O contador não é automático
A CEGN (Cooperativa Elétrica da Gafanha da Nazaré) teve vida longa, com a grande maioria dos proprietários ou arrendatários de habitações como cooperantes, razão fundamental para ter energia elétrica em casa. A contagem da luz era mensal, feita pelo cobrador do consumo referente ao mês anterior.
Sem qualquer anúncio, em época de alguma folga económico-financeira da cooperativa, era perdoado um mês aos cooperantes. As reparações e ligações, esta mediante o pagamento do valor de uma acção, ficavam a cargo de uma equipa técnica, que mantinha a assistência 24 horas por dia. No Inverno, sobretudo, era frequente falhar a corrente, mas no mesmo dia, por norma, era reparada a avaria.
Um dia, o cobrador António Próspero dirigiu-se à casa de um lavrador já idoso, que protestou contra o facto de estar sem luz há um mês.
— Todos os dias, à noitinha, ligo o interruptor e nada — disse ele.
— E comunicou isso à cooperativa?
— Eu não; estava à espera que o senhor por cá aparecesse.
Quando a equipa técnica lá foi para ver o que se passava, verificou que estava tudo em ordem, apenas o contador estava desligado.
— Ó senhor, aqui não há avaria nenhuma. O senhor mexeu no contador?
— Mexi, mexi, há um mês, quando houve uma trovoada muito forte!
— Pois é; devia tê-lo ligado, porque isto não é automático.