segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Fundação Prior Sardo



Universidade para uma
mais elevada qualidade de vida


A Fundação Prior Sardo é uma instituição de solidariedade social criada em 1992 pelo Padre José Fidalgo, prior da freguesia da Gafanha da Nazaré, com o objectivo de apoiar, de forma pedagógica, pessoas e famílias. Nessa linha, a Fundação Prior Sardo tem programado e desenvolvido acções, no âmbito do concelho de Ílhavo, embora tenha a sua sede na Gafanha da Nazaré, presentemente na Casa de Remelha. Nos primeiros anos, serviu principalmente as freguesias das Gafanhas da Nazaré, Encarnação e Carmo.
No ano prestes a terminar, implementou dois projectos de largo interesse social, na área da toxicodependência: “previne.tua.vida” e “segue.com.vida”.
A mais recente aposta diz respeito a uma Universidade Sénior, destinada a maiores de 50 anos e vocacionada para a abordagem dos mais diversos temas, destinados a quem, no fundo, aceita a autoformação e a formação contínua em grupos de reflexão, fundamentais a uma mais elevada qualidade de vida.
Sobre a Fundação Prior Sardo, mais notícias em breve.

FM

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Rua Prior Guerra

Prior Guerra 


O Prior Guerra era um homem bondoso e afável

A rua Prior Guerra fica no centro da freguesia, na urbanização que circunda o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré. Trata-se de uma justa homenagem ao segundo prior da nossa comunidade, sucedendo, por isso, ao Prior Sardo. Aliás, o Prior Sardo, decerto por dificuldades de saúde, continuou a viver entre o seu povo, como coadjutor, mostrando, por esta forma, uma enorme humildade.
O Prior Guerra, de seu nome José Francisco Corujo, nasceu em 17 de Fevereiro de 1878, em Ílhavo, tendo sido ordenado presbítero em 12 de Julho de 1903. Assumiu a paroquialidade da Gafanha da Nazaré entre 5 de Outubro de 1922 e 1948, altura em que fixou residência na sua terra natal. Faleceu em 12 de Março de 1963.
Sublinha-se na monografia da paróquia – Gafanha: Nossa Senhora da Nazaré – que durante o tempo em que esteve entre nós “deixou um rasto de simpatia”. Era uma pessoa bondosa, simples e afável.
“Era rigoroso nas contas e cioso nos gastos. Não quis que se fizesse uma residência nova para não chocar os paroquianos… que, muitos, viviam em palheiros de tábuas…” –  refere a monografia citada.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Barcos da Ria no Marintimidades




Quando houver saudades dos barcos da nossa Ria, podem visitar o Marintimidades. Por estes dias li sobre as bateiras. Vejam, que não perdem tempo.

NOTA: Imagem do mesmo blogue

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Cantigas de antigamente

FADO

Com a minha mão direita
fiz uma cova no chão
Para enterrar os meus olhos
que tão desgraçados são.


Venho de amar a Jacinta,
de apanhar cevada à mão.
Minha mãe era Jacinta
meu pai era Jacintão.


Oh! Costa Nova do Prado
e pedras do paredão,
e palheiros de S. Jacinto
onde os meus amores estão.



domingo, 29 de novembro de 2009

Velharias com interesse



Há velharias que, na minha óptica, têm interesse. Por elas podemos tirar conclusões e registar pormenores da nossa vida colectiva. Este texto foi feito ou assinado por um pintor civil da nossa terra, Manuel Maria Fernandes Casqueira, mais conhecido por Manuel Catraio, comprometendo-se a pintar o guarda-vento, e não só, pela quantia de 1450$00. Isto em 2 de Dezembro de 1934.

sábado, 28 de novembro de 2009

O linguajar dos gafanhões - 2

"Quase se podia dizer que mal sabiam falar"


O seu linguajar é, portanto, filho de todas essas circunstâncias e resulta, vezes sem conta, da corruptela de vocábulos e expressões ouvidas das pessoas com quem contactavam, sem acesso a literatura ou a meios de comunicação social, embora na região já houvesse jornais e em algumas casas, muito poucas, um ou outro aparelho de rádio. Estamos a recordar as cerimónias de Fátima, sobretudo no dia 13 de Maio, participadas em casa de um abastado lavrador. Todos sentado no chão da sala, lá íamos ouvindo a transmissão com o dono do aparelho a acertar de quando em vez a sintonia. Era o que havia na nossa já distante meninice, que recordamos com imensa saudade pelo bucolismo que a envolvia.


Também não podemos esquecer os gafanhões que, nos finais do século XIX   e princípios do século XX, aprendiam a ler pouco mais que o “b à bá” em casa de mestres populares, alguns dos quais deixaram marcas que o tempo não apagou. À hora da sesta, no Verão, ou ao serão, no Inverno, os mais atrevidos pelas coisas do saber e da cultura lá sacrificavam horas de descanso, no meio ou ao fim de um dia de trabalho duro, para aprenderem as primeiras letras na Cartilha Maternal de João de Deus, ou letras grossas que vinham da arte natural dos senhores mestres, os “sábios” da aldeia que liam e interpretavam, para quem necessitasse ou os quisesse ouvir, os editais afixados às portas das igrejas ou as notificações dos Tribunais, das Finanças ou militares. E era esta leitura periclitante, aprendida em tempos de lazer, embora poucos e nem sempre frequentes, que facilitava, a alguns, a interpretação de livros de devoção popular, os romances célebres, para raros leitores, de certos clássicos, sem esquecer a literatura de cordel, carregada de dramas passionais e de aberrações da natureza, que era vendida de feira em feira ou de romaria em romaria, por cantadores e cantadeiras que sabiam pôr angústia contagiante em tudo o cantavam. E a propósito, como seria interessante fazer um levantamento dessa literatura de cantar e de ler, e que passava de boca em boca, que os nossos avós tanto apreciavam e que deve andar perdida por alguma arca já carcomida pelo caruncho. Também nos alfarrabistas dos grandes centros ela deve ser procurada, ou, ainda, na memória dos nossos velhinhos mais dados a reterem as coisas do passado, como que a quererem ficar perpetuamente agarrados à sua meninice e juventude.

Diz o Padre Resende, na sua célebre e ainda utilíssima Monografia da Gafanha, que “Dos povos da Gafanha diremos que o seu primitivo estado de primários, numa região separada do convívio dos povos mais adiantados, manteve-os por muito tempo numa rudez bastante confrangedora. Quase se podia dizer que mal sabiam falar. Com o tempo e com as vias de comunicação, foram-se polindo, civilizando, começando-se a operar uma grande transformação no seu rude e bárbaro vocabulário, quer na sua forma morfológica, quer na sua parte fonética”. E destaca, como exemplo, algumas palavras e expressões, de que respigamos as que mais lembramos:

Xintro — Jacinto
Balisome — Lobisomem
Manel — Manuel
Sóte — Sótão
Atóino — António
Maçazeira — Macieira
Stâmago — Estômago
P’dibe — Pevide
Azête — Azeite
Capador — Alveitar
Pruga — Purga
Lambisgóia e delambida — Atrevida
Alfanete — Alfinete
Curesma — Quaresma
Arbela — Alvéola
Puchi-na — Puxei-a
Arribar — Subir
Fostas — Fostes



Vais à festa? — Resposta: ai não! (= vou)
Ó Maria, vais à fonte?— Resposta: Poi xim! (=não vou)
Maria vai arrumar-se = Maria vai casar-se
Bou marcar palhitos = vou comprar fósforos
Anda a comprar = Está grávida
Tem os pés inchados = Está embriagado
Tens a língua grande = falas de mais
É preciso falar com relego e dar um pontinho na língua = Falar só o preciso.”

De realçar que os gafanhões não pronunciavam, como ainda não pronunciam, o v. Toda a palavra que tenha v se pronuncia com b. Daí, por exemplo, “Bou a Abeiro ou a Ílhabo comprar uma baca e benho logo para casa que a bida espera por mim”.

