantos, pela sua varanda, olharão mais longe!

Texto não assinado, publicado no “Timoneiro” de Maio /Junho de 1973
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terça-feira, 22 de julho de 2008

FILARMÓNICA GAFANHENSE - 5

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IV – O desinteresse de uns e o interesse de outros Uma página da história da Música Velha acaba de ser virada. O desinteresse de uns e o interesse de outros, com decisões tomadas em local próprio e pelos próprios interessados, para além das circunstâncias atrás referidas, culminam nestas alterações. É então criada a Filarmónica Gafanhense, instituição que, embora sedeada na Gafanha da Nazaré, é, sem dúvida, uma entidade cultural ao serviço do povo e do Concelho de Ílhavo, que muito o dignifica. Das eleições realizadas em 18 de Junho de 1999, sai vitoriosa uma nova direcção para a Escola de Música Gafanhense, a qual redefine e clarifica a sua situação de coabitação com a Filarmónica Gafanhense, que até então tinha como sede provisória a casa de Dionísio dos Santos Marta, onde se guardava todo o espólio de ambas as colectividades. Foi decidido dar-se um novo rumo à Escola, procedendo-se, assim, à separação definitiva das duas associações. Tendo estas duas associações diferentes direcções, existia, teoricamente, uma ponte de informação e ligação entre ambas. Era ela Dionísio dos Santos Marta, elemento comum às duas direcções e conhecedor dos diferentes estatutos, ignorados, em parte, pelos sócios da Filarmónica Gafanhense. Os seus directores, os únicos sócios da mesma, eram os músicos executantes, que regiam as duas associações. Em 24 de Setembro de 2001, Dionísio Claro dos Santos Marta, devido a divergências com o novo presidente da direcção da Filarmónica Gafanhense, eleito em Fevereiro do ano anterior, abandona esta associação e os cargos de director artístico e de presidente da Assembleia Geral da mesma. Com a separação destas duas instituições, a Filarmónica Gafanhense volta à estaca zero, no referente ao projecto de construção da sua sede e de ter uma escola de música na sua estrutura, para assim poder contar sempre com mais e melhores executantes. A partir desta altura, a colectividade recomeçou a trabalhar, no sentido de aumentar a sua credibilidade artística, cultural e social, bem como de servir a população da Gafanha da Nazaré e o Concelho de Ílhavo, com mais amor e dedicação. Há jovens que por aqui passaram como aprendizes, sendo alguns, presentemente, músicos profissionais, com cursos superiores de música, que muito têm dignificado a nossa terra.
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domingo, 20 de julho de 2008

Obra do Apostolado do Mar na Diocese de Aveiro – 3

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Preparação do terreno para a implantação do Stella Maris pré-fabricado


“OS QUE OLHAM O STELLA MARIS”



O Stella Maris de Aveiro hoje é mais do que assunto, porque é obra erguida. Pequena ou grande, bem ou mal delineada, ali está já na Gafanha, onde tomou corpo e agora, já com cor, começa a falar por si a quantos o interrogam. Paredes levantadas, já o telhado o cobre para que depressa cubra aqueles a quem pertence. A olhá-lo como os outros, parámos a uns passos. Cruzou connosco gente curiosa, interessada. Identificámos um tripulante e quisemos ouvi-lo. Falámos e da nossa conversa guardámos das suas palavras sadias, que passamos a transcrever:
– Então que diz a isto?
– A obra vai! Mas nós temos pressa, sabe? É difícil explicar. É assim como ver crescer a nossa casa. Apetece-nos já lá estar dentro! E olhe que todos os dias aqui venho e já não sou só eu! Pois como é? Se a apanho pronta ainda julgo que será mentira!
– A construção com aquela cor azul, já é realmente outra! Agrada mesmo e até parece maior!
– Cá para mim, está bonita, sim senhor! Mas cuida que está pronta? Ainda falta um mar de coisas, homem! Nunca ouviu dizer que os acabamentos são o pior? E depois montar a “máquina”? Móveis e mais que é preciso? É uma labuta grande, é…! Mas a rapaziada precisa e temos de ser uns para os outros. O que custa é que vale! Somos desta têmpera, sabe? Ali se há-de cavaquear, juntar famílias e até para os de passagem, ser família também. Os de terra depois, é que hão-de ver como é e a falta que isto fazia!
– Pois sim senhor, gostei de o ouvir. Obrigado, amigo! Se todos assim pensassem não havia entraves para os projectos “valentes”! Na obra, não podemos dizer que se nota azáfama. Antes trabalho compassado, pancadas certas de marteladas seguras.
Assistimos à descarga de mais material e vimos “encher” com tijolos os baixos da construção.
Como o nosso homem do mar, também nós voltámos mais tarde. Afrouxámos e passámos à escuta. Mas dessa nova conversa daremos conta no próximo número…

