sábado, 19 de novembro de 2016

O Gafanhão e a Areia

Uma homenagem a todos os gafanhões
Texto de Joaquim Matias  
 "Arquivo do Distrito de Aveiro", 
n.º 36, 1943










sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A Gafanha e a sua água taumaturga

Se fosse hoje, D. João gostaria desta água serena

«À Gafanha, a Verdemilho, a São Bernardo e à Presa eram os passeios que eu mais preferia nas minhas férias de professor de Coimbra.
Quem me levava sobretudo à Gafanha era a água que, taumaturga por excelência, com o seu contacto, com o seu murmúrio, com as suas frescas exalações, me aquietavam brandamente os nervos, mais ou menos fora do ritmo pela continuidade das excitações académicas; e para tal ela não precisava mais do que duma sessão: à primeira vez era logo.»

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Gafanha da Nazaré — Décima década

2000 – 2009


Jardim Oudinot
Santo André no Canal de Mira, no Oudinot

Entrámos na décima década de vida da freguesia e paróquia com a certeza de que o centenário teria de ser um acontecimento para ficar na memória do nosso povo. Cem anos não se celebram todos os dias e se olharmos para trás, para apreciar os caminhos andados, temos de reconhecer e admirar a luta constante e tenaz que foi necessária para alcançar o progresso, em vários setores, do material ao espiritual, numa perspetiva de contribuir de forma significativa para o bem-estar de todos os gafanhões, sejam eles de origem ou por opção pessoal.
Fixando os nossos olhares na idosa senhora que é a Gafanha da Nazaré, vemos, com ternura, quanto ela quer e tem rejuvenescido nas últimas décadas, com os pés bem assentes no trabalho exemplar que nos foi legado pelos nossos avós. 
Durante o Jubileu do ano 2000 há referências à construção da Tenda de Jacob, espaço de convívio e reflexão, na zona da Colónia Agrícola, e em novembro de 2007 são dadas por concluídas as obras em todo o recinto, agora denominado Centro de Recursos Mãe do Redentor.
Para preservar a memória dos seus princípios como freguesia e paróquia, foi inaugurada a Casa Gafanhoa, símbolo do viver de um agricultor rico, que merece novas estruturas de apoio, para dinamizar a divulgação do nosso artesanato e de sinais escritos e outros do nosso passado.
Sentimos, nesta década, que seria importante preparar-lhe uma boda festiva e condigna. Foi elevada à categoria de cidade, o bicentenário da abertura da Barra de Aveiro foi celebrado com pompa e circunstância e o Jardim Oudinot, ampliado e com adaptações aos novos ares, foi oferecido à nossa terra e arredores, como era de justiça, tornando-se numa sala de visitas da região, em especial, e do concelho de Ílhavo, em particular.
O velho e glorioso Santo André, um arrastão que chegou a ser campeão na pesca do bacalhau, foi salvo da sucata e transformado, com muita dignidade, em navio-museu, integrado no Museu Marítimo de Ílhavo, este último de projecção mundial.
A igreja matriz, dedicada a Nossa Senhora da Nazaré, foi profundamente melhorada, com bom gosto, apresentando-se agora muito mais funcional e disposta a acolher novas propostas pastorais para um futuro mais de acordo com a Boa Nova, com projetos de um futuro espiritual mais dinâmico e interventivo.
Em 8 de dezembro de 2006, D. António Francisco dos Santos, até então Bispo Auxiliar de Braga, foi nomeado pelo Santo Padre para Bispo de Aveiro.
Com a saída do Prior Fidalgo, assume o cargo de Administrador Paroquial o Padre Paulo Cruz, pároco da Costa Nova e da Praia da Barra, que contou com a colaboração no serviço paroquial do Padre Luís Filipe. Não foi, nem podia ser, um período de grandes alterações no quotidiano da paróquia, salvo uma ligação mais próximo que ambos conseguiram imprimir nos contactos com o povo. 
Entrou também na paróquia um novo Prior. É ele o Padre Francisco Melo, jovem e dinâmico sacerdote, que aposta em implementar uma pastoral de serviço a todos os gafanhões e a quantos optaram por residir nesta terra, com nova organização e com redobrada atenção à pastoral social. Paralelamente, é nomeado Prior da Gafanha da Encarnação, ao mesmo tempo que é responsável pela Vigararia da Pastoral Geral da Diocese de Aveiro.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Linguajar dos gafanhões

Para sorrir...

