domingo, 14 de dezembro de 2008

MOVIMENTO APOSTÓLICO DE SCHOENSTATT - 2

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Nicho
Alguns dados históricos
No dia 24 de Abril de 1977, os vários membros do Movimento reuniram-se pela primeira vez como Família de Schoenstatt, no terreno perto da casa de Sião. Após a apresentação dos diversos Ramos e de uma palestra do padre Marcial, fez-se uma reflexão por grupos, tentando-se descobrir os planos de Deus, quanto à caminhada futura desta pequena Família. Neste dia estiveram presentes cerca de 100 pessoas. No dia 22 de Maio de 1977 realizou-se a inauguração do nicho, semente do futuro Santuário. No dia 21 de Maio de 1978, um ano depois da inauguração do nicho, realizou-se a primeira grande peregrinação da capelinha da Igreja da Gafanha da Nazaré ao nicho. Participaram nesta peregrinação cerca de 400 pessoas. Nesta ocasião, toda a Família participou na Coroação da Mãe no nicho como Rainha e Vencedora no Reino da Juventude. No dia 25 de Março de 1979, juntamente com a inauguração da casa das Irmãs, foi dada a primeira pazada do futuro Santuário, pelo Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade. Esteve também presente o Arcebispo de Mitilene, D. Maurílio de Gouveia, além de um grande número de pessoas do Movimento e peregrinos. No dia 1 de Maio foram iniciadas as obras de construção do Santuário. E no dia 20 de Maio foi benzida a pedra angular. Esta cerimónia foi presidida por D. Manuel e participada por um grande número de pessoas. No dia 21 de Outubro deu-se a solene inauguração do santuário Tabor Matris Ecclesiae. Esta celebração foi presidida por D. Manuel de Almeida Trindade. Esteve presente, também, o Arcebispo de Mitilene, D. Maurílio, um grande número de sacerdotes, de Schoenstatt e das paróquias vizinha, e mais de dois mil peregrinos. Fernando Martins
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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

GATA – Grupo Activo de Teatro Amador - 1

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Elenco da peça "MAR", de Miguel Torga

Caía a tarde. Uma tarde calma, sem vento que agitasse os ramos das árvores, sedentas da água que o verão escaldante lhes negava. Sentados, diante das bebidas que os refrescam, três homens sonham criar um grupo de teatro amador. São eles: Humberto Rocha, Manuel Cruz Caçador e Sargento Padilha. Tinha havido, no tempo dos nossos pais, algumas experiências nesse campo, mas logo amorteceram com o começo das grandes dificuldades económicas chegadas com o rugir dos canhões da II Grande Guerra. Depois tudo estagnou. Mas nós, que ouvimos falar com tanto entusiasmo alguns desses artistas populares, logo imaginávamos um palco, a cena, o público e os aplausos! E a nossa cabeça deitava “fumo”, como diria a minha saudosa avó. E a rodada de cerveja que nos serviram nunca mais terminava, porque os pensamentos voavam e o entusiasmo que nos fazia vibrar absorvia-nos por completo. E sonhávamos… e sonhávamos. E desse sonho nasceu o Grupo de Teatro, no ano da graça de 1973, a 27 de Setembro. Após delinearmos o esquema geral de actuação, decidimos procurar alguém que já tivesse a experiência que nos faltava para ensaiar. E a escolha recaiu no Júlio de Aveiro. Sabíamos que já tinha actuado no seu tempo de menino e moço e, mesmo mais tarde, já homem feito. As referências que lhe faziam, apontavam-no, sem sombra de dúvida, como uma boa aquisição. Pena foi que, algum tempo mais tarde, por motivos de saúde, tivesse de abandonar o Grupo. Entretanto já estava connosco o Sr. Augusto Fernandes, que comungava do nosso entusiasmo e, além disso, tinha conhecimentos da matéria. Foi-lhe atribuído o lugar de ensaiador. Tinham continuado as adesões com nomes que, mais tarde, se revelariam verdadeiros artistas. Humberto Rocha In Boletim Cultural da Gafanha da Nazaré (Continua)
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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Corpo Nacional de Escutas na Gafanha da Nazaré - 1

:AGRUPAMENTO N.º 588
DA GAFANHA DA NAZARÉ

Em 29 de Julho de 1979 dá-se a oficialização do Agrupamento do CNE (Corpo Nacional de Escutas - Escutismo Católico Português), ao qual foi atribuído o n.º 588. Na véspera, na noite de 28, fizeram a sua promessa os três primeiros dirigentes: Carlos Alberto Borges Ferreira (Chefe do Agrupamento), Orlando Leitão de Figueiredo (Secretário), e Fernando Alberto Borges Ferreira (Chefe de Grupo). Era assistente o Padre Miguel Lencastre.
Logo de seguida, iniciaram a preparação com vista à chefia da Alcateia (Lobitos) as futuras chefes Madalena Matias, Maria Ana Cunha Pereira, Maria do Céu Gandarinho Lopes e Custódia Lopes Caçoilo.
A primeira promessa de Lobitos ocorre a 2 de Maio de 1982, depois da necessária preparação. Em 1981, o chefe Carlos Alberto Ferreira deixa o Agrupamento e em 10 de Julho do mesmo ano assume a chefia Fernando Alberto Ferreira.
Em 25 de Setembro de 1982, os responsáveis do Agrupamento n.º 588 são já os seguintes:
Orlando Leitão de Figueiredo - Chefe do Agrupamento
Padre Rubens António Severino – Assistente
Fernando Martins - Adjunto do Assistente
Carlos António da Silva Loureiro – Secretário
Madalena Matias - Chefe da Alcateia
Eunice Rodrigues da Silva - Chefe do Grupo Júnior

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Coisas dos nossos “intigos”

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O Regueirão, com o moinho do ti João Conde à vista

Falar de qualquer terra, é uma coisa vulgar, pouco nos dirá. Falar da nossa Terra, é diferente. E, sem esforço, estamos a puxar a água para o nosso moinho. Lembro-me que, em criança, andando a vaguear pela Ria, ali pelo Regueirão, na Marinha Velha, havia um sítio a que nós chamávamos o Moinho – e lá estavam ainda os restos da construção: pedaços de adobos, telhas quebradas… Teria sido mesmo um moinho? – Assim no-lo atestava a nossa imaginação e uns restos de tradição oral. Mas seguindo por um rego que derivava para terra, lá bem na estrada, surgiu mesmo um “moinho” a sério, mas movido a electricidade, creio que era do ti João Conde. (De uma vez fui lá trocar milho e resolvi ir de bicicleta. À volta, no Zé da Branca, dei o maior trambolhão da minha vida. Ainda não dominava bem a “burra”, pois aprendera a andar nessas férias, para ir para o liceu… Amigos, senti-me voar, até me faltou o ar na descida tão brusca… e dei comigo no fundo da valeta!) Falava eu de moinhos…
Recordo que aí, como aliás noutros sítios, as mulheres usavam lenços na cabeça. E pelos lenços (e também pela roupa) sabia-se o estado da mulher – viúva, casada, marido ausente, marido a chegar, solteira comprometida, solteira,…, “filha de Maria”,… O lenço funcionava como as bandeiras da praia. E havia-os de vários tecidos… Rico tema para um estudo a sério…
Para os da minha geração vou lembrar-lhes algo que me ficou registado e agora cá está. As mulheres andavam normalmente de lenço. Mas com a evolução, algumas começaram a cortar o cabelo, etc. e tal… Quantos comentários se ouviram!... Seria mais um sinal da “emancipação” da mulher… Apareceram, com mais profusão, os mantos, mantilhas e véus, para “ver o Senhor”. E alguns eram mesmo bonitos e bem trabalhados. Mas o pior era quando se esqueciam dele em casa. Era obrigatório a cabeça da mulher estar coberta na igreja. Como resolver? - Ó João tens aí o teu lenço? - Para quê? - Dá cá, home, esqueci-me do véu em casa. E com aquele sem-cerimónia característico, ei-la que entra na igreja com o lenço “tabaqueiro” pousado na cabeça!... Onde havia lenços bonitos – onde estais! – era nos ranchos que se formavam quando havia Cortejos de Reis ou pelo Carnaval. 
Não há dúvida que as raparigas tinham brios nos seus lenços. E era vê-las de prendas à cabeça ou à volta do ti Armando Ferraz para ensaiar a dança do encadeado. Imagens e figuras de um passado recente que muito caracterizam a vida da Gafanha… 
O ti Armando ensaiava os seus ranchos e, no “defeso“, entretinha-nos com os robertos… Páginas ainda vivas da história popular… Onde também se notava o lenço era quando se levava o jantar aos que trabalhavam – nas terras, nas obras, nas secas ou nos estaleiros (do Mónica ou do Mestre Silvério. Neste era engraçado: os homens tinham de atravessar a Ria, para vir comer à sombra das tramagueiras que ladeavam a estrada que ia para Aveiro!) 
Perto da hora do meio-dia era uma azáfama para não fazer esperar os “moiros do trabalho”. Agora não será assim, mas era um costume que tinha raízes profundas e talvez não fosse mau para a saúde… Comida fresquinha, a fumegar! E aos Domingos? Em certa altura, ali no caminho que ladeia a igreja e conduz ao cemitério, surgiu um mercado domingueiro. Terão sido os irmãos Matias, de Vilar, (e peço-vos licença para os saudar, pois somos amigos de longa data!), os primeiros a trazer as suas batatas para vender à saída da Missa. E pegou… De tal forma que depois se teve de arranjar local mais apropriado e agora aí tendes o “mercado”… Também, nas vendedeiras, se podiam apreciar lenços bonitos!... E não é que, de lenço em lenço, me lembrei do jogo que ainda se usa mas que nesses tempos estava muito em voga – o jogo do lencinho-lenção!... 
Outros lenços, como é lógico, que nada tinham a ver com os da cabeça. Mas quantas histórias belas nos poderiam contar estes lencinhos, mais ou menos bordados, que eram o esmero das raparigas e o “ai-Jesus” dos rapazes! É que, na época própria, quando a idade isso pedia, a rapariga deixava cair o lencinho que o rapaz, de olho vivo e mão ligeira, apanhava e… Começava o romance! 
Não sei o que as raparigas hoje “oferecem” aos “romeus” – ou o que recebem… - mas então a primeira oferta era o… nome, depois o lenço, depois a fotografia e, só mais tarde, a mão! E quantas vezes tudo terá começado pelo lenço caído! Se um dia fizermos um museu – tardará muito? – reservemos um espaço para uma colecção de lenços, o que até nem será inédito… Será um património a guardar o que muito nos poderá ensinar dos nossos “intigos”, ou melhor das nossas “intigas”… E por hoje, deixem que vos saúde com o meu chapéu – que tenho de pedir emprestado. - Até mais ver! 

