quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Um retrato bonito da Gafanha

Imagem que retrata tempos antigos

«A monografia da Freguesia rural de Ovar … contém elementos que explicam certos aspectos da etnografia ilhavense.
O próprio problema do povoamento da Gafanha não pode abstrair desta subordinação a Ovar; só a zona do Sul terá sido mais persistentemente ocupada por colonos de entre Mira e Vagos.
Tenho presentes documentos oficiais que pelo falecido historiador aveirense Marques Gomes me foram oferecidos, relativos ao protesto que os povos do concelho de Vagos levantaram ao aforamento dos areais do Sul pela família Pinto Basto; por um deles (ofício da Câmara de Vagos, de 6 de Junho de 1836, para o Governador Civil do Distrito) se verifica que esta municipalidade considerava os referidos areais “baldios deste concelho desde tempo imemorial”.
Seria de grande curiosidade para a história da região o conhecimento destes e de outros documentos ao assunto referentes; a história da Gafanha é, a bem dizer, de nossos dias, mas já por vezes há dificuldade em esclarecer determinados passos dela; em 1893 publicou-se a “Representação aprovada no comício que em 3 de Abril de 1893 se realizou na cidade de Aveiro com o fim de pedir o estabelecimento de um serviço de dragagem na Ria da mesma cidade”, folheto hoje muito raro, mas precioso para a história da região, e muitíssimo bem escrito; é assinado por Casimiro Barreto Ferraz Sacchetti, Edmundo de Magalhães Machado, e José Maria de Melo Matos, devendo supor-se que os dois últimos signatários tenham sido os seus redatores.
Pode dizer-se que alguns dos problemas vitais da verdejante e linda planície ainda hoje encontrariam a melhor solução nas páginas do esquecido opúsculo, que celebra nos seguintes termos o trabalho persistente profícuo de seus naturais:

… ainda que muitas pessoas se contam neste distrito que viram a Gafanha árida e despida de vegetação, como a maior parte dos areais do litoral, este trabalho foi tão proveitoso que é a Gafanha talvez um dos lugares deste distrito em que haja mais ouro amoedado, sem contar que literalmente fornece sustentação e trabalho a mais de oito mil pessoas sendo, por assim dizer, o celeiro dos concelhos de Aveiro, de Ílhavo, e ainda da maior parte do de Vagos.» 



António Gomes da Rocha Madail
In “Etnografia e História 
— Bases para a Organização 
do Museu Municipal de Ílhavo”
Ílhavo, Tip. Casa Minerva, 1934

