quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O linguajar dos gafanhões


A maneira de falar...

«A maneira de falar, um tanto ou quanto cantada, com alguma malícia pelo meio, entre risadas contagiantes, é que me encantava.
Levemos a nossa memória até lá atrás e ouçamos a Ti Maria e o Ti Atóino. Vinha ela desaustinada porque a canalha lhe estragara as batatas ali ao pé da escola da Tia Zefa. Estava arrenegada.
O ti Atóino vinha da borda, onde andara ao moliço para o aido. Antes da maré, porém, deitara-se a descansar, com o corpo moído, na proa da bateira que ia à rola. Sem saber como, e com uma nassa, apanhou uns peixitos para a ceia (o jantar de hoje). Já não era mau. Naquele dia não comeriam caldo de feijão com toucinho, com um bocado de boroa. Sempre seria melhor.
— Atão queras ver, Atóino, o que a canalha da scola fez? Andou por riba das batatas a achar a bola e ‘stragaram-me tudo. Tamém andaram à carreira atrás uns dos oitros a amandar pedras e ao acaça. Se andassem com relego, ainda vá que não vá. Mas nã. Andavam a toda a brida, como que a atiçar comigo. E se calhar a professora estava abuzacada na sala. Isto está mal, no achas?
— Pois é verdade, Ti Maria. Nã são coisa que se faça. Anda um home a gastar dinheiro em batatas e buano, muitas vezes sem se astrever e estes mariolas, num’stante deixam tudo ‘struído. Era só a gente atirar-lhe com um balde d’ auga, para eles aprenderem. São a mode tolinhos e alonsas. Mariolas!. Vossemecê já falou com a professora? Se ainda nã, vá lá e diga-lhe que ó despois não se arresponsabiliza. São uns desalservados, uns desintoados.
— Tens razão, Atóino. Vou lá num‘stante, antes que seja tarde. Amanhê tamém falo cos pais. Sempre são homes e melheres pra darem uns estrincões aos miúdos, pra eles aprenderem. Opois num se quexem.»

Fernando Martins,
de uma palestra proferida num colóquio
do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Senhora dos Navegantes



Procissão da Senhora dos Navegantes, Setembro de 1926 (Arquivo do Porto de Aveiro)

Como estas, haverá outras fotografias dos princípios do século XX nos arquivos pessoais dos meus amigos. Vamos lá à procura delas. As fotos que hoje apresento fazem parte dos arquivos do Porto de Aveiro.

Ver mais aqui

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Descontentamento de gafanhões em relação a Ílhavo



Mestre Mónica


Os tempos mudaram, mas é bom recordar

Tenho-me interrogado inúmeras vezes sobre o porquê de um certo espírito de descontentamento de gafanhões em relação a Ílhavo, que não em relação aos ilhavenses. Na minha meninice e juventude era notória até uma atitude de revolta.
Com o tempo, e sobretudo depois de na primeira cadeira autárquica se sentar um gafanhão, gestos de descontentamento e revolta começaram a atenuar-se. Hoje, em plena democracia, as relações tornaram-se cordiais, pese embora os naturais pontos de vista divergentes dos vários partidos políticos existentes.
Sabe-se que a Câmara de Ílhavo, desde a criação da freguesia da Gafanha da Nazaré e mesmo antes disso, mostrou um desprezo incompreensível pelas Gafanhas e pelos gafanhões. Nas sessões camarárias, pouco ou nada se falava deles. Apenas entravam nas agendas Ílhavo e Costa Nova. Tudo o mais era relegado para as calendas gregas.
Em 1936, o ponto de ruptura atingiu nível elevado. A energia eléctrica passou por cima da Gafanha da Nazaré para a Costa Nova e Barra, porque o Farol necessitava dela, e os gafanhões foram ignorados. Não havia dinheiro para eles nem para as indústrias e comércio locais.
A revolta deu origem à Cooperativa Eléctrica, para nos dar luz e energia. E só em 1939 foi possível aos gafanhões olharem-se cara a cara à noite.
Por essa e outras razões, o “Diário de Lisboa” foi alertado para as injustiças de que se queixavam os nossos avós. E em 14 de Agosto de 1947 inicia a publicação de uma reportagem, desdobrada em quatro publicações, com início na primeira página e continuação nas centrais, intitulada “A Ria de Aveiro e a sua Gente”, da responsabilidade de um «enviado especial». Começa assim:

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Festa do Trabalho na Seca Nova - 1957


No Timoneiro de março de 1957, encontrei esta pequena notícia alusiva à Festa do Trabalho que se realizou na EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), também conhecida por Seca Nova ou Seca do Egas,  promovida pela JOCF (Juventude Operária Católica Feminina), no dia 10 de fevereiro do mesmo ano. 

Aos homens do mar

  Aos homens da nossa terra, que do mar fizeram a sua vida. Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré 1996 «Ó mar salgado, quanto do teu sal s...