Manuel Olívio da Rocha 

NOTA: Este texto, do gafanhão de quatro costados e meu particular amigo Manuel Olívio da Rocha, encontrei-o há dias num boletim que preparei, em 1985, para as celebrações das Bodas de Diamante da criação da Gafanha da Nazaré, promovidas pela Junta de Freguesia, presidida, na altura, por Manuel Gandarinho Lopes. 
Porque se trata de um naco saboroso da história do nosso povo, aqui o ofereço aos meus leitores. Já lá vão, pois, 23 anos desde que o Manuel o escreveu. E tenho cá um palpite que ele nem se recordará deste seu escrito, que reputo de delicioso. 
Para ele, também, um abraço, com saudades desses tempos.

FM 

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Foto com desafio - 3

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A propósito da minha segunda “Foto com desafio”, recebi do meu amigo Helder Ramos o seguinte esclarecimento, que muito agradeço…
“ … é a propósito da foto publicada. Esta foto foi feita no final de uma prova organizada pela Comissão da Festa de N. Sra. da Nazaré, no último Sábado (salvo erro) de Agosto de 1982. Na foto não surge quem deu o apoio técnico à rapaziada. Foi o Prof. Júlio Cirino, que, durante muitos anos treinou muito boa gente no antigo Campo de Jogos do Forte da Barra. (Se o meu gosto pelo desporto existe, deve-se muito ao meu irmão Dinis Casqueira e ao Prof. Júlio Cirino, que nos iam chamando para , as coisas boas da vida). Essa prova realizou-se no Campo de Jogos do G.D. Gafanha e eu não faltei, depois de me ter inscrito no Cartório Paroquial. O vencedor foi o João Eduardo Jubilado Rodrigues, colega de escola primária e excelente homem, também desportivamente, que deu muito suor às equipas de futebol do GDG. A prova consistiu numas 6 voltas, se não me falha a memória, e deu direito a medalha para todos, ou quase. Tenho-a em casa como grata recordação, e lembro-me muito bem do calor que fazia e daquele saibro alvoroçado pelos sapatos de bico que o Augusto Amarante me emprestou. No fim, não aguentava os gémeos, porque nunca tinha treinado com tal... Nessa imagem reconheço algumas pessoas presentes - os dois filhos do Sr. Leitão (Paula e Nelo, que ficou atrás de mim nessa corrida); o Sr. Albino (ao fundo), membro da mordomia mobilizada pelo Pe. Miguel Lencastre, uma vez reiniciar-se as celebrações em honra da Padroeira. Creio que a foto publicada no Timoneiro de então tem outro enquadramento e nela se conseguem ver melhor as pessoas. A taça foi oferecida pelo BPA, que ainda funcionava na Av. dos Bacalhoeiros.”
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NOTA: Ora aqui está uma maneira bonita de colaborar. Agradeço ao Helder, enqunto peço aos meus leitores que me enviem fotos com legenda, se possível. A história também pode ser escrita deste modo.
FM
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domingo, 2 de novembro de 2008

Foto com desafio - 2

:Quem segura a taça? Quem está no grupo?
A propósito da Foto com desafio que publiquei há dias, recebi do Padre Miguel Lencastre, que se encontra, presentemente, em Fortaleza, no Brasil, uma achega, que fica à espera de outras. As achegas, quando me chegam, directa ou indirectamente, são partilha de conhecimentos de valor precioso. Diz o Padre Miguel (Prior da Gafanha da Nazaré entre 1973 e 1982) que a fotografia mostra o “desenrolar da toalha paroquial, representando todos lugares da antiga Gafanha”, o que representa “um verdadeiro ritual de como colocar em comunhão toda a paróquia”. Depois de perguntar quantos metros teria a toalha de comprimento, o antigo prior da Gafanha da Nazaré lembra que “cada emenda foi confeccionada no seu respectivo lugar”. A seguir, como facilmente se calcula, veio o almoço partilhado por muitos paroquianos. Hoje aqui fica outra fotografia de um encontro com jovens da época, da nossa paróquia. Deve ter havido uma competição qualquer, porque a taça está bem visível. A organização, certamente, foi do Padre Miguel. Ele ali está à vista de todos. Quem sabe mais sobre esta fotografia? FM :

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Acta da Instalação da primeira Junta da Paróquia da Gafanha da Nazaré

“Aos dois de Janeiro de mil novecentos e catorze, achando-se reunidos na casa das sessões da comissão paroquial Administrativa desta freguesia da Gafanha do Concelho de Ílhavo os cidadãos José Ferreira de Oliveira, João Sardo Novo, Jacinto Teixeira Novo, José Maria Fidalgo, Manuel Ribau Novo, membros efectivos da referida comissão durante a gerência de vinte e sete de Outubro de mil novecentos e dez a trinta e um de Dezembro de mil novecentos e treze, e os cidadãos José da Silva Mariano, Manuel José Francisco da Rocha, Manuel Conde, Alberto Ferreira Martins, João Sardo Novo, ultimamente eleitos membros efectivos da nova junta da Paróquia desta freguesia da Gafanha, como consta das respectivas actas arquivadas na secretaria da Câmara Municipal deste concelho e na secretaria do Governo Civil deste distrito, os membros daquela comissão administrativa e o senhor regedor desta freguesia, Silvério Vieira, que também estava presente, à vista da nota comprovativa da referida eleição emanada do Governo Civil, transmitiram aos membros da nova Junta todos os poderes que em virtude da mencionada eleição lhes foram conferidos. Todos juraram cumprir fielmente as leis do país, como cidadãos da República Portuguesa, e com zelo e patriotismo desenvolver o progresso, moral e material (social) desta freguesia. E constituindo-se em sessão, elegeram seus presidente e tesoureiro, recaindo essa eleição nos cidadãos (por unanimidade) José da Silva Mariano, como presidente, e João Sardo Novo como tesoureiro, nomeando seu secretário o vogal Alberto Ferreira Martins. E não havendo mais nada a tratar, o presidente mandou encerrar a sessão de que se lavrou a presente acta que depois de lida vai ser assinada por todos e por mim, Alberto Ferreira Martins secretário que a escrevi”. “Em tempo: A nova junta também elegeu para vice-presidente Manuel José Francisco da Rocha e deliberou que as suas sessões se efectuassem na sacristia do lado oeste da Igreja Paroquial desta freguesia pelas onze horas do primeiro e terceiro domingo de cada mês. Declara-se que a eleição de tesoureiro e nomeação do secretário supra mencionadas são de carácter provisório, cessando para esses indivíduos as respectivas funções logo que esses cargos sejam providos nos termos da lei. E não havendo mais nada a tratar, o presidente mandou encerrar a sessão de que se lavrou a presente acta que depois de lida vai ser assinada por todos e por mim, Alberto Ferreira Martins, secretário que a escrevi.” José Ferreira de Oliveira João Sardo Novo José Maria Fidalgo Manuel Ribau Novo José da Silva Mariano Manuel José Francisco da Rocha Manuel Conde O Secretário – Alberto Ferreira Martins
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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Dia das Bruxas

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Cabeças-fantasma com vela dentro
Comemora-se, no dia 31 de Outubro, o Halloween, festividade que remonta ao povo Celta e tem a ver com rituais pagãos, entre nós, chamado Dia das Bruxas. Amada pelas crianças que vêem, neste dia, um escape para a sua irreverência e desculpa para pregar partidas, o Sweet or treat, confirma este fenómeno, é simultaneamente contestada e repudiada por muitos outros.Alegando que não tem nada a ver com a nossa cultura, contestam uns tantos que estamos a sofrer uma aculturação, em relação aos povos de origem anglo-saxónica, nomeadamente dos EUA, donde foi importada esta celebração. Materializando-se numa série de objectos comercializados profusamente pelo comércio, tem a sua expressão e simbologia máximas na utilização das abóboras. Estas são descarnadas, abre-se-lhes uma tampa em cima e desenha-se uma cara, pela excisão de pequenos pedacinhos que correspondem aos olhos, nariz, boca. Dentro das mesmas é colocada uma vela e aí temos o que nos países de Língua Inglesa chamam, o Jack-o’-Lantern! Esta figura bizarra e fantasmagórica era colocada em locais frequentados, mas pouco visíveis. Este ritual acontecia no Outono, em plena época das colheitas. Reportando-me aos meus tempos de juventude, e porque nasci no século passado, na época áurea dos Beatles, evoco algo que, pela sua similitude, merece a minha referência. Terminada a colheita do milho, que por estas terras das Gafanhas tinha um cultivo muito abundante, procedia-se ao seu acondicionamento: primeiro, fazia-se a desfolhada, aqui para nós designada por desmantadela, seguida da debulha, por debulhadoras mecânicas. Finalmente, depois de permanecer na eira por vários dias, sob os raios do sol escaldante, para ficar completamente seco, era armazenado em celeiros próprios, de grandes proporções, aqui chamados caixas do milho. Quando se viam os campos despidos, o milho recolhido e as abóboras colhidas e arrumadinhas em linha, por cima dos telhados, acontecia esta cena tão habitual, quanto insólita. Os membros mais jovens das famílias dos agricultores, ou semiagricultores, dedicavam-se a esta tarefa invulgar: desventravam as abóboras e construíam cabeças-fantasma, com uma vela dentro. Acabada a operação, punham a tampa na abóbora e iam colocá-la nas encruzilhadas dos caminhos e em sítios esconsos. Remontando às origens primitivas da utilização destas “lanternas”, ressalta aqui um paralelismo entre a tradição anglo-saxónica e estes costumes de terras gafanhenses. Isto foi vivenciado por mim, mas é possível que haja relatos orais mais aprofundados, desta mesma tradição, aqui na nossa terra. Madona

domingo, 26 de outubro de 2008

FOTO COM DESAFIO

:Preparação da mesa comum. Foto do meu arquivo


Esta foto é um desafio à memória de todos os gafanhões, sobretudo dos mais velhos. Sei que se trata de uma mesa para um convívio paroquial, do tempo do Padre Miguel Lencastre, numa altura em que ele procurava implementar a aproximação de toda a gente. Como acreditava que à volta de uma mesa comum tudo seria mais fácil, resolveu avançar com a ideia de uma enorme, não direi gigante nem com pretensões a alcançar qualquer recorde, mas tão-só capaz de juntar, à volta dela, muita gente. Penso que foi no Jardim Oudinot, porque são visíveis as palmeiras, símbolo do jardim, tal como hoje. Cada família levava o farnel, que era partilhado por toda a gente. Ainda não tive tempo de investigar a data e mais pormenores, mas prometo fazê-lo, logo que tenha tempo e acesso aos antigos Timoneiros. Acho que o relato deste convívio, como de outros eventos, deve estar registado em letra de forma. Até lá, convido os meus amigos a ajudarem-me neste trabalho. Fico a aguardar.
Fenando Martins
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O trabalho não azeda

: O trabalho não azeda. (o trabalho pode esperar sem consequências de maior) Claro que isto se referia ao trabalho agrícola, num ambiente marcadamente rural. A escolha do dia para “semear” as batatas, plantar as couves ou regar o milho, era aleatória. Os agricultores de então trabalhavam muito, de sol a sol! Despendiam muito esforço físico, na labuta da sua jorna, o que se resolvia, facilmente, com uma boa noite de sono. Não tinham stress, estes trabalhadores rurais, nada que se comparasse aos nossos dias. Eles próprios tinham autonomia para fazer os seus horários! Nesta situação, estavam equiparados aos executivos das grandes empresas, que gozam de isenção de horário de trabalho! Madona
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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O assador de castanhas

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Aparecia, quase em simultâneo, com o início das aulas, nos meus tempos de menina e moça! As primeiras aragens frias do Outono traziam, à nossa cidade, aquela figura típica e tão apreciada por todos. Era o assador de castanhas! O seu carrinho improvisado com a panela tosca, esburacada, para assentar nas brasas quentes, era uma presença obrigatória nas ruas da cidade. No regresso das aulas, quase ao entardecer, o ar rescendia ao aroma quente e adocicado das castanhas. Tão apetecidas, tão apreciadas, com a casca estaladiça e prateada, faziam as delícias de miúdos e graúdos! Era um acorrer aos locais onde se encontravam os vendedores, nas esquinas das ruas, em locais muito frequentados. Quentes e boas! Quentes e boas! – O pregão soltava-se da boca dos assadores, que procuravam atrair uma clientela ávida de saborear tão apetitoso petisco! E ali, por cima do carrito, estavam as castanhas arrumadinhas ao lado do papel de jornal, onde iriam ser embrulhadas para entregar aos clientes. Belos tempos, em que se comiam as castanhas embrulhadas em papel de jornal e ninguém tinha problemas com isso! Belos tempos!
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Madona
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quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Para rir... Ruralidades...

