quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um ilhavense um pouco esquecido: Padre Grilo

Padre Grilo com crianças por si recolhidas

Maria da Luz e Rosa Bela deslocaram-se um dia a Braga, onde foram levar dois frades franciscanos (Frei Domingos de Gondifelos e Frei Pedro), que tinham estado a pregar na Gafanha da Nazaré durante uma semana, denominada Santa Missão. Fizeram esta viagem também com a preocupação de visitar uma casa de recuperação, em Braga, que acolhia mulheres com vista à sua reintegração social. O ambiente encontrado foi deprimente para as fundadoras. As muitas mulheres internadas, ao jeito de reclusão, apresentavam-se uniformizadas, com mudança de nome, vivendo entre muros, numa casa que nada tinha de lar familiar. Como não estava presente a superiora, nada puderam decidir sobre o internamento das raparigas, que viviam com Maria da Luz Rocha. Quando deixaram essa instituição vinham desoladas, o que as levou a procurar o padre Grilo, em Matosinhos, que estava doente na altura. Durante esse primeiro encontro, o Padre Grilo falou-lhes de uma Dona Sílvia Cardoso que estava ligada a obras de raparigas mal amadas, nos arredores de Lisboa.
Numa segunda visita ao Padre Grilo, Maria da Luz e Rosa Bela expuseram-lhe os trabalhos desenvolvidos, ainda na procura de soluções em instituições, algures no País. Falaram da necessidade que sentiam em dar um nome ao eventual Lar, para justificar um donativo de cinco mil escudos, atribuído pelo Governador Civil, para sustento das raparigas que já habitavam na casa velha do avô de Maria da Luz.
Durante a conversa, o Padre Grilo, ao ouvir a história do que já tinham feito, disse: “Eu estou aqui a ver o dedo de Deus; não podeis pôr outro nome, senão Lar da Divina Providência.” E assim aconteceu.
Posteriormente, as fundadoras entenderam que a palavra Lar limitava os seus projectos e resolveram substituir Lar por Obra, mais abrangente e com capacidade para abrir casas pelo País. Obra da Providência foi, então, o nome que perdurou até hoje.

NOTA — O Padre Manuel Francisco Grilo nasceu em Ílhavo em 14 de Maio de 1888, filho de mãe padeira e de pai marítimo. Estudou no Seminário de Coimbra, diocese onde foi ordenado em 1910, com 22 anos. Também frequentou Agronomia e Medicina. Pelas suas ideias inovadoras a vários níveis, que costumava aplicar na ajuda aos mais desfavorecidos, incompatibilizou-se com as «altas esferas» civis, o que o levou a ser julgado, condenado e expulso do Distrito de Aveiro, em 1913. Foi então viver para Leça da Palmeira, em casa de família, e em 1928 fundou a Conferência de S. Vicente de Paulo, de onde brotou a Sopa dos Pobres, que chegou a alimentar e a vestir 680 pessoas da classe piscatória. Cria, entretanto, um refúgio para crianças abandonadas, as Escolas Católicas e o Secretariado do Desemprego. Mais tarde, funda a Obra Regeneradora dos Rapazes da Rua, em 1942. Morre em 1 de Novembro de 1968.

Fonte: Artigo de Marina Sequeira, publicado no jornal A Voz de Leça, em Janeiro de 2006.

Do livro em preparação “Obra da Providência”

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Recordando o Padre VIdal

Padre Vidal

O primeiro assistente religioso
da Obra da Providência


Em data imprecisa, de 1955, Maria da Luz Rocha dirige-se à livraria da Casa Católica, em Aveiro, na Rua José Estêvão, à procura de livros de formação para as raparigas que estavam a ser ajudadas, tal era a sua preocupação com a vida delas, apoiada em esclarecimentos com consistência cristã. Encontra ali um sacerdote, a quem pede conselho sobre os livros a comprar, tendo, na altura, esclarecido a natureza das futuras leitoras. Era o padre António Henriques Vidal, ao tempo e durante décadas assistente religioso da Obra de Santa Zita, uma instituição vocacionada para o acolhimento e ajuda a raparigas que, vindo do interior do país, procuravam trabalho na cidade.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O exame da terceira classe

Escola da Ti Zefa, onde fiz o exame da 3.ª classe

Quando encontrei o meu amigo João [nome fictício], na avenida principal da cidade, nem sequer soube, de repente, como era o seu nome. Emigrante há décadas, só de tempos a tempos vinha à terra, sempre no mês de Agosto, mês em que eu habitualmente saía para gozar, longe da rotina, uns dias de lazer. Esta coincidência de desencontros a fio fez de nós uns simples desconhecidos.
Saí de casa logo de manhã cedo com vontade de caminhar ao deus-dará, usufruindo de um sol que tardava em aparecer para nos aquecer. Ruas cheias de gente que deambulava a caminho da igreja matriz, para a missa dominical, ou em busca de um lugar num café do centro da cidade para saborear a “bica” e ler o jornal. Das pastelarias e padarias saíam pessoas apressadas com saquinhos de pão fumegante que apetecia comer, logo ali, barrado com manteiga. Carros passavam decerto com destinos marcados e no quiosque eu esperava ansioso o diário que todos os dias costumo ler, na convicção de que iria ter acesso a alguma novidade, daqueles que nos prendem a atenção e nos deixam a pensar.
Da berma da rua, uma voz, forte e alegre, chama por mim, feliz pelo encontro. Olho e vejo um rosto conhecido de há muito tempo. Do tempo da escola primária, da Escola da Ti Zefa, onde o professor Ribau nos ensinou as primeiras letras e nos encaminhou na vida.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Emigração



As causas das migrações são diversíssimas. Desde a fome à guerra, desde a falta de trabalho ao risco da aventura, desde as perseguições políticas aos desafios de familiares e amigos, desde o desejo de cortar com um passado de tristezas e misérias ao sonho de construir um futuro mais risonho para si e para os seus. Tudo serve para justificar ou para optar pela emigração.
Olhando para o século de vida da Gafanha da Nazaré, como freguesia, recordo, por conhecimento director desde a década de quarenta do século passado, altura em que comecei a reter na memória vivências mais consistentes, muitos casos de emigração, uns bem sucedidos e outros nem por isso.
A emigração foi uma realidade em todo país, com fortes implicações na região de Aveiro. E mesmo sem me fixar nos dados estatísticos amplamente estudados, não necessariamente importantes no contexto deste trabalho, importa frisar que os gafanhões também embarcaram no movimento migratório, quer por motivos económicos, que pelo sonho de chegar mais alto.
Familiares meus rumaram aos EUA no princípio do século XX, o mesmo tendo acontecido com vizinhos. E de muitos ouvi falar que lhes seguiram as pisadas. Depois foi o Brasil, Argentina, Venezuela. Mais tarde “emigraram” para Angola e Moçambique. Ainda o Canadá e depois, com grande impacto na região, a França, Luxemburgo e Alemanha, onde presentemente muitos labutam.