In “Timoneiro” de Maio/Junho de 1973


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quinta-feira, 17 de julho de 2008

Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré

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Igreja de Nossa Senhora dos Campos

Decreto

“ D. João Evangelista de Lima Vidal, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Arcebispo-Bispo de Aveiro, Assistente ao Sólio Pontifício.
Atendendo ao incremento populacional e social que tem tomado nestes últimos tempos a Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, dispersa presentemente pelas três freguesias de Ílhavo, Gafanha da Nazaré e da Gafanha da Encarnação, e considerando que esta Colónia tem, e convém que tenha, um aspecto unitário e não se divida em três partes com prejuízo da sua vida comum, de acordo com os Reverendos Párocos das freguesias a que actualmente pertence a Colónia, não havendo motivos de interesses ou sentimentos locais que possam obstar à realização do intento:

HAVEMOS POR BEM decretar o seguinte:

1 – Toda a Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, como ela se encontra constituída, ficará pertencendo, desta data em diante, à freguesia de Ílhavo;
2 – Encarregamos o Reverendo Arcipreste do Distrito Eclesiástico de dar execução a este decreto, nas formas estabelecidas.

Publique-se no órgão oficial da Diocese e arquive-se.

Dado em Aveiro, aos 10 de Dezembro de 1956.

João Evangelista
Arcebispo-Bispo de Aveiro”:

NOTA: Hoje, ao consultar um livro das minhas estantes, encontrei uma folha com o documento supracitado, dactilografado, que entendi por bem publicar, como referência histórica à Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré.

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quarta-feira, 16 de julho de 2008

FILARMÓNICA GAFANHENSE - 4

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III – Filarmónica Ilhavense passa a Filarmónica Gafanhense Durante as décadas de 80 e 90 do século passado, os sócios e executantes da Filarmónica organizaram vários peditórios e desenvolveram diversas actividades culturais na vila da Gafanha da Nazaré e noutras localidades. Foi uma forma, com base pedagógica, de angariar fundos para alimentar o projecto de construção de uma sede social que albergasse as duas associações. Anos mais tarde, já a Escola de Música Gafanhense tinha bastantes sócios, uma determinada quantia em dinheiro e um património significativo, uma vez que tinha adquirido um terreno para se construir uma sede. Em princípios de 1986, a Associação Musical Filarmónica Ilhavense começou a festejar a passagem dos 150 anos da sua existência, e no dia 24 de Abril do mesmo ano foi feita uma escritura na Secretaria Notarial de Aveiro, titulando a constituição de uma associação já existente desde 1836, agora denominada ASSOCIAÇÃO MUSICAL FILARMÓNICA ILHAVENSE, com sede na Vila e Concelho de Ílhavo, que passava a reger-se pelos estatutos então criados. Entretanto, várias iniciativas culturais continuaram a ser levadas a cabo, no âmbito das referidas comemorações, tendo sido lavrada, no dia 13 de Outubro de 1986, na Secretaria Notarial de Aveiro, uma nova escritura, desta vez para alteração dos estatutos. Com essa alteração, ficou estabelecida a mudança de sede social da Música Velha para a Gafanha da Nazaré. A Associação Musical Filarmónica Ilhavense passou a designar-se, estatutariamente, FILARMÓNICA GAFANHENSE, como veio exarado no Diário da República, nº 273, de 26 de Novembro de 1986
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terça-feira, 15 de julho de 2008

