CALDEIRADA
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«– Disseram-me e eu creio ser verdade
Que tens um jeito para a caldeirada
Como ninguém e, como novidade,
Quem provar esse manjar de fada...»
«Ria-se, ria. Há-de lamber-lhe os dedos,
Há-de chorar por mais e não rirá...
«– Mas dize lá: como se faz...»
«Segredos!...
Muitos segredos qu'isso tem, verá...
«Vamos. No rio há pouco vento agora.
Eu levo o meu rapaz, e no moliço
Bota-se a rede e é só puxar p'ra fora
Qu'é pescaria que já dá p’ra isso.
*
«Chegamos. Eh! rapaz de mil diabos
Tu lança a rede. Eu desenrolo-a e marco.
Bonda, Manuel, aí. Agarra os cabos...
Lance o senhor a vara e empurre o barco...
«Salte p'ra terra. Anda rapaz! T’aquenha!
E agora é só puxar. Vamos depressa.
Traze a marmita, a bilha d'água, a lenha,
Essa pimenta e o sal que não te esqueça.
*
«– Ricas enguias! Que tainha boa!
Linda manhã com este sol de Maio!
«Eh! Manuel andas c'a tola à toa!
Olh'esse barco qu'anda à rola, raio...
«Acende o lume enquanto amanho o peixe.
Cruze o senhor as varas... Nessa cruz
Pendure essa marmita. Agora deixe...
Há-de fazer-se um
jantarão de truz...
«É só temp'rá-Ia bem. Não ficam mal
Miga's de pão. É bom?»
– «Eu nem te conto!
Nunca, na vida, comi cousa igual!
Mais outra malga, meu Francisco...»
«–
Pronto.»
Na revista Aveiro e o seu Distrito, n.º 21, junho de 1976
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