sábado, 20 de novembro de 2010

Para a história do Grupo Desportivo da Gafanha


Vamos hoje falar de coisas diferentes, porque o passado da nossa terra também interessa e no fundamental,  falando do GDG de que foste o pai  e que ajudei no parto

Como te deves lembrar, o GDG renasceu numa pequena sala que havia na Igreja, numa reunião a pedido do falecido Padre Domingos. Estiveram presentes o Zé Henrique, Nelson Mónica,  Carlos Sarabando,  João Pata e eu. Claro que aí apareceu o trabalho do Professor Fernando,como autor dos Estatutos do GDG e que nós aproveitámos.
Renasceu o Clube e,  contra ventos e marés,  e graças à vontade de muitos gafanhões, continua vivo e cada vez com mais força.Não só pelas vitórias que vai tendo, mas fundamentalmente pela extraordinária força das suas camadas jovens e no extraordinário número de atletas que fazem parte deste grande colectivo. Mas hoje só  queria contar a história mais extraordinária, a que assisti durante os vários anos que por lá passei.
Como te lembras,  eram muitos os rapazes de S. Jacinto que faziam parte das nossas equipas de Futebol Juvenil.
Um certo domingo, íamos nós jogar para os lados de Anadia. Chego ao Forte da Barra, estava um temporal tremendo. As ondas da nossa Ria galgavam a muralha que ladeava a estrada para o Forte da Barra.
Chego ao Forte e lancha que vinha de S. Jacinto nem ela nem eu. Devido ao tremendo temporal, a lancha tinha ficado retida em S. Jacinto. Estamos feitos,  disse eu para o Manel Leitão, que na altura fazia a manutenção do campo e dos equipamentos. Chovia torrencialmente.
Mandei colocar os equipamentos na camioneta e disse para o Leitão: Quem não tem cão caça com gato.Jogamos com o que houver. Mas, por casualidade,  olhei para o fundo da estrada de saibro que passava ao Campo dos Cavalos e vi lá ao fundo um vulto que corria e esbracejava. Se calhar quer boleia, pensei eu. Mas, conforme o vulto se ia aproximando,verifiquei que se tratava de um dos jogadores da equipa, natural de S. Jacinto.
Claro que fiquei extraordinariamente emocionado, embora não deixasse de lhe passar um grande raspanete. Tratava-se do NENO, que tinha pegado num bote e que, a remos,  tinha atravessado a RIA para cumprir as suas responsabilidades.
Uma atitude que jamais esqueci e que levou a Federação Portuguesa de Futebol a condecorá-lo. Os grandes homens fazem-se de atitudes como esta .
O NENO emigrou para os Estados Unidos e voltei a vê-lo na Murtosa alguns anos passados. São exemplos de deviam servir a quem serve o Gafanha.
Coisas boas de quem serviu o Gafanha e que ficaram na minha memória.

Um abraço,

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Os Lugares da Gafanha da Nazaré

Lugar do Forte
Chave, Cale da Vila, Cambeia, Bebedouro,
 Marinha Velha, Forte e Barra

 

À medida que a comunidade ia crescendo, sob o ponto de vista demográfico, comercial e industrial, a população necessitou de identificar, por razões óbvias, os lugares em que habitava. Nos registos de baptizados, casamentos e óbitos, entre outros, surgia sempre a nota de que morava ou era natural da Gafanha. Posteriormente, muito próximo do século XX, aparecem os lugares: Cale da Vila, Chave, Cambeia, Bebedouro, Marinha Velha, Remelha, Forte e Farol.
Se alguns lugares não suscitam dúvidas quanto à designação adoptada, como é o caso de Forte e Farol, outros levam-nos a conjecturar sobre a sua origem.

Cale da Vila, que em princípio até se chamava Gafanha da Cale da Vila, terá tido a sua origem em Cale, que significava canal ou rua, que nos conduzia à Vila. De Aveiro? Penso que não, porque Aveiro era cidade há muito. De Ílhavo? Parece-me mais lógico.
Chave terá uma explicação mais lendária. Uns dizem que o povoado deste lugar configurava uma chave. De facto, e segundo os dicionários, chave pode ser um «cotovelo ou recanto que um terreno faz para algum dos lados».
Outros vêm com uma lenda, ligada aos barqueiros que, de vários pontos das Gafanhas, vinham à missa e às festas em honra da padroeira, Nossa Senhora da Nazaré, e a outras. Numa dessas festas, um deles terá perdido a chave da proa da bateira, onde guardara os seus haveres.
A procura da chave no arraial passou de boca em boca, com toda a gente a tentar ajudar o homem, não sabemos se com êxito ou sem ele. Outros ainda alvitram a hipótese de aquele lugar ter sido a chave, núcleo central, de todas as Gafanhas. Realmente, o povoamento começou naquela zona. Verosímil? Inverosímil? Seja como for, o lugar da Chave foi berço da nossa terra. Ali se construíram as duas primeiras capelas, a última das quais foi a primeira matriz, aquando da criação da paróquia.
Cambeia terá derivado de cambaia, desmoronamento dos muros da marinha, deixando passar a água? Virá dos arcos ou arcadas que suportavam a passagem de ligação ao Forte? Por baixo passava a água dos esteiros. Ainda existem alguns desses arcos a que se chamava e chama Cambeia.
Bebedouro é nome de sítio onde os animais podem beber água. Terá sido, também, onde as pessoas bebiam o precioso líquido, quando de passagem se dirigiam para as praias, onde gadanhavam ou gafenhavam o junco, quer para as camas dos animais, quer para juncar o chão das modestas habitações. No meu tempo de menino entrei em muitas cozinhas (a segunda da casa ou a do forno), pisando junco.
Marinha Velha ficou como símbolo de uma marinha de sal que ali existiu, precisamente com o mesmo nome.
Remelha  ou Romelha, como tantas vezes li e ouvi, confesso que ainda não descobri a sua origem… Conjecturar? Penso que não vale a pena. O povo assim baptizou aquele lugar e há que respeitar a tradição.
Com o desenvolvimento dos povoados que constituíram a Gafanha da Nazaré, a indicação dos lugares como locais de habitação passou a ser informação insuficiente.
Quando os carteiros, vindos de Aveiro, em meados do século XX, distribuíam e recebiam a correspondência, não o faziam de porta em porta.
Em conversa com o senhor Marcos Cirino (falecido neste ano do centenário), com boa memória para recordar a vida dos nossos antepassados, esclareceu-me sobre isso:
«Há muitos anos, havia um carteiro, o senhor Reis, que, vindo de Aveiro, deixava a correspondência em estabelecimentos estratégicos, nomeadamente, de Alberto Martins [Cale da Vila], Manuel Cravo [Chave], Caçoilo da Rocha [Bebedouro] e Joaninha Bola [Cambeia]. Seguia para o Forte, Farol e Costa Nova. No Forte, uma senhora, Rita de seu nome, esperava o correio para o levar para S. Jacinto.»
As pessoas, como é natural, tinham de procurar as cartas nesses locais. E ali entregavam a correspondência para seguir o seu destino. Quando a correspondência atingiu um número significativo, houve necessidade de baptizar as ruas, para facilitar a distribuição. Mestre Rocha, como presidente da Junta, avançou com uma proposta de certo modo inédita, para as identificar. As letras do alfabeto passaram a ser nomes de ruas. Mas tal solução, tão incaracterística, não resultou. Esclareceu Marcos Cirino. «Não havia letras para tantas ruas.»
Posta a questão à Câmara Municipal de Ílhavo, esta aceitou a ideia de atribuir nomes de pessoas às nossas ruas, sendo presidente da Junta o comerciante Albino Miranda.
Uma comissão, constituída pelo Capitão Ferreira da Silva, Dr. Maximiano Ribau, Baltasar Vilarinho, João Ribau, Marcos Cirino e outros, numa noite, escolheu 60 nomes para toda a freguesia, da qual faziam parte, como ainda fazem, o Forte e Barra.