A Nau Portugal

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D. João Evangelista

A NAU

Já estou velhinho, já sinto o frio da cova nos pés. É natural que nos meus longos anos, expostos de mais a mais às ondas, nem sempre calmas, do destino que Deus me marcou ao nascer, eu tenha sentido pancadas terríveis no peito, capazes de o quebrarem, de o fazerem em pó, se não se tornasse em bronze indestrutível a mísera carne que o Senhor predestinou para o mais agitado dos apostolados, o apostolado das almas. Às vezes até parece que a vaga passa por uma tal forma por cima da cabeça que nos prega para sempre no fundo de tenebrosos abismos, e não mais voltamos à tona d’água a rivedere le stelle, como dizia o Dante ao fim do Inferno.
Tudo pareceu porém ontem diluir-se, e como que perder-se nas recordações longínquas a ponta mais aguda e mortífera dos seus espinhos, a gota mais amarga do meu veneno, ao golpe imprevisto, mil vezes trágico, que me esmigalhou a alma na Gafanha da Nazaré.
Parecia uma noiva, a nau Portugal, pronta a entrar na Igreja, com a coroa da glória na fronte e o manto de virgem a arrastar na história. Eu passei-lhe a mão pela quilha, ávida de cortar para a frente as águas, de fazer espuma ao passar, como quem faz uma festa na face de um filho, como quem beijaria, a transbordar de ternura, os olhos da sua mãe. E, senti, nessa carícia, bater lá dentro o coração da Pátria; eu ouvi, assim encostado o ouvido à proa altiva do barco, a voz de oito séculos que se não calava. Eu dei-lhe a bênção do meu ritual, mas dei-lhe ainda mais talvez – quem sabe se não me fez irreverente o delírio! – a bênção do meu amor. Estava-me a parecer que, se eu fosse embrulhado para a terra numa dobra daquela bandeira, nenhum verme me tocaria, até o peito morto teria vibrações misteriosas no túmulo.
Quando lhe cortaram a amarra, que a prendia ainda às areias, dir-se-ia que a alma de Portugal estremeceu e parou. Ia dobrar-se o Bojador? Descobriu-se a Índia? Iam outra vez ultrapassar-se as tormentas? Quem era aquele que estava lá em cima, erguido ao centro como um gigante, agarrado às cordas com os cabelos ao vento, gritando descobrimentos, conquistas, império? Era o Gama?? Era Alenquer, Albuquerque, maiúsculas ou minúsculas dos navegantes, das estrofes de Luís de Camões? Era um tal encontro de heroísmos e de glórias no crânio, eram clarins e tambores de triunfo a rotarem por tal forma, com tanto estrondo, na alma, que a alucinação me invadia e nem parecia que tocava no chão com os pés.
A esposa de Portugal cortou em triunfo pelo estaleiro e acordou alegremente a ria à entrada. Por um momento ainda tudo delirou e sorriu, o sol, o Vouga, o coração de toda a terra de Portugal. De repente, porém, vimo-la nós todos entristecer, ela tombou a face para o lado, como quem já não tem força para resistir à morte, e caiu fulminada no leito das águas.
Até ninguém queria acreditar ao princípio, abriram-se olhos grandes, mas era verdade; a nossa nau, a nossa filha, a nossa irmã, estava ali morta, com o fundo para o ar, com a face colada ao martírio, caíam-lhe ainda as lágrimas dos mastros, das velas, do leme em luto. Era um cadáver!
Ó mundo cheio de ilusões e de enganos! Que frescura e que pompa, há dois minutos apenas! Que cemitério, agora!
Já lá vão quase vinte horas depois do desastre, e eu ainda não sei como poderá passar no meu peito, sem o fazer estalar, o choque de duas paixões tão intensas, de duas loucuras, ia eu a dizer: a alegria da nau em triunfo com as flâmulas a tremularem no azul, e o seu naufrágio, com a água agora a cuspir-lhe na fronte.
Mónica, ó mestre, não foste tu só, durante a noite, a arrepelar os cabelos, a molhar das tuas lágrimas uma cama de febre. Outros houve, quem sabe quantos, que não fecharam os olhos também.
Mas sossega. Esta morte há-de ter a sua ressurreição. Lázaro poderá estar quatro dias na sepultura, mas virá o taumaturgo que lhe há-de dizer:
– Levanta-te!

D. João Evangelista de Lima Vidal,
Arcebispo-Bispo de Aveiro


Nota: Texto publicado, sem assinatura, no Correio do Vouga, em 13 de Julho de 1940. O bota-abaixo, em que a nau, ao entrar na ria, se inclinou até os mastros pousarem na água da laguna, aconteceu em 8 de Julho de 1940. D. João Evangelista conta, de forma poética, como ele tão bem sabia fazer, o que viu e sentiu. Actualizei alguns vocábulos.