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Um dia, à autora destas linhas, no cumprimento das suas tarefas de “Jovem Agricultora”, aconteceu um episódio insólito. Na sua actividade agro-pecuária, deparou com esta cena bizarra: ocupava-se a dar o alimento aos coelhinhos, tão fofinhos, quanto roedores. Uma galinha que dividia o espaço com os coelhos, numa promiscuidade inofensiva, começa a “espenicar“ o botão, nas bermudas da sua dona. Com efeito, essas calças que a dona trazia, pelo meio da perna, como todas as jovens (?) usam, hoje em dia, são rematadas em baixo por uma tira, com um botão. Este, semi-esférico e grande, criou no cérebro minúsculo da galinha, a imagem de um bago de milho Large size. A dona que não come milho, nem gosta de botões… consegue distingui-los muito bem!!! A galinha que come milho e, pelos vistos, parece cobiçar os botões, não vê a diferença entre ambas as coisas. Isto só confirma o aforismo popular que diz: “as galinhas são mesmo estúpidas!” ...
Era um termo muito usado nestas terras das Gafanhas: fazer as camas às vacas; cobrir o chão do estábulo, com estrume. (Dava-se esta designação, ao junco colhido nas praias, junto à ria) . A seguir ao seu transporte para casa do lavrador, directamente do moliceiro que o apanhara na praia, era colocado num monte grande, habitualmente no exterior da casa, chamado relheiro ou rolheiro. (É Maneli, vai ao relheiro, buscar uma gabela de estrume para fazer as camas às vacas, homi!). O que sempre me fez espécie foi a expressão no plural – as camas. Será que cada vaca ou boi dormia em camas separadas? Mas, no caso duma vaca solteira, eu ouvia, precisamente a mesma expressão: as camas da vaca! Seria tão corpulenta que abarcaria mais que uma cama? Também pensei num estábulo grande, tipo camarata ou vacaria, usando o termo específico, em que as vacas estivessem todas alinhadinhas em camas individuais. Os bovinos estavam num lugar superior, na hierarquia dos animais domésticos. Eram os únicos que tinham direito a cama, mesa (manjedoura) e “lençóis” lavados! Seria a retribuição pelo precioso néctar que elas repartem entre os filhotes, os bezerros, e o homem que nem sempre lhes retribui essa generosidade? Deixo a pergunta no ar!
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Madona
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quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Saúde nas Gafanhas

: Primeiros médicos e primeira farmácia
O ano de 1940 foi marcante, a nível de saúde, para a Gafanha da Nazaré, com os primeiros médicos a fixarem-se entre nós e com a primeira farmácia. Segundo a "Monografia da Gafanha", do Padre João Vieira Rezende, em 1940 estabeleceu consultório médico com residência na Gafanha da Nazaré o Dr. Joaquim António Vilão, natural de Mata-dos-Lobos, concelho de Figueira-de-Castelo-Rodrigo. Também nesse ano e na mesma Gafanha, de onde era natural, o Dr. Maximiano Ribau, felizmente ainda vivo, montou o seu consultório. No mesmo ano, abriu a primeira farmácia – Farmácia Morais – a Dra. Maria Ester Ramos da Silva Morais, também com saúde e como sempre na direcção da mesma farmácia, natural do Porto. Presumo que a Farmácia Morais é o mais antigo estabelecimento comercial das Gafanhas.
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sábado, 11 de outubro de 2008

TIMONEIRO — Jornal paroquial

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TIMONEIRO

O TIMONEIRO nasceu por iniciativa dos párocos das freguesias das Gafanha da Nazaré, Encarnação e Carmo, respectivamente, Padres Domingos José Rebelo dos Santos, António Augusto da Silva Diogo e José Soares Lourenço, em Dezembro de 1956. Publicava-se mensalmente e a sua tiragem inicial era de 1500 exemplares. Aliás, sempre se publicou com essa periodicidade, embora por vezes houvesse alguma irregularidade.
Por dificuldades de vária ordem, em 1958 a Gafanha da Encarnação desligou-se e em 1964 era já propriedade exclusiva da paróquia da Gafanha da Nazaré. Durante alguns anos integrou um grupo de Boletins Paroquiais, o que lhe proporcionava a utilização de alguns artigo, principalmente na primeira e última página.
Desde a sua fundação até à entrada na paróquia do Padre Miguel Lencastre, como coadjutor, o TIMONEIRO era escrito, quase na íntegra, pelo seu fundador e director, Padre Domingos. Nessa altura, um grupo de leigos, com algumas responsabilidades na freguesia, aceita colaborar com a finalidade de tornar o jornal mais representativo da comunidade. Desde então, têm sido inúmeros os seus colaboradores, mantendo-se o pároco como primeiro responsável e director, regra que tem acontecido até aos dias de hoje.
Dificuldades económicas puseram em questão a sua continuidade na década de setenta do século passado, dizendo-se, na altura, que a paróquia não podia “suportar tal luxo”. No entanto, durante uma viagem ao Brasil, o Padre Miguel pôde testemunhar o carinho com que o TIMONEIRO era recebido. E a partir daí nunca mais se falou “em luxo”, porque se reconheceu que o jornal era uma necessidade, também para os muitos emigrantes gafanhões espalhados pelo mundo.
Durante os anos da sua existência adoptou diversos formatos e outros tantos cabeçalhos, bem como foi variando o número de páginas. Em 1985 optou pelas 12 páginas com capas a duas cores, mantendo-se mensal, mas reduzindo a tiragem para mil exemplares, nunca tendo sido estudada a causa da falta de interesse de alguns paroquianos.
Inicialmente o jornal era distribuído pelos “Zeladores do Sagrado Coração de Jesus”, conforme aviso lido às missas do dia 23 de Dezembro de 1956, que reza assim: “… bater a todas as portas, apontando o nome, visivelmente, e investigando se querem que o jornal seja entregue pessoalmente ou pelo correio.” Todos, então, optaram pelo seu recebimento por mão própria, e só muito mais tarde, quando se verificou o cansaço de alguns “zeladores”, é que passou a ser distribuído pelos CTT.
Em 1986, o seu preço avulso era de 30$00, sendo a assinatura anual de 350$00 (Portugal) e de 500$00 (estrangeiro). Um ano antes conseguiu o Porte Pago, o que levou a que, com alguma publicidade, se tornasse economicamente independente.
Foram seus directores , até 1986, os Padres Domingos, Miguel e Rúbens, sendo Fernando Martins o responsável pela Redacção. Desde a primeira hora, o TIMONEIRO procurou ser um órgão oficial da comunidade católica, mas aberto à comunidade humana, com a inserção nas suas páginas de temas de âmbito geral.

Fonte: “GAFANHA – N.ª S.ª da Nazaré",  de Manuel Olívio da Rocha e Manuel Fernando da Rocha Martins
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sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Tradições das Gafanhas

: MULHERES HEROÍNAS
No tempo em que as terras das Gafanhas eram amanhadas, vivia-se numa sociedade quase matriarcal. Com efeito, com os maridos embarcados para a pesca do bacalhau, a mulher ficava encarregada de quase todas as tarefas: domésticas e agrícolas. Até, quando nasciam os filhos, havia apenas uma “curiosa” que dava uma ajudinha aos bebés, para entrarem neste mundo cruel. Quando as jovens mães iam para “a terra” trabalhar, eram obrigadas a levar consigo os seus rebentos. Na altura, não havia as “babysiters”, os infantários, as creches. Nem tampouco as amas particulares, já que todas as mulheres tinham a mesma ocupação. A esse tempo, não havia diferenciação profissional, nem sindicatos para defender (?) os direitos dos trabalhadores! Nada iria reduzir para 8 horas de trabalho, a jorna diária, àqueles que trabalhavam de sol a sol. No Inverno, o astro-rei, compadecia-se destas mulheres heroínas, retirando-se um pouco mais cedo. Não havendo, na altura, estruturas sociais de apoio às jovens mães e à criança, deparava-se-lhes um problema: onde deixar os bebés? Usando dum pragmatismo, tão peculiar nestas mulheres e mães, a solução brotava, tão límpida como água, que jorra da fonte. Os cabazes, cestas grandes comprados às ciganas, utilizados para os mais diversos fins, passavam a ter uma utilidade acrescida. Uma alcofinha redonda, de verga, revestida dos mais finos lençóis de cambraia (!?) nascia da imaginação destas corajosas mães. Enquanto trabalhavam, na freima, do campo, os seus rebentos, na extrema da terra, à sombra do milho alto, eram embalados pela sinfonia dos passarinhos. Que felizes eram essas crianças! O seu soninho angelical, não era perturbado pelo ruído, às vezes ensurdecedor, das nossas cidades e vilas. Ali, só se ouviam acordes musicais, no chilreio das avezinhas. Quem não dorme ao som da música? Poder-se-á dizer, com toda a propriedade, que bebés e às vezes adultos, numa sesta roubada ao horário de trabalho… dormiam o sono dos justos! Foi assim, que a autora destas linhas ganhou amor à natureza e à vida bucólica! Madona
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Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré - 3

