Sementeiras e colheitas eram feitas
em espírito de entreajuda
Nas primeiras décadas do século XX, a terra começa a ser repartida e dez por cento da população emigra. Os proprietários maiores (ou remediados), como afirma o Padre Rezende, constituem seis por cento da população, sendo os proprietários menores cerca de 50 por cento. Os jornaleiros são já 34 por cento da população da Gafanha. Também nesta altura surgem os Róis do Gado. Eram associação de socorros mútuos que os nossos avós criaram para se auxiliarem em caso de doença prolongada ou morte de animais. Leite de Vasconcelos sublinha que o nome destas Associações (Róis do Gado) era incorrecto porquanto também se destinavam aos donos.
Sementeiras e colheitas eram feitas em espírito de entreajuda.
Os lavradores e seus familiares ajudavam os amigos e vizinhos para ganhar tempo. Os ajudados tinham de pagar na mesma moeda. Estas reminiscências comunitárias, que num ou noutro aspecto ainda perduram, constituem prova evidente da vivência de uma certa fraternidade e das necessidades económicas por eles sentidas. É que os gafanhões de antanho não tinham dinheiro que abundasse para pagar jornas.
As sementeiras do milho e as plantações da batata eram feitas por processos muito simples e rudimentares, já que a escassez de recursos lhes não permitia a aquisição de máquinas agrícolas. E o mesmo se diga em relação a outras sementeiras e plantações.
Tudo era semeado e plantado em regos abertos na terra pelo arado, seguindo-se a cobertura com a grade de dentes de madeira. Só por volta de 1880, como afirma o nosso guia, é que as terras começaram a ser cavadas mais profundamente à enxada, por se reconhecer, talvez por qualquer experiência colhida noutras paragens, que as terras assim produziam mais. Surge então a surriba, cava profunda para bem remexer a terra.A utilização da enxada em todos os trabalhos de sementeira justificava-se pela dificuldade económica dos agricultores. O pouco dinheiro não lhes dava possibilidades de possuir e sustentar gado para a charrua. Aliás os pastos também eram pouco abundante nas Gafanhas. E a charrua acabou por entrar na região somente em 1928. As regas não eram muito usadas porque a água não andava. As areias, muito permeáveis, impossibilitavam esse serviço.
Quando os terrenos se tornavam mais escuros, por força de humos, então sim começou a rega. Construíram-se poços com engenho por volta de 1920. Enquanto o boi ou a vaca tirava a água com os alcatruzes do engenho, um garoto ou mesmo um adulto ia deitando na água a lama previamente trazida da ria. A lama impedia a infiltração da água e enriquecia os próprios terrenos. Em 1937 construíram-se 100 poços em toda a Gafanha, mas também já havia quem regasse por meio de motor.
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Fernando Martins
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