segunda-feira, 18 de maio de 2009

Cantigas ao desafio na Gafanha da Nazaré

Na noite passada, lembrei-me da taberna do Ti Manuel Maria Bola e das desgarradas que lá ouviam. Era eu ainda menino!
Era lá que os passantes iam beber o seu copo e comer a sua bucha.
Os que vinham de burro - normalmente vender laranja de Mira - deixavam os burros amarrados às argolas existentes para o efeito, chumbadas na parede. Outros que vinham a negócio, serranos, por vezes traziam as suas violas, e então, depois dos copos, era ouvi-los a cantarem ao desafio.
Recordo-me que o meu avô nos explicava como era:
-Um, desafiante, lançava o "Mote" (Era um verso com quatro linhas). O desafiado respondia com um verso de dez linhas, a última das quais tinha que ser, por ordem, uma das linhas constantes do mote! E as cantigas seguiam-se com um dos cantadores a responder ao outro.
Fiz uma "cantiga" cuja letra serviria para os tempos actuais, e que anexo, para o vosso comentário.
Ângelo Ribau
Lembranças da Mocidade Quando eu era pequenino No tempo do meu avô Minha terra tinha coisa Que hoje já se acabou Havia uma guerra Havia pessoas que lutavam Que morriam Que tornavam heróis Os que venciam Os que morriam deixavam a terra Para eles acabava-se a guerra Os que ficavam lutavam Para poderem sobreviver na terra Quando eu era pequenino Na casa de meu avô Havia milho na caixa Que não nos deixava passar fome Havia horta no quintal Que não nos deixavam passar mal Havia uma vaca que dava leite Para a gente se alimentar Até se fartar Era assim No tempo do meu avô Tinha coisa boa Que hoje já não tem Tinha praias onde ia tomar banho Com autorização de minha mãe Tinha juncal Onde fazia ninho o pardal Tinha tanta coisa boa Que ao recordar Até pareço falar à toa Minha terra tinha coisa Agora me lembro. Foi em Setembro Tinha acabado a guerra. O meu avô chamou E indicou o céu mole Onde centenas de aviões passavam E encobriam o sol Estes são os vencedores. Diz Deixaram para traz milhões de mortos São os heróis da guerra Que hoje já se acabou

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