segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Centro Social e Paroquial da Gafanha da Encarnação



Neste mês de dezembro, em que se celebra mais uma quadra natalícia, dedicamos a rubrica “Associações” ao Centro Social e Paroquial da Gafanha da Encarnação que este ano assinala trinta anos de atividade. 
O Centro Social e Paroquial da Gafanha da Encarnação é uma Instituição Particular de Solidariedade Social criada em 1987 por iniciativa das estruturas pastorais da Paróquia da Gafanha da Encarnação, nomeadamente pelo então Pároco da Gafanha da Encarnação, Padre Manuel Ribau Lopes Lé. 
Proporcionar às crianças atividades adaptadas à realidade sociocultural do meio, visando de uma forma direta e integrada o seu desenvolvimento físico, emocional, intelectual e social e, simultaneamente, fornecer aos pais, conselhos importantes sobre o seu relacionamento com os filhos é a sua principal missão.
Dado o contexto socioeconómico da comunidade, muitas são as famílias que ao longo dos anos beneficiaram do apoio social e da solidariedade prestado pelo Centro Social, particularmente as crianças que revelam necessidades específicas e, por isso, necessitam de atenção e cuidado particulares, por forma a assegurar um crescimento e desenvolvimento equilibrados. 
A instituição está perfeitamente enraizada na Comunidade, particularmente no apoio à Infância, abrangendo nesse âmbito as Respostas Sociais de Creche, Jardim de Infância e CATL, atuando em articulação com diferentes entidades, nomeadamente a Câmara Municipal de Ílhavo, e prestando um serviço de qualidade, integrado e inclusivo. 
Atualmente, o Centro tem 116 utentes divididos pelas várias respostas sociais e conta com 21 funcionários.
Neste ano de 2017, o Centro Social e Paroquial da Gafanha da Encarnação recebeu a Medalha do Concelho em Vermeil pelos relevantes serviços prestados às crianças e famílias do Município de Ílhavo ao longo destes trinta anos, no âmbito das Comemorações do Feriado Municipal.

Centro Social e Paroquial da Gafanha da Encarnação 
Rua Padre António Diogo, 104 
3830-516 Gafanha da Encarnação 
Telefone: 234 082 316

Presidente da Direção 

Padre Gustavo Fernandes

Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI

sábado, 2 de dezembro de 2017

Natal à vista - Couvada do Sr. Bacalhau


Ingredientes

1 couve tronchuda
2 batatas
1 cenoura
1 posta de bacalhau
1 ovo
Azeite q.b.
Alho q.b.
Sal q.b

Preparação

Coza o bacalhau em água abundante durante 3 minutos.
Aproveite a água da cozedura do bacalhau para cozer a couve, as batatas cortadas, cenoura e ovo. Tempere a gosto o prato com azeite e alho laminado.


NOTA: Receita gentilmente cedida pela Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo, apresentada no “Concurso Prato Tradição & Prato Inovação”, na categoria “Inovação”, realizado no âmbito do Festival do Bacalhau 2017.

Fonte: Agenda “Viver em...” da CMI




quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Criação da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo





A comunidade da Gafanha do Carmo começou por ser paróquia, sendo desmembrada da Gafanha da Encarnação em 6 de novembro de 1957, por decreto de D. João Evangelista, Arcebispo-Bispo de Aveiro. Nele, D. João confirma que atendeu à petição dos chefes de família, à concordância do pároco da Gafanha da Encarnação e aos compromissos assumidos pela Comissão Promotora, quanto à côngrua a atribuir ao pároco e às obras a realizar na capela do lugar e à aquisição da residência paroquial. Decreta ainda, para além dos limites com as freguesias vizinhas, que a nova freguesia ficará integrada no Arciprestado de Ílhavo. 
O primeiro pároco foi o Padre José Soares Lourenço. Nessa altura havia uma capela de pequenas dimensões, sem valor arquitetónico, que, por estar demasiado junto à via pública, foi destruída, construindo-se a atual igreja paroquial. A sua construção iniciou-se em 2 de junho de 1969.
Passados dois anos, o povo católico sentiu a alegria de poder usufruir de uma igreja moderna. O templo é acolhedor e convidativo ao silêncio e à oração. Foi solenemente benzida a 17 de novembro de 1974 por D. Manuel de Almeida Trindade.
A igreja tem espaço suficiente para a população. Tem uma imagem da padroeira – Nossa Senhora do Carmo – de dimensões a condizer com o espaço. Na anterior capela havia uma imagem da padroeira que se encontra atualmente na sacristia, pois era demasiado pequena para o novo templo.
O altar é único e está em lugar de destaque permitindo boa visibilidade.

Fernando Martins

NOTA: No dia 17 de novembro de 1974 foi benzida a nova igreja. 

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Gastronomia - Ovas de Bacalhau com Molho Vinagrete


Ingredientes:

Ovas de bacalhau
Pimentos verdes e vermelhos
Cebola
Alho
Azeite
Vinagre
Sal

Preparação:

Comece por cozer as ovas em água e sal. Depois corte-as às rodelas. Para o molho, corte os pimentos em cubos muito pequenos e pique a cebola e o alho. Misture estes ingredientes com azeite e vinagre. Disponha as ovas num prato e regue com o molho. 
Bom apetite!