sábado, 15 de dezembro de 2018

Freguesia e Paróquia da Gafanha da Encarnação

Gafanha da  Encarnação - Estufa


Costa Nova - Igreja 
A Gafanha da Encarnação insere-se na área geográfica das freguesias desmembradas de São Salvador, Ílhavo, constituindo uma identidade própria. Podemos dizer, com propriedade, que fazem parte de um todo, com características bem definidas. São elas as freguesias das Gafanhas da Nazaré, Encarnação e Carmo. As suas gentes têm sensivelmente as mesmas origens, as mesmas ocupações, as mesmas tradições, a mesma fé. 
Da comunidade humana, que assentou e criou raízes nestes areais inóspitos no século XVII, brotou a comunidade religiosa, com anseios,  normais, de independência, em relação às freguesias e paróquias a que estava ligada, inicialmente de terras de Vagos e depois de São Salvador. Daí nasceu o movimento que levou à constituição da freguesia, que ocorreu pela publicação do Decreto número  12 612, publicado no DG número 250, primeira  série, de 8 de novembro de 1926, em resposta «à representação de vários cidadãos eleitores do mesmo lugar, pela qual se verifica tal urgência». 
O Decreto, assinado em 1 de novembro daquele ano pelo Presidente da República, António Óscar de Fragoso Carmona, e demais autoridades governamentais, esclarece que na nova freguesia está «integrado o lugar da Costa Nova do Prado». 
A nova freguesia foi gerida por uma Comissão Administrativa até 15 de agosto de 1930, data em que tomou posse a primeira Junta de Freguesia, presidida João Ferreira Félix. 
A paróquia de Nossa Senhora da Encarnação, porém, só foi ereta canonicamente em 3 de maio de 1928 pelo Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Coelho da Silva, diocese a que pertencia a nossa região. Nessa data, a nova paróquia é desmembrada da paróquia de São Salvador, de Ílhavo. Refere o Decreto do Bispo que no requerimento dos moradores dos lugares da Gafanha da Encarnação e Praia da Costa Nova do Prado, freguesia de Ílhavo, se pede a criação de uma paróquia no lugar da Gafanha da Encarnação, tendo sido ouvido o pároco de Ílhavo. Diz ainda que «esta nova freguesia [paróquia] fica anexada à freguesia [paróquia] de Ílhavo até que tenha residência paroquial própria. Só  depois disso lhe nomearemos pároco». 
Entretanto, o primeiro pároco, Padre João Vieira Rezende, foi nomeado, tendo exercido funções entre 10 de novembro de 1928 e 1948. A elevação a vila aconteceu em 9 de dezembro de 2004, no âmbito da Assembleia da República, nos termos da alínea c) do artigo 161 da Constituição. 
A promulgação do Presidente da República tem data de 7 de janeiro de 2005. No requerimento enviado à Assembleia da República, para além das notas histórias sempre importantes, sublinha-se a evolução crescente da freguesia, quer ao nível social e demográfico, quer cultural e económico. 
A Gafanha da Encarnação, beneficiando da proximidade do mar, da ria e do Porto de Aveiro, polo notório de desenvolvimento acentuado nas últimas décadas, tem sido palco de crescimento em variados setores, sendo justo realçar a dinâmica imposta pela Zona Industrial da Mota do Município de Ílhavo, com cerca de uma centena de empresas, as quais empregam, direta ou indiretamente, muitas centenas de trabalhadores e técnicos qualificados, graças a empresários com visão de futuro. 
Deixando para outra ocasião as áreas culturais, sociais, educacionais, recreativos, religiosas e desportivas, importa frisar que o povo da freguesia da Gafanha da Encarnação tem sabido contribuir para o progresso da sua terra, pelo bairrismo e capacidade criativa que ostenta no seu dia a dia. 
Quem fala ou escreve sobre esta freguesia do concelho de Ílhavo não pode nem deve esquecer o lugar da Costa Nova do Prado (Costa Nova, no dia a dia) que é parte integrante da comunidade, desde o seu início, como se diz acima. Curiosamente, a Costa Nova é paróquia, dedicada a Nossa Senhora da Saúde, tendo sido criada em 16 de julho de 1989, por decreto do Bispo de Aveiro, D. António Marcelino. 

Fernando Martins 

NOTA: Texto publicado no jornal "VOZ sénior" da US-GN, relativo a novembro de 2018.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Bacalhau confitado em pasta de azeitona























Ingredientes: 

2 lombos de bacalhau previamente demolhados 
6 dentes alho 
1 folha louro 
100g azeitonas pretas descaroçadas 
5 botões de alcaparras 
Sumo de limão q.b. 
Azeite q.b. 
Pimenta q.b. 
Orégãos q.b. 

Preparação: 

Coloque os lombos de bacalhau num tacho pequeno, junte 4 dentes de alho previamente descascados e esmagados e a folha de louro. Cubra o bacalhau com azeite e leve ao lume (muito brando) durante cerca de 20 minutos. 
Numa liquidificadora, coloque as azeitonas, os botões de alcaparras, 2 dentes de alho e a pimenta. Triture tudo até obter uma pasta fácil de espalhar. Junte o azeite, o sumo de limão e os orégãos e envolva bem. 
Espalhe a pasta sobre tostas ou pão torrado e disponha por cima as lascas do bacalhau confitado. 