Fernando Martins

"Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

As Senhoras Mestras da Catequese

Igreja Antiga



A Minha Mestra Joana Rosa Bola

A minha Mestra, senhora Joana Rosa Bola, recebia-nos numa sala onde ficávamos sentados no chão, em círculo. Ela, se bem recordo, estava sentada numa manta de tiras. Extremamente bondosa, tinha uma paciência de santa e um sorriso encantador.
Solteira, vivia um pouco da agricultura, mas também era tecedeira, onde fazia passadeiras e mantas de tiras a quem lhas encomendava. As pessoas, sobretudo mulheres e raparigas casadoiras, levavam-lhe as tiras feitas de roupa velha. Escuras para as passadeiras e brancas para as mantas. Faziam-nas ao serão ou em dias de muito frio e chuva, que impediam os trabalhos agrícolas. Num desses serões, a que assisti, um namorado cortava as tiras, enquanto a menina as ia ligando, antes de fazer os rolos.
A senhora Mestra dedicava muito do seu tempo ao ensino da catequese, assumindo essa tarefa como missão. Recordo com saudade a maneira como ela nos olhava e a devoção com que nos iniciava nos caminhos da fé e da devoção a Jesus Sacramentado e a Nossa Senhora.
Era um ensino fortemente voltado para a repetição das orações fundamentais e para os conhecimentos básicos, em especial, o Pai-Nosso, Ave-Maria, Salve-Rainha, Confissão, entre outras. Não ficavam de fora os Mandamentos da Lei Deus e os Mandamentos da Santa Madre Igreja, os Pecados Veniais e Mortais, os Sacramentos, etc.
A senhora Mestra era-o para toda a vida. Quando me cruzava com ela, tinha sempre uma atenção para com esta mulher, boa por condição e generosa por natureza. E ela jamais deixava de nos sorrir e de nos perguntar pormenores da nossa vida, alegrando-se com o que ouvia de bom. Esse meu comportamento era estimulado por minha mãe. Decerto acontecia com os meus colegas e amigos, meninos e meninas, já que na catequese não havia discriminação de sexos como, aliás, acontecia na escola primária, em que havia salas para rapazes e salas para raparigas. 

Fernando Martins


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Armando Ferraz, um artista iletrado


Armando Ferraz: O último fantocheiro

A Gafanha da Nazaré pode orgulhar-se de ter entre as suas gentes um artista popular que, mesmo iletrado, se tornou famoso. Foi, decerto, um dos últimos fantocheiros, ao jeito daqueles que andavam de feira em feira a exibir a sua arte. Era ele Armando Ferraz, que morava no «canto dos zanagos», perto do “Zé da Branca”, onde convivia com amigos, saboreando um qualquer aperitivo ou digestivo.
Trabalhava na JAPA e distinguiu-se, entre nós, como artista um pouco de tudo. Foi ensaiador de ranchos e marchas, sendo exímio na preparação de encadeados ou entrançados. Mas a sua arte preferida, aquela que levou até ao fim da vida, foi a dos fantoches, também chamados robertos.
Calcorreou arredores da nossa região, ensinou na Universidade de Aveiro as suas habilidades na confecção do necessário para apresentar os fantoches, embrulhados em estórias que ele muito bem sabia urdir e exibir como ninguém.
Apresentou-se na Figueira da Foz e no Algarve. Aqui até deixou alguns bonecos e uma palheta para ver se entusiasmava alguém. «A palheta é feita de duas latinhas embrulhadas por uma fita», para poder produzir os sons característicos enquanto falava, explicou.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Santuário de Schoenstatt faz hoje anos de inauguração


Santuário em construção

No dia 21 de Outubro de 1979 foi solenemente inaugurado o Santuário de Schoenstatt na Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, em cerimónia presidida pelo Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade. Participaram muitos membros do Movimento, bem como peregrinos, simpatizantes e amigos, todos envolvidos na esperança de contribuírem para a construção do homem novo para uma nova sociedade, seguindo a espiritualidade apoiada em três grandes pilares: Nossa Senhora, Santuário e Fundador do Movimento, Padre Kentenich
A 25 de Março do mesmo ano, dia da inauguração da Casa das Irmãs de Maria, D. Manuel benzeu o terreno, onde, logo de seguida, se daria início à construção daquele Santuário. Em 20 de Maio procedeu-se à bênção da Primeira Pedra e no dia 21 Outubro aconteceu então a grande festa.
A Primeira Pedra, a Pedra Angular, veio de Roma e foi abençoada pelo Papa João Paulo II *. Tem incrustada na face frontal uma outra pedra trazida do túmulo de S. Pedro e sob a qual está gravada a inscrição “Tabor Matriz Ecclesiae”, que significa “Tabor da Mãe da Igreja”, que mais não é do que a missão deste Santuário da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt.
O Santuário de Schoenstatt, declarado por D. António Marcelino como Santuário Diocesano, em 21 de Setembro de 1993, congrega à sua volta pessoas de todas idades e condições sociais, dando testemunho de que ali é bom estar.
Os grandes impulsionadores da construção foram, segundo diversos testemunhos, as Irmãs de Maria, à frente das quais se encontrava a Irmã Custódia, os Padres Miguel e António Borges e Vasco Lagarto.
A construção importou em cerca de mil contos, havendo a distinguir a contribuição, em trabalho e dinheiro, de todos quantos se encontravam sensibilizados para a vivência espiritual do Movimento.
Das diversas ofertas salientamos, pelo seu significado, as seguintes:

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

domingo, 10 de outubro de 2010

Costa Nova e não só...

Pois é...