Receita gentilmente cedida pelo Rancho Folclórico “O Arrais”, apresentada no “Concurso Prato Tradição & Prato Inovação”, na categoria “Tradição”, realizado no âmbito do Festival do Bacalhau 2017.  

“Bússola Partilhada” aposta no desporto ao ar livre






Com a cedência de um imóvel onde funcionou, na Gafanha da Nazaré, o jardim de infância da Chave, à associação “Bússola Partilhada”, para o exercício da sua atividade social, desportiva e cultural, a Câmara Municipal de Ílhavo (CMI), na pessoa do seu presidente, Fernando Caçoilo, procedeu no domingo, 29 de outubro, à inauguração da nova sede, que se apresentou profundamente remodelada. O autarca ilhavense referiu que a CMI, ao entregar este equipamento, sentiu que se tratou de uma iniciativa «útil para uma associação importante para o nosso município e para a nossa freguesia». 
Fernando Caçoilo fez questão de referir que esta opção da câmara, de aproveitar edifícios abandonados para novos fins, depois de reconvertidos, é um sinal da boa gestão da autarquia. «A partir de hoje a “Bússola Partilhada” tem muito melhores condições para os sócios praticarem as suas atividades e encontros», frisando a certeza de que «contribuirá para o crescimento da associação».
Carlos Rocha, presidente da Junta de Freguesia, adiantou que a Gafanha da Nazaré é «uma terra riquíssima a nível de instituições e associações, a maioria delas ativas e voltadas para bem servir a comunidade, que é o mais importante». Falando da “Bússola Partilhada”, o presidente da autarquia referiu que esta associação se carateriza, fundamentalmente, «pela prática de desportos ao ar livre, desenvolvendo eventos de cariz solidário», provando que «olha para as pessoas», o que justifica o «apoio incondicional da junta». 
Basílio Nunes, presidente da direção da “Bússola Partilhada”, da qual fazem parte Sérgio Sarabando (secretário) e Ulisses Vareta (tesoureiro), explicou que a associação começou com o jogo da Petanca, importado de França pelos nossos emigrantes. Reuniam-se no Jardim Oudinot, como ainda hoje o fazem, para jogar e conviver. «Todos os dias, mesmo que chova», disse. Depois, resolveu «avançar com um grupo para a constituição e legalização da associação, que completa sete anos de vida em 16 de dezembro próximo». 
A partir daí, Basílio Nunes procedeu a pesquisas e descobriu que, afinal, até havia no nosso país a Federação Portuguesa de Petanca, criada em 2005, na qual se filiou a “Bússola Partilhada”, o que prova à evidência a importância deste jogo em Portugal, terra de emigrantes. E lembra um grande torneio de abertura que se realizou no Jardim Oudinot, com cerca de 300 participantes, oriundos de todo o país, desde as Taipas, mais ao Norte, até ao Algarve. 
Como alguns sócios alimentam outros gostos, a associação organizou a secção de BTT (Bicicleta Todo o Terreno), inicialmente com alguns campeões, mas cedo descobriu «que o melhor caminho seria deixar entrar toda a gente: novos, velhos, bons, fracos, sendo eu um dos mais fraquitos», afiançou. 
Presentemente, já está em atividade mais uma secção, o Paraquedismo, animada por antigos praticantes, que ensinam os mais novos. Organizam eventos e demonstrações, havendo, naturalmente, a colaboração da Base de São Jacinto. E outras secções hão de surgir, à medida dos interesses ou paixões dos associados. 
Importa relevar a componente solidária da “Bússola Partilhada”, no apoio a quem precisa, traduzido na entrega de uma cadeira elétrica de rodas para um jovem poder circular por onde desejar, e outra, mais simples, mas fundamental, para uma menina poder comer à mesa. Ainda contribuem com donativos para algumas instituições.
A nova sede, cedida pela autarquia ilhavense, contou com o apoio da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, mas também de diversas empresas da região, e «vai ser — frisa Basílio Nunes — o nosso virar de página para a integração de toda a gente, novos e velhos, homens e mulheres, no desporto ao ar livre».

Fernando Martins

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Postal Ilustrado - Associações da Gafanha da Nazaré

Cartaz publicitário
Desde os primórdios da Gafanha da Nazaré, como povoação e depois como freguesia e paróquia, o povo sempre se organizou no sentido da entreajuda, tanto nos trabalhos agrícolas como na construção de casas, caminhos e ruas. Nessa linha, surgiram posteriormente os róis de gado, uma associação de apoio aos sócios, por morte ou invalidez de animais, em especial gado vacum e suínos. Neste caso, os regulamentos e decisões não estavam escritos, prevalecendo a palavra dada.
Na década de 30 do século passado, por necessidade das indústrias, comércio e famílias, foi constituída a Cooperativa Elétrica da Gafanha da Nazaré, destinada a fornecer energia aos sócios e proprietários.
Entretanto, e em resposta a novos hábitos e aspirações, foram surgindo associações, clubes e instituições, como corolário do desenvolvimento da freguesia e paróquia, para os mais diversos fins e aspirações. Todas destinadas ao povo, abarcando áreas tão abrangentes como o desporto, o social e caritativo, o económico, a dança e o teatro, mas também o educacional e de bem-fazer. Muitas sobreviveram até aos nossos dias, outras foram-se adaptando às novas exigências propostas pela evolução dos tempos, enquanto algumas desapareceram, decerto por incapacidade de adaptação ou por os seus objetivos já não fazerem sentido. Segundo nos informou o Presidente da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, Carlos Rocha, a nossa terra tem, presentemente, 22 associações ativas, o que prova a vitalidade dos gafanhões em variadíssimos setores. Delas procuraremos falar de futuro neste meu espaço.

