quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um ilhavense um pouco esquecido: Padre Grilo

Padre Grilo com crianças por si recolhidas

Maria da Luz e Rosa Bela deslocaram-se um dia a Braga, onde foram levar dois frades franciscanos (Frei Domingos de Gondifelos e Frei Pedro), que tinham estado a pregar na Gafanha da Nazaré durante uma semana, denominada Santa Missão. Fizeram esta viagem também com a preocupação de visitar uma casa de recuperação, em Braga, que acolhia mulheres com vista à sua reintegração social. O ambiente encontrado foi deprimente para as fundadoras. As muitas mulheres internadas, ao jeito de reclusão, apresentavam-se uniformizadas, com mudança de nome, vivendo entre muros, numa casa que nada tinha de lar familiar. Como não estava presente a superiora, nada puderam decidir sobre o internamento das raparigas, que viviam com Maria da Luz Rocha. Quando deixaram essa instituição vinham desoladas, o que as levou a procurar o padre Grilo, em Matosinhos, que estava doente na altura. Durante esse primeiro encontro, o Padre Grilo falou-lhes de uma Dona Sílvia Cardoso que estava ligada a obras de raparigas mal amadas, nos arredores de Lisboa.
Numa segunda visita ao Padre Grilo, Maria da Luz e Rosa Bela expuseram-lhe os trabalhos desenvolvidos, ainda na procura de soluções em instituições, algures no País. Falaram da necessidade que sentiam em dar um nome ao eventual Lar, para justificar um donativo de cinco mil escudos, atribuído pelo Governador Civil, para sustento das raparigas que já habitavam na casa velha do avô de Maria da Luz.
Durante a conversa, o Padre Grilo, ao ouvir a história do que já tinham feito, disse: “Eu estou aqui a ver o dedo de Deus; não podeis pôr outro nome, senão Lar da Divina Providência.” E assim aconteceu.
Posteriormente, as fundadoras entenderam que a palavra Lar limitava os seus projectos e resolveram substituir Lar por Obra, mais abrangente e com capacidade para abrir casas pelo País. Obra da Providência foi, então, o nome que perdurou até hoje.

NOTA — O Padre Manuel Francisco Grilo nasceu em Ílhavo em 14 de Maio de 1888, filho de mãe padeira e de pai marítimo. Estudou no Seminário de Coimbra, diocese onde foi ordenado em 1910, com 22 anos. Também frequentou Agronomia e Medicina. Pelas suas ideias inovadoras a vários níveis, que costumava aplicar na ajuda aos mais desfavorecidos, incompatibilizou-se com as «altas esferas» civis, o que o levou a ser julgado, condenado e expulso do Distrito de Aveiro, em 1913. Foi então viver para Leça da Palmeira, em casa de família, e em 1928 fundou a Conferência de S. Vicente de Paulo, de onde brotou a Sopa dos Pobres, que chegou a alimentar e a vestir 680 pessoas da classe piscatória. Cria, entretanto, um refúgio para crianças abandonadas, as Escolas Católicas e o Secretariado do Desemprego. Mais tarde, funda a Obra Regeneradora dos Rapazes da Rua, em 1942. Morre em 1 de Novembro de 1968.

Fonte: Artigo de Marina Sequeira, publicado no jornal A Voz de Leça, em Janeiro de 2006.

Do livro em preparação “Obra da Providência”

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Recordando o Padre VIdal

Padre Vidal

O primeiro assistente religioso
da Obra da Providência


Em data imprecisa, de 1955, Maria da Luz Rocha dirige-se à livraria da Casa Católica, em Aveiro, na Rua José Estêvão, à procura de livros de formação para as raparigas que estavam a ser ajudadas, tal era a sua preocupação com a vida delas, apoiada em esclarecimentos com consistência cristã. Encontra ali um sacerdote, a quem pede conselho sobre os livros a comprar, tendo, na altura, esclarecido a natureza das futuras leitoras. Era o padre António Henriques Vidal, ao tempo e durante décadas assistente religioso da Obra de Santa Zita, uma instituição vocacionada para o acolhimento e ajuda a raparigas que, vindo do interior do país, procuravam trabalho na cidade.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O exame da terceira classe

Escola da Ti Zefa, onde fiz o exame da 3.ª classe

Quando encontrei o meu amigo João [nome fictício], na avenida principal da cidade, nem sequer soube, de repente, como era o seu nome. Emigrante há décadas, só de tempos a tempos vinha à terra, sempre no mês de Agosto, mês em que eu habitualmente saía para gozar, longe da rotina, uns dias de lazer. Esta coincidência de desencontros a fio fez de nós uns simples desconhecidos.
Saí de casa logo de manhã cedo com vontade de caminhar ao deus-dará, usufruindo de um sol que tardava em aparecer para nos aquecer. Ruas cheias de gente que deambulava a caminho da igreja matriz, para a missa dominical, ou em busca de um lugar num café do centro da cidade para saborear a “bica” e ler o jornal. Das pastelarias e padarias saíam pessoas apressadas com saquinhos de pão fumegante que apetecia comer, logo ali, barrado com manteiga. Carros passavam decerto com destinos marcados e no quiosque eu esperava ansioso o diário que todos os dias costumo ler, na convicção de que iria ter acesso a alguma novidade, daqueles que nos prendem a atenção e nos deixam a pensar.
Da berma da rua, uma voz, forte e alegre, chama por mim, feliz pelo encontro. Olho e vejo um rosto conhecido de há muito tempo. Do tempo da escola primária, da Escola da Ti Zefa, onde o professor Ribau nos ensinou as primeiras letras e nos encaminhou na vida.

Aos homens do mar

  Aos homens da nossa terra, que do mar fizeram a sua vida. Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré 1996 «Ó mar salgado, quanto do teu sal s...