Aí têm um texto de 1918 relativo à praia da Costa Nova de então... e para vos enquadrar aí vão dois documentos de 1911 sobre um cocheiro e possivelmente uma daquelas diligencias... Se elas forem recriadas nas praias é simplesmente uma recreação da historia...

António Angeja


Praia da Costa Nova


“No concelho de Ilhavo, a 7 quilometros de distancia da séde municipal, e a 10 quilometros de Aveiro, fica situada esta praia de banhos, servida por uma boa estrada, havendo, durante a época balnear, carreiras de diligencias e de automoveis para serviço dos banhistas, que ali concorrem em grande numero, principalmente os das sedes dos dois concelhos indicados, e ainda muitos de outras localidades do distrito. Muitas famílias costumam ir veranear para a Costa Nova, servindo-se das diversas casas que ali ha para alugar durante a época propria.
A vila de Ilhavo está situada S.E. da parte central da grande ria de Aveiro, uma legua a S.O. da estação daquela cidade, e tem uma só freguezia, a de S. Salvador, mas compreende os interessantes lugares de Coutada, Ribas, Preza, Mouta, Val de Ilhavo de Baixo e Val de Cima, Chouza, Lagôa, Moutinhos, Quintans (onde ha um apeadeiro), Ermida, Gafanha e Barra.
O lugar da Ermida é mesmo uma pequena vila, que foi couto e teve foral proprio, dado por D. Manuel, em 1514, o que denota a sua antiga importancia. É bonita e de terreno muito fertil.
Os homens de Ilhavo são dos nossos mais corajosos maritimos, e as mulheres muito formosas e de ameno trato.

sábado, 9 de outubro de 2010

Origem do vocábulo GAFANHA

Resumo elaborado por João Gonçalves Gaspar

Ao longo da minha vida abordei vezes sem conta a questão da origem do vocábulo Gafanha. Outros o fizeram do mesmo modo. Todos na ânsia de descobrir qual a sua verdadeira fonte. Uns ficam convencidos duma razão e outros tantos discordam dela. Não vale a pena voltar ao assunto em pormenor, porque estaria a malhar em ferro frio. Aqui deixo, contudo, uma síntese, só para dizer que talvez valha a pena alertar os nossos concidadãos para a decifração do enigma, como passatempo interessante. Só isso.
Por norma descartamos a ideia dos gafos (leprosos), muito embora eles existissem na região de Vagos e Mira. Ainda há poucos anos foram detectados alguns casos. O Hospital Rovisco Pais não foi instalado na Tocha por acaso.
A gadanha, que a MG refere, até estaria em sintonia com o linguajar dos primeiros gafanhões, habituados que estavam a trocar as consoantes. Ainda hoje há quem o faça.
Gafar como imposto e vasilha para transportar sal podia, muito bem, estar na origem da palavra Gafanha. E sal sempre por aqui houve, desde tempos imemoriais. Pinho Leal, no seu dicionário “Portugal antigo e Moderno”, diz, em 1874, que Gafanha podia significar o «lugar onde se paga o gafar» ou «ao qual não se pode ir sem pagar o gafar».
A hipótese de terra gafada, com as suas gretas que as areias, cobertas de lamas, mostravam quando o sol batia, fica à mercê da nossa imaginação.
A gafanha, mulher gafada, que de Aveiro para aqui teria sido desterrada, por ter morfeia, sendo por isso desprezada, também não me repugna.
Gafanha, mato lá para os lados de Sangalhos, há muitas décadas, não deixa de ser um motivo para, tipo charada, nos entretermos.
O gafanho ou gafanhão (saltão), gafanhoto, não me parece lógico. Por que razão nos haviam de ligar àquele insecto? Nem por aqui havia verdura para seu alimento…
Gafanho, nome de tojo, planta rasteira, será mais um caminho para seguir, tal como gatanho (tojo-gatão), sem perder muito tempo.
Gafanha de Galafanha, proveniente esta de Gala (terra alagada) mais Fânia (junco), terá a sua vertente etimológica, ao jeito de quem anda a escolher palavras para chegar à Gafanha de hoje.
Gafano seria, portanto, o homem destas terras, que estava gafado (agarrado, submetido) pelas doenças, pagando a passagem do esteiro. Gafânia ou Gafanha seria portanto a terra dos Gafanos.
Posto isto, é justo afirmar que andei no encalço de alguns estudiosos: Padre Rezende (MG), Joaquim da Silveira (MG), José Leite de Vasconcelos (EP), Gonçalves Viana (EP). João Gonçalves Gaspar (BCGN), Manuel Maria Carlos (JT), Pinho Leal e pesquisas próprias em dicionários e outras leituras avulsas, sem nunca ter encontrado, garantidamente, a origem da palavra Gafanha.

Fernando Martins

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Efeméride: 5 de Outubro de 1910

Será que os gafanhões estiveram a par
do que se passou em Lisboa nessa data?


Em 5 de Outubro de 1910 é implantada a República em Portugal, gerando um ambiente de crispação entre os defensores do antigo regime e do novo, como é natural. Imbuída do espírito anticlerical, até parece que a Igreja Católica e os seus seguidores são inimigos a abater, acusados de serem a razão do atraso em que vivíamos. Aliás. Antero do Quental, numa “Conferência do Casino”, em 27 de Maio de 1871, atribui ao catolicismo «as causas da decadência dos povos peninsulares».
Com a lei da separação de 20 de Abril de 1011, há a nacionalização dos bens da Igreja, a abolição do ensino religioso nas escolas e a perseguição ao clero, em especial aos jesuítas e a quantos se mostrem discordantes das ideias republicanas no poder. De positivo, salientamos a separação da Igreja e do Estado, pondo fim a séculos de convivência, nem sempre pacífica.
Decreta-se a lei do divórcio e tratamento igual para todas as religiões, terminando a ligação umbilical entre o Estado e a Igreja Católica.
Nas capitais de Distrito e nos grandes centros não faltam, todavia, manifestações de regozijo pela mudança do regime em 5 de Outubro. Os jornais dão conta desses movimentos, apesar de alguma indiferença por parte dos povos simples, como são os nossos antepassados, tanto mais que os contactos com as zonas urbanas de Aveiro, Ílhavo e Vagos estão muito limitados, por carência de acessos fáceis.
“O Século” e o “Diário de Notícias”, de âmbito nacional, bem como periódicos regionais e locais, referem, com destaque, o modo festivo como Aveiro e Ílhavo recebem a revolução de 5 de Outubro. Diz “O Século” de 10-X-1911: «O povo [de Ílhavo] estava na maior anciedade por falta de notícias, quando chegou de Aveiro o administrador do concelho, participando que a Republica estava proclamada. N’essa occasião, o sr. Eduardo Craveiro soltou um estridente viva à Republica…»

