quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Crianças austríacas refugiadas de guerra na Gafanha da Nazaré


Uma estória

Só me dão sopa

Meninos e meninas das minhas idades, deles guardo a sensação de que a maioria conseguiu adaptar-se ao nosso estilo de vida. Outros, nem por isso.
Quando as famílias que os receberam se situavam a um nível social médio, com filhos ou familiares das mesmas idades, era notória a alegria das crianças: brincavam, riam e folgavam com naturalidade; outras, em famílias sem filhos e sem crianças por perto, mostravam-se naturalmente mais reservadas. Procuravam, quando podiam, as suas compatriotas para conversarem e conviverem. Nenhuma, que me lembre, falava português, mas iam-se adaptando e descobrindo as nossas palavras e expressões.
Algumas começaram a encontrar-se em casas de famílias com melhores condições de acolhimento e então era agradável ver a satisfação com que passavam o dia. Ali comiam e se divertiam.
Depois começaram a querer ficar mais tempo até que um dia assisti a uma cena triste. A criança recusava-se a regressar à família de acolhimento. Entre choros e lágrimas, agarrada à senhora que havia acolhido uma sua amiga, justificava a sua recusa dizendo, repetidamente: «só me dão sopa... só me dão sopa!»

Do livro "Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"




Uns dias de férias, fora dos ambientes habituais, fazem sempre bem à mente e ao corpo. Longe dos meus livros e arquivos, mas também à volta com o iPad2, uma nova forma de lidar com o mundo virtual, não pude conviver com os meus leitores e amigos, como era meu gosto. Retomo hoje, na certeza de que continuarei atento ao mundo que me cerca, de raio sem limite.

Fernando Martins

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Agosto da minha meninice



Ponte da Cambeia



Quando hoje contemplo a azáfama do mês de agosto, não posso deixar de retroceder até aos tempos da minha meninice, com muito menos praia, sobretudo para as classes mais humildes. Havia na maioria das famílias trabalhos agrícolas e os pais tinham que se envolver em diversas tarefas para sustentar as suas gentes. 
As férias eram mais voltadas para a ria, onde os filhos chapinhavam nas águas serenas da laguna, ao mesmo tempo que apanhavam cricos, mexilhão, burriés, navalhas, caranguejos e tudo o mais que viesse à rede. Para consumo próprio e, eventualmente, para vizinhos e familiares. Nessa altura, ainda se viam por aqui pessoas dos lados de Mira e Vagos, que apanhavam sobretudo cricos, que depois transportavam em burros, provavelmente para vender. 
Aos domingos, muito raramente, lá se ia até à Praia da Barra, para molhar os pés e pouco mais. Contudo, recordo famílias que tinham o hábito de ir à beira-mar, principalmente as mais ilustradas e com mais posses, ligadas às indústrias e ao comércio. Os de Ílhavo frequentavam a Costa Nova, como é sabido, mantendo-se, presentemente, essa tradição e gosto.
A malta miúda costumava dar os primeiros passos na natação no esteiro pequeno; o esteiro grande, que ladeava o Jardim Oudinot com fruta apetecível, era só para quem sabia nadar e com força para o atravessar. Recordo que os miúdos nadavam nus e sem preconceitos, quais naturistas puros e sem mácula; as miúdas, essas atiravam-se ao esteiro de vestido fino, porque era verão. E quando saíam da água, davam um certo espetáculo, como se pode facilmente imaginar. 

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A Rua da Saudade convoca-nos para a lembrança dos nossos entes queridos