E muitas outras palavras e expressões poderíamos continuar a citar, acrescentando-lhes mais algumas que a nossa memória retém com alguma fidelidade. Mas hoje ficamos por aqui, que se faz tarde, como diriam os nossos avós.
Antes, porém, de terminar, é justo recriar um ou outro quadro, para exemplificação:

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O linguajar dos gafanhões - 1

Retrocedendo no tempo

Retrocedendo no tempo, qualquer coisa como meio século, tanto quanto é necessário para chegar à nossa infância, vislumbramos na memória, qual retrato ainda não embaciado pela pátina do tempo, os gafanhões que ajudaram a erguer esta terra, marcada à nascença por uma mistura de povos na sua maioria semianalfabetos ou mesmo analfabetos, sob o ponto de vista académico, sobretudo, mas obstinados no seu querer. De vontade indómita, trabalharam a terra, primeiro, coisa que sabiam fazer como poucos, ou não estivessem eles habituados a lavrar e a cavar areias movediças e esbranquiçadas, que pouco lhes oferecia de volta, e aventuraram-se na ria e no mar, depois, numa ânsia desmedida de irem mais além. E nessa labuta diária, que deixou marcas indeléveis no temperamento e no carácter dos gafanhões , doaram-nos uma cultura de que hoje nos orgulhamos, nós, os que presentemente somos os legítimos herdeiros desses cabouqueiros das Gafanhas que se deixam beijar pela ria e pelo mar, com ternura, e que depois partem à procura de novos mundos.
Cultura essa que tem sido, desde a primeira hora, no já distante século XVII, e até aos nossos dias, mesclada de outros saberes e dizeres vindos um pouco de todo o país, dando-lhe um sabor que se vai perdendo no tempo. Hoje, com a evolução do ensino e com a influência dos diversos meios de comunicação social, e também graças ao contacto com povos de todo o mundo, que a vida do mar proporciona, os gafanhões já falam mais escorreitamente, de maneira bem diferente, por exemplo, dos tempos da nossa meninice, da década de 40, a que estamos a conduzir a memória já gasta pelos anos, é certo, mas felizmente lúcida para ouvir o linguajar cantado do nosso povo, nas fainas da ria e do mar, e principalmente nas tarefas do campo, por onde brinquei por cima de restolhos com bolas de trapos, às escondidas entre as searas, na estrada aos "calarotes", aos ninhos na mata da Gafanha que pouco depois via nascer a Colónia Agrícola, na borda à pesca da macaca, do caranguejo e de algum perdido robalito.
Linguajar alegre por entre cantigas da época e da tradição popular a desmantar o milho, a fabricar adobos nas dunas junto à mata e depois na construção solidária das casas modestas, na apanha do tremoço, nas novenas que boas almas organizavam para pagar promessas, nas festas e romarias da região, sempre alimentadas pelo espírito de convivência dos gafanhões. De tudo, restam na nossa memória cenas do quotidiano desta gente humilde, mas determinada, que fez as Gafanhas dos nossos dias, o orgulho dos que hoje, vindos de perto e de longe, de quase todo o Portugal, incluindo regiões autónomas e, ainda, dos actuais países de expressão oficial portuguesa, fazem parte integrante dos povos desta península da Gafanha. E todos estes, com a sua maneira de falar e de dizer o essencial do dia-a-dia, de cantar e de rir, de trabalhar e de viver, deram um pouco de si aos povos autóctones, num entrosamento muito feliz.
Mas hoje e aqui, onde nos apetecia continuar a recordar coisas de antanho que vivemos, vamos falar do linguajar destes povos, marcados, e de que maneira, pela vida agreste que as nortadas ainda mais agreste tornavam. Não se trata de uma língua propriamente dita, muito menos de um dialecto, mas única e simplesmente do modo de falar de um povo em que, ainda há meio século, predominava um grande analfabetismo. As meninas não iam obrigatoriamente à escola, e entre os rapazes muitos se esquivavam. E quando não se esquivavam, cedo perdiam o contacto com as letras, porque o trabalho, mesmo em meninos, os absorvia, quer nas tarefas agrícolas e nas marinhas de sal, quer na construção civil, na pesca e na ria. E ainda em indústrias então nascentes, tanto nas Gafanhas, como no concelho de Ílhavo e em Aveiro. A emigração também começou a marcar a nossa gente, e de que maneira, disso ficando rastos de hábitos de vida diferenciados, casas que nada têm a ver com a nossa identidade geográfica e humana, e o espírito de aventura e a determinação que perduram na juventude de hoje!

Fernando Martins

NB: Parte n.º 1 da palestra proferida no II Colóquio organizado pelo Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Farol da Barra de Aveiro: Um pouco da sua história




Farol: ex-líbris da região aveirense

O Farol da Barra de Aveiro, situado em pleno concelho de Ílhavo, na Gafanha da Nazaré, é um ex-líbris da região aveirense. Imponente, não há por aí quem não o conheça, como o mais alto de Portugal e um dos mais altos da Europa. Já centenário, faz parte do imaginário de quem visita a Praia da Barra. Quem chega, não pode deixar de ficar extasiado e com desejos, legítimos, de subir ao varandim do topo, para daí poder desfrutar de paisagens únicas, com mar sem fim, laguna, povoações à volta e ao longe, a dominar os horizontes, os contornos sombrios das serras de perto e mais distantes.
À noite, o seu foco luminoso, rodopiante e cadenciado, atrai todos os olhares, mesmo os mais distraídos, tal a sua força. Mas são os navegantes, os que mais o apreciam, sem dúvida.
Ora, esse foco, que começou por ser alimentado a petróleo, passou a beneficiar da energia eléctrica em 1936, completando, este ano, 70 anos de existência. Bonita idade para tal melhoramento merecer ser assinalado, embora de forma simples, com esta nota.
Se tem lógica e algum merecimento a recordação desta efeméride, não deixa de ser oportuno e justo lembrar que este ano também se podem celebrar os 150 anos da portaria do ministro das Obras Públicas, engenheiro António Maria de Fontes Pereira de Melo, assinado em 28 de Janeiro de 1856 e dirigida ao director das obras públicas do Distrito de Aveiro, engenheiro Silvério Pereira da Silva, que dá orientações para se avançar, rumo à futura construção do nosso Farol.
Reza assim, na parte que nos diz respeito, como se lê na revista "Arquivo do Distrito de Aveiro", em artigo assinado por Francisco Ferreira Neves:
"Há por bem sua majestade el-rei (D. Pedro V) ordenar que o director das obras públicas do distrito de Aveiro, de combinação com o capitão daquele porto, e com o director-maquinista dos faróis do reino, trate de escolher o local nas proximidades da barra que for mais próprio para a construção de um farol, devendo o mesmo director, apenas se ache determinado o dito ponto, proceder, de acordo com o referido maquinista, à confecção do projecto e orçamento da respectiva torre com a altura conveniente para que a luz seja vista a dezoito ou vinte milhas de distância.
Sua majestade manda, por esta ocasião, prevenir o sobredito funcionário de que encomendará em França, para ser estabelecido no mencionado local, um farol lenticular de segunda ordem, do sistema de Mr. Fresnel, e semelhante ao que se destina ao Cabo Mondego, cujo desenho se lhe envia, com a diferença, porém, de ser girante para o distinguir dos faróis que lhe ficam ao norte e ao sul daquele porto"
A Barra de Aveiro tinha sido aberta em 1808 e eram conhecidos os riscos que ela oferecia à entrada das embarcações, "com prejuízos que podem resultar à humanidade e ao comércio", como se sublinha na referida portaria.
No mesmo artigo de Francisco Ferreira Neves, lembra-se que a comissão nomeada para a determinação do local em que deveria ser construído o farol deu o seu trabalho por concluído em 11 de Julho de 1858. Entretanto, os naufrágios sucediam-se entre o Cabo Mondego e a Foz do Douro, "por falta de sinalização luminosa nesta parte da costa marítima".
Os trabalhos não foram tão céleres quanto seria de desejar, o que levou o ilustre parlamentar José Estêvão a pedir ao Governo, em 4 de Julho de 1862, na Câmara dos Deputados, a construção de um farol na nossa costa. No ano seguinte, em 15 de Setembro, a Câmara Municipal de Aveiro apresentou a el-rei D. Luís uma exposição, requerendo a edificação de um farol ao sul da barra.
Para justificar a sua petição, a autarquia aveirense recorda que importa "evitar os naufrágios que tão frequentes se têm tornado nestes últimos tempos, no extenso litoral entre o Cabo Mondego e a Foz do Douro". E acrescenta: "Ninguém pode duvidar, Senhor, que numa costa tão extensa como acidentada, em que as restingas ou cabedelos se formam pela violência das correntes, cuja direcção varia diariamente, um farol evita que os navios, que singram próximo de terra, se enganem no rumo, vencendo as dificuldades da navegação sem correrem o risco de naufragar nos bancos de areia, às vezes em noites bonançosas, como infelizmente tem sucedido entre nós."
A resposta do Governo não tardou. No dia 26 de Setembro de 1863, uma portaria governamental ordena que se fizesse o projecto e o orçamento. O projecto foi concluído em 5 de Abril de 1884 e os trabalhos da construção iniciaram-se em Março de 1885.
A inauguração oficial do farol aconteceu em 31 de Agosto de 1893.