Fernando Martins

Nota: No cartaz, onde está  Dinis Ribau, devia estar Dinis Ramos. 

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Tradições: Feijoada da Samos



INGREDIENTES

(para 4 pessoas)

1 Kg Samos
1/2Kg de feijão branco cozido
1 Chouriça vermelha
Tomate
Cenoura
Azeite
Cebolas
Vinho Branco
Piripiri
Sal

PREPARAÇÃO

Num tacho coloque o azeite e a cebola picada, deixando alourar.
Adicione o tomate pelado e esmagado e deixe refogar.
Junte os samos (previamente lavados, cortados em tiras e demolhados), mexa e deixe cozinhar.
Depois junte o vinho branco, a chouriça e as cenouras cortadas às rodelas e tempere com sal e piripiri.
Finalmente, adicione o feijão branco e deixe apurar mais 15 a 20 minutos.
Retifique os temperos.

Bom apetite

Fonte Agenda “Viver em...” da CMI

NOTA: Receita vencedora do Concurso “Prato Tradição & Prato Inovação”, Categoria “Tradição”, apresentada pela Associação Cultural e Recreativa Chio Pó-Pó, no âmbito do Festival do Bacalhau 2017.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

POSTAL ILUSTRADO — "Monografia da Gafanha"


Padre Rezende

A Monografia da Gafanha pode e deve ser considerada um postal ilustrado da região das Gafanhas dos concelhos de Ílhavo e Vagos, pois trata-se de uma obra de referência aberta a todos os que gostam e estudam esta zona habitada desde o século XVII. Foi escrita pelo primeiro pároco da Gafanha da Encarnação, P. João Vieira Rezende, e a primeira edição viu a luz do dia em 1938. Na altura, o autor sublinhado que, «por sugestão de pessoas interessadas pelas coisas da Gafanha, nos resolvêramos a publicar alguns documentos inéditos, que viriam derramar luz sobre a ignorada história desta região».
A segunda edição, profundamente melhorada, saiu em 25 de fevereiro de 1944, contando com um subsídio do Instituto para a Alta Cultura, e foi prefaciada por Orlando Ribeiro, professor catedrático de Geografia da Faculdade de Letras de Lisboa. E nesse prefácio, o ilustre cientista, referindo-se à Gafanha, diz que «temos aqui um exemplo, importantíssimo e raro, de povoamento que pode seguir-se desde o início e em todas as fases da sua evolução: povoamento que, como noutros lugares do nosso litoral, tem na base os foros, as courelas cultivadas por famílias, que arroteiam o maninho, criam o solo arável, à força de adubos, levantam casa na sorte que cultivam, transformam o areal estéril em plaino produtivo salpicado de habitações dispersas».
A Monografia da Gafanha apresenta, nas suas 364 páginas, bastante informação, dizendo, entre muitos outros assuntos, o que é a Gafanha, o seu povoamento, os seus primeiros proprietários, famílias preponderantes, a fé do povo, a barra e as suas diferentes posições até se fixar na última, em 3 de abril de 1808, a agricultura, as praias, a instrução e pormenores sobre as casas, a lavoura, usos e costumes.

​Fernando Martins​

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Culinária — Chora


Ingredientes

1 cabeça de bacalhau ou duas caras frescas, lavadas e salpicadas
1 cebola grande
6 dentes de alho
1 folha de louro
2 tomates grandes, de preferência coração de boi, desfeitos
1 copo de arroz agulha
Sal q.b.
Uma pitada de piripiri
Azeite do bom
1 copo de vinho branco
Água q.b

Preparação

Refoga-se a cebola e os alhos no azeite até ficarem transparentes. Junta-se a folha de louro e o tomate. Deixa-se ferver, cozendo durante cinco minutos. Acrescenta-se a cabeça de bacalhau ou as caras e rega-se com o vinho branco.
Tapa-se o tacho, deixa-se levantar fervura até cozer, sem deixar desfazer. Retira-se a cabeça de bacalhau ou as caras cozidas do tacho e reserva-se, deixando arrefecer.
Desfebra-se a cabeça ou as caras e reserva-se. Junta-se a água, retifica-se o tempero e piripiri a gosto.
Quando a água ferver, acrescenta-se o arroz e deixa-se cozer até ficar no ponto.
Por fim, adicionam-se as febras do bacalhau. Está pronto a comer. Como opção, serve-se com quadrados de pão bem torrado.