Receita gentilmente cedida pela chef Patrícia Borges 
no âmbito do Festival Gastronomia de Bordo (14 a 18 de novembro) 

Nota: Receita publicada na Agenda "Viver em..."  da CMI

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Escabeche de enguias em pão de algas

Com votos de bom apetite, que não há-de faltar, e bom proveito.

Nota: Publicado na agenda "Viver em..." da CMI

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Obra da Providência - Introdução à sua história

Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira com D. António Francisco num convívio
Mais de meio século de vida intensa em prol da comunidade, nomeadamente, da família e de quem mais precisa, a Obra da Providência bem merece que a sua memória seja preservada. Não para ficar guardada numa qualquer gaveta de boas recordações, mas para servir de estímulo a todos, no sentido de nos abrirmos mais à solidariedade social e à caridade cristã.
Nascida num contexto com regras morais rígidas, onde qualquer fuga às normas religiosas era ponto de partida para certas marginalizações, incompreensíveis, mas reais, a Obra da Providência quis mostrar que esse era um caminho errado, pois as mães solteiras ou raparigas “desonradas” não podiam nem mereciam ser ostracizadas pelas suas próprias famílias e pelas comunidades a que pertenciam, como, de facto, acontecia, mesmo quando se vivia a fé católica, com muita devoção.
Os tempos foram mudando e mudando também foi a instituição, num claro esforço de se adaptar a novas realidades sociais que exigiam respostas imediatas. De lar para raparigas ou mulheres marginalizadas, a Obra começou a fixar a sua intervenção nas dificuldades sentidas pelas famílias, quando a mulher seguiu a opção de entrar no mercado do trabalho ou a isso se viu obrigada por razões circunstanciais. Sem descurar, contudo, por outras formas de agir, a atenção às mulheres em perigo moral, que essas estiveram na matriz da Obra da Providência.
A história de uma instituição nunca estará completa, por mais rubricas que a constituam e pelos mais variados detalhes que se registem. Sempre ficarão de fora muitas vivências, sobretudo se tivermos em conta a matriz cristã das fundadoras, Maria da Luz Rocha e Rosa Bela Vieira, marcadas pela sensibilidade da caridade que receberam e da educação religiosa e humana em que foram criadas.
Porém, o que se regista neste trabalho servirá para compreendermos até que ponto o Evangelho pode ajudar a traçar caminhos diferentes e inovadores de justiça social, de caridade cristã e de solidariedade fraterna.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Gastronomia: Bacalhau Verde



Ingredientes: 

400g de bacalhau 
4 cebolas grandes laminadas 
1 folha de louro 
8 dentes de alho 
100ml de azeite 
4 chuchus 
400ml bebida de Soja 
400ml de creme de soja 
200g Amido de milho 
Flor de Sal 
Moinho de Pimentas 
Noz-moscada 
2 molhos de Coentros 
250g de flocos de milho 

Preparação: 

Comece por cozer o bacalhau e desfiá-lo. Reserve 200ml da água da cozedura. 
Prepare um refogado com o azeite, as cebolas laminadas, os dentes de alho picados e a folha de louro. Acrescente os chuchus ralados, deixe-os perder água, em lume alto, mexendo o preparado ocasionalmente. Após retirar o louro, junte o bacalhau, tempere com sal e pimenta e misture bem. Pique um dos molhos de coentros e coloque no tacho. 
Dissolva o amido de milho na água do bacalhau e misture com a bebida de soja e o creme, até ficar com a consistência desejada. Tempere com noz-moscada. 
Junte tudo e espalhe o preparado numa travessa. Em seguida, triture os flocos de milho juntamente com o alho e o outro molho de coentros. 
Cubra com os flocos de milho anteriormente triturados e leve ao forno a gratinar durante 30 minutos a 200.º C. 

Sirva o bacalhau ainda quente, acompanhado com salada. Bom apetite! 