Fernando Martins

Nota: Texto escrito em 2006

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

1.º Óbito realizado na freguesia da Gafanha da Nazaré

07-05-1911


Neste dia, às dez horas da noite, faleceu numa casa do “Pharol da Barra”, Joaquim Francisco Gafanhão, de cinquenta anos, pescador e casado com Maria de Jesus, o qual recebeu os “sacramentos da Santa Madre Igreja”, natural desta freguesia, filho legítimo de António Francisco Gafanhão e de Ana de Jesus, jornaleiros, naturais desta freguesia, o qual não fez testamento. Deixa filhos menores e foi sepultado no cemitério público da vila e freguesia de Ílhavo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Gafanha da Nazaré: 1.º Matrimónio


17-06-1911


O primeiro matrimónio celebrou-se nesta data, na então chamada capela da Cale da Vila, Gafanha da Nazaré, a servir de matriz provisória. Domingos José Soares e Maria de Jesus da Silva consorciaram-se em cerimónia presidida pelo pároco encomendado João Ferreira Sardo, que os uniu, tendo também procedido “à bênção do anel”.O Domingos tinha 22 anos de idade, era solteiro e pescador, natural e morador na freguesia da Murtosa e nela baptizado, filho legítimo de José António Soares e de Maria Joaquina de Oliveira, naturais da mesma freguesia, concelho de Estarreja, Diocese do Porto; a Maria de Jesus tinha 23 anos de idade, era solteira e jornaleira, natural da freguesia da Gafanha, filha legítima de Manuel Fernandes Casqueira e de Rosa de Jesus, naturais desta freguesia. Foi baptizada na freguesia de Ílhavo. Serviram de testemunhas no baptizado João Peixoto, casado e jornaleiro, e Joana de Jesus Casqueira, casada e seareira, naturais desta freguesia e nela residentes. Cônjuges e padrinhos não assinaram, “por não saberem escrever”.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pérola de Sesimbra, que saiu do Estaleiro Mónica


Pérola de Sesimbra - 1997



Pérola de Sesimbra - 2004

A traineira Pérola de Sesimbra, que foi construída nos Estaleiros Mónica, ainda anda na faina. A prova disso está nas fotos, que me foram enviadas por Miguel Lourenço, neto do armador que a mandou construir. Nas fotos, que teve a gentileza de me enviar, chama a atenção para o seguinte: "O mastro da  traineira  e dois terços do casco mantêm-se. Na primeira foto utilizava-se o alador de braço e na segunda pode ver-se  o quadraplex alador, utilizado 100 por cento nas traineiras do norte."

O primeiro baptizado realizado na Gafanha da Nazaré

11-09-1910: Baptizado n.º 2


Não se sabendo quando, de facto, se concretizou a aplicação do decreto do Bispo de Coimbra da erecção canónica da freguesia, apesar do Padre João Vieira Rezende dizer, na sua Monografia da Gafanha, que tal aconteceu no dia 10 de Setembro de 1910, sabe-se, todavia, que o primeiro Prior da Gafanha da Nazaré, Padre João Ferreira Sardo, baptizou, no dia seguinte, 11, Alexandrina, “na Capella da Calle da Villa, d’este logar da Gafanha e freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, do mesmo logar servindo provisoriamente de Egreja parochial da freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, concelho d’Ilhavo, Diocese de Coimbra”, na qualidade de pároco encomendado.
Alexandrina, a primeira pessoa baptizada na nossa paróquia, com o assento n.º 2, nasceu em 26 de Agosto, sendo filha legítima de Domingos Ferreira e de Joana de Jesus, jornaleiros, naturais desta freguesia e nela residentes e recebidos na freguesia de Ílhavo.


NOTA:  O assento n.º 1 apenas apresenta o nome de Maria, sem qualquer outra anotação no corpo da primeira página. Porém, na margem esquerda, debaixo do nome referido, tem a anotação de que faleceu a 28-11-1910.

domingo, 8 de novembro de 2009

Agrupamento Musical "Contest"



A ideia de formar o "Conteste" surgiu no Verão de 1990, quando alguns elementos se juntaram e começaram a tocar umas músicas para os amigos e a colaborar com comissões para conseguirem angariar fundos. Depois veio a aquisição de uma aparelhagem de som e o grupo começou a ficar conhecido.

Teclas - Marco
Bateria - Miguel
Baixo Eléctrico - Jacinto
Guitarra Eléctrica - Esgueirão
Vocalista - Pedro

O Técnico de Som era o António Gomes

Fonte - Revista Comemorativa do 35.º aniversário do GDG

1992

Mestre Lourenço de Sesimbra fez amizades na nossa terra


Pérola de Sesimbra antiga

Avô Lourenço com mestre Mónica

Pérola de Sesimbra no estaleiro 

Miguel Lourenço, de Sesimbra, teve a gentileza de entrar em contacto comigo, a propósito de temas marítimos. Mora em http://www.sesimbra.blogspot.com/, onde, na opção barcos, há temas que recomendo.
O Miguel é neto de mestre Lourenço Caparica, que se relacionou com os Mónicas, nomeadamente com o Arménio, filho do mestre Manuel Maria Bolais Mónica. A traineira "Pérola de Sesimbra", construída pelos Mónicas, será, provavelmente, segundo o Miguel Lourenço, o último barco dos estaleiros da Gafanha, ainda em actividade.
O Miguel informa também que o seu avô era amigo do armador do “Jesus nas Oliveiras, tendo feito amizades em Aveiro, com o mestre Zé Pata, que se mudou para Peniche.
Não posso deixar de sublinhar a importância deste contacto, à semelhança de outros que nos ajudam a construir história, oferecendo-nos, quantas vezes, gratas recordações.
Obrigado, Miguel.

Fernando Martins

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

"Banda Jovem"



A "Banda Jovem" nasceu com o objectivo de contribuir para o engrandecimento da Vila da Gafanha da Nazaré. Foi fundada em 15-02-1992 e desde a primeira hora mostrou grande tenacidade.

Componentes:

Guitarra e voz - Renato Alves
Baixo - Paulo Lourenço
Bateria - Luís Brandão
Teclado - Tó Maia

Confesso que não consigo indicar a ordem dos membros da "Banda Jovem". Mas não faltará, julgo eu, quem possa dar-me uma ajuda.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Gafanha da Nazaré é vila há 40 anos

Há datas que começam a ficar esquecidas, como é o caso da elevação da Gafanha da Nazaré a vila, que ocorreu em 1969. Como em 2001 passou a cidade, a vila foi posta de lado. Não morre ninguém, mas acho que os marcos históricos não podem ser olvidados. Por isso recordo essa data hoje. Porquê só hoje? Porque também me esqueci, claro. Mea culpa, mea culpa!

FM


Ponte da Gafanha, na Cale da Vila


Considerando o acentuado desenvolvimento...