In “Gafanha da Nazaré — 100 anos de vida”

domingo, 26 de setembro de 2010

Navio-museu Santo André


Alegria na chegada; a tristeza vinha depois

O navio-museu “Santo André” conduz-me sempre a recordações indeléveis, com saudades e memórias de mau pai, Armando Lourenço Martins, mais conhecido por Armando Grilo, contra-mestre do arrastão que foi campeão das pescas durante muito tempo. Fazia duas viagens por ano e o meu pai só podia estar connosco em curtas férias, ainda por cima envolvido nos trabalhos de preparação para novas viagens.
A partida para mais uma viagem era dia de luto em casa, com a nossa mãe chorosa e eu e o meu irmão calados. Não tínhamos palavras para dizer. E a vida continuava, com as saudades presentes, atenuadas pela ânsia da chegada, só possível no tempo próprio e com boa carga de bacalhau.
Com a partida do banco, rumo a casa, vinha a alegria, e os preparativos da recepção começavam, aumentando exponencialmente, para que o pai encontrasse tudo direitinho. Casa, quintal, as coisas pessoais de cada um arrumadinhas, que os avisos da mãe não paravam, lembrando que o pai não gostaria disto e daquilo.
O dia da chegada era festa. Corrida para a Barra, olhando sofregamente o arrastão a entrar, com os tripulantes a acenar com força, bonés no ar, como que a dizer «estou aqui!». Nova corrida para o porto de pesca longínqua, junto à EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), empresa do “Santo André”. E nós ansiosos para entrar no navio.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

E quando a ponte do Forte ruiu?




Ponte de madeira ruiu no Forte da Barra

No dia 5 de Julho de 1951, pelas 10 horas, um grave desastre ocorreu na ponte do Forte. Quando o camião do senhor Manuel Ramos, conhecido por Manuel Russo, ia a passar, com cinco toneladas de areia, a ponte ruiu. O proprietário e condutor conseguiu sair de imediato, mas o filho Francisco Ramos, que o acompanhava, ficou debaixo de água durante quatro minutos e meio, segundo lhe afiançou o então mestre Augusto, encarregado da Junta Autónoma do Porto de Aveiro (JAPA).
Francisco Ramos, que viveu este drama, garantiu-nos que nada fazia prever que isso pudesse acontecer, pois a ponte, oficialmente, podia suportar sete toneladas de peso. Mas caiu com menos. E o pior poderia ter acontecido naquele dia, pois cinco minutos depois passaria por ali o autocarro da “Auto Viação Aveirense”, cheio de passageiros.
No dia seguinte, procedeu-se à retirada do camião do fundo da Ria. Com a experiência de mestre Augusto, o camião pôde sair com a ajuda de duas barcaças e de talhas, posicionadas nos sítios certos. Quem foi ligar o camião às barcaças, mergulhando as vezes necessárias, foi o “Pezinho”*, que tinha a capacidade rara de aguentar uns minutos debaixo de água.
Feitas as ligações, uma lancha da JAPA arrastou tudo para um espraiado na Marinha Velha, perto do moinho do senhor Conde, que foi demolido há várias décadas.
Do areal da borda até à estrada mais próxima o camião foi puxado por juntas de bois. Depois foi reparado e a vida retomada, à espera de uma ponte que oferecesse mais garantias. O que veio a acontecer, não naquele sítio.

Fernando Martins

* O “Pezinho” era um trabalhador-marinheiro muito dedicado ao Mestre Mónica. Segundo a tradição, terá salvo o Mestre quando caiu à água atingido por um ferro, que lhe deixou marca no sobrolho para o resto da vida. Era especialista em mergulhar, aguentando uns minutos debaixo de água, sem qualquer máscara.

Fonte: "Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"

sábado, 18 de setembro de 2010

Seminário de Santa Joana: Um cortejo em que participei





Das minhas memórias, recordo que participei num cortejo de oferendas a favor do Seminário, com o envolvimento de dezenas de paróquias da diocese. Foi isto em 30 de Junho de 1946.
«Após o meio-dia toda a cidade [Aveiro] se animou com um grandioso cortejo de oferendas a favor da construção do Seminário de Santa Joana. As dezenas de paróquias da Diocese vieram com suas representações características, com seus ranchos folclóricos e com os seus donativos generosos. As ruas encheram-se dos mais variados cantos alegres e populares, dos sonoros acordes de diversas filarmónicas e da beleza dos carros alegóricos e garridos. Além do valor material que significou esta magnífica jornada de caridade, o cortejo constituiu mais um elemento a unir as terras do Bispado à volta do mesmo centro espiritual, fixado em Aveiro.»
Integrei o cortejo, a que se associaram empresas e católicos da nossa terra, com carros enfeitados e carregados de presentes, os mais diversos, desde géneros alimentícios, incluindo bacalhau, até materiais de construção e madeiras dos estaleiros.
As pessoas partiam em grupo dos seus lugares rumo à concentração, junto à ponte de madeira que nos ligava a Aveiro. E assim seguimos a pé até ao destino.
A minha memória diz-me ainda que as nossas ofertas mais miúdas foram depositadas nas barracas da Feira de Março, ainda não desmontadas.
O que levava numa saca, que depois passou para um carro de vacas, já se me varreu da memória. Milho? Feijão? Não sei. Só sei que voltei a pegar nela, no Rossio, para a entregar numa barraca. Aí, o seu conteúdo passou para uma caixa e voltei satisfeito com a saca na mão para casa.

Fernando Martins

In "Gafanha da Nazaré: 100 anos de vida"

Fonte: Memórias pessoais e "Lima Vidal e o seu tempo"

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Fundadores da freguesia e paróquia – 5


Nossa Senhora da Nazaré

Permitam-me a ousadia de incluir neste capítulo a nossa Padroeira, Nossa Senhora da Nazaré. Foi pessoa como nós, mãe solícita do Filho de Deus e nossa mãe também, catalisadora da aproximação à Boa Nova de Jesus Cristo, sinal visível da ternura e do amor, auxiliadora dos aflitos, protectora dos navegantes, congregadora dos desavindos, inspiradora da verdade, da justiça e da paz.
Ao certo, não se sabe como nasceu esta devoção pela Senhora da Nazaré. Terá alguma ligação à Palestina e à então Vila da Nazaré, onde D. Fuas Roupinho por ela foi salvo de morte iminente?
O Padre Domingos, co-autor do livro “Invocações Marianas na Diocese de Aveiro”, recorda a lenda que garante ter vindo a imagem da nossa padroeira da Palestina. «Após vários imprevistos foi posta [a imagem] numa pequena Ermida, conhecida por capela da memória, na antiga povoação de Nazaré», sublinha o antigo Prior da Gafanha da Nazaré. E dali, algum navegante a terá trazido para a Gafanha, quando não foi adquirida a algum comerciante de imagens e objectos antigos.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Pessoal das secas – 1938




Nota: Registos fotográficos do capitão Fernandes, gentilmente cedidas pelo também capitão e seu filho Óscar Fernandes, por intermédio do Júlio Cirino. Este é um sinal evidente das riquezas culturais guardadas em arcas cheias de recordações que fazem parte da nossa história comum. Tenho dito e escrito vezes sem conta que este património merece ser divulgado e comentado, ou não faça ele parte da identidade forjada durante décadas pelos nossos antepassados. Aqui ofereço, mais uma vez, este meu espaço a todos os conterrâneos...
Pessoal das secas que seria interesssante identificar.