FM

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sábado, 12 de julho de 2008

FILARMÓNICA GAFANHENSE - 3

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II – A Música Velha não podia morrer A Música Velha não podia morrer. E para não morrer, tinha de mudar e de criar incentivos, atraindo aprendizes com vontade de continuarem na banda, depois de se tornarem executantes minimamente à altura. Tinha pouco mais de meia dúzia de executantes. Mas até esses, sentindo a falta de apoios à Filarmónica e o abandono da maioria, chegaram a perder algum entusiasmo. Os poucos que restavam eram de Vale de Ílhavo, Lavandeira, Moitinhos, Bonsucesso, Gafanhas e Ílhavo. Dois de Ílhavo, pouco tempo tocaram na Música Velha, que se viu sem ajudas de qualquer entidade ou instituição, e sem o trabalho de ilhavenses apaixonados por este género musical, de tantas e tão antigas tradições na vila. Em Abril de 1972, e numa última tentativa de salvar a Música Velha, os músicos que ainda permaneciam fiéis colocaram na regência um dos executantes resistentes. Dionísio Claro dos Santos Marta, natural de S. Salvador, Ílhavo, e residente na Gafanha da Nazaré, impôs apenas uma condição para aceitar o cargo: que fosse criada uma Escola de Música. Foi assim que o novo e inexperiente regente salvou a Filarmónica. Passou a deslocar-se a Ílhavo duas vezes por semana, para dar lições de música a novos aprendizes. Infelizmente, contudo, a breve trecho ficaria sozinho e sem aprendizes, já que, em Ílhavo, não havia quem quisesse aprender música. Mas se em Ílhavo se verificou o desinteresse total pela aprendizagem da música, com destino à banda, na Gafanha da Nazaré começaram a surgir jovens que queriam aprender e que almejavam vestir a farda da Filarmónica. Até meados de 1982 foram muitos os dirigentes que ficaram à frente da Associação. Nesse mesmo ano, no dia 30 de Abril, um grupo de cidadãos funda oficialmente a Escola de Música Gafanhense, na Gafanha da Nazaré, pois era nesta vila que apareciam jovens interessados em aprender música. O objectivo desta escola recém-criada, desprovida de sede social e em regime de coabitação com a Filarmónica Ilhavense, era a formação musical dos seus sócios, através do pagamento de uma quota simbólica anual. A escola e a banda tinham como principal preocupação a formação de novos músicos para a banda, trabalhando assim em estreita colaboração para o desenvolvimento cultural da Gafanha da Nazaré.
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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Obra do Apostolado do Mar na Diocese de Aveiro - 2

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D. Manuel de Almeida Trindade



Decreto da erecção canónica da Obra do Apostolado do Mar


"Considerando as normas peculiares estabelecidas pela Santa Sé, designadamente as que constam do Decreto da Comissão Pontifícia para a Pastoral das Migrações e Turismo, de 24 de Setembro de 1977;
Desejando promover o bem espiritual, moral e social dos marítimos e suas famílias;
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HAVEMOS POR BEM:

1) – Erigir canonicamente em pessoa moral eclesiástica a OBRA DO APOSTOLADO DO MAR, com sede na Casa “Stella Maris” de Aveiro, sita na freguesia da Gafanha da Nazaré, do concelho de Ílhavo, desta Diocese de Aveiro, que será representada pelo presidente da Direcção Administrativa, a qual é o órgão de acção permanente (Artigos 1.º, 14.º e 30.º);
2) – Aprovar os Estatutos por que se há-de reger a Obra na Diocese, os quais constam de trinta e oito artigos, distribuídos por cinco capítulos, ficando um dos exemplares arquivado nesta Cúria Diocesana;
3) – Mandar que desta erecção canónica se dê conhecimento à competente Autoridade Civil, para os devidos efeitos legais, segundo o estabelecido na Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa.”

