segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Emigração



As causas das migrações são diversíssimas. Desde a fome à guerra, desde a falta de trabalho ao risco da aventura, desde as perseguições políticas aos desafios de familiares e amigos, desde o desejo de cortar com um passado de tristezas e misérias ao sonho de construir um futuro mais risonho para si e para os seus. Tudo serve para justificar ou para optar pela emigração.
Olhando para o século de vida da Gafanha da Nazaré, como freguesia, recordo, por conhecimento director desde a década de quarenta do século passado, altura em que comecei a reter na memória vivências mais consistentes, muitos casos de emigração, uns bem sucedidos e outros nem por isso.
A emigração foi uma realidade em todo país, com fortes implicações na região de Aveiro. E mesmo sem me fixar nos dados estatísticos amplamente estudados, não necessariamente importantes no contexto deste trabalho, importa frisar que os gafanhões também embarcaram no movimento migratório, quer por motivos económicos, que pelo sonho de chegar mais alto.
Familiares meus rumaram aos EUA no princípio do século XX, o mesmo tendo acontecido com vizinhos. E de muitos ouvi falar que lhes seguiram as pisadas. Depois foi o Brasil, Argentina, Venezuela. Mais tarde “emigraram” para Angola e Moçambique. Ainda o Canadá e depois, com grande impacto na região, a França, Luxemburgo e Alemanha, onde presentemente muitos labutam.

sábado, 20 de novembro de 2010

Para a história do Grupo Desportivo da Gafanha


Vamos hoje falar de coisas diferentes, porque o passado da nossa terra também interessa e no fundamental,  falando do GDG de que foste o pai  e que ajudei no parto

Como te deves lembrar, o GDG renasceu numa pequena sala que havia na Igreja, numa reunião a pedido do falecido Padre Domingos. Estiveram presentes o Zé Henrique, Nelson Mónica,  Carlos Sarabando,  João Pata e eu. Claro que aí apareceu o trabalho do Professor Fernando,como autor dos Estatutos do GDG e que nós aproveitámos.
Renasceu o Clube e,  contra ventos e marés,  e graças à vontade de muitos gafanhões, continua vivo e cada vez com mais força.Não só pelas vitórias que vai tendo, mas fundamentalmente pela extraordinária força das suas camadas jovens e no extraordinário número de atletas que fazem parte deste grande colectivo. Mas hoje só  queria contar a história mais extraordinária, a que assisti durante os vários anos que por lá passei.
Como te lembras,  eram muitos os rapazes de S. Jacinto que faziam parte das nossas equipas de Futebol Juvenil.
Um certo domingo, íamos nós jogar para os lados de Anadia. Chego ao Forte da Barra, estava um temporal tremendo. As ondas da nossa Ria galgavam a muralha que ladeava a estrada para o Forte da Barra.
Chego ao Forte e lancha que vinha de S. Jacinto nem ela nem eu. Devido ao tremendo temporal, a lancha tinha ficado retida em S. Jacinto. Estamos feitos,  disse eu para o Manel Leitão, que na altura fazia a manutenção do campo e dos equipamentos. Chovia torrencialmente.
Mandei colocar os equipamentos na camioneta e disse para o Leitão: Quem não tem cão caça com gato.Jogamos com o que houver. Mas, por casualidade,  olhei para o fundo da estrada de saibro que passava ao Campo dos Cavalos e vi lá ao fundo um vulto que corria e esbracejava. Se calhar quer boleia, pensei eu. Mas, conforme o vulto se ia aproximando,verifiquei que se tratava de um dos jogadores da equipa, natural de S. Jacinto.
Claro que fiquei extraordinariamente emocionado, embora não deixasse de lhe passar um grande raspanete. Tratava-se do NENO, que tinha pegado num bote e que, a remos,  tinha atravessado a RIA para cumprir as suas responsabilidades.
Uma atitude que jamais esqueci e que levou a Federação Portuguesa de Futebol a condecorá-lo. Os grandes homens fazem-se de atitudes como esta .
O NENO emigrou para os Estados Unidos e voltei a vê-lo na Murtosa alguns anos passados. São exemplos de deviam servir a quem serve o Gafanha.
Coisas boas de quem serviu o Gafanha e que ficaram na minha memória.