Decreto n.º 49332

"Considerando o acentuado desenvolvimento demográfico da freguesia da Gafanha da Nazaré do concelho de Ílhavo, designadamente da povoação sede da mesma freguesia;
Considerando o crescente incremento industrial da referida freguesia, factor que, aliado à sua situação geográfica, lhe granjeou posição de excepcional relevo no conjunto portuário de Aveiro;
Considerando o progresso social registado na povoação da Gafanha da Nazaré, o qual se traduz na existência de diversas instituições de interesse público, entre as quais Casa dos Pescadores, Posto Médico da Previdência, Grupo Desportivo, Cinema e Mercado;
Tendo em vista os pareceres concordantes da Junta Distrital e do Governador Civil do Distrito de Aveiro;
Nos termos do Art.º 12.º n.º2 do Código Administrativo;
Usando da faculdade conferida pelo n.º3 do Art.º 109.º da Constituição, o Governo decreta e eu promulgo o seguinte:
Artigo Único – É elevada à categoria de Vila a povoação da Gafanha da Nazaré, sede da freguesia do mesmo nome, do concelho de Ílhavo.

Marcelo Caetano e António Manuel Gonçalves Rapazote

Promulgado em 15 de Outubro de 1969

Presidência da República, 29 de Outubro de 1969

Américo de Deus Rodrigues Thomaz"

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Nossa Gente: Padre Manuel Ribau Lopes Lé


Padre Lé (Foto de Manuel Olívio)

O sacerdote tem de se dar
até ao fim da vida


Um dia destes, de calor de Verão em pleno Outono, fui à procura do meu amigo e antigo confidente Padre Manuel Ribau Lopes Lé, mais conhecido por Padre Lé, que serviu a Igreja na Gafanha da Encarnação até há pouco tempo. Sentado num sofá, recebe-me de olhos bem abertos. Os olhos que sempre lhe conheci. Cedo, porém, percebi que o Padre Lé, com o peso dos 87 anos de idade e das canseiras, de mistura com recentes achaques, estava fragilizado.
A recomendação que me acolheu indica que a memória recente tinha dado lugar à mais antiga, para onde ele encaminha, já com alguma dificuldade, as conversas sobre a sua vida sacerdotal.


Depois de concluída a escola primária, com o professor Oliveira, segue as pisadas dos pais, cujas artes, na marinha de sal e na lavoura, lhe ensinam como era a vida dura daqueles tempos.
Por essas alturas, nutre admiração pelo Prior Guerra. Olhava-o com respeito, media todos os seus gestos quando celebrava a missa em latim, pesava as palavras que ele lhe dirigia no confessionário e em ocasionais encontros. E um dia, numa eucaristia, sonha ser padre. “Quero ser padre como o Prior Guerra”, pensou. Mas como haveria de dizer aos pais? Estariam eles dispostos a aceitar a sua decisão? Uma coisa ele sabe: o pai concordaria sempre com a mãe. “Porquê? – indaguei. O Padre Lé olha-me, fixamente, sorri e diz: “A minha mãe era Ribau!”
Um dia, a caminho duma terra que tinham nas Crastas [lugar agrícola da Gafanha da Nazaré], percebe que a mãe está bem-disposta. Seria boa altura? “Mãe, quero ir para padre”, diz a medo.
A mãe, calada por instantes, que foram decerto uma eternidade, olha para ele e pergunta: “O quê? Isso é a sério?” “É”, afirma ele com convicção.
Segue-se a conversa com o Prior Guerra e, feito o requerimento, entra no Seminário da Imaculada Conceição da Figueira da Foz, da Diocese de Coimbra, a que pertencíamos, em 1936, com 14 anos de idade.
Passa depois pelos Seminários de Coimbra, de Aveiro [a Diocese fora restaurada em 1938] e de Cristo Rei dos Olivais.
É ordenado presbítero em 20 de Setembro de 1947, no Bunheiro, na vigília de São Mateus, por D. João Evangelista de Lima Vidal, Bispo de Aveiro, de quem guarda gratas recordação. Quando o questiono sobre isso, diz-me: “Éramos unha com carne.”
No dia 28 do mesmo mês, celebra Missa Nova na matriz da Gafanha da Nazaré. Recorda esse dia com um sorriso a encher-lhe o rosto, magro como sempre foi: “O Padre Guerra celebrava missa ao nascer do sol, em ponto, e eu sabia disso; cheguei atrasado, porque o Dinis Caçoilo, um amigo meu, quis levar-me de carro e eu fiquei à espera dele; quando entrei na sacristia, o nosso prior disse-me: ‘Começas bem, Manel!’” E uma gargalhada ténue soa, na entrevista, para encerrar a questão.
Foi coadjutor daquela freguesia, com o Padre Domingos da Silva Pinho, “que era um santo, humilde, homem de oração e sempre sem dinheiro, porque dava o que tinha aos mais pobres.” E acrescenta: “Certo dia, estavam a organizar uma peregrinação a Roma e o Padre Domingos não se inscreveu, porque não tinha dinheiro; eu então disse-lhe: vai e vai mesmo; eu trato do assunto; e tratei.”
Préstimo e Macieira de Alcoba, no Arciprestado de Águeda, recebem o Padre Lé durante cinco anos. Um dia, de férias em Á-dos-Ferreiros, da paróquia do Préstimo, de visita à igreja, olhámos para um crucifixo de madeira. Logo recebemos a explicação de quem tinha a chave do templo: “Aquele crucifixo foi feito, à navalha, pelo Padre Ribau [como também era conhecido]”. Percebemos, então, que a habilidade completa e rara que ele tinha pelas artes manuais e técnicas era um dom que cultivou com esmero.
Entra na freguesia da Gafanha da Encarnação em Outubro de 1957, no domingo de Cristo Rei. Até 11 de Outubro de 2009, data em que toma posse, como pároco, o nosso prior, Padre Francisco Melo.
Quem acompanhou de perto o Padre Lé, reconhece, perfeitamente, que sempre foi um sacerdote de fé firme, com a noção dos seus deveres de pastor. Vivo, dinâmico, atento, capaz de dar o conselho certo na hora exacta, orante e fiel aos seus paroquianos. Daí as homenagens que lhe prestaram.
Reconhece que o Concílio Vaticano II foi uma porta que se abriu ao mundo. Houve algumas dificuldades em aceitar as decisões que a Igreja tomou, “mas com o tempo tudo se foi resolvendo”, garantiu-nos.
Agora, ao olhar para o Padre Lé, com as debilidades próprias de trabalhos sem peso e medida que levou toda a vida, concretizando um sonho alimentado desde menino, de amor à Igreja e ao seu Senhor e Mestre, Jesus Cristo, ainda lembramos as vezes que o encontrámos, qual mestre-de-obras ou engenheiro civil, em cima de andaimes, na construção da matriz da Gafanha da Encarnação. Reparação que fosse preciso executar, de imediato punha mãos à obra. E logo a seguir, ouvia em confissão quem o procurava e celebrava missa. Patente na sua entrega a convicção de que o sacerdote tem de se dar até ao fim da vida.

Fernando Martins

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Auto de Delimitação da Freguesia da Gafanha da Nazaré


“No primeiro de Maio de mil novecentos e onze, neste lugar da Gafanha da Nazaré, sede da nova freguesia da Gafanha, deste concelho de Ílhavo, onde compareceu o cidadão Samuel Tavares maia, administrador do mesmo concelho, comigo Augusto do Carmo Cardoso Figueira, escrivão do seu cargo, e bem assim os cidadãos Manuel Branco de Lemos, parocho da freguesia de Ílhavo, João Ferreira Sardo, parocho da freguesia da Gafanha, Eduardo Craveiro, presidente da Comissão Municipal Administrativa deste concelho, José Ferreira de Oliveira, presidente da Comissão Parochial da freguesia da Gafanha e João dos Santos Patoilo, presidente da Freguesia de Ílhavo, para em cumprimento do ofício do Excelentíssimo Governador Civil, número quatrocentos e trinta de doze de Abril último se proceder à delimitação da freguesia da Gafanha, criada por decreto de vinte e cinco de Junho de mil novecentos e dez. Em seguida ele administrador e os mencionados cidadãos passaram a fazer a delimitação da nova freguesia da Gafanha pela seguinte forma: Ao norte e nascente é limitada pela ria d’Ílhavo à barra de Aveiro; ao poente pelo Oceano Atlântico; ao sul uma linha que passa no ponto intermédio das casas d’abitação de Manuel Gandarinho Novo (Norte) e Vicente da Silva Vidreiro (Sul) seguindo em reta pela aresta sul do moinho de Manuel Martinho e prolongando-se atravez do pinhal e areias até vir encontrar o segundo aqueduto da estrada de Ílhavo à Gafanha a contar deste aqueduto por onde passa a vala chamada do «Engeitado» até à ria. E assim deram por concluída a referenciada delimitação. Do que para constar se lavrou o presente auto que depois de lido vai ser assinado por ele administrador e pelos mencionados cidadãos. E eu Augusto do Carmo Figueira, secretário da administração que o escrevi e assino. Samuel Tavares Maia, Manuel Branco de Lemos, João Ferreira sardo, Eduardo Craveiro, José Ferreira de Oliveira, João dos santos Patoilo, Augusto do Carmo Cardoso Figueira.