26 de Janeiro de 1979


Manuel de Almeida Trindade,
Bispo de Aveiro



:NOTAS:

1 - Nessa mesma data é feita a comunicação da erecção canónica ao Governo Civil de Aveiro;
2 - Em 31 de Maio de 1983 são aprovados os novos estatutos da Obra do Apostolado do Mar;
3 - Em 6 de Julho de 1983 é nomeada pelo Bispo de Aveiro a Direcção da Obra do Apostolado do Mar, com sede no clube "Stella Maris" de Aveiro, sito na Rua dos Bacalhoeiros, da paróquia da Gafanha da Nazaré;
4 - A Direcção fica assim constituída:
Presidente - Carlos Sarabando Bola;
Vice-Presidente - Padre Rubens António Severino;
Vice-Presidente - Fernando Jorge Vieira Ribau;
1.º Secretário - Olinto Henrique da Cruz Ravara;
2.º Secretário - António Manuel de Oliveira Fernandes da Silva;
1.º Tesoureiro - Alberto Almeida Monteiro;
2.º Tesoureiro - João Saraiva Sardo;
Assistente Religioso e responsável pela Acção Pastoral - Padre Messias da Rocha Hipólito.


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quarta-feira, 9 de julho de 2008

FILARMÓNICA GAFANHENSE - 2

:: I – Os primeiros passos da Phylarmonia Ilhavense
Em 1836, nasce em Ílhavo a Phylarmonia Ilhavense, por iniciativa do magistrado António José da Rocha e do conselheiro José Ferreira da Cunha e Sousa, o qual, mais tarde, viria a ser Governador Civil de Aveiro. Eram amadores dramáticos e tinham organizado uma “Companhia” de curiosos que devia estrear-se num Teatro por eles construído numa dependência do Passal da freguesia, junto à igreja matriz da Ílhavo. Para o primeiro espectáculo, convidaram a Filarmónica da Fábrica da Vista Alegre, fundada em 1826, que faltou, à última hora, por imposição do director daquela fábrica, que era de política contrária à dos organizadores. Magoados com tal procedimento, aqueles ilhavenses encheram-se de brios e fundaram uma banda de música, tendo convidado para a dirigir José Vicente Soares, ex-regente de Bandas Militares, e, curiosamente, o primeiro regente da Banda da Vista Alegre. Depois deste, a Phylarmonia teve vários directores artísticos, nomeadamente Francisco dos Santos Barreto, que ocupou o cargo por mais tempo. Com a sua morte, a banda decaiu bastante, quase se extinguindo. Em 1885, porém, passou a ser dirigida por João Conceição Barreto, o qual contribuiu para novo baptismo da banda, que passou a designar-se por Sociedade Filarmónica Ilhavense. Adoptou nessa altura o cognome de Música Velha. Outros regentes se lhe seguiram. O padre João Rodrigues Franco, de Vagos, violinista distinto, acabou por abandonar a direcção artística da Filarmónica, por razões de saúde, não sem antes ter dado o seu melhor, no sentido de dotar a Filarmónica de uma organização capaz de lhe imprimir mais dignidade artística. Foi substituído por um espanhol, de apelido Serrano, imigrado político que vivia em Aveiro, que soube dar à banda uma modelar organização artística. Depois deste, vários regentes dirigiram a Sociedade Filarmónica Ilhavense. Manuel Procópio de Carvalho foi um deles. Contudo, com a sua saída inesperada, foi convidado para o cargo o ilhavense Diniz Gomes, que lhe imprimiu um bom nível artístico, tendo mesmo, mercê da posição política que exercia no concelho, adquirido subsídios para aquisição do instrumental. Com a saída deste regente, veio João da Rocha Carola, que muito contribuiu para que a banda pudesse executar brilhantes concertos, vocais e instrumentais, inclusive em serviços religiosos, muito em voga nessa época, e em festas diversas, um pouco por todo o lado. Marco Catarino, de Ílhavo, foi também regente, embora por pouco tempo, sendo substituído pelo seu conterrâneo Armando da Silva. No tempo deste regente, a Sociedade Filarmónica Ilhavense passou a denominar-se Associação Musical Filarmónica Ilhavense, tendo sido feito o seu registo no Governo Civil de Aveiro em 24 de Maio de 1934, conforme a Lei das Associações, datada de 14 de Fevereiro de 1907. Com a saída deste último regente, foi o cargo ocupado pelo Ilhavense João Marques Ramalheira, mais conhecido por professor Guilhermino, que, devido ao facto de ser professor do Ensino Primário, conseguiu muitos e bons aprendizes, chegando a banda, no seu tempo, a ter cerca de 50 executantes. Após a saída do professor Guilhermino Ramalheira, foi a regência assegurada pelo executante João Parada dos Santos (Balacó), de Vale de Ílhavo, que, por motivos de doença, não pôde dar à banda todo o tempo necessário. Por essa razão, e porque, aquando da saída do professor Guilhermino Ramalheira, ficara sem alguns dos seus melhores executantes, a Filarmónica Ilhavense decaiu um tanto. Em 1956, mestre José Vidal, de Vale de Ílhavo, assume a regência da Filarmónica, melhorando de forma significativa a afinação da banda, ao mesmo tempo que proporciona aos seus executantes a autoconfiança que já lhes ia faltando. Em 1961, José Vidal foi substituído por Manuel da Graça, também de Vale de Ílhavo. Este regente soube aproveitar o que mestre Vidal lhe deixara e conseguiu, graças ao seu apego ao trabalho, que a Filarmónica chegasse a ter 38 executantes. Mas o destino não era favorável a esta secular colectividade, e, em 1967, este lutador sucumbiu a uma doença grave, que lhe roubou a vida, num Sanatório do Caramulo. Foi convidado, então, para a regência, José Venâncio, de Vagos, músico excelente da Banda da Vista Alegre, que, nos cinco meses que ensaiou a Filarmónica Ilhavense, conseguiu dar-lhe uma boa afinação, aperfeiçoando muito a parte técnica e artística. Emigrou para os Estados Unidos da América, não podendo, por isso, continuar o bom trabalho que tinha iniciado, com muito entusiasmo. Sucedeu-lhe um executante e solista (fliscorne) José Ferreira Balseiro, da Quinta do Picado. Este reorganizou a banda, mas nela permaneceu por muito pouco tempo. O infortúnio pairava sobre a Música Velha de Ílhavo, tendo, com a saída deste último regente, em 1970, ocupado o cargo João da Fonseca, de Ílhavo. O desânimo começou a reinar nesta Sociedade Musical. Cada vez saíam mais executantes, a banda não se renovava, porque não tinha aprendizes, e em Fevereiro de 1972 esta “nau” fica novamente à deriva, sem timoneiro, isto é, sem o seu regente.
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Obra do Apostolado do Mar na Diocese de Aveiro - 1