FM

Gafanha da Nazaré vista por D. João Evangelista


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Fundadores da freguesia e paróquia – 4


D. Manuel Correia de Bastos Pina

D. Manuel Correia de Bastos Pina nasceu a 19 de Novembro de 1830, na freguesia de Carregosa, no concelho de Oliveira de Azeméis.
Filho de António Correia de Bastos Pina e de Maria Joaquina da Silva, abastados proprietários rurais, foi baptizado a 24 do mesmo mês. O pai chegou a desempenhar o cargo de presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis.
A sua família contava vários padres, entre os quais dois irmãos. Depois das primeiras letras, veio para Ílhavo, onde recebeu lições do Dr. José António Pereira Bilhano (viria a ser Arcebispo de Évora) que o preparou nas matérias de retórica e língua francesa.
Educado nos princípios do constitucionalismo, recebeu a ordenação presbiteral em 25 de Novembro, com 24 anos de idade. Como Bispo de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina foi «uma das figuras mais marcantes da Igreja em Portugal na segunda metade do século XIX e inícios do século XX», como se lê em “O Bispo de Coimbra D. Manuel Correia de Bastos Pina”, de A. Jesus Ramos. Faleceu em 1913.
O Bispo-Conde de Coimbra tinha uma natural simpatia por Aveiro. Estudou em Ílhavo e mais tarde acompanhou o percurso de D. João Evangelista, com manifestações de estima e proximidade. Dele disse o D. João que «era uma figura poderosa de bispo, cheio de prestígio e vida» (14)Noutra passagem da mesma obra, o autor informa: «Muitas vezes esteve em Aveiro o bispo-conde e até se dirigiu aos arciprestes, párocos e clérigos dos concelhos de Aveiro, Ílhavo, Vagos e Mira, escrevendo-lhes uma carta pastoral sobre a Ria que tem a data de 30 de Janeiro de 1891;(…) Também pôs à disposição do arcipreste de Aveiro a quantia de duzentos mil réis para ajudar os pescadores mais necessitados a fazerem a substituição das redes de pesca, em obediência ao regulamento oficial.
Não consta que tenha visitado a Gafanha propriamente dita, mas esteve em Ílhavo…

(14) In “Lima Vidal no seu tempo”, de João Gonçalves Gaspar, I Vol, pág. 104

Fernando Martins

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Fundadores da freguesia e paróquia – 3



D. Manuel II


O último Rei de Portugal, D. Manuel II, nunca esperou vir a sentar-se no trono do Reino. Tão-pouco havia sido preparado para tais funções. Era segundo filho e o trono, por herança dinástica, seria para seu irmão Luís Filipe.
Quis o destino, como diz o povo, que o regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, de triste memória para quem acredita que os problemas dos povos como dos países não têm que ser resolvidos pela força das armas, de forma traiçoeira, o levasse a sentar-se na cadeira que tinha sido ocupada por seu pai, o Rei D. Carlos.
D. Manuel sobe ao trono com apenas 18 anos. Sem a preparação adequada, enfrentou imensos problemas, que ia ultrapassando com a ajuda de políticos que considerou capazes, mas que não estiveram à altura de impedir os avanços da República. E face aos conselhos que os mais próximos lhe dirigiam para que interviesse junto dos partidos, monárquicos e republicanos, de várias correntes, escreveu em Maio de 1909: «Querer que o rei intervenha nas lutas entre os políticos parece-me um erro. Muito interferiu meu pai, e bem triste fim teve.»14
Na visita que fez a Aveiro, em 1908, foi recebido com pompa e circunstância, colhendo aplausos das forças vivas e do povo em geral. Políticos republicanos, no entanto, não estiveram com meias-medidas e puseram de lado a arte de bem receber. Intitularam, no jornal “O Democrata”, a visita do Rei como “A real bambochata”.

domingo, 5 de setembro de 2010

Fundadores da freguesia e paróquia – 2


Prior Sardo


O Prior Sardo é figura incontornável na história dos cem anos da freguesia da Gafanha da Nazaré. Gozou do privilégio de ser filho da nossa gente, irmão na fé e na determinação de quantos contribuíram para o desenvolvimento espiritual e social do nosso povo.
Educador da fé e das verdades proclamadas pela Igreja Católica, foi também político, ao jeito do tempo, lutando pela promoção da comunidade em várias frentes. E se, no dia-a-dia da sua missão pastoral, não esquecia as obrigações de pastor atento e responsável, como autarca procurou trazer a água ao seu moinho.
O Padre Sardo, o sacerdote e o político, mas também o empresário, cedo terá compreendido que a Gafanha da Nazaré, como freguesia e paróquia, só teria a ganhar, ganhando também os gafanhões.
Senhora do seu destino, independente da paróquia e freguesia de São Salvador, pensaria pela sua própria cabeça e poderia projectar-se no futuro escolhendo os caminhos mais acessíveis e delineando os rostos da sua identidade.

sábado, 4 de setembro de 2010

Fundadores da freguesia e paróquia – 1


O Povo

Na evocação de efemérides ocupam, por norma, as cadeiras de destaque os chefes naturais e oficiais, relegando-se para segundo plano, quando não são atiradas para o baú de inutilidades, as pessoas simples que deram corpo e alma a projectos que contribuíram para a formação do povo e para a construção das comunidades.
Na Gafanha da Nazaré também aconteceu assim, não obstante se reconhecer hoje que os gafanhões foram, realmente, os primeiros obreiros esforçados, na labuta diária que imprimiram à transformação das dunas em terra de pão. Sem ajudas conhecidas, sem orientações capazes, sem infra-estruturas onde pudesses escudar-se, sem ninguém por perto a quem se atrevessem a dirigir olhares de súplica.
E porque é difícil escolher nesse baú um ou outro nome, sem correr o risco de cometer injustiças graves, penso que a palavra Gafanhão encarna a melhor definição para o homem e a mulher que, de braço dado, deram vida e alma à criação da freguesia e paróquia, cujo centenário celebramos.
Honra, portanto, a esses bravos que nos legaram herança tão expressiva, como é a terra que habitamos.

