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Agosto da minha meninice



Ponte da Cambeia



Quando hoje contemplo a azáfama do mês de agosto, não posso deixar de retroceder até aos tempos da minha meninice, com muito menos praia, sobretudo para as classes mais humildes. Havia na maioria das famílias trabalhos agrícolas e os pais tinham que se envolver em diversas tarefas para sustentar as suas gentes. 
As férias eram mais voltadas para a ria, onde os filhos chapinhavam nas águas serenas da laguna, ao mesmo tempo que apanhavam cricos, mexilhão, burriés, navalhas, caranguejos e tudo o mais que viesse à rede. Para consumo próprio e, eventualmente, para vizinhos e familiares. Nessa altura, ainda se viam por aqui pessoas dos lados de Mira e Vagos, que apanhavam sobretudo cricos, que depois transportavam em burros, provavelmente para vender. 
Aos domingos, muito raramente, lá se ia até à Praia da Barra, para molhar os pés e pouco mais. Contudo, recordo famílias que tinham o hábito de ir à beira-mar, principalmente as mais ilustradas e com mais posses, ligadas às indústrias e ao comércio. Os de Ílhavo frequentavam a Costa Nova, como é sabido, mantendo-se, presentemente, essa tradição e gosto.
A malta miúda costumava dar os primeiros passos na natação no esteiro pequeno; o esteiro grande, que ladeava o Jardim Oudinot com fruta apetecível, era só para quem sabia nadar e com força para o atravessar. Recordo que os miúdos nadavam nus e sem preconceitos, quais naturistas puros e sem mácula; as miúdas, essas atiravam-se ao esteiro de vestido fino, porque era verão. E quando saíam da água, davam um certo espetáculo, como se pode facilmente imaginar. 

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