Está conforme.

Administração de Ílhavo, 18 de Agosto de 1911.

O Admi. do Concelho

Samuel Tavares Maia"

Lugar do
selo branco
NOTA – Pensamos que há lapso na data da criação da freguesia, quando se diz que foi a 25 de Junho. Todos os outros documentos referem 23 do mesmo mês.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

GAFANHA DA NAZARÉ: Rua Camilo Castelo Branco

Um escritor que todos os portugueses conhecem

 Camilo Castelo Branco

Homenagem merecida a um dos grandes escritores da Língua Portuguesa. Penso que não há nenhum português, minimamente letrado, que não conheça O Amor de Perdição, obra famosa de Camilo Castelo Branco.
Não consta que o escritor, falecido em 1890, com 65 anos de idade, alguma vez tenha passado por esta nossa terra, ainda longe de figurar no mapa de Portugal com o título de freguesia, o que só aconteceu, como os leitores do Timoneiro sabem, em 1910. De qualquer forma, e porque é hábito no nosso País baptizar as ruas com nomes de gente célebre, compreende-se, perfeitamente, a lembrança, para quem passa, de Camilo Castelo Branco.
Desde a minha juventude que me deixei seduzir pelas estórias, com enredos, ora simples ora complicados, que Camilo, possuidor de uma escrita bastante rica, soube retratar nos seus livros, reproduzindo cenas e vidas do quotidiano, felizes ou dramáticas, na verdadeira acepção das palavras.
De tal modo que, ainda hoje, me encanta a releitura de obras suas, pela boa disposição que criam em mim. Algumas com uma actualidade ajustada a todos os tempos, sobretudo quando descreve a figura de políticos que deixaram tristes seguidores. Amores e desamores, paixões e paixonetas, adultérios e dramas pungentes, santos e pecadores, de tudo um pouco nos mostra Camilo em dezenas de livros, ou não vivesse ele daquilo que escrevia e publicava em tudo onde coubesse bom Português.
Camilo também protagonizou os seus dramas. Estudou, foi seminarista, valdevinos, conquistador, adúltero, polemista temido, visconde e escritor multifacetado: romancista, novelista, dramaturgo, poeta, cronista, etc.
Fugiu com uma senhora casada, Ana Plácido, atitude que o obrigou a esconder-se, andando com ela de terra em terra. Por fim, decerto cansado de viver em refúgios, cai na prisão da Relação, no Porto, onde terá delineado e escrito, em 15 dias, o célebre Amor de Perdição, baseado na vida de um apaixonado parente. Aí foi visitado pelo Rei D. Pedro V e se encontrou com o famoso Zé do Telhado, encontro esse que foi descrito em Memórias do Cárcere.
Em S. Miguel de Seide, onde viveu com Ana Plácido, um filho dela e dois filhos do casal (Jorge, doente mental, e Nuno, um irresponsável), começa a acentuar-se a perda de visão, recebe um oftalmologista de Aveiro, Dr. Edmundo Machado, que atendeu o pedido que o escritor lhe dirigiu, para que o fosse observar. Depois da consulta, Ana Plácido acompanhou o médico à porta. Camilo percebeu do oftalmologista a impossibilidade de cura para a sua cegueira. Pegou numa pistola e disparou um tiro na cabeça. Pouco passava das 15 horas do dia 1 de Junho de 1890. Morreu às 17 horas desse mesmo dia.

Fernando Martins


domingo, 25 de outubro de 2009

Cada um de nós é o espelho do seu passado

Hoje mesmo [sábado, 24-10-2009], por volta do almoço, recebi o convite para proferir umas palavras nesta festa comemorativa dos 25 anos do Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo, mais especificamente centradas no livro “Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”, de Maria Teresa Filipe Reigota, ela própria co-fundadora, ao lado de seu marido, do Rancho Regional em festa.
Deixando agora essa qualidade, que não pode ser esquecida, apraz-me sublinhar que a Teresa, professora do Ensino Primário aposentada, sempre manifestou interesse pelas tradições que a enformaram. No contacto com colegas, com alunos e pais, com pessoas jovens e menos jovens, de todos foi bebendo, sei que com sofreguidão, as marcas indeléveis destes povos que fizeram história pelo seu trabalho insano, no desbravar de terras maninhas, ancinhando a ria à cata do moliço, e alisando dunas, teimosamente soltas, que depois se tornaram terras férteis.
O seu ADN alberga, seguramente, essa capacidade de trabalho, de entrega a causas, de amor ao torrão-natal. Mas também alberga uma simplicidade cativante, um sorriso acolhedor (como os seus alunos terão apreciado esse seu ar!) e uma enorme predisposição para o diálogo, onde o saber ouvir é fundamental.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Acta da instalação e 1.ª sessão da Comissão Paroquial Administrativa da Freguesia da Gafanha

"Aos vinte e sete dias do mês de Outubro de mil novecentos e dez, na casa provisoriamente destinada às sessões da Comissão Paroquial da freguesia da Gafanha, concelho de Ílhavo, compareceram os cidadãos abaixo assinados nomeados membros daquela comissão por alvará do Governo Civil de Aveiro com data de vinte e quatro do corrente, e o cidadão Dr. Samuel Tavares Maia, administrador interino do concelho de Ílhavo que lhes conferiu a respectiva posse. Todos por sua honra juraram cumprir com os seus deveres de cidadãos da República Portuguesa e com zelo e patriotismo pugnarem pelo bem desta freguesia seguindo as normas da mais imparcial justiça e procurando por todos os meios ao seu alcance fomentar o desenvolvimento social, intelectual e material dos seus paroquianos.
Tendo tomado posse os membros efectivos da comissão constituíram-se imediatamente em sessão, nomeando secretário da mesma Manuel Nunes Ribau, e elegendo por escrutínio secreto o seu presidente e tesoureiro, recaindo a eleição respectivamente nos cidadãos José Ferreira de Oliveira e António Teixeira, e deliberando que as suas sessões se efectuarão no primeiro e terceiro domingo de cada mês pelas duas horas da tarde, provisoriamente em casa do vogal António Teixeira.
E mais nada havendo a tratar foi encerrada a sessão da qual se lavrou a presente acta que vai ser assinada por todos e por mim, Manuel Nunes Ribau, secretário, que a escrevi e assino.

O Presidente – José Ferreira de Oliveira
O Tesoureiro – (em branco)
O Secretário – Manuel Nunes Ribau
Jacinto Teixeira Novo
José Maria Fidalgo
Manuel Ribau Novo"

Notas:
1. O Tesoureiro António Teixeira não assinou esta acta por ter faltado á sessão n.º 2 de 6/11/1910. Veio a falecer algum tempo depois.
2. Esta Comissão Paroquial dirigiu os destinos da nossa terra desde 27/10/1910 até 31/12/1913
3. Em 2 de Janeiro de 1914 tomou posse a primeira Junta da Paróquia da Gafanha da Nazaré.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Santuário de Schoenstatt faz hoje 30 anos


D. Manuel sempre presente


Para a construção de um homem
 novo para uma nova sociedade



No dia 21 de Outubro de 1979 foi solenemente inaugurado o Santuário de Schoenstatt na Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré, em cerimónia presidida pelo Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade. Faz hoje, portanto, 30 anos, cheios de muita fé e de muitos envios de peregrinos e membros, rumo à construção de um homem novo para uma nova sociedade.
A 25 de Março do mesmo ano, dia da inauguração da Casa das Irmãs de Maria, o nosso Bispo benzeu o terreno, onde, logo de seguida, se daria início à construção do santuário. Em 20 de Maio procedeu-se à bênção da Primeira Pedra e no dia 21 Outubro aconteceu então a grande festa.
A Primeira Pedra, a Pedra Angular, veio de Roma e foi abençoada pelo Papa João Paulo II. Tem incrustada na face frontal uma outra pedra trazida do túmulo de S. Pedro e sob a qual está gravada a inscrição Tabor Matriz Ecclesiae, que significa “Tabor da Mãe da Igreja”, que mais não é do que a missão deste Santuário da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt.