FM

In "Gafanha da Nazaré – 100 anos de vida"

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Gafanha da Nazaré: Homenagem a um fundador

Amanhã, em cerimónia marcada para as 18 horas, vai ser trasladado o corpo do nosso primeiro prior, Padre Sardo, para o jazigo da paróquia, no cemitério local. Sobre o Prior Sardo ler mais aqui

sábado, 28 de agosto de 2010

Gafanha da Nazaré: Os primeiros tempos da freguesia e paróquia - 2




Nas capitais de Distrito e nos grandes centros não faltam, todavia, manifestações de regozijo pela mudança do regime em 5 de Outubro. Os jornais dão conta desses movimentos, apesar de alguma indiferença por parte dos povos simples, como são os nossos antepassados, tanto mais que os contactos com as zonas urbanas de Aveiro, Ílhavo e Vagos estão muito limitados, por carência de acessos fáceis.
“O Século” e o “Diário de Notícias”, de âmbito nacional, bem como periódicos regionais e locais, referem, com destaque, o modo festivo como Aveiro e Ílhavo recebem a revolução de 5 de Outubro. Diz “O Século” de 10-X-1911: «O povo [de Ílhavo] estava na maior anciedade por falta de notícias, quando chegou de Aveiro o administrador do concelho, participando que a Republica estava proclamada. N’essa occasião, o sr. Eduardo Craveiro soltou um estridente viva à Republica…»
Vasco Pulido Valente, no entanto, afirma que, «na melhor das hipóteses, os republicanos não passavam de 100 000. Em 1910 o PRP [Partido Republicano Português] não tinha qualquer organização na maioria dos concelhos do país e onde a tinha no papel quase sempre não a tinha na realidade: comissões e agremiações com nomes heróicos, que na prática se reduziam à mesma meia dúzia de amigos, associados sob diversos nomes e pretextos». 18(PEHP)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Gafanha da Nazaré: Os primeiros tempos da freguesia e paróquia

A igreja da primeira década


A freguesia da Gafanha da Nazaré é criada numa época marcada por algumas transformações importantes, tanto para o País como para a Igreja Católica. Os moradores, povo crente, sabem escudar-se na Igreja e nas suas organizações para cimentar novas raízes neste espaço de areias soltas e movediças, onde levantam modestas habitações.
Como desde os primeiros tempos da sua fixação, nesta zona de ria e mar, a construção das habitações convoca a troca de saberes e a ajuda mútua. Desde o fabrico dos adobes, nas dunas, terra de ninguém e de um ou outro proprietário, junto à actual Mata da Gafanha, até ao levantar da casa em terreno oferecido pelos pais dos nubentes.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Gafanha da Nazaré na poesia

Barra - Junho de 1922

Gafanha — Terra de Fé


Gafanha, terra de Fé,
És bem bonita, confesso,
— Um vergel da Nazaré —
Sempre em constante progresso!


O teu porto sobranceiro,
Que te dá tanto valor,
Leva a cidade d’Aveiro
A criar-te um grande amor!


Tens estaleiros navais,
E o Vouga passa-te aos pés.
Há sempre barcos nos cais,
És linda de lés a lés!


As tuas cores garridas
Encantam e não me esquecem,
Andam paisagens perdidas,
Pintores não aparecem!


COLUMBANOS E MALHOAS
Deixai o eterno sono,
Vinde pintar coisas boas,
BELEZAS QUE NÃO TÊM DONO!


Silva Peixe
NOTA: Manuel Silva Peixe, natural de Ílhavo, onde nasceu a 12 de Abril de 1902, ficou conhecido como poeta-marinheiro. Faleceu a 3 de Maio de 1990.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Praia da Barra: Hélio Tavares, um homem bom

Conheci o senhor Hélio Tavares pela sua colaboração regular no “Timoneiro”. Debruçava-se prioritariamente sobre temas regionais, onde não faltava a ria, o moliceiro, a história da região e a vivência religiosa. Era solteiro e catequista, mas distinguia-se pela simplicidade no viver e no falar. Muito sereno e muito ponderado, mostrava-se sempre pronto para ajudar quem precisasse. Morava na Barra, com sua mãe idosa, em casa própria e vivia de rendas no Verão. Era um homem extremamente bom.
Um dia, os seus artigos não apareceram no cartório, como era costume. Considerei que haveria razões para o senhor Hélio se atrasar. E o jornal saiu sem a sua colaboração.Os seus artigos, manuscritos, mostravam uma caligrafia certinha e cuidada. De vez em quando surgia com um poema a condizer.
Vim a saber que o senhor Hélio estava internado no Hospital  Rovisco Pais, na Tocha. Estranhei o facto, mas não o associei à doença da Lepra.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

"Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"



Etc.


Aqui chegado, fica-me a certeza de que o etc. é a melhor maneira de concluir este modesto trabalho. Ele representa o muito que ficou por dizer para memória futura.
O crescimento da Gafanha da Nazaré durante um século indicia um futuro ainda maior, alicerçado na responsabilidade colectiva das suas gentes, que não perderão a oportunidade de continuar a aproveitar as condições extraordinárias que a mãe-natureza lhes tem oferecido.
A sensação que colhi diz-me que muitos acontecimentos, vivências, projectos realizados e por realizar, emoções, sonhos e anseios ficaram na berma dos caminhos, sem espaço para ocupar um lugar no autocarro da história. Ficarão para a próxima viagem, se Deus quiser.

2010, ano do centenário

Fernando Martins


NOTA: Do livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Rua Comendador Egas Salgueiro

Egas Salgueiro, o primeiro à direita, ao lado de Américo Tomás

Era uma honra trabalhar na Empresa de Pesca de Aveiro

A Rua Comendador Egas Salgueiro estendia-se desde a Rua Gil Vicente até à EPA – Empresa de Pesca de Aveiro. Com as obras da cintura portuária e da via-férrea de ligação ao Porto Comercial, ficou cerceada. Porém, foi uma rua com a sua história, já que dava acesso à mais importante, durante décadas, empresa de pesca do país.
Inicialmente, o acesso à EPA fazia-se por um caminho “cheio de entulho”, como nos confidenciou há dias o antigo presidente da Junta de Freguesia, Mário Cardoso. E nessa altura, porque aquela empresa merecia um acesso com o mínimo de dignidade, o empresário Egas Salgueiro avançou com uma comparticipação de 20 contos para que tal obra de realizasse. Isto passou-se em 1955.
Egas Salgueiro foi um notável empresário das pescas que muito contribuiu para o desenvolvimento da Gafanha da Nazaré e da região. A sua empresa era das mais conceituadas do país, sendo ele uma pessoa exigente e com capacidade para reconhecer o trabalho das pessoas. «Só se contentava com o melhor», afiançou-nos Mário Cardoso, que acrescentou: «Era uma honra trabalhar na EPA.»