Receita gentilmente cedida pela Chef Cátia Gourmon, 
no âmbito do Showcooking do Festival do Bacalhau 2017

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Gastronomia: Bacalhau veio à terra


Ingredientes:

2 lombos de bacalhau (aprox. 100g cada) 
500g de favas 
4 fatias de presunto 
800g de batata-doce 
1 pimento vermelho 
2 dentes de alho 
2 dl de azeite 
10g sal 
Pimenta preta qb 
Salicórnia qb 


Preparação:

Comece por cortar os lombos de bacalhau ao meio, eliminando a espinha central. 
De seguida, enrole o presunto em cada pedaço de bacalhau e leve ao forno com azeite durante 40 minutos à temperatura média (aprox. 140ºC). 
Coza as favas e a batata-doce com a pele. Depois de cozidas, reduza as favas a puré. 
Grelham-se as batatas cortadas às rodelas e o pimento. 
Faça o molho com o pimento pelado, alho, azeite, pimenta e sal, triturando tudo. 
Disponha num prato os preparados em camadas: primeiro a batata, depois o puré e, no topo, o bacalhau. Regue com o molho e sirva.

Bom apetite!


Receita gentilmente cedida pelo Grupo Desportivo da Gafanha, apresentada no “Concurso Prato Tradição & Prato Inovação”, na categoria “Inovação”, realizado no âmbito do Festival do Bacalhau 2017. 


NOTA: Publicado na Agenda "Viver em..." da CMI do mês de junho 


quarta-feira, 2 de maio de 2018

Gafanha da Encarnação celebra aniversário

Paróquia foi criada há 90 anos





Como é sobejamente conhecido, da comunidade humana saiu a comunidade religiosa, com anseios, normais, de independência, em relação à freguesia e paróquia a que estava ligada — S. Salvador de Ílhavo.  Daí nasceu o movimento que levou à constituição da freguesia, criada por Decreto número  12 612, publicado no DG número 250, primeira série, de 8 de novembro de 1926, em resposta «à representação de vários cidadãos eleitores do mesmo lugar, pela qual se verifica tal urgência». 
O Decreto, assinado em 1 de novembro daquele ano pelo Presidente da República, António Óscar de Fragoso Carmona, e demais autoridades governamentais, esclarece que na nova freguesia está «integrado o lugar da Costa Nova do Prado».


A paróquia de Nossa Senhora da Encarnação, porém, só foi ereta canonicamente em 3 de maio de 1928 pelo Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Coelho da Silva, diocese a que pertencia a nossa região. Nessa data, a nova paróquia é desmembrada da paróquia de São Salvador, de Ílhavo. Refere o Decreto do Bispo que no requerimento dos moradores do lugar da Gafanha da Encarnação e Praia da Costa Nova do Prado, freguesia de Ílhavo, se pede a criação de uma paróquia no lugar da Gafanha da Encarnação, tendo sido ouvido o pároco de Ílhavo. Diz ainda que «esta nova freguesia [paróquia] fica anexada à freguesia [paróquia] de Ílhavo até que tenha residência paroquial própria. Só depois disso lhe nomearemos pároco».

Entretanto, o primeiro pároco, Padre João Vieira Rezende, foi nomeado, tendo exercido funções entre 10 de novembro de 1928 e 1948. A elevação a vila aconteceu em 9 de dezembro de 2004, no âmbito da Assembleia da República, nos termos da alínea c) do artigo 161.o da Constituição. 
A promulgação do Presidente da República tem data de 7 de janeiro de 2005. No requerimento enviado à Assembleia da República, para além das notas histórias sempre importantes, sublinha-se a evolução crescente da freguesia, quer ao nível social e demográfico, quer cultural e económico. 

