MÃE, SIMPLESMENTE MÃE
Ângelo Ribau Teixeira
Ela era a mãe de um simples soldado. Vivia na sua terra, só,
pois o marido tinha falecido havia uns tempos. Era pescador numa traineira
da pesca da sardinha. Um dia, ao entrar na barra, a traineira bateu contra o
molhe e afundou-se, tendo falecido grande parte da tripulação. O intenso
nevoeiro que se fazia sentir, a falta de radar que, naquela altura, ainda não
estava instalado na embarcação, bem como o facto de a pesca ter sido muito boa, com sardinha da proa à ré, "pesada", como se dizia da gíria, terão contribuído para o desastre.
Recebi a notícia por um jornal que vinha a embrulhar uma
encomenda de um companheiro de guerras.
Conhecia a maior parte dos tripulantes, alguns meus colegas
de escola, outros desconhecidos e pessoas mais velhas, onde reconheci o pai do
tal soldado, que se encontrava no Leste de Angola. Perguntei à minha mulher como
tinha reagido aquela mãe, viúva e com o filho longe… sem mais ninguém…
— Mal, muito mal; Anda aí pela rua gritando, respondeu.
E acrescentou:
— O mar levou-me o marido; os “outros”, o meu filho. Malvados!
Era mais uma mãe. Simplesmente uma mãe só no mundo. Como
tantas naquele tempo.
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