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Filiação na Federação do Folclore Português
Entretanto, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré não pára. Aspira a mais. E esse mais, passa, indubitavelmente, pela filiação na Federação do Folclore Português, entidade máxima para controle da genuinidade dos grupos etnográficos e de folclore. Em resposta a um ofício do Grupo de 15 de Julho de 1986, Severim Marques, membro do Conselho Técnico Regional daquela Federação, refere-se a uma Exposição Etnográfica organizada pelo Grupo que visitou em 7 do mesmo mês. E sublinha: “a vossa exposição agradou-nos sobremaneira e deu-nos até bastante satisfação por constatarmos que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, no limiar da sua vida, agora tomada a sério, manifestou o sentido e a consciência do que é o folclore, que não é nem mais nem menos que uma parte das páginas brilhantes do grande livro da cultura popular. O folclore não é só trajar, dançar e cantar ao som de melodiosas músicas tiradas de instrumentos musicais que os nossos avoengos utilizaram no seu espaço e no tempo, não! O folclore é um mundo de tradições do nosso povo que é preciso preservar.” Depois de considerar a exposição como “uma valiosa mostra das potencialidades das boas gentes de antanho das Gafanhas”, bem como “o espelho de uma força de vontade que, naturalmente, terá por detrás de si algo de bem organizado, com ordem e mérito”, Severim Marques frisa que “o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré poderá vir a enfileirar com os melhores agrupamentos folclóricos do nosso País”. Por outro lado, aquele responsável regional pelo folclore anuncia que “só depois de vermos o Grupo, incluindo como é óbvio dançarinos/nas, tocata, figurantes devidamente trajados”, e de se certificarem do valor das “recolhas, origem dos trajes de festa, domingar, romaria e dos vários trajes de trabalho e porventura outros”, mas também do que diz respeito “às danças e músicas, bem como ao uso e utilização dos instrumentos musicais que os vossos antepassados usaram e utilizaram em romarias”, é que se procederá à admissão do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré no seio da Federação do Folclore Português. Este ofício de Severim Marque mostra à evidência que o Grupo teve de percorrer um longo caminho de recolha, selecção, estudo, registo, ensaio e apresentação das tradições etnofolclóricas das Gafanhas, até chegar a fazer parte de pleno direito da Federação do Folclore Português. Em 16 de Maio de 1988, o presidente da Federação, Augusto Gomes dos Santos, informa por ofício que tem a honra de comunicar que, “por proposta do Conselho Técnico Regional, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré reúne condições para ser inscrito” na Federação como sócio efectivo, o que veio a acontecer precisamente nessa data. Entretanto, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, quase desde os primeiros passos, participa em inúmeros espectáculos e festivais etnográficos e folclóricos por todo o País, incluindo os Açores, e mesmo pelo estrangeiro. Actua em França, Alemanha, Itália, Espanha, participa em espectáculos na RTP, grava para o filme “Os Pescadores”, sobre a obra homónima de Raul Brandão, o escritor que porventura mais e melhor cantou a Ria de Aveiro, e organizou na terra que lhe serve de berço 19 Festivais Nacionais de Folclore, alguns deles com a marca de internacionais. Este ano será, portanto, o XIX Festival. Por outro lado, não descurou a organização de dois Colóquios: um em 1993, sobre “Gafanhas: usos, costumes e tradições”; e outro, em 1998, sobre “A pesca do bacalhau — o que foi”. Participou em diversos espectáculos na EXPO’98 e até 1999 organizou quatro Encontro de Cantares de Janeiras. De registar, ainda, o seu envolvimento em várias exposições ligadas à etnografia, especialmente na Gafanha da Nazaré. O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré é, desde Fevereiro de 1995, Associação de Utilidade Pública. Antes disso, porém, mais concretamente desde 26 de Junho de 1991, foi galardoado pela Câmara Municipal de Ílhavo com a Medalha de Mérito Cultural, por proposta da Assembleia e da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré. Diz o ofício da Junta de Freguesia enviado à Câmara Municipal: “Anexamos proposta aprovada por unanimidade na Assembleia de Freguesia da Gafanha da Nazaré em sua reunião de Abril [1991], mandatando a Junta de Freguesia para desenvolver acções junto da Câmara Municipal de Ílhavo, no sentido de ser atribuída a medalha de mérito cultural ao Grupo Etnográfico da Vila da Gafanha da Nazaré. A Junta de Freguesia deliberou, por unanimidade, dar seguimento à proposta, por estar de acordo com o seu conteúdo, Ass) Mário Fernandes Cardoso Júnior, presidente da Junta de Freguesia”. E em nota, há o seguinte registo: “O presidente [Manuel da Rocha Galante] subscreve os considerandos subscritos pela Assembleia de Freguesia e canalizados à Câmara pela Junta de Freguesia. Foi deliberado por unanimidade concordar com a presente proposta.” Fernando Martins :

terça-feira, 30 de setembro de 2008

ROMARIA DA SENHORA DA SAÚDE MANTÉM A TRADIÇÃO

: Este fim-de-semana vamos ter festa rija na Costa Nova, em honra de Nossa Senhora da Saúde. Amanhã há missa, procissão e as tradicionais devoções particulares a Nossa Senhora. Para além disso, que é o substrato religioso das festividades em honra dos padroeiros, neste caso da padroeira da paróquia da Costa Nova, vem a romaria do povo das redondezas, ao jeito de quem encerra a época balnear. Diz o padre Rezende, na sua Monografia da Gafanha, que “Frei João Pachão, no século Jerónimo Pachão, das Aradas, naquele tempo já frequentador da Praia, fundou em 1822 ou em 1824, com o auxílio das companhas e com esmolas do povo, uma capela de madeira, que dedicou a Nossa Senhora da Saúde”. A história continua e a dado passo, com mais banhistas a procurarem a praia, José da Graça, de Ílhavo, gerente de uma das companhas, avançou com a ideia de construir outro templo, porque o primeiro não oferecia as condições mínimas para o culto. Continua o padre Rezende: “Com o concurso das outras companhas pôs mãos à obra, e em 1890 tinha erguido a linda capela, que a brisa do mar beija a toda a hora, numa saudação fagueira.” “Todos os anos – garante o autor da Monografia – desde a sua fundação, é celebrada a festa à sua excelsa Padroeira, no último domingo de Setembro, atraindo à praia multidões de devotos e forasteiros.” Mais adiante, sublinha que a devoção é tanta que não faltam ofertas valiosas, tais como “Cordões, libras, ligas, anéis, crucifixos, medalhas, (tudo de oiro), velas, ex-votos de cera, outros ex-votos, azeite, novenas, orações, tudo ali era levado pelos verdadeiros devotos em agradecimento à SS. Virgem, pelas graças recebidas”. E depois acrescenta: “Pena é que os pseudo-festeiros, ou devotos-arrecadadores, dessem aplicação desconhecida às esmolas que anualmente subiam a alguns contos.” (permitam-me um à parte: nestas coisas, de vez em quando, não falta quem se aproveite da devoção dos fiéis)Diz ainda o padre Rezende que, “Nesse tempo de esbanjamentos, foi a família do Dr. Luís de Magalhães, quem manteve com esplendor o culto da capela. Está bem paramentada pela generosidade das famílias Magalhães e Maia Alcoforado”. Fernando Martins