Fernando Martins 

“ÍLHAVO – Terra Milenar” 

quinta-feira, 5 de abril de 2018

GASTRONOMIA: LASANHA DE BACALHAU




Preparação: 

Comece por preparar o molho bechamel, juntando  a farinha, o leite, a pimenta e a noz-moscada. Leve ao lume até engrossar. 
Dê uma fervura ao bacalhau e desfie. Faça um refogado com a cebola e o alho. Junte o bacalhau,  tempere com pimenta e, por fim, adicione os legumes. 
Coloque as folhas da massa da lasanha em água, sal e azeite, de acordo com as instruções da  embalagem. 
Num tabuleiro, disponha um pouco do preparado  do bacalhau, seguidamente as folhas da massa de  lasanha, mais uma camada de bacalhau e o queijo e assim sucessivamente até à última camada só de  bacalhau com o queijo em cima. 
Vai ao forno até alourar. 
Bom apetite! 

Receita gentilmente cedida pelo Grupo Folclórico “O Arrais”, apresentada no “Concurso Prato Tradição & Prato Inovação”, na Categoria “Inovação”, realizado no âmbito do Festival do Bacalhau 2017 

 Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI

sábado, 10 de março de 2018

GASTRONOMIA: PANADO DE BACALHAU EM BROA

Panado de bacalhau em broa 
com puré de grão e legumes salteados


Ingredientes: 

Lombos de bacalhau 
Leite 
Alho 
Azeite 
Pão ralado 
Pimenta 
Grão-de-bico 
Manteiga 
Noz-moscada 
Feijão-verde 
Cenoura 
Pimento verde 
Pimento vermelho 
Courgette 
Rabanetes 
Sal q.b 

Preparação: 

Comece por temperar os lombos de bacalhau em leite, sal, pimenta e alho. Depois de algumas horas de tempero, esprema os lombos e passe por ovo, pão ralado. Frite em azeite. 
Prepare o puré, triturando o grão-de-bico (pode ser de lata). Adicione o leite, a manteiga e a noz moscada a gosto. 
Corte os pimentos, o feijão-verde, a cenoura, a courgette e os rabanetes em tiras fininhas. 
Numa sertã, coloque o azeite e o alho, temperando com uma pitada de sal. Depois de estar quente, junte os legumes e mexa para não deixar colar e torrar. A cenoura e o feijão-verde devem levar uma fervura primeiro. 
Disponha o lombo de bacalhau no prato acompanhado do puré e dos legumes salteados. Bom apetite! 


NOTA: Receita gentilmente cedida pelo Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, apresentada no “Concurso Prato Tradição & Prato Inovação”, na Categoria “Inovação”, realizado no âmbito do Festival do Bacalhau 2017.

Publicado na agenda "Viver em... " da CMI

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

ÍLHAVO NÃO É SÓ MAR...

Um texto de Manuel Cardoso Ferreira 

Mulheres da Gafanha (Do livro "As mulheres do meu país", de Maria Lamas)