NOTA: Receita vencedora do Concurso “O meu bacalhau é melhor que o teu”, realizado no âmbito do Festival do Bacalhau 2017. A receita foi gentilmente cedida por Anabela Pequeno.

Agenda "Vive em..." da CMI

sábado, 19 de agosto de 2017

Hipóteses para o vocábulo Gafanha



Das várias hipóteses que poderiam estar na origem do vocábulo Gafanha, nenhuma até hoje reuniu consenso. Indicam-se algumas, na esperança de que os estudiosos possam chegar a acordo sobre a mais plausível:

1. Gadanha, alfaia agrícola para cortar o junco, teria dado Gafanha;
2. Gafar, imposto por passagem de barco ou ponte, poderia levar a Gafanha, lugar de pagar o gafar;
3. Gafar, vaso para transportar sal, conduziria a Gafanha. Havia sal nesta região;
4. Gafo, leproso, estaria na origem de Gafanha, terra de gafos. Esta hipótese não tem consistência, por não haver qualquer registo histórico que a sustente;
5. Gafanha teria vindo de Gafaria, mas também não há qualquer vestígio histórico que nos elucide. Aliás, nas épocas seguintes à idade média já havia leprosarias para cuidar dos gafos;
6. Gafenho ou Gafanho poderia sugerir Gafanha, terra gafada, gretada, como a pele dos leprosos. A terra gretada era mais visível na maré baixa, em cujas lamas se abriam fendas com o sol;
7. A ideia de uma mulher de Aveiro, com gafa, que para esta região teria sido desterrada não passa de lenda;
8. O Gafanho ou Gafanhoto, inseto saltão, daria Gafanha? É apenas mais uma hipótese. Não havia assim tanta verdura nas dunas que justificasse a existência abundante de gafanhotos;
9. Gafano, homem impedido por doença ou outras razões de sair deste espaço, estaria na base Gafânia, donde resultaria Gafanha. 
10. Admite-se que Gafanha teve origem em Gatanho (tojo-gatão), que existia em terras dunares;
11. Gafanha poderia ter nascido de Galafanha, vocábulo surgido a partir de Gala, terra alagada, mais Fânia, espécie de junco.

Descartamos à partida o que se refere a Gafaria, Gafos e Gafanha (mulher desterrada, ao jeito dos leprosos). Não se conhece registo escrito desta lenda ou história da mulher aveirense atirada para aqui. Não se compreende a teoria da Gafaria, porque, diz João Gonçalves Gaspar, como é que «a caridade cristã medieval ou pós-medieval, nesse tempo em que até havia instituições para tratarem os referidos doentes, poderia consentir que tais pessoas, tão carecidas de cuidados, (...) fossem desamparadas nos infindos areais incultos ou nos pântanos doentios e enclausuradas entre os canais da ria sem o mínimo conforto de viver?».1
Curiosamente, Galafanha aparece no “Diccionário Geographico Abbreviado das oito províncias dos Reinos de Portugal e Algarves”, de Pedro José Marques, com data de 1853, como zona do Concelho de Vagos, quando é suposto aceitar que antes disso já existia e se falava de Gafanha.

Posto isto, é justo afirmar que temos andado no encalço de alguns estudiosos: Padre Rezende, Joaquim da Silveira, José Leite de Vasconcelos, Gonçalves Viana, João Gonçalves Gaspar, Manuel Maria Carlos, Pinho Leal e outros, com pesquisas próprias em dicionários e leituras avulsas, sem nunca termos encontrado, garantidamente, a origem da palavra Gafanha que nos convencesse. E se de facto a origem esteve mesmo na Gadanha?

Fernando Martins

(1) GASPAR, João Gonçalves, Formação da Ria e povoamento da região de Aveiro, Boletim Cultural da Gafanha da Nazaré, nº 2

Fonte: “Ílhavo Terra Milenar”

