Nas capitais de Distrito e nos grandes centros não faltam, todavia, manifestações de regozijo pela mudança do regime em 5 de Outubro. Os jornais dão conta desses movimentos, apesar de alguma indiferença por parte dos povos simples, como são os nossos antepassados, tanto mais que os contactos com as zonas urbanas de Aveiro, Ílhavo e Vagos estão muito limitados, por carência de acessos fáceis.
“O Século” e o “Diário de Notícias”, de âmbito nacional, bem como periódicos regionais e locais, referem, com destaque, o modo festivo como Aveiro e Ílhavo recebem a revolução de 5 de Outubro. Diz “O Século” de 10-X-1911: «O povo [de Ílhavo] estava na maior anciedade por falta de notícias, quando chegou de Aveiro o administrador do concelho, participando que a Republica estava proclamada. N’essa occasião, o sr. Eduardo Craveiro soltou um estridente viva à Republica…»
Vasco Pulido Valente, no entanto, afirma que, «na melhor das hipóteses, os republicanos não passavam de 100 000. Em 1910 o PRP [Partido Republicano Português] não tinha qualquer organização na maioria dos concelhos do país e onde a tinha no papel quase sempre não a tinha na realidade: comissões e agremiações com nomes heróicos, que na prática se reduziam à mesma meia dúzia de amigos, associados sob diversos nomes e pretextos». 18(PEHP)
A I Grande Guerra deixa sinais de destruição e morte entre 1914 e 1918, originando pelo País os monumentos de homenagem aos Soldados Desconhecidos que faleceram no conflito. E se houve quem louvasse a decisão política de levar portugueses para a guerra, não faltou quem a criticasse. Como sempre acontece, aliás.
Em 1916 há registo de pessoal civil da Gafanha da Nazaré na Aviação Naval de S. Jacinto. Esta base seria, ao longo dos anos, um alfobre de operários especializados.
Nesse mesmo ano, no dia 18 de Novembro, o navio “Desertas” encalha ao sul da Costa Nova, avançando logo a hipótese da sua recuperação para o devolver ao mar, o que realmente veio a acontecer a 20 de Março de 1920. A tarefa de salvamento do “Desertas”, cuja passagem para o oceano implicou a abertura de um canal de 950 metros para o trazer para a ria, leva à remoção de 200 mil metros cúbicos de areia, durante 76 dias, numa luta permanente, «dia e noite». Com apenas uma draga e um rebocador, esta operação mobiliza «muita força humana», onde os gafanhões marcam presença significativa.
Em 1917, aconteceram as Aparições de Fátima, que dão origem a uma imagem de marca do catolicismo português, fortemente enraizado no culto mariano da nossa gente. Veja-se como todas as Gafanhas têm como padroeira Nossa Senhora, sob diversas designações. E deste chão que hoje pisamos nunca faltaram peregrinações a Fátima, em grupos normalmente organizados.
A Barra de Aveiro já funcionava com a regularidade possível, exigindo, contudo, obras contínuas. Até hoje. A entrada e a saída de navios são dificultadas pelo assoreamento constante, sucedendo-se diversos estudos, muitas vezes contestados. O poder local, nomeadamente a autarquia aveirense, interfere nas decisões a tomar, ora em nome das populações, ora por questões meramente políticas.
O estaleiro do mestre José Maria Bolais Mónica havia sido transferido de Ílhavo para a Cale da Vila, onde se torna, durante décadas, numa fonte significativa de mão-de-obra para as Gafanhas e arredores. Foi também uma grande escola das artes de construção naval de madeira.
Curioso ainda é saber-se que, apesar de não haver certezas sobre a elevação a freguesia, por desmembramento de S. Salvador, a comunidade já tinha iniciado a construção de uma ampla igreja, raiz física da actual.
Fernando Martins
In "Gafanha da Nazaré – 100 anos de vida"
3 comentários:
Boa Noite.
Antes de mais os meus parabéns pelo excelente blog e pelo trabalho que tem em prol das Gafanhas.
Só por mera curiosidade onde ficava o estaleiro do Mestre Monica em Ílhavo?
Continuação do excelente tranalho
Cumprimentos
Carlos Oliveira
Meu caro
Tanto quanto sei, ficava na Malhada...
Obrigado pelas palavras amigas que me dirigiu...
FM
Boa Noite
Obrigado por responder.
Ainda fiquei com a ideia que seria na zona da Coutada, mas sempre mais virado para a Malhada.
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