Um abraço,

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Os Lugares da Gafanha da Nazaré

Lugar do Forte
Chave, Cale da Vila, Cambeia, Bebedouro,
 Marinha Velha, Forte e Barra

 

À medida que a comunidade ia crescendo, sob o ponto de vista demográfico, comercial e industrial, a população necessitou de identificar, por razões óbvias, os lugares em que habitava. Nos registos de baptizados, casamentos e óbitos, entre outros, surgia sempre a nota de que morava ou era natural da Gafanha. Posteriormente, muito próximo do século XX, aparecem os lugares: Cale da Vila, Chave, Cambeia, Bebedouro, Marinha Velha, Remelha, Forte e Farol.
Se alguns lugares não suscitam dúvidas quanto à designação adoptada, como é o caso de Forte e Farol, outros levam-nos a conjecturar sobre a sua origem.

Cale da Vila, que em princípio até se chamava Gafanha da Cale da Vila, terá tido a sua origem em Cale, que significava canal ou rua, que nos conduzia à Vila. De Aveiro? Penso que não, porque Aveiro era cidade há muito. De Ílhavo? Parece-me mais lógico.
Chave terá uma explicação mais lendária. Uns dizem que o povoado deste lugar configurava uma chave. De facto, e segundo os dicionários, chave pode ser um «cotovelo ou recanto que um terreno faz para algum dos lados».
Outros vêm com uma lenda, ligada aos barqueiros que, de vários pontos das Gafanhas, vinham à missa e às festas em honra da padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, e a outras. Numa dessas festas, um deles terá perdido a chave da proa da bateira, onde guardara os seus haveres.
A procura da chave no arraial passou de boca em boca, com toda a gente a tentar ajudar o homem, não sabemos se com êxito ou sem ele. Outros ainda alvitram a hipótese de aquele lugar ter sido a chave, núcleo central, de todas as Gafanhas. Realmente, o povoamento começou naquela zona. Verosímil? Inverosímil? Seja como for, o lugar da Chave foi berço da nossa terra. Ali se construíram as duas primeiras capelas, a última das quais foi a primeira matriz, aquando da criação da paróquia.
Cambeia terá derivado de cambaia, desmoronamento dos muros da marinha, deixando passar a água? Virá dos arcos ou arcadas que suportavam a passagem de ligação ao Forte? Por baixo passava a água dos esteiros. Ainda existem alguns desses arcos a que se chamava e chama Cambeia.
Bebedouro é nome de sítio onde os animais podem beber água. Terá sido, também, onde as pessoas bebiam o precioso líquido, quando de passagem se dirigiam para as praias, onde gadanhavam ou gafenhavam o junco, quer para as camas dos animais, quer para juncar o chão das modestas habitações. No meu tempo de menino entrei em muitas cozinhas (a segunda da casa ou a do forno), pisando junco.
Marinha Velha ficou como símbolo de uma marinha de sal que ali existiu, precisamente com o mesmo nome.
Remelha  ou Romelha, como tantas vezes li e ouvi, confesso que ainda não descobri a sua origem… Conjecturar? Penso que não vale a pena. O povo assim baptizou aquele lugar e há que respeitar a tradição.
Com o desenvolvimento dos povoados que constituíram a Gafanha da Nazaré, a indicação dos lugares como locais de habitação passou a ser informação insuficiente.
Quando os carteiros, vindos de Aveiro, em meados do século XX, distribuíam e recebiam a correspondência, não o faziam de porta em porta.
Em conversa com o senhor Marcos Cirino (falecido neste ano do centenário), com boa memória para recordar a vida dos nossos antepassados, esclareceu-me sobre isso:
«Há muitos anos, havia um carteiro, o senhor Reis, que, vindo de Aveiro, deixava a correspondência em estabelecimentos estratégicos, nomeadamente, de Alberto Martins [Cale da Vila], Manuel Cravo [Chave], Caçoilo da Rocha [Bebedouro] e Joaninha Bola [Cambeia]. Seguia para o Forte, Farol e Costa Nova. No Forte, uma senhora, Rita de seu nome, esperava o correio para o levar para S. Jacinto.»
As pessoas, como é natural, tinham de procurar as cartas nesses locais. E ali entregavam a correspondência para seguir o seu destino. Quando a correspondência atingiu um número significativo, houve necessidade de baptizar as ruas, para facilitar a distribuição. Mestre Rocha, como presidente da Junta, avançou com uma proposta de certo modo inédita, para as identificar. As letras do alfabeto passaram a ser nomes de ruas. Mas tal solução, tão incaracterística, não resultou. Esclareceu Marcos Cirino. «Não havia letras para tantas ruas.»
Posta a questão à Câmara Municipal de Ílhavo, esta aceitou a ideia de atribuir nomes de pessoas às nossas ruas, sendo presidente da Junta o comerciante Albino Miranda.
Uma comissão, constituída pelo Capitão Ferreira da Silva, Dr. Maximiano Ribau, Baltasar Vilarinho, João Ribau, Marcos Cirino e outros, numa noite, escolheu 60 nomes para toda a freguesia, da qual faziam parte, como ainda fazem, o Forte e Barra.