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

GAFANHAS — O espaço que hoje habitamos

(Mapa) - Registo feito por Mons. João Gaspar

O espaço que hoje habitamos, com mar e ria a limitá-lo na sua grande parte, não é de sempre. Observando mapas e lendo registos fica-nos a certeza de que o mar foi dono das atuais Gafanhas.
A restinga de areia que se formou ao longo de 25 séculos, protegendo-nos dos avanços e ataques do oceano, foi criando condições capazes de atrair pessoas habituadas a enfrentar dificuldades, muitos séculos depois.
Orlando de Oliveira avança com a certeza de que a laguna vem do tempo da fundação da nacionalidade. «Podemos dizer com orgulho que a Ria de Aveiro e Portugal se formaram ao mesmo tempo. Nasceram simultaneamente por alturas do século XII e poderíamos dizer, fantasiando um pouco, que, enquanto os nossos primeiros Reis e os seus homens iam dilatando as terras peninsulares, a Mãe-Natureza ia conquistando ao mar esta joia prodigiosa que generosamente viria ofertar às nossas terras alavarienses.» (1)
Sublinhe-se que a língua de areia que inclui as nossas praias, estendendo-se até à Vagueira, esteve dependente administrativamente do concelho de Ovar. Com a abertura da Barra, em 3 de abril de 1808, as companhas da xávega, que até aí operavam em S. Jacinto, voltaram-se para os areais da futura Costa Nova do Prado, por dificuldades de acesso para o outro lado do canal. Costa Nova, por oposição à costa velha de S. Jacinto. (2)
Pescadores, comerciantes de pescado, proprietários das companhas e outras gentes ali se foram fixando. E por decreto de 24 de outubro de 1855 a posse administrativa passa para Ílhavo.
O Padre João Vieira Rezende, primeiro prior da Gafanha da Encarnação, diz: «Denomina-se Gafanha toda a região arenosa dos concelhos de Ílhavo e Vagos com cerca de 25 quilómetros de comprimento por 5 de largura, abraçada do norte ao sul (lado poente) pelo rio Mira e do norte ao sul (lado nascente) pelo rio Boco, afluentes da Ria-de-Aveiro, e confinando ao sul com uma linha que, saindo dos Cardais de Vagos, vai fechar ao norte do lugar do Poço-da-Cruz, freguesia de Mira. Pela identidade da sua origem, topografia, condições de vida, costumes, etc., consideramos como uma continuação da Gafanha a duna situada naqueles dois concelhos, entre o Oceano e a Ria.» (3)
Entretanto, a Barra e Costa Nova, separadas das Gafanhas pelo Canal de Mira, passaram a estar incluídas, respetivamente, nas freguesias das Gafanhas da Nazaré e Encarnação, aquando da sua criação.» (4)
O Canal de Mira foi palco, entre 1918 e 1920, de uma operação de grande vulto para a época, destinada a abrir passagem para o oceano do Vapor Desertas, que havia encalhado ao sul da Costa Nova, em 18 de novembro daquele primeiro ano. Nessa operação, muitos dos nossos antepassados foram trabalhadores de pá e enxada na abertura de um canal por onde haveria de passar o vapor, via
Canal de Mira, até ao Atlântico. Com essa operação, o canal foi-se alargando quase até aos nossos dias.
No limite sul, a Mata da Gafanha forma uma barreira que se estende da parte norte da Gafanha da Nazaré até à Gafanha da Boa Hora, tornando-se,
indiscutivelmente, um ex-líbris da nossa região. O padre João Vieira Rezende diz que «A sementeira do penisco, começada a norte em 1888, tem sido muito morosa, ultrapassando somente depois de 1939 o sítio da capela de N. Senhora-da-Boa-Hora. Hoje [1944] está ligada com a Mata de Mira». (5)  Serviu para defesa dos terrenos agrícolas que lhe ficavam a Sul, sendo, presentemente, como desde a sementeira do penisco, o pulmão do nosso concelho.
Os trabalhos da sementeira, como se compreenderá, necessitaram de mão de obra de muitos gafanhões, e não só, tal como aconteceu com o projeto e construção da Colónia Agrícola da Gafanha, em meados do século XX. (6)
Na Mata da Gafanha há diversos equipamentos sociais, culturais, empresariais, religiosos e desportivos, a par de ruinas de casas de campo típicas da antiga Colónia Agrícola, inaugurada em 8 de dezembro de 1958.(7) Muitas dessas casas de habitação foram, entretanto, modificadas e adaptadas ao viver atual. De todas as instituições, destacamos apenas algumas, nomeadamente, o Movimento de Schoenstatt, os Complexos Desportivos, as Piscinas Municipais, a EMER – Escola Municipal de Educação Rodoviária, os parques de merendas, cemitérios, etc.

Fernando Martins

Fonte: “Ílhavo Terra Milenar”

(1) OLIVEIRA, Orlando — Origens da Ria de Aveiro, Câmara Municipal de Aveiro, 1988
(2) FONSECA, Senos da — Ílhavo, Ensaio Monográfico, séc. X ao séc. XX
(3) REZENDE, João Vieira, Monografia da Gafanha, 1944
(4) Gafanha da Nazaré (1910) e Gafanha da Encarnação (1926)
(5) REZENDE, João Vieira — obra citada
(6) Ver Gafanha da Nazaré
(7) MARTINS, Fernando — Gafanha da Nazaré – 100 anos de vida, Paróquia da Gafanha da Nazaré, 2010

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Recordando o Festival da Canção na Gafanha da Nazaré

Santuário de Schoenstatt (Foto de 2009)

Hoje recordo o Festival da Canção organizado pela Juventude Masculina de Schoenstatt há bons anos. O texto que transcrevo a seguir tem data de maio de 2009 e quem o escreveu foi João Alberto Roque, presentemente e desde há muito docente na Escola Secundária da Gafanha da Nazaré. Penso que as memórias ficarão mais ricas. Aliás, é essa a minha intenção. 
Desses festivais não possuo fotografias, mas haverá decerto quem as tenha. Se mas puderem ceder para publicar seria muito interessante. Fico a aguardar. 


EU FUI DOS PRINCIPAIS INTERVENIENTES...

