sexta-feira, 11 de março de 2011

O carolo era feita na mó manual

Mó manual

O medo da água da ria deu lugar à aventura do moliceiro e da bateira. «A maré está feita diz de forma poética o Padre Resende, nosso cicerone, neste como noutros trabalhos e o barco começa a adernar. O sol aproxima-se do zénite e os estômagos latejam em vão, estão vazios. O José da Luz, de ceroulas curtas, camisa de estopa, e de careca tisnada pelos raios solares, com os filhos impando de mocidade, olha sofregamente para a pequena cozinha voltada para a Ria, aguado pelas batatas e pela sardinha, e às vezes pelo carnêro... que a Luz lá lhes preparara. As telhas da choupana já não fumegam, o que é sinal certo de que o repasto já espera os laboriosos moliceiros. Duas bombadas de vertedoiro a aliviar o barco da água escorrida do moliço e... ala para a fossa ou para a borda.»
E como era a alimentação desta gente que se casou com os areais e com a Ria para deles viver? Pasmem os que, nos nossos dias, têm tudo à mesa e a todas as horas e em abundância. Salienta o nosso cicerone: «A alimentação média, diária e habitual de cada família de seis pessoas, é a seguinte: ao almoço somente broa; ao meio-dia (jantar) caldo com ou sem carne; à noite (ceia) dois quilos de batatas inteiras ou cortadas, com ou sem peixe, a que se adiciona algumas vezes cebola com algumas gotas de azeite. Muitas vezes a ceia é caldo que cresceu do jantar, ou papas condimentadas com feijão e carolo de milho, cozidos no caldo que ficou do jantar. Esta família gasta diariamente três a três quilos e meio de broa. O vinho raramente aparece às refeições.» O carolo era feito na mó manual.

FM

1 comentário:

Unknown disse...

Esta a primeira vez que comento um artigo, peco desculpa se as vezes nao sou muito coerente, ou algumas palavras nao sao bem aplicadas, com erros ortogafricos ou (espanholadas) mas resulta que ha já bastantes años saí de portugal e a verdade e´que nao tenho tido contacto fluido com o idioma portugués, Sr. professor, aceito e peco humildemente e de boa vontade todas as correcoes que tenha a bem realizar, é mais, agradeceria se mas fizesse chegar, assim iria corrigindo.Por exemplo,esta semana quiz participar numa conversa e fazer um comentário, no face boock mas ao fim, decidi que nao participava porque o meu portugués era tao pobre e nao podia lembrar tantas palavras e as suas formas verbais.
Sobre este artigo encontro que está muito bem ambientado e a verdade é que se bem nunca fui barqueiro, durante muitos anos estive bastante relacionado com o ambiente,e me sinto enteiramente identificado con esse modo de vida, sobretudo no que diz respeito a alimentacao,a boroa sem nada mais, o caldo com cebola e umas gotas de aceite,as batatas com ou sem peixe ou carne, as sobras de uma comida para a outra... Sr. professor, tem a certeza que essa é uma descripcao da vida num barco moliceiro, e nao da vida na minha casa nesse entao? claro que as vezes em casa tinhamos a sorte de comer couves cozidas com uma gotinha de azeite...
Um abraco com saudades.
Antonio Machado Pereira