terça-feira, 23 de setembro de 2008

MOVIMENTO APOSTÓLICO DE SCHOENSTATT - 1





Quem hoje visita a Gafanha, ou nela vive, não pode deixar de passar pelo Santuário de Schoenstatt ou de sofrer, directa ou indirectamente, a influência da sua espiritualidade, tão bem ela casou com a maneira de ser destas gentes. De facto, o Movimento Apostólico de Schoenstatt, fundado em 18 de Outubro de 1914, na localidade do mesmo nome, na Alemanha, pelo Padre José Kentenich, entrou na Gafanha da Nazaré para dar os primeiros passos em 1970, com a vinda do Padre Miguel Lencastre para desempenhar as funções de coadjutor, e após a adesão do prior de então, Padre Domingos. Como é característica fundamental da sua missão, o Movimento necessitava de um Santuário, fonte de graças e local de veneração da «Mãe, Rainha Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt», Santuário esse que tinha de ser, como todos são, cópia fiel do original, e em torno do qual se desenvolveriam acções de âmbito espiritual e extensivas a todos os grupos etários, já que está vocacionado para despertar vivências apostólicas junto de jovens de ambos os sexos, mães, senhoras, Irmãs e Padres, quer regulares, quer seculares, sem esquecer os doentes e quantos desejam colaborar na formação de «um novo tipo de homem e de uma nova comunidade».
O Movimento de Schoenstatt tem um carisma Mariano, Apostólico e Comunitário, e, por inspirador, o fundador (o Pai-Fundador, como é mais conhecido), padre José Kentenich. Os membros deste Movimento estabelecem uma Aliança de Amor com Nossa Senhora, segundo múltiplos graus de pertença, desde o peregrino que visita o Santuário e esporadicamente toma parte em actividades de formação, até aos que ingressam nos Institutos, passando pelos que se vinculam às tarefas de auto-educação, através do cumprimento fidelíssimo do dever e de uma vida cristã autêntica, base essencial da renovação religiosa e moral do mundo.
Na Gafanha da Nazaré, o Movimento de Schoenstatt exerce a sua missão a partir do centro Tabor e da Casa de Sião, pelas Irmãs de Maria e pelos Padres de Schoenstatt, estando o Santuário no centro de todas as actividades, numa ligação plena à Igreja. A Família de Schoenstatt baseia-se na imagem da família natural para que, nas comunidades, o Povo de Deus se transforme em família de Deus, aceitando a protecção da Mãe, Rainha Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, através do Santuário, como lar espiritual, onde se presta um contributo decisivo às tarefas que a Igreja, em especial, e o Vaticano II, em particular, têm indicado ao mesmo Povo de Deus.
Porque acredita que a liberdade é um dom fundamental da pessoa humana, o Movimento tem como determinantes o princípio: Liberdade quanto possível; Vínculos só os necessários; e Cultivo de espírito elevado ao máximo. Assim, Schoenstatt quer formar o homem novo, livre e capaz de se decidir, que sabe usar as coisas do mundo, estando desprendido delas, e que, com magnanimidade, aspira a ideias elevadas. Em Schoenstatt, Maria anuncia as verdades fundamentais da Fé Católica, tão ameaçadas no dia-a-dia por constantes injustiças e manipulações de toda a ordem que instrumentalizam o Homem cada vez mais, e procura restituir-lhe a dignidade de filho de Deus.
O Movimento de Schoenstatt mobiliza e tem mobilizado centenas de paroquianos na Gafanha da Nazaré e noutras paróquias da Diocese. Torna imprescindível, por isso, registar algumas notas do Padre Miguel Lencastre, grande obreiro de toda esta espiritualidade que se respira na região. Ouçamo-lo, pois: «Nos meus começos de coadjutor na Gafanha da Nazaré, procurei pesquisar as possibilidades que se abriram na paróquia e arredores. Por isso mesmo, tentei penetrar apostolicamente em Aveiro e paróquias vizinhas. Desta maneira, ia regularmente ao Colégio do Coração de Maria, tomando contacto com os jovens. Também procurei alguns padres que pareciam ter simpatia pelo Movimento. Cheguei a reunir uns oito ou nove, quase todos Aveiro.
Em Novembro de 1970, dava-se um facto, a meu ver muito importante. O «Símbolo do Pai», vindo da Suíça, fazia pela 1.ª vez a sua entrada em Portugal - Lisboa. Para quem conhece o Movimento, sabe bem o que representava essa visita e toda a corrente de vida e de graças que a acompanhava. Por isso mesmo, desabafei com o P. Domingos Rebelo, dizendo: «Hoje cheira-me a grande caçada. Temos que descobrir a lebre. Ou eu me engano muito, ou este dia vai ficar gravado na história da Igreja e do Movimento em Portugal». E com esta fé, o P. Domingos e eu entrámos no meu carro - o Maresia.
Demos uma grande volta, atravessando a paróquia, sem esquecer a Barra. Já no final, o P. Domingos levou-me até aos terrenos da Colónia. Encontrámos uma casa completamente abandonada — hoje Casa de Sião — e uma outra na sua frente, não abandonada, mas quase. Viviam lá colonos, que pouco tempo depois saíram. Ficava no terreno que hoje é o das Irmãs, logo à entrada, um pouco à direita. Junto da primeira casa, o P. Domingos e eu ajoelhámos e rezámos e também sonhámos: E se conseguíssemos fazer daqui um grande Centro Espiritual, talvez mesmo com um Santuário?...
Não tínhamos nem um centavo, mas nas mãos de Deus tudo seria possível. E nunca mais esta ideia me abandonou. Com o grupo desses padres simpatizantes de Schoenstatt, procurei transformá-la em realidade. Conversámos e fomos amadurecendo o projecto. Fiz também sondagens a nível das autoridades da Colónia e da Diocese.
Em Abril de 1971, chega à Gafanha o P. Celestino Trevisan. Ele ficou entusiasmado com a ideia, e dá-nos a sua força. E no dia 5 de Maio de 1971 esse grupo de padres resolveu escrever uma carta às autoridades competentes, pedindo a cedência gratuita dessa primeira casa abandonada, prometendo em contrapartida a construção de um Centro Social e Espiritual. A resposta veio mais tarde, mas a casa e terrenos só seriam cedidos a título precário. Escreveu-se, então, nova carta. E como o colono da 2.ª casa já tivesse saído (ou estava para sair…), pedimos também esta segunda com os seus terrenos anexos. Mas tudo isto demorou o seu tempo. Finalmente, veio o sim tão desejado em 25 de Maio de 1973.
Lembro-me do primeiro piquenique lá realizado, com os simpatizantes de Schoenstatt. Foi no dia 12 de Junho de 1972, dia do meu aniversário. Entre outras pessoas, estavam o P. Domingos, Maria Luísa, P. Celestino, minha irmã Margarida, um grupo de Unionistas brasileiras do Rio Grande do Sul, do qual fazia parte Anita Trevisan, uma outra senhora brasileira Flora Adami, além de D. Luz e Belinha. Também com o Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade, e os padres do Arciprestado de Ílhavo. D. António dos Santos ainda era pároco. Fizemos lá vários almoços, nas nossas reuniões de zona, com alguns desafios de futebol de permeio. D. Manuel era sempre guarda-redes! E capitão! Chegou depois o final do meu contrato como coadjutor - 30 de Setembro de 1972. Por isso, regresso ao Brasil, assim como o P. Celestino. Passados uns seis meses, regresso à Gafanha - Abril de 1973, desta vez como pároco.
Começo de imediato a legalizar a situação dos terrenos, o que me deu grandes canseiras e preocupações, tanto com as autoridades eclesiásticas como com as civis, e também com os superiores do meu Instituto!... Mas, com a ajuda de Deus, tudo se resolve. Isto já em pleno 1974. Em 25 de Abril estoira a revolução nacional! Em Agosto desse ano, promovo um campo de trabalho para estudantes estrangeiros, começando assim as obras de restauro da futura Casa Sião, sem qualquer ajuda económica. Foi tudo na base das boas-vontades. Para dormir, utilizámos as instalações do antigo Lar da Obra da Providência - hoje Jardim-escola. Aí pernoitavam os estudantes. Finalmente, nesse ano de 1974, consegui uma verba da Alemanha, que me permitiu continuar e concluir a Casa Sião. Entretanto, o Movimento na Gafanha crescia.
Formaram-se grupos de Mães, um de rapazes e outro de raparigas, além do Movimento das Virgens Peregrinas e da celebração dos dias 18, na Capela da Igreja. Com este crescimento, veio naturalmente a primeira peregrinação oficial ao Santuário de Lisboa, a 14 de Setembro de 1975, inaugurado a 31 de Maio de 1974. Em Lisboa, encontrámos as Irmãs de Maria, recém-chegadas do Brasil. Convidei-as para uma visita à Gafanha. E no dia seguinte viemos de «Maresia» para a nossa paróquia, com passagem por Fátima.
As Irmãs, depois de visitarem Porto e Braga, decidiram-se a ficar na Gafanha. O primeiro lugar para onde elas foram, foi para o Jardim-escola, que havia sido fundado nessa própria altura, talvez começos de Outubro! Mas, pouco tempo depois, passaram para a Casa Sião, e mais tarde para o Tabor. E daqui para a frente a história é bastante conhecida.»

Fonte: Gafanha Nª Sª da Nazaré (Monografia da Paróquia) de Manuel Olívio da Rocha e Manuel Fernando da Rocha Martins
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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Senhora dos Navegantes no Forte da Barra

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1 – Devoções Marianas

É conhecida, de há muito, a devoção que as gentes das Gafanhas têm por Nossa Senhora, à semelhança do que acontece um pouco por todo o País. A figura da Mãe, tanto no plano natural como divino, levou os crentes a aceitarem a Virgem Maria como símbolo da ternura, da disponibilidade, da protecção e do amor. Nessa linha, Maria nunca deixou de inspirar devoção a quem olha para Ela, sobretudo em momentos de aflição ou dificuldades. A Mãe de Deus, e nossa Mãe também, está permanentemente aberta ao povo sofredor. Nossa Senhora da Nazaré, da Encarnação, do Carmo, dos Aflitos, da Boa Hora, da Boa Viagem, da Saúde, dos Campos e, ainda, dos Navegantes. A mesma Nossa Senhora para cada situação. Não é de estranhar, pois, que a Senhora dos Navegantes tenha surgido em espaço e tempo de frágeis técnicas de marear, com perigos constantes, tanto à boca da barra como no mar alto. Embora não se saiba de onde partiu a ideia de venerar no Forte da Barra a Senhora dos Navegantes, é de presumir que a proposta, com toda a naturalidade, tenha nascido no coração de quem vive sentindo as riquezas do oceano, mas também a sua bravura.

domingo, 14 de setembro de 2008

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré - 2

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Nascimento e baptismo do Grupo Etnográfico

Por mais complexo que seja o processo de nascimento de uma qualquer instituição, há sempre uma data que se fixa como a primeira. Assim, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré nasceu oficialmente no dia 1 de Setembro de 1983, sendo lógico aceitar que a fecundação aconteceu anteriormente, com mais rigor em 1980/81, na referida festa da Catequese, em que alguém avançou com a ideia de se dançar e cantar modinhas dos nossos avós, no encerramento do ano catequético. E se é verdade que se assumiu aquela data como a mais próxima da realidade, também é certo que o registo do nascimento se fez em 11 de Julho de 1986, através de escritura notarial. Nesse dia, no Cartório Notarial de Ílhavo, a cargo da licenciada Maria Helena de Matos Ferreira, assinaram a escritura, como fundadores do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, os seguintes: Alfredo Ferreira da Silva, José Manuel da Cunha Pereira, Maria Isabel Fidalgo das Neves Nunes, José Maria Serafim Lourenço, Maria Isabel da Rocha Ribau Amarante, Augusto Manuel da Rocha Amarante, José da Costa Ferreira, Maria de Lurdes Matias Cravo, Humberto Nunes Merendeiro, José Manuel Ribau Augusto, Maria Rosália Figueiredo Rodrigues Teixeira, Maria Helena Pereira de Sousa, David Soares Caçoilo, João Álvaro Teixeira da Rocha Ramos, José Augusto Vilarinho Fidalgo, Maria da Conceição Bola Soares e Manuel Joaquim Retinto Ribau. A publicação da escritura veio no Diário da República de 14 de Agosto de 1986, III Série. Entretanto, os corpos gerentes do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré ficaram assim constituídos: Assembleia Geral: Presidente — João Álvaro Teixeira da Rocha Ramos Secretários — Paulo Manuel Marques Riço David Soares Caçoilo Direcção: Presidente — Alfredo Ferreira da Silva Vice-Presidente — José Manuel da Cunha Pereira Secretário-Geral — José Augusto Teixeira Rocha Secretário-Adjunto — Paulo Jorge Albuquerque Teixeira Tesoureiro — José da Costa Ferreira Tesoureito-Adjunto —Maria Isabel Fidalgo das Neves Nunes Vogais — Maria Conceição Bola Soares Alda Rei Albuquerque Rosa Bela Vidreiro Pata Conselho Fiscal Presidente — Manuel Cravo da Rocha José Maria Serafim Lourenço Eduardo Aníbal Falcão Ribeiro Arvins O primeiro ensaiador do Grupo foi Acácio José Teixeira Rito Nunes, mas tempo depois, por motivos da sua vida profissional, teve de emigrar, sendo substituído por Carlos Alberto Pereira de Sousa, que acabou por abandonar essas funções por ter ingressado num Seminário, na perspectiva de vir a ser ordenado sacerdote, como veio a acontecer. O terceiro ensaiador foi Eduardo Aníbal Falcão Ribeiro Arvins.

FM

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domingo, 7 de setembro de 2008

Eça de Queiroz na Costa Nova

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...Filho de Aveiro, educado na Costa Nova, quase peixe da ria, eu não preciso que mandem ao meu encontro caleches e barcaças. Eu sei ir por meu próprio pé ao velho e conhecido "palheiro do José Estêvão".


Cartas a Oliveira Martins, 1884

NOTA: Texto e foto de Imagens do Portugal Queirosiano, de Campos Matos
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sábado, 6 de setembro de 2008

Eça de Queiroz na Costa Nova

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Palheiro de José Estêvão
a Costa Nova – e eu considero esse um dos mais deliciosos pontos do globo. É verdade que estávamos lá em grande alegria e no excelente chalé Magalhães.
(Eça de Queiroz Entre os seus, Cartas Íntimas, 15 de Julho, 1893)
Apesar de ter retardado ontem o meu jantar até às nove da noite, não pude desbastar a minha montanha de prosa. Levar as provas para os areais da Costa Nova, não é prático – ó homem prático! Há lá decerto a brisa, a vaga, a duna, o infinito e a sardinha – coisas essenciais para a inspiração – mas falta-me essa outra condição suprema: um quarto isolado com uma mesa de pinho. (Carta a Oliveira Martins, 1884)
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Do livro "Imagens do Portugal Queirosiano", de Campos Matos, 1976 :

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

As Mulheres da Gafanha

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"BRAVAS MULHERES, AS DA GAFANHA!"