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Pavilhões pré-fabricados


Clube Stella Maris


Em maré de celebrações, que o Clube Stella Maris, da Obra do Apostolado do Mar (OAM), está a promover, importa registar os passos relevantes, que fizeram história, desta instituição da Diocese de Aveiro, vocacionada para o apoio aos marítimos e suas famílias. Tal, porém, só será possível com achegas e documentos que urge recolher e publicar, com o cuidado e o rigor indispensáveis. É o que me proponho fazer, neste meu espaço, dedicado à Gafanha da Nazaré, embora a OAM seja uma estrutura de âmbito diocesano.
Tanto quanto é possível saber, a OAM começou a ter raízes, entre nós, em 1966, como refere um texto publicado em capítulo que lhe é dedicado na monografia da paróquia da Gafanha da Nazaré, da autoria de Manuel Olívio da Rocha e Manuel Fernando da Rocha Martins, com edição de 1986. Diz ele que, em 14 de Abril de 1966, sendo “legítimo representante da Obra do Apostolado do Mar (….), o actual Director Nacional, Padre Francisco Antunes Santana”, compete-lhe, como tal, “assinar a escritura de compra de um terreno pertencente a Fernando Lagarto, sito na Gafanha da Nazaré, …”
A escritura da compra dos terrenos acaba por acontecer em 1971, com o Padre Messias da Rocha Hipólito a intervir, na qualidade de gestor da OAM. E nesse mesmo ano foi adjudicada, à firma João Nunes da Rocha, a construção de dois pavilhões, em pré-fabricado, concluídos e montados em 1974.
Entrou em funcionamento só depois do 25 de Abril de 1974, embora provisoriamente, por falta de estruturas logísticas e humanas. Tal somente foi acontecendo, como resposta a necessidades que foram surgindo, por se sentir que as portas estavam abertas para ajudar os homens do mar e suas famílias.