Eu fui dos principais intervenientes… É agradável dar de caras com estas recordações.
Já não me lembrava dos pormenores – tinha vinte e três anos na altura – mas, pelo que li, penso que está tudo bem. Nesse ano fiz parte da organização e era um dos autores de três canções concorrentes (ai a ética… mas de acordo com o regulamento só os elementos do Júri não podiam concorrer e eram sempre pessoas credenciadas e imparciais). Aliás não era frequente ganhar um Gafanhão. Nesse ano ganhou o Cândido Casqueira numa canção com poema do Pina e o Sérgio ficou em segundo com uma canção de que eu era um dos autores. Eu sempre fui mais dado para a escrita… já não recordo se a “letra” era feita só por mim ou trabalho de equipa com o Sérgio e o Falcão. Com muita pena minha, nunca tive jeito para cantar sem ser em coro.
Estas canções foram feitas no acampamento da Juventude Masculina de Schoenstatt. Parece que me estou a ver a escrever junto ao rio Vouga em Sejães… Muitas canções nasciam nesses acampamentos. Duas com o grande amigo Sérgio Ribau e outra com o meu irmão Vítor. Outro que estava quase sempre envolvido era o Rogério Fernandes.
O Movimento era uma grande escola de cidadania… Tínhamos muita autonomia e éramos responsáveis na mesma proporção.
Gostava de ver este Festival retomado. Aliás fiz uma proposta nesse sentido, há menos de dois anos, aos jovens de Schoenstatt, não me pondo fora de colaborar e de motivar outros antigos dirigentes a criarmos um grupo que anualmente os apoiasse.
Talvez se perceba melhor a importância deste festival se disser que era uma das raras oportunidades de se revelarem talentos como aconteceu, por exemplo, com a Jacinta, a minha prima Alda Casqueira e muitos outros.

João Alberto Roque

Nota: Publiquei aqui 

quarta-feira, 22 de março de 2017

A propósito da abertura da Barra de Aveiro

Para Memória Futura

Carta de Luís Gomes de Carvalho 
ao futuro rei D. João VI



Nota: Carta publicada no Arquivo do Distrito de Aveiro, integrada em artigo da autoria de Ferreira Neves, um dos fundadores e  diretor da revista,

sábado, 18 de março de 2017

Mulheres das Gafanhas



Esta fotografia não é minha, mas fui eu quem a divulgou pela primeira vez. Faz parte de um livro de Maria Lamas — Mulheres do meu país — que li e consultei há muitos anos. Hoje, como andei a tentar arrumar algumas fotos que tenho armazenadas em nuvens e discos externos, passou-me pelos olhos este registo que me transporta a tempos idos da minha infância e juventude. Conheci algumas destas mulheres das nossas Gafanhas (Nazaré, Encarnação e Carmo), tidas por trabalhadoras indomáveis. Matriarcas muitas vezes com maridos ausentes, na pesca do bacalhau ou na emigração. E reparem como em muitas se mantém um ar sorridente. Todas decerto já faleceram, mas deixaram raízes indeléveis na nossa memória.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Gafanhas no Concelho de Ílhavo


Teresa Reigota: Um exemplo a seguir

“Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”



“Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo” é um livro de Teresa Filipe Reigota, natural da Gafanha da Nazaré e residente na Gafanha da Boavista, S. Salvador. Gafanhoa de gema, como gosta de afirmar, esta professora aposentada tem uma indesmentível paixão pela etnografia. 
Com seu marido, o também professor aposentado João Fernando Reigota, funda o Rancho Regional da Casa do Povo de Ílhavo, em 1984. O envolvimento nas tarefas de recolhas, pesquisas e estudos, levou-a a sentir a necessidade de preservar e divulgar os usos e costumes das gentes que a viram nascer e das quais guarda gratas recordações. Assim nasceu o livro “Gafanha… O que ainda vi, ouvi e recordo”, que vai ser lançado no dia 24 de Outubro, sábado, pelas 21 horas, no Centro Cultural de Ílhavo, em cerimónia que encerra as celebrações das Bodas de Prata do Rancho Regional.
Sobre este livro pronunciar-me-ei numa outra altura, pois considero importante não só manifestar a agradável impressão que a sua leitura me suscitou, mas também estimular a nossa juventude para que se embrenhe nestes estudos, fundamentais à cultura da identidade do povo que somos e que queremos continuar a ser, sobretudo no que diz respeito à manutenção dos valores que enformam a nossa sociedade.
Garanto, aos meus amigos, que a leitura deste trabalho da Teresa Reigota, inacabado como todas as obras do género, suscitará em cada um a revivência de estórias iguais ou semelhantes às que a autora agora nos oferece. E como recordar é viver, estou em crer que todos aceitarão a minha proposta.

Fernando Martins

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Famílias Tradicionais da Gafanha

Um trabalho de Orquídea Ribau


CURIOSIDADES À VOLTA 
DE ALGUNS NOMES 
DE FAMÍLIAS TRADICIONAIS NA GAFANHA

Assento de óbito de António Ferreira
Fonte: A.D.A., S.Tiago de Vagos, Óbitos, Lv. nº 16, Fl .nº 11-verso.
Foto obtida sob autorização do A.D.A.

