Confesso que não recordo nada de especial das passagens de ano da minha infância e juventude. A vida de há 60 anos nada tinha a ver com o consumismo dos tempos atuais. Havia pouco dinheiro no bolso do comum dos mortais e mesmo os mais abastados eram poupados. Talvez por serem, normalmente, de origem humilde. De modo que as festas que implicassem gastos um pouco mais elevados não gozavam da sua preferência. Recordo que a chamada ceia do Natal, essa sim, era sentida pelas famílias como algo de especial, não faltando, por isso, o bacalhau com todos e os tradicionais bilharacos e rabanadas, de mistura com nozes, figos passados e um ou outro doce fora do usual. A ceia tinha sempre como condimento obrigatório e esperado a conversa sobre as prendas do Menino Jesus, nanja do Pai Natal, figura que não encaixava nas famílias católicas, que eram, nas Gafanhas, a maioria, quando surgiu, muito depois, por interesses comerciais, como é sabido. Lembro que a revelação do segredo, de que o Menino
Dos horizontes da memória, rumo ao futuro, com terras, ria, mar e gentes