Fernando Martins

"Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

As Senhoras Mestras da Catequese

Igreja Antiga



A Minha Mestra Joana Rosa Bola

A minha Mestra, senhora Joana Rosa Bola, recebia-nos numa sala onde ficávamos sentados no chão, em círculo. Ela, se bem recordo, estava sentada numa manta de tiras. Extremamente bondosa, tinha uma paciência de santa e um sorriso encantador.
Solteira, vivia um pouco da agricultura, mas também era tecedeira, onde fazia passadeiras e mantas de tiras a quem lhas encomendava. As pessoas, sobretudo mulheres e raparigas casadoiras, levavam-lhe as tiras feitas de roupa velha. Escuras para as passadeiras e brancas para as mantas. Faziam-nas ao serão ou em dias de muito frio e chuva, que impediam os trabalhos agrícolas. Num desses serões, a que assisti, um namorado cortava as tiras, enquanto a menina as ia ligando, antes de fazer os rolos.
A senhora Mestra dedicava muito do seu tempo ao ensino da catequese, assumindo essa tarefa como missão. Recordo com saudade a maneira como ela nos olhava e a devoção com que nos iniciava nos caminhos da fé e da devoção a Jesus Sacramentado e a Nossa Senhora.
Era um ensino fortemente voltado para a repetição das orações fundamentais e para os conhecimentos básicos, em especial, o Pai-Nosso, Ave-Maria, Salve-Rainha, Confissão, entre outras. Não ficavam de fora os Mandamentos da Lei Deus e os Mandamentos da Santa Madre Igreja, os Pecados Veniais e Mortais, os Sacramentos, etc.
A senhora Mestra era-o para toda a vida. Quando me cruzava com ela, tinha sempre uma atenção para com esta mulher, boa por condição e generosa por natureza. E ela jamais deixava de nos sorrir e de nos perguntar pormenores da nossa vida, alegrando-se com o que ouvia de bom. Esse meu comportamento era estimulado por minha mãe. Decerto acontecia com os meus colegas e amigos, meninos e meninas, já que na catequese não havia discriminação de sexos como, aliás, acontecia na escola primária, em que havia salas para rapazes e salas para raparigas. 

Fernando Martins


Aos homens do mar

  Aos homens da nossa terra, que do mar fizeram a sua vida. Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré 1996 «Ó mar salgado, quanto do teu sal s...