Como em qualquer outro universo comunitário, alguns nomes de familia, ainda hoje utilizados na Gafanha, têm uma origem muito particular e um pouco à revelia das diferentes“normas” aplicadas ao longo do período compreendido entre a fixação dos primeiros habitantes, no final do séc. XVII, e o final do séc. XIX. Esses nomes adoptados adquiriram tal importância dentro da comunidade que fizeram mesmo desaparecer um ou mais apelidos familiares oficiais. Eis alguns exemplos:

SARDO – Surgiu como alcunha. António Ferreira, assim se chamava o visado, obteve o nome por ser de “cor sardo e cabelo avermelhado”, de acordo com o assento de óbito. Pertencia à família Ferreira, uma das primeiras a fixar-se definitivamente nas areias da “Gafenha” no virar do séc. XVII para o seguinte. Viveu durante a segunda metade do séc. XVIII, e deixou de herança o apelido da familia e a alcunha aos seus descendentes – FERREIRA SARDO. Nas ocasiões em que tinham que mencionar oficialmente a sua filiação, tais como baptismos ou casamentos, os seus filhos identificavam-no como António Ferreira Sardo.

No séc. XIX fixou-se na Gafanha um indivíduo da Murtosa, Mateus Fernandes Sardo, sem ligação aparente à família da Gafanha. Aqui deixou descendentes com esse apelido, que deverá ter uma origem diferente.

O referido António Ferreira Sardo teve um sobrinho, filho de seu irmão mais velho Joaquim Ferreira, de seu nome José Ferreira, a quem, ainda não descobri porquê, apelidaram de “fidalgo”, alcunha que também vingou e se transmitiu como apelido até aos nossos dias - José FERREIRA FIDALGO.

FILIPE – Também numa das primeiras familias que definitivamente aqui se fixaram, a família Fernandes Cardoso, nasceu no primeiro quartel do séc. XVIII Filipe Fernandes Cardoso. Teve vários filhos varões que assumiram como apelidos o Fernandes do pai, seguido do seu nome próprio, Filipe - FERNANDES FILIPE - até hoje.

VILARINHO – Ainda no Séc. XVIII, um membro da família de apelidos “Francisco Sarabando” – outra das tais três ou quatro primeiras famílias que aqui se enraizaram – casou com Maria de Pinho, nascida no lugar de Vilarinho, da freguesia de São Julião de Cacia, conhecida, devido a essa origem, por “a vilarinha”. Os seus filhos passaram a ser os “da vilarinha”, acabando por adoptar oficialmente a alcunha e deixando cair o apelido Sarabando - Fulano FRANCISCO DA VILARINHA. De “da Vilarinha”, a alcunha evoluiu, através dos cento e cinquenta anos seguintes, para “da Veleirinha” e “Vileirinha”, depois para “Veleirinho” e “Vileirinho”, e finalmente para “Vilarinho”, que é a forma correcta e utilizada hoje, ainda que a forma “Veleirinho” tenha sobrevivido na zona sul da Gafanha.

GAFANHÃO – Dois irmãos, primos do anterior, também de apelido Sarabando, casaram em Aveiro em meados do séc. XVIII. Um na freguesia da Apresentação - território que pertence hoje à Freguesia da Vera Cruz - e outro em São Miguel, que hoje faz parte da Freguesia da Glória. Ambos receberam a alcunha de “Gafanhão”, supostamente por serem da Gafanha, embora um deles tenha nascido na freguesia da Apresentação por os pais lá terem vivido alguns anos; até as suas esposas, aveirenses, passaram a ser conhecidas como “Gafanhoa” – ex.: Maria Luiza Gafanhoa, a da Apresentação, no Assento do seu óbito em 1806. Apesar de alguns dos seus descendentes terem mantido o apelido Sarabando, que ainda existe em Aveiro, a alcunha sobreviveu, tendo viajado para o lugar de S. Bernardo, onde um deles casou e a deixou como apelido dos filhos e netos; um outro descendente, Manuel Francisco Gafanhão, já no séc. XIX, regressou às origens familiares com a esposa, e veio enraizar o “GAFANHÃO” na Gafanha.

MARÇAL – Mais um caso idêntico ao FILIPE. Aqui, o patriarca chamava-se Marçal Rodrigues, do lugar do Paço, freguesia de Esgueira, e o filho, que casou na Gafanha em 1837, chamou-se Manuel RODRIGUES MARÇAL, deixando os apelidos aos descendentes.


MARTINHO – Outra situação semelhante às anteriores: Martinho José dos Santos veio do lugar de Santiago, freguesia de São Miguel de Aveiro. Os seus descendentes, presentes na Gafanha a partir de meados do Séc. XIX, adoptaram os apelidos DOS SANTOS MARTINHO.

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NOTA: Esta é uma segunda edição do mesmo texto, publicado no meu blogue Galafanha - Sapo. Reedito-o na convicção de que não é muito lido, apesar das curiosidades que encerra. Vou tentar convencer alguns amigos a cooperarem com textos semelhantes. Lembro, no entanto, que é necessário evitar as fantasias. O rigor histórico é muito  importante.

