segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Seminário de Santa Joana Princesa - 1



«Muitas coisas, quando se fizer a história do seminário, 
se as quiserem saber, têm que ir à minha campa 
e perguntar por elas às minhas cinzas 
que ainda por lá estiverem.» 

Lima Vidal, 
CV de 14-02 de 1950, (DA) 

Com a restauração da Diocese de Aveiro, concretizada em 11 de Dezembro de 1938, pela aplicação da Bula Omnium Ecclesiarum, D. João Evangelista de Lima Vidal tinha em mente já o sonho da abertura de um Seminário Diocesano. Porque «Uma Diocese sem seminário é como se fora um corpo sem alma. Nem teria mesmo a aparência duma máquina que se move com a pouca corda que se lhe dá» (DA), disse o primeiro Bispo da Diocese reconstituída, numa altura em que desejava, quanto antes, passar do sonho à realidade.
E se era importante e até fundamental o seminário para a formação dos futuros padres, não deixaria de o ser menos um edifício próprio, com espírito novo.
Trabalhos complexos foram necessários, até poder abrir as suas portas aos candidatos ao sacerdócio.
Depois de passar por alguns edifícios, provisoriamente, porque a vontade de D. João era levantar um seminário de raiz, a construção do actual edifício do Seminário de Santa Joana Princesa avançou poucas semanas depois do concurso das fundações, que ocorreu em 23 de Março de 1945, sob a direcção da Comissão Comercial, da qual fazia parte um gafanhão, Benjamim Fidalgo, que aqui registo para memória futura. DA
Antes, porém, da construção do Seminário de Santa Joana Princesa, iniciaram-se obras noutra zona de Aveiro, que foram interrompidas, a favor do aproveitamento do barro ali existente, necessário à indústria cerâmica. E aqui surge um gafanhão, muito rico, o Dr. José Maria da Silva, ex-padre e depois professor de Liceus. Dispunha-se ele a construir, sozinho, o seminário. DA

Com as más-línguas a lamentarem gastos inglórios da diocese nas obras referidas, o bondoso Bispo de Aveiro, que o era, oficialmente, desde 1944, viu-se obrigado a esclarecer a situação, declarando que a Diocese não tinha envolvido nelas qualquer quantia. E explica:
«A Diocese de Aveiro não recebeu de ninguém para essa obra nem gastou nela, por sua conta, o mais pequenino dinheiro. Nos seus livros de contas, nem nas entradas nem nas saídas, figuram cinco réis que sejam das esmolas recolhidas para esse fim ou de gastos nalgum grão de areia: foi tudo iniciativa dum único, cujo nome não é licito, e que o fosse, não era necessário revelar.» DA
Em nota de rodapé, do livro DA de João Gonçalves Gaspar, sublinha-se que a pessoa não referenciada era, precisamente, o nosso conterrâneo José Maria da Silva, que faleceu no Porto a 23 de Abril de 1955. Este gafanhão, como reza a tradição, entre nós, terá contribuído, de forma significativa, para a construção do Seminário de Aveiro. Tê-lo-á feito, como era seu hábito, sem dar nas vistas, até porque a sua situação de padre sem funções ministeriais sugeria, naquela época, uma natural prudência pública.
Por este seminário de Santa Joana Princesa passaram, a partir da sua abertura, em 25 de Outubro de 1951, a maioria dos padres naturais da Gafanha da Nazaré ou que aqui viveram durante a sua formação.
O edifício, de traça muito original, é representativo da década de 50 do século passado, apresentando-se, ainda hoje, como obra arquitectónica de relevo, tanto na região de Aveiro como para além dela.

Fernando Martins
no livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

NOTA: DA — “Diocese de Aveiro”

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