Egas Salgueiro, o primeiro à direita, ao lado de Américo Tomás
Era uma honra trabalhar na Empresa de Pesca de Aveiro
A Rua Comendador Egas Salgueiro estendia-se desde a Rua Gil Vicente até à EPA – Empresa de Pesca de Aveiro. Com as obras da cintura portuária e da via-férrea de ligação ao Porto Comercial, ficou cerceada. Porém, foi uma rua com a sua história, já que dava acesso à mais importante, durante décadas, empresa de pesca do país.
Inicialmente, o acesso à EPA fazia-se por um caminho “cheio de entulho”, como nos confidenciou há dias o antigo presidente da Junta de Freguesia, Mário Cardoso. E nessa altura, porque aquela empresa merecia um acesso com o mínimo de dignidade, o empresário Egas Salgueiro avançou com uma comparticipação de 20 contos para que tal obra de realizasse. Isto passou-se em 1955.
Egas Salgueiro foi um notável empresário das pescas que muito contribuiu para o desenvolvimento da Gafanha da Nazaré e da região. A sua empresa era das mais conceituadas do país, sendo ele uma pessoa exigente e com capacidade para reconhecer o trabalho das pessoas. «Só se contentava com o melhor», afiançou-nos Mário Cardoso, que acrescentou: «Era uma honra trabalhar na EPA.»
Conheci pessoalmente o senhor Egas Salgueiro, ou não fosse ele o patrão do meu pai, durante grande parte da sua vida. Não se estranhe, portanto, que com ele falasse no seu gabinete, sobretudo quando procurava informações sobre o regresso do Santo André das pescas do bacalhau nos mares da Terra Nova e da Gronelândia.
Um dia fui à empresa, junto ao olho da cidade, em Aveiro, a pedido de minha mãe, para saber novidades do regresso do navio. Mandaram-me entrar para falar com o senhor Egas. Temeroso, lá entrei. Identifiquei-me e disse ao que ia. No meio da papelada, de pé, com o telefone sempre a tocar e que ele atendia com meias palavras, trocando impressões com os funcionários que entravam constantemente no gabinete, não deixava de me falar nos curtos intervalos. Eu ficava estupefacto com tanta vida de um homem fisicamente pequeno.
Depois outras visitas lhe fiz com o mesmo objectivo e sempre o «patrão» me recebeu, perguntando-me pela minha vida, enquanto me dava as informações que eu procurava.
O senhor Egas era, para a minha geração, uma figura respeitável e dum dinamismo enorme, mas com sensibilidade para ouvir os humildes, como era o meu caso. A Gafanha da Nazaré distinguiu-o com o nome duma rua. Foi justo, mas os gafanhões não podem esquecer este empresário, que deu trabalho a centenas de pessoas durante décadas.
Fernando Martins
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