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Gastronomia: Bacalhau de Outono




NOTA: Receita gentilmente cedida pelo Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré e apresentada no "Concurso Prato Tradição & Prato Inovação", na categoria "Inovação", realizado no âmbito do Festival do Bacalhau 2016.
Publicado na Agenda "Viver em..." da CMI

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Gafanha



Painel patente na exposição "Ílhavo - Terra Milenar", no Centro Cultural de Ílhavo.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Gafanha do Carmo — Jardim das Alminhas








Durante a minha recente passagem pela Gafanha do Carmo, rápida que o tempo urgia, procurei apreciar mais o que salta à vista. Numa bifurcação, bem visível para quem circula, lá estava o Jardim das Alminhas, com data de 1997, que traduz a fé das gentes do Carmo. O painel, que outrora nos assustava com as chamas do purgatório ou do inferno a infligirem um castigo terrível, temporário ou eterno, continua a dar que pensar. E a Nossa Senhora do Carmo lá estará a consolar algumas almas, lembrando, decerto, que Deus Misericordioso perdoará sempre...
Entretanto, fui informado por Domingos Vilarinho que as Alminhas já existiam antes da inauguração  do Jardim das Alminhas. 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A Borda

Portas d'Água (Foto da rede global)

Para os gafanhões, a borda era o local de acesso mais fácil à Ria. Com maré baixa, era certo e sabido que o povo se abastecia de berbigões (cricos, na gíria popular), amêijoas, lingueirão de canudo e de uns peixitos que por ali cirandavam aflitos e sem força para chegar aos regos de água salgada. O mexilhão e lapas arrancavam-se das pedras que defendiam os terrenos das marés vivas. Há décadas, o marisco era apanhado livremente, dia a dia, sempre ao sabor das marés. Apenas se respeitavam, em obediência ao saber de experiência feito, os meses sem erre. Nessas alturas, sem avisos das autoridades marítimas, o povo sabia que as diarreias eram perigosas.
A borda era um convite à proximidade franca com a laguna. Nadava-se, chapinhava-se nas lagoas que a maré cheia deixava para deleite da pequenada. A borda era espaço de encontro e de cavaqueiras das gentes da pesca e da apanha do moliço, chamado arrolado, porque era oferecido de mão beijada pelas águas quando fugiam para o mar.
A borda beneficiava todas as Gafanhas e matava a fome a imensa gente. Mas a borda de hoje, não era como dantes. As obras portuárias, cais, diques, navios, arruamentos, ferrovia e outras estruturas ligadas às pescas, como estaleiros, oficinas e espaços comerciais, fecharam a sete chaves a ria aos gafanhões. A laguna ficou para turistas que por ela navegam em épocas de lazer. Agora, apenas num ou noutro recanto, ainda vale a pena arregaçar as calças para apanhar marisco. A cerveja fresquinha espera.

FM

domingo, 1 de janeiro de 2017

Cruzeiro da Gafanha do Carmo



No dia 29, quinta-feira, senti um apelo que me levou a passar pela Gafanha do Carmo. Eram as minhas raízes, do lado materno, a chamarem-me. A minha avó Custódia Luís Ferreira nasceu na então Gafanha dos Caseiros, em 28-08-1867.

Em adolescente e jovem por lá andei imensas vezes de casa em casa com os meus pais. Na rua por onde andava pouco resta daquilo que conheci há uns 70 anos. Passei, olhei numa tentativa de recordar. E fui atraído pelo cruzeiro que é quase da minha idade. Parei, fotografei, procurei registos, mas nada. Um casal que terá apreciado a minha curiosidade suscitou uma curta conversa. Garantiu-me que está como na origem, apesar de ter sido derrubado por um carro que se despistou. O marido da senhora evocou que ele próprio e uns vizinhos tiveram o cuidado de o reconstruir, aproveitando ao máximo o que era de aproveitar. E lá está ele. 
Na minha memória estava um cruzeiro maior, mas não, não senhor. Disse a senhora: — Talvez por nessa altura o senhor ser menino… 
É verdade. Em menino, coisas pequenas parecem-nos maiores. A memória não será tão rigorosa quanto julgamos.
Depois fui à cata. E aqui fica a nota do Padre Resende na sua Monografia:

«O terceiro Cruzeiro, ou melhor o Cruzeiro-Crucifixo, foi benzido e inaugurado na Gafanha do Carmo em 21 de Agosto de 1939, em Comemoração dos Centenários da Independência e Restauração de Portugal. Sobre a base com três degraus de cimento assenta o Crucifixo de pedra de Ançã, medindo a altura do conjunto 2m,50. 
O terreno e alguns materiais para a construção foram cedidos por Joaquim Maria Caçador.
O resto da despesa, que foi de 240$00, foi custeado pela Irmandade de Nossa Senhora do Carmo.»

Notas:

1. Atrevo-me a sugerir que seja aplicada no cruzeiro uma placa simples com a legenda: "Inaugurado em 21 de Agosto de 1939  - Irmandade de Nossa Senhora do Carmo". É importante esclarecer quem passa, seja gente da terra ou algum turista, como foi o meu caso.

2. Algumas vezes ouvi, até de gente com alguma cultura, que os cruzeiros são pelourinhos. Não têm nada a ver com os pelourinhos. São, simplesmente, monumentos religiosos comemorativos da Independência e Restauração de Portugal.