Mãos à obra

Os grandes impulsionadores da construção foram, segundo diversos testemunhos, as Irmãs de Maria, à frente das quais se encontrava a Irmã Custódia, os Padres Miguel e António Borges e Vasco Lagarto.
A construção importou em cerca de mil contos, havendo a distinguir a contribuição, em trabalho e dinheiro, de todos quantos se encontravam sensibilizados para a vivência espiritual do Movimento.
Das diversas ofertas salientamos, pelo seu significado, as seguintes:

Altar – Instituto das Irmãs de Maria do Brasil
Imagem da Mãe – Instituto dos Padres de Schoenstatt de Portugal
Moldura Luminosa – Senhoras de Schoenstatt
Janelas – Casais do Movimento
Campanário – Mães de Salreu
Bancos – Um casal de Lisboa
Alicerces – Mães da Gafanha
S. Miguel – Padre Miguel e Mães
Custódia – Mães da Gafanha
S. Pedro e S. Paulo – Padres Diocesanos
Espada de S. Paulo – Rapazes do Movimento

Fernando Martins

Fonte: Monografia da Paróquia de Nossa Senhora da Nazaré,
de Manuel Olívio Rocha e Manuel Fernando da Rocha Martins

Fotos de Vasco Lagarto

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Erecção Canónica da paróquia da Gafanha de Nossa Senhora da Nazaré


Igreja em construção à data da criação da freguesia



“Vistos estes autos, etc. Pelo que d’elles consta mostra-se que muitos habitantes do logar da Gafanha, freguesia d’o Salvador de Ílhavo, no concelho do mesmo nome, d’esta Diocese, requerera a Sua Magestade El-Rei Houvesse por bem determinar que pelos meios competentes se procedesse à creação de uma nova parochia, com séde no dito logar da Gafanha e formada pelos povos do mesmo logar, o qual para esse fim será desanexado da referida freguesia de Ílhavo; Mostra-se que sua Magestade El-Rei atendendo a que a providencia reclamada é de grande conveniencia para o bem espiritual e temporal dos requerentes, sem prejuiso para a conservação da dita freguesia de Ílhavo, e conformando-se com os pareceres das superiores auctoridades ecclesiastica e administrativa e com a consulta do Supremo Tribunal Administrativo, Houve por bem por decreto de 23 de junho do corrente anno auctorisar a desanexação do referido logar da parochia a que actualmente pertence e a creação de uma parochia que com elle se pretende formar; – e – Attendendo a que pelo Ministerio dos Negocios Ecclesiasticos e da Justiça Nos foi enviada Copia auttentica do referido Decreto para procedermos ao respectivo processo de creação e erecção canónica.
Attendendo a que no mesmo Decreto se acha já arbitrada em cem mil reis annualmente a congrua ou derrama para o respectivo parocho da nova parochia;
Attendendo a que a Capella de Nossa Senhora da Nasareth do dito logar da Gafanha tem a capacidade conveniente, os paramentos, vasos sagrados e alfaias necessárias para servir provisoriamente de igreja parochial, enquanto se não conclue o novo templo, cuja construção se acha muito adiantada; e, finalmente, conformando-Nos com o parecer do M. R. Dr. Promotor do Bispado, proferido n’estes autos a folhas dez: – Julgamos legitimamente erecta e canonicamente instituida a referida freguesia da Gafanha, composta do logar da mesma denominação que será desanexado da freguesia d’O Salvador d’Ílhavo, d’esta mesma Diocese, tendo por orago Nossa Senhora da Nazareth, e ficando o respectivo parocho com a congrua annual de cem mil reis e com as mais benesses e emolumentos que forem de uso, direito e costume na freguesia da qual é desanexada.
O secretario da Nossa Camara Ecclesiastica dará por publicada esta nossa sentença e d’Ella tirará duas cópias para serem enviadas – uma ao Ministerio dos Negocios Ecclesiasticos e da Justiça, e outra ao Muito Reverendo Arcipreste de Aveiro que assim o participará ao R. Parocho da freguesia de Ílhavo para seu conhecimento e devidos effeitos.

Coimbra, 31 d’Agosto de 1910

Manuel, Bispo Conde”

sábado, 17 de outubro de 2009

As nossas tradições em livro



Um livro de Teresa Reigota

“Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”



“Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo” é um livro de Teresa Filipe Reigota, natural da Gafanha da Nazaré e residente na Gafanha da Boavista, S. Salvador. Gafanhoa de gema, como gosta de afirmar, esta professora aposentada tem uma indesmentível paixão pela etnografia.
Com seu marido, o também professor aposentado João Fernando Reigota, funda o Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo, em 1984. O envolvimento nas tarefas de recolhas, pesquisas e estudos, levou-a a sentir a necessidade de preservar e divulgar os usos e costumes das gentes que a viram nascer e das quais guarda gratas recordações. Assim nasceu o livro “Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”, que vai ser lançado no dia 24 de Outubro, sábado, pelas 21 horas, no Centro Cultural de Ílhavo, em cerimónia que encerra as celebrações das Bodas de Prata do Rancho Regional.
Sobre este livro pronunciar-me-ei numa outra altura, pois considero importante não só manifestar a agradável impressão que a sua leitura me suscitou, mas também estimular a nossa juventude para que se embrenhe nestes estudos, fundamentais à cultura da identidade do povo que somos e que queremos continuar a ser, sobretudo no que diz respeito à manutenção dos valores que enformam a nossa sociedade.
Garanto, aos meus amigos, que a leitura deste trabalho da Teresa Reigota, inacabado como todas as obras do género, suscitará em cada um a revivência de estórias iguais ou semelhantes às que a autora agora nos oferece. E como recordar é viver, estou em crer que todos aceitarão a minha proposta.

Fernando Martins

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Hora da Saudade no Rádios Antigos no Ar


Pesca do Bacalhau

A Hora da Saudade, de que há meses falei no meu Pela Positiva, foi agora recordado pelo coleccionador António Rodrigues, no seu site Rádios Antigos no Ar. Tema para eu, como outros, reviver, porque o assunto, na época em que aconteceu, suscitava grande interesse. Hoje, praticamente, ninguém evoca a Hora da Saudade, que levava pelos ares a nossa voz emocionada e feliz, até junto de familiares que labutavam no alto mar por uma vida melhor para os seus.
Sou o primeiro a reconhecer a importância desses momentos únicos vividos na pacatez da nossa região, quase toda ela voltada, indelevelmente, para o Atlântico Norte, onde bravos marinheiros catavam e arrastavam o mar, com fome  dos bacalhaus, que seriam sustento de muita gente no nosso país, agora de olhares fixos, quase somente, no tratamento e comercialização do fiel amigo.
Sinto que por vezes perco tempo com algumas banalidades, quando podia, muito bem, envolver-me em questões mais pertinentes... mas a vida tem destas coisas. No meu blogue, contudo, há uma rubrica semanal, do meu amigo Manuel, que reflecte e nos oferece um lindo trabalho sobre a Pesca do Bacalhau, através dos tempos, e que aqui recomendo. Tudo isto para nos levar a pensar, mais a sério, no essencial à construção da nossa identidade.