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Gafanha da Nazaré: Causas das migrações



As causas das migrações são diversíssimas. Desde a fome à guerra, desde a falta de trabalho ao risco da aventura, desde as perseguições políticas aos desafios de familiares e amigos, desde o desejo de cortar com um passado de tristezas e misérias ao sonho de construir um futuro mais risonho para si e para os seus. Tudo serve para justificar ou para optar pela emigração.
Olhando para o século de vida da Gafanha da Nazaré, como freguesia, recordo, por conhecimento directo desde a década de quarenta do século passado, altura em que comecei a reter na memória vivências mais consistentes, muitos casos de emigração, uns bem sucedidos e outros nem por isso.
A emigração foi uma realidade em todo país, com fortes implicações na região de Aveiro. E mesmo sem me fixar nos dados estatísticos amplamente estudados, não necessariamente importantes no contexto deste trabalho, importa frisar que os gafanhões também embarcaram no movimento migratório, quer por motivos económicos, que pelo sonho de chegar mais alto.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Aprender a ler e a escrever nas Gafanhas há 100 anos



É ponto assente que muitos dos primitivos povoadores da Gafanha eram, academicamente falando, analfabetos ou semianalfabetos. Teriam a cultura da experiência feita, do contacto com os familiares e amigos e do pequeno mundo que limitava os seus horizontes. Escolas não havia. Alguns padres preparavam os candidatos ao sacerdócio, sendo garantido e normal que um ou outro aluno derivasse para outras áreas do saber.
Do testemunho oral que colhi, do meu privilegiado interlocutor, João Catraio, à hora da sesta, no Verão, ou ao serão, no Inverno, os jovens de qualquer idade aprendiam a ler, escrever e fazer contas com mestres, sem estudos para além do essencial, colhidos talvez da mesma forma que agora seguiam.
Na época das colheitas, os pais ou os próprios alunos pagavam aos senhores mestres com géneros, da melhor maneira que podiam. Uns mais do que outros, conforme as posses.

FM

Nota: Do livro "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"



terça-feira, 3 de agosto de 2010

Festa dos Reis na Gafanha da Nazaré

Centenário da freguesia e paróquia


Manuel Caçoilo da Rocha

Manuel Caçoilo da Rocha e a festa dos Reis


Pouco se sabe das festas de Natal e Reis, que hoje suscitam tantas vivências entre nós. Curiosamente, ou talvez não, o Padre Resende nada diz sobre o Cortejo dos Reis. Mas a tradição garante que os cortejos fazem parte da nossa maneira de viver esta quadra tão significativa.
Leopoldo Oliveira, 83 anos, genro de Manuel Caçoilo da Rocha, um abastado e influente comerciante da nossa terra, com estabelecimento perto da igreja onde se vendia de tudo, conta-nos o envolvimento da família na festa dos Reis.
Depois de reforçar a ideia de que não havia efectivamente cortejo no verdadeiro sentido da palavra, refere que foi o sogro o dinamizador daquilo que hoje temos a nível dos Reis.
A partir da obra “Mártir do Gólgota” de Perez Escrich, Manuel Caçoilo da Rocha seleccionou as cenas que considerava fundamentais e ensaiou os primeiros autos em sua casa, envolvendo a família.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Movimento Paroquial em 100 anos

Registos paroquiais




     Décadas          Baptizados               Casamentos               Óbitos



1910-1919           822                              178                         387

1920-1929          971                               308                         415

1930-1939        1205                              320                          626

1940-1949        1350                              392                          657

1950-1959        2003                             583                           576

1960-1969       2738                              774                           798

1970-1979       2149                              909                           699

1980-1989       1950                              793                          847

1990-1999       1310                              446                          813

2000-2009       1171                              182                         965

Fonte: "Gafanha da Nazaré - 100 anos de vida"

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Evolução demográfica da Gafanha da Nazaré


  Anos          Habitantes

 1911             2441

 1920             2827

 1930             3308

 1940             4116

 1950             5475

 1960             7497

 1970             7870

1981            11187

1991            11638

2001            13617

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O TORPEDEAMENTO DO LUGRE "GAMO"




«Aos 22 dias do mês de Agosto do ano de 1918, pelas 14 horas, encontrava-se o lugre português “Gamo” ancorado nos Bancos da Terra Nova, nos baixos do Eastern Shrals, entre os leijos Sunder e Nain Fathms, sendo o seu capitão João Fernandes Mano ( O Agualusa) e seu piloto João Maria da Madalena e mais trinta e sete pessoas de equipagem.
Este navio achava-se estanque de quilha à borda, carregado, com cerca de seis mil quintais de bacalhau salgado, equipado e munido com todos os necessários para poder empreender a sua viagem dos bancos da Terra Nova para Lisboa .
Pelas 15 horas do mesmo dia, como já não tivéssemos mais sal para salgar bacalhau e estando o navio bastante carregado, mandou o capitão suspender a ancora, mas em virtude de se encontrar a mesma enlocada, não foi possível suspende-la .
Então o capitão mandou içar todas as velas para assim forçar a amarra e ver se arrancava a ancora,… assim trabalhando-se até as 22 horas com diversas manobras sem resultado algum.
No dia seguinte (23), pelas 9 horas da manhã, vendo o capitão que não era possível arrancar a ancora, mandou novamente içar todas as velas e cortar a amarra.»

Ler mais aqui

sábado, 10 de julho de 2010

O Amola Tesouras


O Amola Tesouras, que andava de porta em porta, afiava as tesouras, mas também consertava guarda-chuvas e remendava tachos de alumínio (e outros) e caçarolas de barro, aos quais aplicava "gatos" nas rachas para aguentarem mais algum tempo. Faziam-se anunciar com uma gaita de várias notas, que fazia passar pelos lábios. Também era usada pelos capadores.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Recordações: Escuteiros da Gafanha da Nazaré



É sempre bom, para mim, recordar, porque recordar é viver. Por gentileza do meu amigo Fernando Cassola Marques, publico esta foto para reviver bons tempos em que exerci as funções de Assistente do Agrupamento níº 588 do CNE da Gafanha da Nazaré. O nosso Prior de então, Padre Rubens Severino, e o nosso Bispo, D. Manuel de Almeida Trindade, são perfeitamente reconhecíveis. Eu também posso ser identificado, embora um pouco mais jovem. E a malta? Vamos lá a ver se há por aí quem os distinga. Sim, que agora, os jovens da altura são hoje homens de barba rija; e as meninas, se calhar, até já serão mães.

Nota: Esta foto deve ter uns 30 anos...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Gafanha da Nazaré: Nossa Senhora da Nazaré

Ano Internacional da Família



«Homenagem do povo da Gafanha da Nazaré à sua Padroeira, com ofertas dos católicos recolhidas pelas senhoras que realizaram a festa de Nossa Senhora da Nazaré em 1993, sendo Prior da Paróquia Padre José Fidalgo, Bispo de Aveiro D. António Marcelino e Papa João Paulo II».

Gafanha da Nazaré, 1 de Janeiro de 1994