Fernando Martins
NB: Continuarei a publicar o que for recolhendo
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terça-feira, 8 de julho de 2008

FILARMÓNICA GAFANHENSE - 1

;;; Subsídios para a sua história
Introdução A Filarmónica Gafanhense, a mais antiga colectividade musical do concelho de Ílhavo e herdeira do trabalho incansável de muitos ilhavenses, quer continuar a crescer, dinamizando o ensino da música e levando, bem longe, o nome das terras que a viram nascer, há mais de 170 anos. Sendo certo que uma banda se alimenta do esforço dos seus dirigentes, que dia a dia procuram atrair gente jovem que garanta o seu futuro, cada vez mais risonho e actuante, ao nível cultural, também é verdade que o empenho de todos, populações, autarcas e outras entidades, estatais e privadas, é fundamental e urgente. Com a cooperação amiga e solidária dos ílhavos, sejam eles da sede do concelho ou das Gafanhas, tudo se tornará mais fácil, no sentido de proporcionar à Música Velha (cognome que herdou de tempos áureos, que já lá vão há muito) as melhores condições para mais fazer pela cultura da rainha das artes, que é música. Urge, pois, que ilhavenses e gafanhões saibam unir esforços, numa linha de respeito pelas nossas tradições e pelo nosso passado histórico, que têm mostrado do que são capazes as nossas gentes, quando mutuamente se apoiam para alcançarem objectivos comuns. Nessa linha, a nova sede, ansiada por tantos dirigentes e associados, e prometida há anos pelas mais diversas forças políticas, virá contribuir, assim cremos, para que a Filarmónica Gafanhense ocupe um lugar de destaque no panorama musical regional e até nacional. :: NB: A partir de hoje, iniciarei a publicação de alguns textos sobre a Filarmónica Gafanhense, também conhecida por Música Velha, com o intuito de preservar a sua história, em risco de se perder. Como é natural, agradeço contributos que venham completar ou enriquecer o que aqui se for publicando.
FM
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segunda-feira, 7 de julho de 2008

D. Manuel II e Aveiro

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O barco real na embocadura da Cale da Vila
Na Gafanha, aguardando a chegada do barco real
Forte da Barra: Ponto do embarque


Uma Visita Histórica - 27 de Novembro de 1908


No livro “D. Manuel II e Aveiro – Uma Visita Histórica (27 de Novembro de 1908)”, o autor, Armando Tavares da Silva, oferece aos seus leitores pormenores curiosos, através de uma escrita acessível e de grande rigor, mas também atraente. Leva, assim, quem gosta de história a interessar-se por este assunto, o de um Rei que passou pela nossa região, suscitando manifestações de carinho. E refere, ainda, a Gafanha, como terra de passagem.
A dado passo, e ao descrever o passeio fluvial, diz que próximo à ponte da Gafanha formaram alas, «mais de 800 cyclistas, perfilados ao lado das suas bicycletas e que á chegada de el-rei levantaram calorosos vivas». Nessa altura, uma comissão, “abeirando-se do automóvel real, entregou ao monarca uma representação em que pedia a revisão da «lei da contribuição sumptuaria no que respeita[va] a possuidores de velocípedes», e a suspensão do andamento dos processos em juízo”.
Mais adiante, salienta que depois da volta «Pessoas de todas as classes davam vivas a El-rei, misturando as suas vozes com as notas do hymno nacional tocado pelas bandas que vinham a bordo. Na margem, uma immensidade de povo, carros, cyclistas, etc., que o tinham ido esperar á Gafanha, faziam tambem a sua volta a Aveiro». «Desde a ponte da Gafanha até ás Pirâmides, o monarcha teve um verdadeiro passeio triunphal, aclamado pela multidão, que se apinhava nas margens, com verdadeiro entusiasmo».
Posteriormente, na Câmara Municipal de Aveiro, «El-Rei poz ao peito do barqueiro Antonio Roque, da Gafanha, uma medalha de merito, philantropia e generosidade, abraçando-se ambos enternecidamente».
FM


NOTA: As fotos desta página foram publicadas no livro que lembra a Visita do Rei D. Manuel II a Aveiro, em Novembro de 1908, da autoria de Armando Tavares da Silva. A sua publicação no meu blogue foi autorizada, como “Documento cedido pelo ANTT”.
FM

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Cruzeiros da Gafanha da Nazaré