Em tempos que já lá vão, apresentaram-se duas comadres para baptizar uma criança, juntamente com a mãe, da mesma. O abade inquiriu: Então como se vai chamar a criança?
A 1.ª comadre respondeu: — Botelhana, Sr Prior! Botelhana!
A 2.ª comadre retorquiu: — Prantelhana, Sr Prior, Prantelhana!
Por fim, a mãe da criança também se pronunciou e anuiu: — Eu Cudcana.
Depois de ter ouvido as três versões, o padre ficou confuso e levou algum tempo até descobrir. Afinal, isto traduzia a maneira de falar das gentes da Gafanha, nos princípios do século passado e todas queriam dizer o mesmo.
Já naquela altura, como sempre, se aplicava à linguagem oral, a lei do menor esforço, pelo que, o povo despende a menor energia possível, para pronunciar as palavras (acto de fonação). Assim, o que as comadres queriam, realmente, dizer era o seguinte:
1.ª Comadre: — Bote-lhe Ana, Sr Prior! (botar – pôr, colocar)
2.ª Comadre — Prante-lhe Ana, Sr prior! (prantar – pôr, colocar)
Mãe — Eu cuido que Ana, Sr Prior! (cuidar – pensar, achar)
M.ª Donzília Almeida

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O gafanhão visto por Frederico de Moura

Frederico de Moura
Frederico de Moura, que foi médico em Vagos, escritor, político e homem da cultura, conhecedor profundo da alma e da determinação da nossa gente, em frases realistas, quais pedras preciosas buriladas, diz assim dos gafanhões:

«O gafanhão — ou o avô do gafanhão — quando se foi às lombas para as cultivar sabia que ia investir contra vidro moído totalmente carenciado de matéria orgânica que desse qualquer quentura ao berço de uma planta. Ele bem via a mica a faiscar-lhe no lombo e bem sentia o vento a transmutar-lhe, de momento a momento, o versátil.»

«Não se foi a ela com a esperança do filho que se achega ao colo maternal e ao seio opíparo que destila o leite da humana ternura. Nada disso! Ao invés, investiu com ela como enteado que não espera da madrasta a carícia rica de promessas, nem a generosidade que dá o pão milagroso…»

«Quem surriba chão de areia não encontra onde enterrar raízes de esperança e quem irriga duna virgem sabe que mija numa peneira! Quem lança a semente num ventre que é maninho não pode ter esperanças de fecundação. E, por isso, o gafanhão, antes de cultivar a lomba, teve de corrigir-lhe a esterilidade servindo-se da Ria que lhe passa à ilharga, procurando nela a nata com que amamentou a semente que deixou cair, amorosamente, naquele chão danado. E humanizou a duna.»

«… Homens da terra a pentear o leito da laguna para fertilizar as dunas — vidro moído ainda há poucos anos estéril, ainda há poucos anos maninha — terra que parecia gafada, a terra da Gafanha! Foi o moliço ou foi o suor humano que fecundou as areias picotadas de mica espelhante? Foi o lodo, a Ria ou a fadiga dos homens que realizou o milagre que, agora, reverdece sobre o nosso olhar, nos batatais viçosos (“negros de verde”, dizem os gafanhões) e nos feijoais delicados como placas de Jardim?»

 Em "Aveiro e o seu Distrito"

Aos homens do mar

  Aos homens da nossa terra, que do mar fizeram a sua vida. Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré 1996 «Ó mar salgado, quanto do teu sal s...