Em Ílhavo existe um bom Museu Marítimo, com o seu polo Navio Museu Santo André. Para o ciclo "pesca do bacalhau" estar completo, falta a museulização de uma seca de bacalhau e a construção naval, actividades que tiveram grande desenvolvimento na Gafanha da Nazaré.
No entanto, em termos históricos e patrimoniais, o concelho de Ílhavo não pode limitar a sua oferta unicamente à temática marítima, ainda que, neste sector, seria importante a criação de um museu para valorizar os achados arqueológicos da ria, museu que ficaria muito bem instalado no Forte da Barra, um edifício militar que poderá ter origem no século XV.
Por exemplo, na Casa Gafanhoa deveria haver uma área que contemplasse a "conquista" dos areais das Gafanha, desde os tempos em que eram praticamente deserto até à pujança agrícola dos meados do século XX, incluindo a "participação" da apanha do moliço para a concretização dessa evolução, e ainda a florestação da actual mata nacional que fixou as dunas.
Em Vale de Ílhavo, a panificação e a moagem (onde houve moinhos de água e azenhas desde os primórdios da nacionalidade) mereciam um centro interpretativo que preservasse e valorizasse o património associado a essas duas actividades.
Um pouco por todo o concelho houve bastante agricultura, actividade que está um pouco representada na sala museu do Rancho da Casa do Povo de Ílhavo, situada na antiga escola primária da Gafanha da Boavista, e que também está presente na Casa Gafanhoa.
A História de Ílhavo é bastante antiga, teve inúmeros intervenientes (um, até foi primeiro-ministro) e com locais relevantes (igrejas e outros templos, casas nobres, forte da Barra, Palheiro de José Estevão, ruas e lugares: Ermida, Alqueidão, Vila de Milho, Sá...). Essa história e o espólio a ela ligada, incluindo o documental, merecem ser bastante valorizados de modo a dar a conhecer às gerações vindouras a relevância de Ílhavo em tempos idos.
Artistas também houve (e continua a haver) em Ílhavo. As exposições permanentes de Cândido Teles e João Carlos Celestino Gomes na Casa da Cultura de Ílhavo, e as cerâmicas artísticas no Museu da Vista Alegre provam isso, mas deixam antever o potencial que existe se a oferta for alargada também a outros artistas.
A arqueologia industrial também já se faz sentir no concelho, não havendo já memória dos antigos moinhos que existiram nas Gafanha, da construção artesanal naval de embarcações da ria (com as famosas bicicletas aquáticas dos irmãos Conde), das olarias, da fábrica de vidros, das carpintarias e serralharias de outrora, das antigas padarias...

NOTA: Transcrevi, com a devida vénia,  este oportuno texto do jornalista Manuel Cardoso Ferreira, publicado no Facebook. 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

JORGE RIBAU BRINDA-NOS COM A CHORA

Receita


O prato 

A nossa gastronomia tem muito mérito com muitos sabores, mas tem estado um pouco esquecida, por culpa, naturalmente, dos mais velhos e mais cómodos. Todos gostamos de comer e apreciamos, sobremaneira, os pratos típicos que os nossos ancestrais nos legaram. E se não houver quem compreenda a riqueza das nossas tradições, que passam, inevitavelmente, pela culinária  e pela gastronomia, estamos condenados a deixar ir por água abaixo o que de melhor possuímos, matando a fome ou a necessidade de comer com o que nos oferecem, que nem água faz crescer na nossa boca, isto é, nem apetite nos abre ao prazer de saborear bons pratos. Mas, graças a Deus e à sensibilidade de um gafanhão,  o Jorge Ribau, que, com a coragem que não lhe falta, está a acordar-nos para os nossos práticos regionais, tudo poderá ser recuperado. E aqui revelo, por experiência própria, que a sua grande mestra, que sempre estimei na minha vida, foi sua saudosa avó, Dona Aurora, como a tratávamos.  Parabéns ao Jorge. 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Jorge Ribau - Arroz de Lingueirão

Nota: A nossa região tem riqueza gastronómica mais do que suficiente para se impor na restauração e muito para além dela. Folgo em saber que o meu amigo Jorge Ribau,  que conheço desde menino, tem asas para voar, alto e seguro, na arte de criar pratos de muito bom gosto, utilizando produtos quase a caírem no esquecimento. Há tempos utilizou os samos e agora oferece-nos os lingueirões de canudo. Os meus parabéns. 