As mulheres da Gafanha merecem um estudo profundo sobre o seu papel na construção das povoações e das comunidades desta região banhada pela Ria de Aveiro. É certo que alguns estudiosos e escritores de renome já se debruçaram sobre elas, cantando loas à sua tenacidade e coragem, mas também ao seu esforço, desde sempre indispensáveis na luta de transformação de areias improdutivas em solo ubérrimo. 
Há décadas, e é sobre essas mulheres que nos debruçamos, elas eram as mães solícitas e amorosas dos filhos, mas também os “pais” que garantiam o sustento da casa, enquanto os maridos se aventuravam nas ondas do mar na busca de mais algum dinheiro que escasseava em terra. Em jeito de desafio a quantos podem e devem, pelos seus estudos e graus académicos, retratar as nossas avós, com rigor histórico, já que, hoje e aqui, não há lugar nem tempo para isso, apenas indicamos algumas pistas, que há mais de 50 anos nos foram oferecidas por Maria Lamas, na célebre obra “As mulheres do meu país”, que viu há tempos a luz do dia em 2ª edição, numa iniciativa da “CAMINHO”, e que tão esquecida tem andado. Na década de quarenta do século passado, Maria Lamas, que faleceu em 1983, com a bonita idade de 90 anos, andou pelas Gafanhas, mais concretamente pela Gafanha da Nazaré, olhando, conversando, retratando e estudando as nossas avós. 
“O esforço da mulher na labuta comum e a sua influência no desenvolvimento da Gafanha são apontados, em toda a região de Aveiro, como um exemplo admirável”, afirma a escritora, depois de se referir, a traços rápidos, à localização da região que estudava, e de citar as areias e os ventos, as marés e a vegetação, as batatas e os cereais, as salineiras e as pescadeiras, as trabalhadoras das secas do bacalhau. E foram, sobretudo estas, as mulheres das secas, as que mais a entusiasmaram, ou não fossem elas o exemplo claro da camponesa e da operária na mesma pessoa. 
“A seca do bacalhau na Gafanha emprega muitas centenas de mulheres, durante parte do ano, havendo secas onde o trabalho é permanente, porque abrange duas campanhas, a dos lugres e a dos arrastões. “Na referência a esta actividade feminina focaremos em especial a Gafanha, visto ser ali que ela atinge o maior desenvolvimento, como é também ali que existem as mais importantes secas do bacalhau de todo o País.” Assim escreve Maria Lamas, que acrescenta: “Pelos costumes e ambiente em que vivem e ainda porque tanto se entregam à lavoura como à faina da seca ou qualquer outra que se lhes proporcione, elas conservam, sob certos aspectos, a mentalidade da mulher do campo; mas a disciplina das tarefas realizadas em comum ou distribuídas numa coordenação de actividades, o sentido das responsabilidade, os horários fixos e ainda o contacto com outras realidades directamente ligadas ao seu próprio esforço vão-lhes dando uma noção diferente da vida e criando consciência da importância do seu labor.” 
A escritora que andou pela nossa região recorda a maneira de viver das mulheres da Gafanha, com a sua “ignorância”, o conceito de “fatalismo, a que subordinam o seu destino”, mas também o instinto de “defesa dos seus interesses”, tornando-as “solidárias”. E sublinha: “No vestuário revelam maior cuidado na limpeza do que as camponesas, que saltam da enxerga, estremunhadas, antes do luzir do dia, e lá vão, para a labuta sem fim, indiferentes à água, ao sabão, ao pente... “Não se imagine, porém, que as mulheres do povo, naquelas circunstâncias, têm uma vida mais leve e fácil, em relação às suas irmãs que permanecem em contacto permanente com a terra. 
Com muito poucas excepções, elas fazem longos percursos, de manhã e à tarde, porque moram longe do local onde trabalham. Também, de uma forma geral, todas aproveitam algumas horas que lhes fiquem livres para ajudar na modesta faina agrícola da família, seja regar o milho, ir ao mato e à lenha ou tratar dos animais. “A sua vantagem não está no aligeiramento das tarefas, mas sim na mudança do ambiente, na variedade dos assuntos que lhes prendem a atenção e no convívio com as companheiras.”
Assim – sublinha Maria Lamas –, as mulheres das secas do bacalhau são “desembaraçadas, faladoras e alegres, como se a vida lhes não pesasse. Em conjunto, nas horas de plena actividade, cantando em coro ou simplesmente escutando os programas de rádio, que um amplificador de som leva a todos os recantos das instalações onde trabalham [EPA – Empresa de Pesca de Aveiro], elas constituem um quadro pleno de vitalidade e optimismo”. Refere, depois, o que é o trabalho árduo destas mulheres, desde descarregar, lavar, salgar e levar o bacalhau, todos os dias, para as “mesas” da seca, para depois, mais tarde, empilhar, seleccionar e enfardar. 
Diz que elas andavam muitas vezes descalças, “apesar do perigo constante de se ferirem, com as espinhas e barbatanas que se encontram espalhadas pelo chão”. E acrescenta que uma ou outra consegue arranjar botas de borracha, “presente do irmão ou noivo que foi aos bancos da Terra Nova”, sublinhando que estas “são consideradas, pelas colegas, como privilegiadas”. “Há ainda aquelas que improvisam uma espécie de sandálias de madeira, amarrando uma ‘sola’ ao pé, com farrapos. São também raras excepções. 
A regra comum é o pé descalço, porque nenhum calçado duraria tempo que valesse a pena, além de que, não sendo impermeável, nem sequer evitaria que os pés estivessem sempre molhados”, pode ler-se no texto que estamos a seguir e do qual transcrevemos as partes mais significativas, na nossa óptica. Depois frisa os canos, que mais não eram do que “meias sem pés”, os baixos salários, “doze a quinze escudos diários”, e apresenta a mulher que as dirige, a Senhora Júlia, que os gafanhões mais antigos bem recordam. 
Diz Maria Lamas, entre outras considerações, que desempenhava o seu cargo “com firmeza” e que se distinguia das suas subordinadas pelo aspecto, “porque se veste e penteia de maneira mais apurada”. No entanto, “conserva o ar desembaraçado e decidido que caracteriza as mulheres do povo daquela região”. E adianta: “O que interessa especialmente neste caso é o facto de ela ter conseguido, pelas suas qualidades de trabalho e disciplina, ascender ao lugar de encarregada, com enormes responsabilidades, numa empresa importante.” 
Noutra passagem do livro, canta um hino a estas mulheres, cujas histórias decerto muito a sensibilizaram, hino esse que aqui transcrevemos: “Mulheres da Gafanha, à hora em que vão levar o almoço aos homens que trabalham nos estaleiros. A vida duríssima que levam, naquelas terras que outrora foram dunas batidas rijamente pelo mar e que são hoje solo fertilíssimo devido ao seu labor constante, marca-lhes as feições e dá-lhes um todo viril, decidido, forte. Nenhuma tarefa as faz recuar. São, quase todas, mulheres de pescadores de bacalhau ou de operários, e elas próprias trabalham no que se lhes proporciona, quando não é preciso sachar o milho ou colher a batata, muito abundante ali.
A sua existência passa-se em permanentes fadigas e sobressaltos. Usam uma linguagem desabrida, que chega a ser chocante, porque se habituaram a encarar a vida e as pessoas de forma hostil, à força de lutar e sofrer de muitos modos. Tudo se resume, porém, a um desabafo, tão natural, para elas, como respirar, rir ou falar. Bravas mulheres, as da Gafanha! 
No fundo, todas as mulheres do povo se parecem umas com as outras, vivam onde viverem. Pode variar o aspecto exterior, mas a sua natureza é a mesma. Mais ou menos rudes, conforme o seu nível de vida, todas são irmãs na luta, na resistência ao trabalho e ao sofrimento, no heroísmo obscuro com que suportam o peso de uma existência sujeita às suas inclemências. Instintivas e directas, na sua maneira de encarar as realidades, não podem ser julgadas apenas pelo que fazem e dizem. A força que as impele tem raízes fundas, na terra e na própria vida.” 
Mais adiante, tece algumas considerações sobre as raparigas da Gafanha, sublinhando: “Estas jovens do povo parece que se vão distanciando, no trajar e nos gostos, das suas mães. Trabalham na terra, quando a faina da seca termina, mas quando vão à cidade apresentam-se vestidas como se lá vivessem. Gostam de ir ao cinema, se têm ocasião para isso; discutem o ‘que se usa’; são raras, porém, as que mostram interesse pela leitura. Casam, quase sempre, com operários dos estaleiros ou pescadores de bacalhau. Depois de casadas perdem muito da sua vivacidade e até o gosto na sua pessoa – a não ser uma ou outra de personalidade mais definida. 
A pouco e pouco vão seguindo o caminho das outras mulheres que, antes delas, foram novas, engraçadas e um tanto rebeldes contra o pensar das mães. Insensivelmente, adaptam-se à vida sacrificada, em que tudo é trabalho, sobressaltos e luta pelo pão. Mesmo quando conseguem certo desafogo económico, o espírito mantém-se-lhes embotado e alheio ao progresso do Mundo, fora dos seus interesses pessoais e imediatos.”


Fernando Martins

Nota: Foto do mesmo livro
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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Origens do Vocábulo Gafanha

Origem do Vocábulo GAFANHA  (Síntese elaborada por Mons. João Gaspar)