FM

domingo, 4 de outubro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 149

O NAUFRÁGIO DO “MARIA DA GLÓRIA”
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Maria da Glória
 
 
Na sua colaboração habitual de todos os domingos, desde há bastante tempo, e sempre  lida com muito agrado e até com emoção, o meu amigo Manuel lembra-nos hoje o afundamento do navio-motor Maria da Glória, em 1942, por bombardeamente de um submarino alemão, em plena grande guerra. Pode ler aqui.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ruas da Gafanha da Nazaré: Rua Raul Brandão


Rua Raul Brandão


O Cantor da Ria merecia muito mais



Quando há anos topei com a Rua Raul Brandão, confesso que fiquei triste. É verdade. Porque o escritor merecia muito mais. Eu sei que a relação das ruas a baptizar tinha sido feita, na sua grande maioria, numa noite. De modo que, quer queiramos quer não, não havia hipótese de escolher a rua, conforme a personalidade a homenagear.
E Raul Brandão, provavelmente, na minha óptica, o que melhor cantou a nossa ria, com referência assinalável à Gafanha, merecia mais do que uma ruazinha sem expressão, sem circulação de veículos que levasse as pessoas a falar dele.
A Rua Raul Brandão parte da Rua Sacadura Cabral (e não Secadura Cabral, como se lê numa placa) e dirige-se para a ria, sem lá chegar.
Raul Brandão canta no seu livro Os Pescadores, de forma única, a Ria de Aveiro. Andou por aqui para a conhecer, no dia 21 de Julho, e dias seguintes, de 1922. Alguns dias, certamente, porque de outra forma não seria possível pintar um quadro tão rico.
“A ria é um enorme pólipo com os braços estendidos pelo interior desde Ovar até Mira. (…) De um lado o mar bate e levanta constantemente a duna, impedindo a água de escoar; do outro é o homem que junta a terra movediça e a regulariza. (…) Abre canais e valas, semeia o milho na ria. Povoa a terra alagadiça, e à custa de esforços persistentes, obriga a areia inútil a renovar constantemente a vida. Edifica sobre a água, conquistando-a, como na Gafanha, onde alastra pela ria.
“(…) Ninguém vem aqui que não fique seduzido, e noutro país esta região seria um lugar de vilegiatura privilegiado. É um sítio para contemplativos e poetas: qualquer fio de água lhes chega e os encanta. É um sítio para sonhadores e para os que gostam de se aventurar sobre quatro tábuas, descobrindo motivos imprevistos.
“É também sítio para os que querem descobrir novas terras à proa do seu barco e para os que amam a luz acima de todas as coisas. Eu por mim adoro-a. É-me mais necessária que o pão. E é talvez o ponto da nossa terra onde ela atinge a beleza suprema. Na ria o ar tem nervos. (…) A luz aqui estremece antes de pousar…”
Pelo que disse e pelo que ficou por dizer, digam lá, meus caros conterrâneos, se Raul Brandão merecia ou não uma rua à medida da grandeza do escritor que ele foi?

Fernando Martins

sábado, 26 de setembro de 2009

Recordações: A Pesca do Bacalhau




Faina Maior
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Os tempos da pesca do bacalhau, que deram fama e proveito à Gafanha da Nazaré e sua região, têm vindo a ser evocados pelo meu amigo e colaborar Manuel Olívio da Rocha. Escreve, semanalmente, no Pela Positiva, apresentando registos preciosos que fazem parte indelével da história do país. Convido os meus leitores do Galafanha a espreitarem um pouco, mas penso que os mais ávidos destes assuntos não deixarão de ler e de tomar notas, muito úteis para quem gosta da nossa história marítima, para muitos trágico-marítima. Leia aqui.

FM

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Padre Rubens António Severino: Notas Biográficas -2

Padre Rubens numa vigília de Natal

Dos primeiros contactos com Schoenstatt
até Prior da Gafanha da Nazaré

O primeiro trabalho do Padre Miguel, no Brasil, como presbítero foi na Universidade Católica de São Paulo, onde entrou como capelão em Janeiro de 1967. A oportunidade surgiu quando a universidade procurava um capelão. Os seus responsáveis manifestaram o desejo de ter um capelão do Instituto dos Padres de Schoenstatt, no qual o Padre Miguel ingressou, depois de ordenado presbítero, em 1966. E essa oportunidade é logo aproveitada pelo Padre Miguel, que se oferece para ali exercer o seu múnus sacerdotal.
Em São Paulo, com o Padre António Lobo, abre um Lar para Estudantes Universitários, que o jovem Rubens passa a frequentar. Entretanto, o Padre Miguel regressa à Europa em Dezembro de 1968, ficando no Brasil o Padre Lobo.
No contacto com o Padre Lobo, o primeiro padre português a ingressar no Instituto dos Padres de Schoenstatt, e o primeiro, também, a fazer a Aliança de Amor, o jovem Rubens descobriu a sua vocação, já ligado ao Movimento.
Sentiu que Deus o chamava a ser sacerdote para se dedicar ao trabalho de Educação Juvenil. Parte, então, para Schoenstatt, na Alemanha, onde ingressa no noviciado do Instituto dos Padres de Schoenstatt, seguindo estudos universitários na faculdade de Teologia de Münster.
Com o diploma de Teologia, volta ao Brasil, passando pela Gafanha da Nazaré, onde trabalhavam os Padres do Instituto.
Antes, porém, aquando da sua ordenação como diácono, uma “embaixada” da Gafanha da Nazaré vai participar na cerimónia, “com o fito de o catequizar para vir trabalhar para a paróquia”, recorda o Padre Miguel Lencastre. É ordenado presbítero em 12 de Agosto de 1978. Em 1979 frequenta um curso de Pastoral na Alemanha, após o qual entra como coadjutor na paróquia da Gafanha da Nazaré, passando a desempenhar o cargo de prior em 1982.
Fernando Martins

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Efeméride Gafanhoa: Nascimento de Joana Maluca

1788 – 7 de Setembro – Nasce Joana Rosa de Jesus

Em 7 de Setembro de 1788 nasceu Joana Rosa de Jesus, também conhecida por Joana Maluca ou Joana Gramata. Viria a falecer em 1878, com 90 anos de idade, portanto.
O apelido Maluca veio de seu marido, José Domingos da Graça, a quem chamavam “o Maluco”, no dizer do primeiro pároco da Gafanha da Encarnação, padre João Vieira Rezende, autor da Monografia da Gafanha.
Quando faleceu, Joana Maluca deixou nove filhos e 66 netos, que chegou a conhecer, tendo todos eles deixado prole.
Diz o Padre Rezende: “É claro que, uma geração tão numerosa e florescente, entroncada numa idade tão provecta, e a quem ela assistia como senhora, e rainha, deu-lhe o direito de crismar a sua povoação, a Gafanha-da-Gramata, com a alcunha que ela tinha recebido do marido. Era de justiça o privilégio, que os lugares circunvizinhos lhe concederam. Aparecer no local mal povoado uma macróbia, chefiando um povo de 66 netos, dava direito a consagração que ficasse marcando nas gerações futuras – mesmo como aproveitável lição contra as nefandas práticas do maltusianismo, agora em moda.
“Ainda hoje [1944] existem na Gafanha da avó Maluca, na Gafanha-da-Maluca, muitos Domingos da Graça, seus descendentes, mais conhecidos por Malucos. Desta vez foi a Joana maluca quem deu o nome a esta Gafanha."

sábado, 5 de setembro de 2009

Padre Rubens António Severino: Notas Biográficas

Padre Rubens

Filho de família tradicionalmente católica
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1. O Padre Rubens António Severino nasceu a 7 de Agosto de 1942 e foi ordenado presbítero em 12 de Agosto de 1978.
Coadjutor, na Gafanha da Nazaré, de 1979 a 1982, passou a pároco com a saída do Padre Miguel Lencastre, nessa última data. Exerceu o cargo até ao seu falecimento, que ocorreu em 21 de Março de 1990, no Brasil, onde se fixou depois da grave doença que o acometeu e que viria a vitimá-lo. Está sepultado junto ao Santuário de Jaraguá, em São Paulo.
O Padre Rubens era filho de “família tradicionalmente católica”, tendo nascido em Rio das Pedras, no Brasil. Era o quinto filho da família, sendo seus pais João Severino e Ângela Padovezi. Foi baptizado “logo a seguir na igreja matriz do Senhor Bom Jesus de Rio das Pedras, Estado de São Paulo”.
A infância foi normal e ao completar sete anos de idade passou a frequentar a escola primária no Grupo Escolar Barão de Serra Negra. Após a escola primária, foi estudar para o Colégio Piracicabano, onde fez o ginásio. Passou depois para a Escola Normal Rural Professor José de Melo Morães, tendo aí concluído, em 1963, o curso de formação para professores primários.
Começa a dar aulas na fazenda Santa Joana. Para chegar ao local, somente o podia fazer de cavalo, pois não possuía outro meio de transporte.
Paralelamente, ajudava os pais no armazém de cereais, ao mesmo tempo que resolve estudar à noite, completando o curso de aperfeiçoamento para professores primários.
Mais tarde, inicia uma carreira universitária no colégio Piracicabano, na Faculdade de Pedagogia. Como funcionário público, vai trabalhar em Osasco, São Paulo, e funda, com outros colegas, uma ‘República’ – casa para professores primários, onde todos fazem os serviços domésticos.
Continuando a estudar, frequenta a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde conclui a licenciatura em psicologia, pedagogia e sociologia.
Entretanto, especializa-se em Administração Escolar e noutras áreas da Educação, na Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira dos Padres Jesuítas.

