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Alfaias e tarefas agrícolas
Os cereais eram depois secos na eira durante alguns dias. De quando em vez, alguém, descalço, fazia sulcos no cereal para o sol actuar com mais eficácia.
À noite a eirada era resguardada dos orvalhos ou chuvas por um tolde feito de palha de centeio.
Este, como outros trabalhos agrícolas, era feito em parceria ou para ganhar tempo. Nem de outro modo podia ser, já que se tratava de tarefas muito exigentes. Por isso, não faltava a merenda retemperadora: broa, azeitonas, bacalhau cru com cebola, bem azeitado, e tudo regado com um copito de vinho ou simples água fresca. A mesma merenda se dava aos que andassem "a andar de fora", isto é, "a ganhar tardes". As tardes começavam entre as 13 e as 15 horas, conforme fosse Inverno ou Verão, e terminavam às trindades. As trindades, convite à oração da noite, eram ouvidas, ao pôr do sol, na torre da igreja matriz. Estão a cair em desuso, até porque foi mecanizado e alterado o toque característico.
E falemos agora de uma ou outra alfaia agrícola mais em uso na Gafanha ,no princípio do século. O erguedor ou erguedeira para separar pelo vento provocado o grão da palha e que ainda se vê por aqui e por ali, talvez não precise de explicação, tal como o malho, a foicinha, a gadanha, a enxada, o engaço, o ancinho, o sacho, o forcado, o arado e a charrua. Ao longo dos tempos têm conservado, no essencial, a mesma forma, salvo uma ou outra alteração provocada por recentes descobertas. Parece-nos, no entanto, útil descrever o carro utilizado na Gafanha há décadas. Uma vez mais nos socorremos do Padre Resende e da sua MONOGRAFIA DA GAFANHA (edição de 1944). Diz ele: “O cabeçalho tem na extremidade anterior um buraco perpendicular onde enfia a chavelha para engate do tamoeiro da canga, e mais quatro fendas transversais na sua parte posterior, por onde passam quatro travessas, as cadeias, cujas extremidades se vão fixar em outras fendas das duas chedas laterais ao cabeçalho.
As peças rectas das chedas, no ponto da última cadeia anterior, sofrem um desvio em ângulo obtuso para o cabeçalho e aí se fixam com uma travessa. Esta parte do leito do carro, interceptada e delimitada pela cadeia e pelo desvio da cheda, chama-se marmela.
Por debaixo das chedas ficam as cantadoiras, às quais se aplicam as garridas fixadas pelos cocões que, por sua vez, estão cravados nas cantadoiras e nas chedas. As garridas são de ferro, mas há cerca de cinquenta anos eram de madeira, o que permitia chiar o carro quando faltava a lubrificação.
(...)
Perpendicularmente à cheda, há quatro furos onde se fixam os fueiros e os taipais, a que antigamente chamavam sebes e até, indevidamente, marmelas. Todas estas peças, juntamente com as tábuas pregadas nas cadeias e paralelas ao cabeçalho, formavam o chedeiro ou leito do carro.
O rodeiro é constituído por eixo e rodas. A parte principal destas é o amiule onde se crava a mecha do eixo.
As cambas são duas peças semicirculares que fecham a circunferência da roda juntamente com o amiule, ao qual estão ligadas pelas relhas. Sobre as relhas, cambas e amiule, e pela parte exterior, são pregados uns semicírculos de ferro, as sobre-relhas, a reforçar a segurança das cambas ao amiule. Hoje as rodas têm rasto, isto é, são ferradas na sua circunferência, não o tendo antigamente por ser desnecessário em caminhos de areia."
As cangas usadas eram muito simples, embora, como diz Rocha Madail no seu livro ETNOGRAFIA E HISTÓRIA, em edição de 1934, “mestre João Vareta, da Chave, fabrica, ainda hoje, e desde há largos anos, dois padrões de canga: a de castelo central elevado (tipo chamado de Lourosa no estudo de Leite de Vasconcelos), para uso corrente, do trabalho diário, e a tipo de Grijó, rectangular quase, que o lavrador da Gafanha aplica aos bois para as ajuntadas, dias de festa, etc”. E diz, também, que “ambos os modelos são esculturados com rosetas, cercaduras de semicírculos, peixes, chaves, corações, e um baixo-relevo, ligeiro, ao centro, tudo avivado a vermelho, amarelo e verde, e guarnecida a periferia a tufos de crina”.
Refira-se ainda que as palhas dos cereais eram guardadas, depois de bem secas, em medas (centeio e cevada), e em cabanéus (milho). As medas eram montes de palha, com o diâmetro variável, de cerca de três metros, bem pisado e em torno de um tronco de pinheiro ou eucalipto espetado no solo. Cabanéus eram armações em forma de prisma triangular, tendo por base uma face lateral. As outras duas faces eram divididas por meio de ripas ou varas, pregadas paralelamente ao solo. Entre elas era colocada a palha, bastante apertada para não deixar entrar a água da chuva. Estas palhas eram utilizadas na alimentação do gado e na cama dos animais. Também se faziam montes de junco e de restolho (restos de palha dos cereais que ficavam depois do corte com foicinha).
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Fernando Martins
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