:Qualquer estudo que se faça sobre a nossa terra, leva, inevitavelmente, os seus autores a debruçarem-se sobre as origens do vocábulo Gafanha, sem que até hoje alguém tenha chegado a qualquer verdade absoluta. A palavra Gafanha não escapa à dificuldade natural e ainda hoje não é possível saber-se concretamente qual a sua origem. Sobre ela, falei várias vezes com o tio João, o primeiro gafanhão que me falou da “Monografia da Gafanha”, escrita pelo Padre João Vieira Rezende, antigo pároco da Gafanha da Encarnação e bem conhecido do meu amigo. Não conhecia a obra do Padre Rezende, mas não descansei enquanto não a li. Ainda hoje, agora com edição da Câmara Municipal de Ílhavo, se mantém como ponto de partida ou de referência para diversos estudos sobre esta região.
A “Monografia da Gafanha” do Padre João Vieira Rezende, obra que viu a luz do dia, na sua primeira edição, em 1938, continua a ser o trabalho mais completo sobre esta região das Gafanhas, não obstante terem passado quase 70 anos sobre a sua publicação. Nela afirma o Padre Rezende que a palavra Gafanha teria derivado de gadanhar (cortar com a gadanha) uma vez que por aqui havia bastante junco que os primeiros habitantes empregavam não só nos currais dos animais como nas próprias habitações. Os primeiros gafanhões ou quantos por aqui gafanhavam, ou, melhor dizendo, gadanhavam, eram analfabetos ou semianalfabetos, daí se justificando a troca do d pelo f. Aliás, trocas dessas sempre aconteceram na Gafanha, como, por exemplo, nos dias de hoje, quando se diz buano em vez de guano, ou Ílhabo, em vez de Ílhavo, com a conhecida e persistente troca do v pelo b.
Diz o Padre Rezende que a expressão “vamos à gafanha do junco” significava “vamos à gadanha (gadanhagem, corte) do junto”. E diz, ainda, que o senhor Manuel das Neves, mestre não diplomado das primeiras letras, falecido em 1927, com 83 anos, na Gafanha da Encarnação, contava que, “quando menino, vinham por aqui, com frequência, umas mulherzinhas cortar e apanhar feno e junco que levavam para as suas terras e que, a esta acção de cortar com o foicinho, aplicavam o termo de gafenhar.” Gafenhar e não gafanhar. “Corrompeu‑se o termo das pastoras dos suínos, que levavam para Mira, Calvão, Lombomeão, etc., os fenos gafenhados por estes sítios.”
Excluída a hipótese gafaria, por não haver qualquer documento ou vestígios que situem uma leprosaria por estes lados, resta-nos seguir outros caminhos, talvez mais convincentes. O Padre Rezende também não concorda com a derivação da palavra árabe gafar (tributo que se paga pela passagem de um rio) por se saber que, ao tempo da ocupação árabe, a Gafanha, ou a zona actual das Gafanhas, nem sequer existia!
O Dr. Joaquim da Silveira, em carta que enviou ao autor da Monografia e publicada na segunda edição (1944), tece algumas considerações sobre a questão, dizendo, nomeadamente: “Gafanha, leva-me naturalmente a relacionar esse nome com o adjectivo gafenho, também pronunciado gafanho, que existe na língua (a par dos sinónimos gafento e gafeirento) para significar gafado, doente de gafeira.
Eu ouvi gafanha no mesmo sentido, aplicado a carneiros e cabras atacados de morrinha, que é uma das modalidades da gafeira (sarna leprosa).” E continua: “Sabe-se que uma das consequências da gafeira, ou seja a lepra, doença tão horrorosa nas pessoas ou nos animais, é fazer cair o pêlo, tornando a sua pele nua, seca, ronhosa, e deixando apenas aqui e ali (quando deixa) um ou outro tufozito de fios sem vigor.
Na espécie humana recurva e enclavinha os dedos das mãos (e às vezes dos pés) que ficam hirtos e enganchados.” Diz mais adiante: “Ora a vegetação, que é o pêlo da terra, desapareceu por completo da Gafanha, ou mal se notava nuns raros pinheiritos tortos e enfezados da sua parte norte. Era uma região árida, estéril, parecendo gafada (gafenha) e maldita por Deus. Uma metáfora tirada daquele triste espectáculo dos indivíduos leprosos (principalmente do glabrismo da pele, semelhante à superfície calva das areias, e talvez do recurvamento rígido dos dedos, de que os pinheiros contorcionados davam ideia) deve a meu ver, ter dado origem ao nome da Gafanha.” E acrescenta: “Na minha aldeia natal (Fogueira‑Anadia) havia um baldio arenoso e sáfaro, que ainda conheci povoado apenas de magras e descontínuas moitas de mato, chamado Gafanha. E no Alentejo, na freguesia e concelho de Redondo, há igualmente uns casais chamados Gafanhas ou Gafanhas-de-João-Curado.”
Em nota à margem da sua carta, refere, ainda: “No Caramulo, como me informou pessoa de Campia, usa-se o adjectivo gafanho para designar uma espécie de tojo, que tem os ramitos mais delgados que o negral e os picos mais pequenos e fracos. É talvez do aspecto dos ramitos, que parecem quebrados, que lhe vem o nome. Na Bairrada ao tojo-gafanho chamam chamusco ou tojo-chamusco.” No III Volume da Etnografia Portuguesa, José Leite de Vasconcelos apresenta, no capítulo dedicado à Gafanha, na página 331, uma Anotação Filológica de muito interesse que transcrevemos por vir a propósito: “Tratando da etimologia de gafanhoto, escreve Gonçalves Viana que tal palavra tem aspecto de diminutivo (cf. perdigoto), a que corresponde o aumentativo gafanhão (gafanhoto grande), e supõe que devemos admitir como palavra primitiva gafanho ou gafanha; a primeira não a pôde abonar, ao passo que a segunda abona com o nome da nossa sub-região; e alega paralelos na toponímia, a saber, Gafanhão (em Castro Daire), Gafanhoeira (em Arraiolos e Évora).” Pela minha parte adiciono Gafanhas (no Redondo) e Gafanhoeiras (em Reguengos de Monsaraz). Julgo muito sensata a explicação apresentada pelo nosso grande filólogo – ao contrário de outras que se têm proposto –; a ela me inclino, e direi em seu apoio mais o seguinte: “Que Gafanha era na origem nome comum prova-o o receber o artigo definido (a Gafanha).” “A Gafanhão, no sentido de Gafanhoto grande, liga-se Gafanhoeira com o seu plural, como Sardoeira e Sardoeiras e sardão; mas em fazenda, herdade, a horta do Gafanhão (Alentejo) creio que, conquanto aí se patenteie o referido aumentativo, correspondente a gafanhoto, havemos de ver, não um nome puro e simples de animal, e sim uma alcunha tornada topónimo, de que na nossa língua há inúmeros exemplos”. “Em suma: Gafanha seria na origem um nome zoológico, ou aparentado biológica ou metaforicamente com o gafanhoto, ou ao menos formado como gatanho (tojo-gatão), onde entra o sufixo anho, deduzido de murganho (nome de estirpe latina), e aplicado no feminino.”
Depois das considerações autorizadas do sábio Leite de Vasconcelos, ocorre-nos ainda chamar a atenção para o substantivo Gafa (vaso que servia nas salinas para transportar sal) uma vez que, nestas paragens, sal foi coisa que sempre houve. O ilustre historiador aveirense, Mons. João Gonçalves Gaspar, em estudo oportuno, inclina-se para a hipótese de Gafanha derivar de Galafanha e acrescenta que “Galafanha sempre me serviu de pista para, em confronto com outros nomes de locais ou povoações relacionados com água, descobrir algo mais consentâneo com esta região e com os primitivos juncos nascediços ou ervas selvagens, que por aqui foram aparecendo ao deus-dará e reproduzindo-se sem qualquer entrave. Dentro dos meus limitados conhecimentos, agrada-me ver essa palavra como um composto originário de dois antigos étimos ou radicais diferentes – “gala” e “fânia” – ambos de procedência pré-romana, que, como outros, continuariam a ser comuns ao linguajar do povo, por vezes com feição latina.”
“No caso de “Gala”, também encontramos variantes como “ala”, “cala”, “pala”, “sala”, “tala”, “vala”... – todos a quererem significar zona lacustre, terra pantanosa ou lamacenta, região de argila ou barro”. E diz mais: “Não será, de facto, toda esta zona das Gafanhas uma grande “Gala” maior do que a dos arredores da Figueira?” Sobre “fânia”, Mons. João Gonçalves Gaspar diz, entre outras considerações: “no português antigo usava-se “fânio” para designar uma espécie de junco semelhante ao papiro, planta essa própria das margens dos rios e dos lugares inundados.”
Também o nosso conterrâneo, padre Manuel Maria Carlos, se debruçou sobre o assunto em artigo publicado no Timoneiro de Setembro/Outubro de 1980, acrescentando ao que se tem dito as seguintes considerações: “... o nome inicial de Gafanha devia ter sido Cafânia ou Gafânia, derivado de Gafano. Comparemos com Lusitânia, com Hispânia (que deu Espanha), Bretânia (Bretanha), Alemânia (Alemanha), etc.” Diz que Gafanha “não tem origem românica porque em latim não existe qualquer étimo ou raiz “Caf” ou “Gaf”. Sendo assim, a origem do nome em questão ou é anterior à presença dos Romanos na Península, ou então foi nome dado a esta nossa região pelos povos que posteriormente ocuparam estes territórios.” Aquele gafanhão alvitra a hipótese de terem sido os Bárbaros os que estiveram na base do aparecimento da palavra Gafanha, uma vez que estes povos por cá deixaram algumas palavras de origem germânica. Depois recorda que “Gaf” é a raiz de muitas palavras e que Gafa aparece com inúmeras acepções, significando, por exemplo, gancho, doença da lepra, caranguejo, etc. Gafar pode ser verbo, significando agarrar, submeter... e também pode ser substantivo, significando, neste caso, o tributo que os cristãos e os judeus pagavam aos turcos, quando estes os passavam duma à outra margem do esteiro. É possível que este esteiro fosse o estuário do rio Vouga; até porque estuário e esteiro têm idêntica etimologia.
Recorda‑se a propósito que existe actualmente na freguesia do Bunheiro, concelho da Murtosa, um lugar chamado Esteiro, apesar de não existir lá actualmente qualquer esteiro. Diz, por fim, que “Gafano seria, portanto, o homem destas terras, que estava gafado (agarrado, submetido) pelas doenças ou pelos turcos, a quem estava sujeito e a quem tinha de pagar a passagem do esteiro. Gafânia ou Gafanha seria portanto a terra dos Gafanos.”
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Fernando Martins
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terça-feira, 19 de agosto de 2008

Obra do Apostolado do Mar na Diocese de Aveiro - 5

: D. Manuel assina o documento que acompanhou a primeira pedra
CONSTRUÇÃO DO ACTUAL EDIFÍCIO DO STELLA MARIS
Em 1982, graças a um subsídio do Governo, foi possível iniciar o processo de construção do actual edifício do Stella Maris, para substituir o antigo pavilhão pré-fabricado. Com o apoio das Câmaras de Aveiro e Ílhavo, o Gabinete Técnico de Aveiro deu início ao projecto da construção. No dia 18 de Setembro de 1983, dia da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, foi possível celebrar a bênção e lançamento da primeira pedra da nova casa do Stella Maris. Presidiu à cerimónia o então Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade, estando presente D. António Marcelino, Bispo Coadjutor, bem como o secretário de Estado das Pescas e Assuntos Sociais, o Governador Civil de Aveiro, os presidentes das Câmaras de Aveiro, Ílhavo e Murtosa, o comandante da Capitania do Porto de Aveiro, o director e presidente da JAPA (Junta Autónoma do Porto de Aveiro), outras autoridades do Distrito, armadores e muitas pessoas ligadas às actividades marítimas. Graças aos esforços de todos quantos têm trabalhado neste clube da Obra do Apostolado do Mar, foi possível construir a primeira fase do projecto, que comportou sala de refeições, bar, cozinha, escritório, recepção, armazém, 15 quartos com casas de banho privativas e um salão de reuniões. Esta primeira fase, que importou em 13 mil contos, foi inaugurada no dia 10 de Novembro de 1985. Presidiu à cerimónia da bênção do novo edifício o Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade. FM Fonte: “Gafanha – Nossa Senhora da Nazaré”, de Manuel Olívio da Rocha e Manuel Fernando da Rocha Martins

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

FÉRIAS

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Nos próximos 15 dias, estarei de férias, algures onde possa respirar um ar diferente, para conviver com familiares e com os meus sonhos. No regresso, estarei rejuvenescido e pronto para outro ano de trabalho, ao sabor das minhas capacidades e obrigações. Também com presença assídua no mundo da blogosfera. Boas férias para todos os meus amigos.
Fernando Martins
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CAMPISMO E CARAVANISMO na Gafanha da Nazaré