Fernando Martins

Fonte: “Gafanha - Nossa Senhora da Nazaré”, de Manuel Olívio Rocha e Manuel Fernando da Rocha Martins

Nota: A seguir, Padre Rubens e Schoenstatt

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Paróquia de Nossa Senhora da Nazaré da Gafanha completa 99 anos

Igreja antiga
"A paróquia de Nossa Senhora da Nazaré da Gafanha completa hoje 99 anos de vida. Daqui a um ano, se Deus quiser e o povo estiver unido, celebraremos o primeiro centenário. É curioso como um século de existência parece tão curto. Digo isto, porque tive o privilégio de conviver com gafanhões que, antes de 1910, lutaram para que a então povoação da Gafanha se tornasse independente e seguisse a sua vida, deixando, por isso, a casa materna."
Leia mais aqui

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Arrastão "Maria Teixeira Vilarinho"

O Ângelo Ribau esclareceu-me, há dias, sobre um lapso que surgiu na apresentação, no porão do Navio-Museu Santo André, do arrastão Maria Teixeira Vilarinho, na qual se dizia que o navio tinha sido mandado construir pela firma José Maria Vilarinho, Sucrs, L.da. Afinal, essa firma nunca existiu… Aqui fica a explicação do meu amigo, pessoa sempre atenta ao que se diz e como se diz. Obrigado. FM Da firma antiga das famílias Ribau e Vilarinho até aos nossos dias. - Ribaus & Vilarinhos Ldª Eram sócios os "Ribaus", o Sr. Virgílio, o Sr. José Maria, o Sr Benjamim, e possivelmente outros ribaus que desconheço. Os Srs. João e José Maria Vilarinho, como sabes, eram irmãos. Mais tarde esta firma desmembrou-se, tendo dado lugar a três outras: 1- Sociedade Gafanhense Ldª, de que ficaram sócios os "Ribaus" 2- João Maria Vilarinho, mais tarde João Maria Vilarinho Ldª, depois, por falecimento do sócio João, passou a João Maria Vilarinho Suc. Ldª, mais tarde ainda, a Empresa de Pesca João Maria Vilarinho Suc. S.A. 3- José Maria Vilarinho, mais tarde José Maria Vilarinho Ldª, e finalmente José Maria Vilarinho Pescas, S.A. Quanto ao Maria Teixeira Vilarinho, foi mandado construir em Viana do Castelo, pela firma José Maria Vilarinho Ldª. Era a construção nº 69 daqueles Estaleiros, e teve o nº de registo V-4-N. Um abraço Ângelo

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Gafanha da Nazaré, velha senhora rejuvenescida

Ponte da Cambeia
"Ao chegar à bonita idade de 75 anos, vividos numa constante luta pelo progresso e contra adversidades sem conta, a Gafanha da Nazaré, velha senhora rejuvenescida, há poucos anos, por novo baptismo que lhe deu o apelido de vila, está em festa. E com razão!... Novos trajes, adornos mais consentâneos com a época, comodidades caseiras semelhantes às que possuem outras senhoras, tudo lhe falta, mas acreditamos que tudo lhe será ofertado em próximos aniversários. Os seus filhos, porém, dão-lhe hoje o que é possível e com a mesma alegria da criança que, ao passar pelo campo florido da Primavera, colhe uma flor silvestre, pura e simples, não alterada, ainda, pela genética, e corre a entregá-la, feliz, à mãe aniversariante, com o beijo de parabéns." Fernando Martins Nota: Citado num livro, li hoje este texto, excerto de um outro que escrevi em 1985, nas Bodas de Diamante da freguesia da Gafanha da Nazaré. Não sei se já o publiquei nos meus blogues. Pelo sim pelo não, aqui fica ele.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ruas da Gafanha da Nazaré: Rua Dr. Josué Ribau

Dr. Josué Ribau
No meio de tantas ruas baptizadas com nomes de pessoas que pouco ou nada nos dizem, de vez em quando lá encontramos uma ou outra com nome de gente nossa. Neste capítulo, embora seja difícil seleccionar os que merecem tal honra, pensamos que se devia ter em conta que houve gafanhões dignos de ocuparem placas toponímicas. Como o Dr. Josué Ribau, que hoje e aqui evocamos. A rua com o seu nome liga a Av. José Estêvão à Rua Sacadura Cabral. Quem segue pela Avenida em direcção ao Forte da Barra, depois da igreja matriz, surge à direita, depois dos semáforos, uma segunda rua, a dedicada ao nosso homenageado deste mês. Trata-se de uma rua estreita, algo sinuosa, por ter nascido sobre um caminho de terra batida, sem traçado prévio. Josué da Cruz Ribau nasceu no dia 1 de Abril de 1916. Hoje, se fosse vivo, teria 93 anos de idade. Era filho de Manuel Ribau Novo e de Maria da Cruz, esta de Seixo de Mira, sendo irmão de Madalena e do padre Diamantino. Faleceu em 27 de Maio de 1944. Fez a instrução primária na Gafanha da Nazaré e estudou no Liceu de Aveiro. Foi bom aluno, como reza a tradição e salienta a família, ingressando depois na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Matemática. O Certificado da mesma Universidade diz, textualmente, que se licenciou em “Ciências Matemáticas", em 26 de Julho de 1940, com o “exame de Geometria Superior", tendo-lhe sido votada, em conselho da Faculdade, "a informação final de bom com catorze valores”. Foi, tanto quanto se sabe, professor no Liceu de Aveiro e ainda hoje é recordado pela sua simplicidade e inteligência. Por convivermos com os seus sobrinhos, dele ouvimos muitas vezes falar com muita dedicação e estima. Amigos seus, que também conheci, partilhavam dos mesmos sentimentos de admiração e louvor. Foi, tanto quanto percebi, na minha juventude, uma pessoa muito querida por todos os que o conheceram ou com ele privaram mais de perto. Conhecemos, pessoalmente, a biblioteca de sua casa, da qual lemos alguns livros que o Dr. Josué decerto apreciou. Essa biblioteca tinha a marca de seu pai, homem marcante na sua geração. Dessa biblioteca, recordamos autores que então nos entusiasmaram: Júlio Verne, Silva Gaio, Camilo, Eça, Júlio Dinis e até Santo Agostinho, entre outros. Certas obras continham anotações do Dr. Josué e de seu irmão, o Padre Diamantino. Este irmão do Dr. Josué morreu novo, com doença pulmonar. Diz-se que não procurou cura, por acreditar ser essa a vontade de Deus, conforme nos confidenciou um seu sobrinho. Sobre as suas leituras, contaram-nos que era muito escrupuloso, procurando ter em conta os preceitos da Igreja católica, no que diz respeito a livros então proibidos. Escreveu, por isso, ao Bispo de Coimbra, pedindo autorização para ler uma obra do Índex (relação dos livros não aconselhados pela Santa Sé). O Bispo ter-lhe-á recomendado que talvez fosse melhor envolver-se em leituras relacionadas com os estudos. O Dr. Josué era um doente epiléptico. Conhecedor da sua doença, ao sentir as crises, pedia sempre que o ajudassem nessas alturas. Nem por isso, contudo, deixou de ser um rapaz do seu tempo, convivendo com amigos e amigas. Talvez pela doença, não chegou a casar. Fernando Martins