::Cruzeiro da Gafanha da Nazaré

A propósito dos Cruzeiros da Gafanha, o Padre João Vieira Rezende diz, na sua "Monografia da Gafanha", que o primeiro de que há memória “deveria ter existido em 1584, ‘perto da ermida de Nossa Senhora das Areias’ em S. Jacinto”, segundo reza um alvará régio, com data de 20 de Maio daquele ano. E acrescenta, talvez para espanto de alguns, que considera S. Jacinto, “por muitos motivos, pertencente à região da Gafanha”, porque “era-o realmente antes da abertura da Barra em 1808”.
O autor refere depois que “o segundo Cruzeiro foi construído na Gafanha da Nazaré em data que ignoramos. Foi posterior à data da construção da demolida capela de Nossa Senhora da Nazaré e distava dela uns 550 metros para o sudeste. Ficava junto ao caminho (hoje estrada) que ligava Ílhavo com a dita capela. Inaugurada a nova igreja paroquial em 1912, foi mudado para o sítio que hoje ocupa, a 350 metros do local da demolida capela e a 750 da nova igreja matriz. É muito simples, de granito e com os seus três degraus mede 3 m.”
Desde sempre recordo que as procissões das festas da paróquia da Gafanha da Nazaré passavam, e continuam a passar, pelo Cruzeiro, habitualmente enfeitado nesses dias. Há tempos passei por lá e disso dou nota aqui com uma fotografia. Em 1994, segundo regista uma inscrição inserta na pequena rotunda que foi implantada no cruzamento de várias vias, o Cruzeiro foi mudado, mais uma vez. A inscrição diz assim: “Vila G. Nazaré 1994”
Aproveito para dizer que os cruzeiros são, obviamente, símbolos cristãos, evocativos de datas marcantes. Nada têm a ver, como algumas pessoas pensam, com Pelourinhos. Os Pelourinhos eram símbolos do poder e da justiça. Neles eram acorrentados e expostos os condenados, que sofriam castigos severos, sendo nomeadamente açoitados. Os Pelourinhos não serviam, como algumas pessoas também admitem, para enforcar ninguém. As Forcas eram construídas, para esse efeito, normalmente, fora dos povoados.

FM
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A Gafanha vista por Leite de Vasconcelos

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O EXPRESSO evocou esta semana, no seu suplemento "ACTUAL", o universalista José Leite de Vasconcelos, para celebrar os 150 anos do seu nascimento. O sábio que foi médico, mas que nunca desejou exercer tal profissão, dedicou-se, com paixão, à filologia, à etnografia e à arqueologia, viajando constantemente, porque defendia que “Nada nos educa e ilustra como viajar!”. Ao ler esta evocação, em textos de Mário Robalo, ocorreu-me sublinhar, neste meu espaço, que, nas suas frequentes andanças pelo País, José Leite de Vasconcelos também esteve na Gafanha, em 1919, onde colheu algumas informações que publicou na sua obra “Geografia tradicional das Beiras”. Posteriormente, esses apontamentos foram enriquecidos com outros que recebeu do Dr. José Pereira Tavares, seu antigo aluno na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na altura professor do Liceu de Aveiro, onde veio a ser reitor distinto. Segundo Leite de Vasconcelos, o seu antigo aluno era pessoa que conhecia bem a localidade e escritor erudito, o qual “o obsequiou com incessantes informações, e de mais a mais lhe ofereceu a parte por ora impressa da ‘Monografia da Gafanha’, do Rev. João Vieira Resende”, conforme leio na sua “Etnografia Portuguesa”, volume III. Leite de Vasconcelos diz, citando a referida “Monografia da Gafanha”, que antes de 1677 devia ter havido alguns cultivadores da Gafanha, e que, por esses tempos, continuavam a fazer-se “colonizações rurais”. Em 1813, fala-se, diz o sábio, “de uma fazenda que constava de casas, currais, palheiros, terras de pão, pinheiros e juncais”. “Grande porção do antigo areal adaptou-a pois o homem assim sucessivamente a cultura, com trabalho e suor, e os adubos que a Ria lhe ministrava”, refere, citando o geógrafo Amorim Girão. E como curiosidade, depois de frisar a cultura de batata, feijão, milho, centeio e algum vinho, diz: “Dá-se tal apreço à batata gafanhense, que no mercado todos a preferem à de outros sítios.”
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Fernando Martins
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Aos homens do mar

  Aos homens da nossa terra, que do mar fizeram a sua vida. Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré 1996 «Ó mar salgado, quanto do teu sal s...