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O Parque de Campismo está integrado no Complexo Desportivo da Gafanha da Nazaré
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Quando, em 1973, fui à “Casa Forte”, ao Porto, comprar uma tenda de campismo, não fazia a mínima ideia das directivas necessárias que permitiam o exercício legal da prática desta actividade de ar livre.
Foi o funcionário da loja que me deu as primeiras “dicas” sobre o assunto e de como eu devia proceder para poder ter acesso a qualquer parque de campismo, em Portugal ou no estrangeiro.
Falando com o meu amigo Fernando Martins, que já então era praticante de campismo, filiado no Clube dos Galitos, ele instigou-me a entrar em contacto com a direcção do Grupo Desportivo da Gafanha, para ver da possibilidade de ser criada uma Secção de Campismo no clube.
Achei a ideia interessante e dirigi-me a uma reunião de direcção que a acolheu com entusiasmo, mas com a condição de ser eu a responsabilizar-me pela nova secção, tendo logo ali sido nomeado para proceder à filiação do clube, na Federação Portuguesa de Campismo e Caravanismo.
Daí e até 1997, nunca mais deixei de estar ligado a esta secção, embora já tivesse deixado, há alguns anos, de ser um campista activo.
Durante estes anos, e como era necessário manter em actividade permanente pelo menos 25 campistas para que a Secção não fosse extinta pela Federação, houve anos em que eu acabei por revalidar, e pagar do meu bolso, Cartas de Campismo de filiados que, quando não precisavam delas, as não revalidavam.
Com a aquisição dos terrenos para o Complexo Desportivo, em 20 de Março de 1976, por Alvará de Cedência Gratuita da Secretaria de Estado da Estruturação Agrária, logo se pensou na construção de um Parque de Campismo para o Grupo Desportivo da Gafanha.
Eu mesmo elaborei o projecto, que submetemos à apreciação dos vários organismos públicos, entre eles a Câmara Municipal de Ílhavo.
Durante alguns anos de avanços e recuos, acabou por ser a câmara, presidida pelo engenheiro Manuel Galante, quem na altura, por entender politicamente mais favorável, chamou a si a execução do empreendimento, mas então, já com um projecto próprio, que não diferia muito do antes apresentado.
Com a entrega deste empreendimento à Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, na qualidade de proprietária do terreno, esta, por sua vez, transferiu a sua administração para o Grupo Desportivo da Gafanha, como único e legal usufrutuário, constante do mesmo Alvará de Cedência Gratuita, de todo o terreno ocupado pelo Complexo Desportivo da Gafanha da Nazaré.

Armando Cravo
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A Nossa Gente

Mestre Mónica

D. João Evangelista e Mestre Mónica

Parece-me que respiro melhor, quando vou à Gafanha benzer os barcos de Mestre Mónica. Mas não é só o ar da ria que tem o dom de nos abrir os pul­mões. É não sei que fulgor de abundância, de riqueza nacional, de vitorioso progresso que por ali passa e nos bate em cheio no peito. É um milagre de beleza que Mestre Mónica sabe extrair de troncos rudes, de matéria informe. Quando passam os carros a gemer sob o peso morto daqueles pinheiros, quem imagina a elegância e a majestade, a doçura e a força, a maravilha e a arte que dali vão sair?Vai, Ilhavense; vai Santa Joana; vai, Santa Mafalda; vai, Avé-Maria, desce imponente a húmida calha, entra nas águas, encanta os mares, recolhe a presa, e depois, ao regresso, entra airosa na barra, ao som da orquestra, ao flutuar das bandeiras, à alegria das multidões!

Aveiro, 5 de Abril de 1957

JOÃO EVANGELISTA
Arcebispo-Bispo de Aveiro
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FILARMÓNICA GAFANHENSE - 7

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VI – A Filarmónica Gafanhense na actualidade No âmbito de uma parceria estabelecida com a Câmara Municipal de Ílhavo e do reconhecimento da capacidade de a colectividade assumir e gerir compromissos de relevância cultural, a autarquia ilhavense concedeu, em Março de 2005, em sessão solene, à FILARMÓNICA GAFANHENSE, a Medalha de Ouro do Concelho, sendo a mais alta condecoração Municipal entregue a esta instituição. Os dirigentes, executantes e sócios, tal como os autarcas do Concelho de Ílhavo, anseiam por uma sede social condigna para que esta colectividade, a mais antiga da região, possa, num futuro próximo, satisfazer os seus objectivos ligados à cultura musical. Sempre no sentido de cada vez mais procurar novos e grandes valores para a música, e de continuar a animar culturalmente a terra que a acolheu e o concelho a que pertence, e não só, durante muitos anos. No dia 14 de Março de 2006 foram eleitos os novos membros dos órgãos sociais, para o biénio 2006-2007, numa perspectiva de prosseguir o trabalho até ao presente desenvolvido, apostando, no entanto, em acompanhar a dinâmica dos tempos que correm, para bem da cultura musical. Os cargos ficaram assim distribuídos: Assembleia Geral Presidente, Pedro Jorge Jesus Bola 1º Secretário, João Paulo da Silva Nunes 2º Secretário, António Fernandes Teixeira Conselho Fiscal Presidente, Manuel Santos Ribeiro Secretário, Pedro Manuel Lourenço Santos Vogal, Marco José Pereira Santos Direcção Presidente, Carlos Sarabando Bola Vice-presidente, Paulo Renato Jesus Bola Secretário, Ana Paula Jesus Bola Tesoureiro, Alcino Marçalo Santos Patoilo Vogal, António Manuel Bernardino Santos Suplentes João Fernandes Teixeira Paulo Sérgio Oliveira Soares Pedro Manuel Gonçalves Ferreira Rosa Maria Nunes Paiva Hélio Ribau das Neves É justo salientar, ainda, que em Outubro de 2006 a Filarmónica Gafanhense foi inscrita no INATEL, ficando com o nº 4966. E em 2007, além do seu maestro Fernando Manuel Tavares Lages, a Filarmónica é constituída por 40 executantes, com idades compreendidas entre os nove e os 73 anos, distribuídos pelos mais diversos instrumentos. A formação de novos músicos está entregue aos professores Ricardo Paulo Ferreira Constantino, João Fernandes Teixeira, Paulo Renato Jesus Bola e Alcino Marçalo Santos Patoilo. :

quinta-feira, 31 de julho de 2008

GAFANHA DA NAZARÉ: Desporto

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CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DO FUTEBOL
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Em finais da década de 40 e início da década de 50, existiram três clubes de futebol não federado, na Gafanha da Nazaré e um na Gafanha da Encarnação. Mais tarde, já em meados da década de 50, surgiu na Cale da Vila implementado por um grupo de estudantes, o “INDEPENDIENTE”, que pretendia ser uma réplica da Académica de Coimbra. Também era de estudantes e também equipava todo de negro.
Não sei qual dos três clubes seria o mais antigo, já que eu era ainda muito criança, mas sei que havia na altura uma grande rivalidade entre eles e também com o “Estrela da Gafanha da Encarnação”. Outros tempos… os mesmos sentimentos, as mesmas paixões pelo futebol!... Eram instituições que viviam quase exclusivamente da carolice dos seus mentores, autênticos patrões que dispunham a seu bel-prazer e à sua custa, dos favores e desfavores dos resultados desportivos obtidos.
Vamos começar pelo União, já que foi esta instituição que sobreviveu durante mais tempo, e que acabou por estar na origem do actual Grupo Desportivo da Gafanha, em Agosto de 1957:

1. SPORT CLUCE UNIÃO GAFANHENSE, com Sede Social – BEBEDOURO, próximo da Igreja Matriz (casa do Aurélio da Neta) Campo de Jogos – FORTE DA BARRA Equipamento habitual – AZUL E BRANCO Último Presidente – HENRIQUE CORREIA (Motorista dos Estaleiros Mónica) Inicialmente o União utilizava um pelado existente no meio do juncal, na Ilha da Mó do Meio, espaço que chegou também a ser utilizado para provas de hipismo. Mais tarde, já no Campo do Forte da Barra, era necessário levantar os carris que atravessavam o pelado, sempre que o recinto era preciso para a realização dos jogos. 
O União talvez tenha sido o único dos três clubes que funcionava verdadeiramente como associação: - Tinha uma direcção e tinha sócios, enquanto que os outros dois, tinham um patrão, uma sede em casa desse patrão e eram financiados pelo mesmo patrão.

2. ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA GAFANHENSE Sede Social – CALE DA VILA (barbearia do senhor Ernesto Tavares) Campo de Jogos – POUSIO DO MILIONÁRIO CARLOS (Sítio das Lebres) Equipamento habitual – VERDE E BRANCO Presidente/Patrão – ERNESTO TAVARES A Associação era bastante apoiada pelo público da Cale da Vila, porque também se tratava do lugar da freguesia com maior densidade populacional. Era frequente a assistência em apoio à sua equipa, cantar: “A Associação trabalha Como eu quero Agora é que não falha Os nove a zero” Estas quadras eram cantadas até à exaustão durante os jogos e repetidas no regresso, pelo “meio das terras”, quando o resultado era favorável aos da Cale da Vila.

3. ATLÉTICO CLUBE DA MARINHA VELHA Sede social – MARINHA VELHA (casa do senhor Casqueirita) Campo de Jogos – PRAIAS DE JUNTO (próximo do moinho do Conde na Marinha Velha) Equipamento habitual – ENCARNADO E BRANCO Presidente/Patrão – MANUEL CASQUEIRA (Casqueirita) O senhor Casqueirita que também se dedicava ao amanho das terras, era um homem com jeito e apetência para a confecção de trajes para os “anjos” das procissões, bem como para as tarefas de cangalheiro, na organização de funerais e de seus aprestos. No entanto, nutria um amor muito especial pelo seu Atlético, onde gastou uma grande parte dos proventos que angariava nessas actividades.
Nesse tempo, ele já pagava a jogadores, para virem nas “horas vagas” do Beira Mar, dar uma ajudinha para derrotar os principais rivais. Como o campo de futebol se situava muito junto à Ria, muitas vezes o horário dos jogos tinha de ser compatibilizado com o horário das marés na baixa-mar. Durante a praia-mar, principalmente nas marés vivas, era frequente o campo ficar debaixo de água, impossibilitando, deste modo, a realização dos jogos.

 Generalidades

 Nesses tempos, apesar das dificuldades de transporte e embora eu fosse bastante jovem, já nutria um carinho muito especial pelo UNIÃO. Com o meu amigo José “Perrana” (falecido muito jovem), nós deslocávamo-nos de bicicleta aos lugares onde o União ia jogar com outras equipas da sua igualha. Nós íamos a Vilar, à Costa do Valado, ou à Oliveirinha nos arredores de Aveiro. Mas também nos deslocávamos a Fermentelos, no concelho de Águeda, ou à Amoreira da Gândara, no concelho de Anadia, apenas pelo prazer de ver jogar o Hortênsio, o Fernando Vaz (Alentejano) e seus pares. Armando Cravo

 NOTA: Agradeço ao meu amigo Armando Cravo a disponibilidade com que acedeu ao convite para colaborar neste meu blogue, com o único objectivo de nos ajudar a reviver tempos idos. É com estes contributos que é possível deixar aos vindouros as marcas indeléveis do nosso passado, de que tanto nos orgulhamos. Assim outros se juntem a nós…

FM
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