A Rua da Saudade ladeia o cemitério da Gafanha da Nazaré. Como o próprio nome indica, convoca-nos para a lembrança dos nossos entes queridos, amigos e conhecidos, com quem nos cruzámos nos caminhos da vida. Agora só nos vêm à memória com recordações que nos fazem reviver tempos agradáveis e às vezes menos agradáveis.
Quando entramos no cemitério, é certo e sabido que, de uma ponta à outra, recordamos tantos rostos, tantas histórias, tantas vivências, mas também algumas ausências junto de familiares e amigos a quem nem sempre demos a devida atenção. A Rua da Saudade serve ainda para nos sugerir, a nós, crentes, uma oração dirigida ao Senhor de todos os dons, para que cuide dos que ali repousam, acolhendo-os no seu seio misericordioso.
O Cemitério Paroquial, como foi designado na altura da sua construção, foi benzido no dia 25 de julho de 1921. E com a sua inauguração, os falecidos na Gafanha da Nazaré deixaram de ser sepultados no cemitério de Ílhavo, acabando o sacrifício que isso representava, tanto na altura dos óbitos como nos dias de Todos os Santos e Fiéis Defuntos.
Sem acessos fáceis, os funerais tornavam-se um trabalho penoso e demorado. A pé até Ílhavo, as populações reclamavam um cemitério na freguesia, o que só veio a acontecer naquele ano. Avançando com um pouco de história, lembramos que o nosso cemitério foi sucessivamente acrescentado em 28 de dezembro de 1933 e em abril de 1939. Em 16 de julho de 1938 a Câmara pagou 1150 escudos pela planta do cemitério da Gafanha da Nazaré, certamente para legalizar as diversas alterações entretanto feitas.
Sublinha o livro “Gafanha – Nossa Senhora da Nazaré” que em 21 de novembro de 1926 a Junta de Freguesia “deliberou oferecer o terreno para a sepultura do Prior Sardo» e que em 19 de dezembro do mesmo ano foi reconhecido «que o Cemitério está todo tomado e que era urgente tomar as devidas providências para adquirir uma parcela de terreno para a sua ampliação», o que veio a acontecer em março de 1927». Em 27 de Janeiro daquele ano foi decidido abrir a estrada do cemitério.
A Capela das Almas começou a ser construída em outubro do mesmo ano. Foi dada por concluída em 30 de dezembro de 1933. As obras de ampliação e de melhoramentos continuaram através dos tempos até aos nossos dias, sendo de sublinhar que, por força do desenvolvimento demográfico da freguesia, essas obras se tornaram frequentes, desde a inauguração do cemitério até hoje.
Nos últimos tempos, registaram-se significativos melhoramentos: novos talhões bem alinhados, Jazigo dos Priores da Gafanha da Nazaré, e Capela Mortuária (junto à igreja matriz), construída pela Câmara Municipal de Ílhavo, presentemente sob administração da Junta de Freguesia.

 Fernando Martins

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Portas d'Água



Portas d'Água

Para memória futura, aqui fica uma expressiva foto das famosas Portas d'Água, Cambeia, Gafanha da Nazaré, que nos ligavam ao Forte da Barra e depois à Barra e Costa Nova. Hoje está lá um bocadinho, que nos remete para tempos da nossa meninice e juventude.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A nossa região na Ilustração Portuguesa

Rasgando Leivas na Ilustração Portuguesa, 1910, 14 de Março, n.º 212. Escrito por António Maria Lopes, de Ílhavo, em 2-3-1910
Desafio: exercício de identificação, no todo ou em parte. Aceitam-se sugestões.

domingo, 7 de agosto de 2011

Posse dos Órgãos Sociais da ADIG: Discurso do presidente



DISCURSO DO ACTO DE POSSE DA DIRECÇÃO DA ADIG 

Começo por dar uma visão retrospectiva da vida na Gafanha da Nazaré. A nossa terra emergiu de um areal imenso, inóspito e desprezado, fustigado pela nortada inclemente que aqui temos com fartura. 
Em 1868 – altura em que por aqui já muita coisa havia mudado – Frederico de Moura, caracterizava assim o viver da nossa gente: 
– “Com enxadões desmedidos fazem surribas que vão ao centro da terra! Nasce-lhes água sob os pés descalços e encardidos. E, só depois, é que vem a tarefa de incorporar na terra remexida, até ao tutano, o moliço arrancado do fundo gordo dos canais. Algas e peixe podre para enterrar, lodo para impermeabilizar o fundo da regadeira e aí está a comedoria que serviu de mantença ao milagre das Gafanhas.” 
“Quem surriba chão de areia não encontra onde enterrar raízes de esperança (...)! Quem lança a semente num ventre que é maninho, não pode ter esperanças de fecundação. E, por isso, o gafanhão, antes de cultivar a lomba, teve de corrigir-lhe a esterilidade servindo-se da Ria, que lhe passa à ilharga, procurando nela a nata com que amamentou a semente que deixou cair, amorosamente, naquele chão danado. E humanizou a duna.” (Sic)

Cá estou de novo

Depois de um período de férias, longe do computador e dos meus blogues, cá estou de novo para prosseguir  na caminhada que me torna mais vivo e atuante. Neste blogue, a colaboração dos meus amigos e leitores será sempre uma mais-valia, para bem das nossas terras. Fotos, recordações, pedaços de história, estórias, tudo poderá servir para nos irmanar nesta vontade de criar laços de proximidade e partilha. Fico à espera.

Fernando Martins

Aos homens do mar

  Aos homens da nossa terra, que do mar fizeram a sua vida. Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré 1996 «Ó mar salgado, quanto do teu sal s...