sábado, 13 de janeiro de 2018

POSTAL ILUSTRADO — RIA DOUTROS TEMPOS


O postal que reproduzo acima é mesmo um postal ilustrado, não com as cores naturais, mas com tonalidades que eram um luxo para a época. Um postal daqueles que os viajantes ou turistas enviavam pelos correios para assinalarem a sua passagem por terras ou paisagens diferentes das habituais dos seus quotidianos. A técnica aplicada não é para aqui chamada, que disso pouco ou nada sei, mas nem por isso deixa de ser agradável à vista. Presentemente, a evolução da arte fotográfica é tão intensa e tão rápida que nos deixa maravilhados. Contudo, este postal ilustrado conseguiu trazer até nós uma realidade que, também ela, está há décadas ultrapassada, mas presente na minha memória.
Os moliceiros cumpriam a sua missão de transportar o moliço que os homens e algumas mulheres apanhavam na laguna, com ancinhos largos próprios para esse serviço, num vaivém contínuo para abastecer os lavradores das Gafanhas e de outras terras ribeirinhas. E nesta zona, com a ponte da Cambeia a obrigar a manobras de arriar o mastro para o moliceiro poder passar, seja na maré baixa seja na alta, o esforço era realmente grande. Assisti a essa manobra várias vezes.
A borda, zona de acesso à ria, naquele local com Farol à vista, desde 1893, era espaço de descanso, dos primeiros mergulhos e primeiras braçadas de meninos, jovens e menos jovens, de apanha de berbigão, ameijoa, lingueirão de canudo, mas ainda de caranguejos fugidios. Também alguns lavradores apanhavam as algas e limos enlameados que a maré alta deixava quando as águas escorriam para o mar, para tornar mais férteis as areias das terras gafanhoas.

Fernando Martins

domingo, 7 de janeiro de 2018

RANGEL DE QUADROS - GOVERNADOR DO FORTE NOVO

1809 -  7 de janeiro 


«João Rangel de Quadros, capitão de cavalaria, foi nomeado governador do «Castelo da Gafanha» ou «Forte Novo», assim denominado para o distinguir do «Forte Velho» que existia junto da barra, quando esta ficava a sul da Vagueira, próximo de Mira (Marques Go­mes, Memórias de Aveiro, pg. 118; Rangel de Quadros, Aveirenses Notáveis, Manuscrito, I, fl. 172) – A.»

"Calendário Histórico de Aveiro" 
de António Christo e João Gonçalves Gaspar

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

GAFANHÕES — Espírito de entreajuda

Casa de lavrador tradicional

Casa Gafanhoa de lavrador rico 

Mulheres da Seca (Livro "Mulheres do meu País"- Maria Lamas)
Recuando uns 70 anos, tenho presente na minha memória o espírito de entreajuda dos gafanhões, alimentando o sentido de vizinhança. Os tempos são outros, mas a simplicidade de outrora deixou marcas indeléveis na minha maneira de ser e de estar na vida. 
Nessa altura, e por muitos anos, economia era maioritariamente de cariz agrícola, como base da subsistência da família, que vendia os excedentes nas praças, feiras e mercados de Aveiro e Ílhavo. No verão, algumas lavradeiras compravam leite aos lavradores para o venderem nas praias, sobretudo aos veraneantes. Tinha duas vizinhas que praticavam esse negócio.
Contudo, sempre que a oportunidade surgia, os homens empregavam-se nas obras da Barra, estaleiros, nomeadamente nos Mónicas (a partir de 1889), construção civil, pescas e trabalhos agrícolas, na abertura de caminhos e estradas, na Mata da Gafanha e nas áreas portuárias, quando tal se tornava possível.
Muito resumidamente, deve dizer-se que entre as populações gafanhoas se cultivava esse espírito de entreajuda nas sementeiras e colheitas, no fabrico de adobos nos areais anexos à Mata da Gafanha, no erguer das casas dos nubentes, na abertura de poços de rega, sempre no sentido de ganhar tempo. Todavia, sendo de meu conhecimento direto, nunca faltava o mestre que seria remunerado.
Nas Gafanhas, havia os Róis de Gado (bovino e suíno), ao jeito de Associação de Socorros Mútuos, «sem personalidade jurídica», como diz o Padre Rezende, mas com direitos e deveres, incluindo penalidades.

FM

NOTA: Registos da minha memória com a colaboração da Monografia da Gafanha do Padre Rezende, primeiro prior da Gafanha da Encarnação.