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GAFANHÕES — Espírito de entreajuda

Casa de lavrador tradicional

Casa Gafanhoa de lavrador rico 

Mulheres da Seca (Livro "Mulheres do meu País"- Maria Lamas)
Recuando uns 70 anos, tenho presente na minha memória o espírito de entreajuda dos gafanhões, alimentando o sentido de vizinhança. Os tempos são outros, mas a simplicidade de outrora deixou marcas indeléveis na minha maneira de ser e de estar na vida. 
Nessa altura, e por muitos anos, economia era maioritariamente de cariz agrícola, como base da subsistência da família, que vendia os excedentes nas praças, feiras e mercados de Aveiro e Ílhavo. No verão, algumas lavradeiras compravam leite aos lavradores para o venderem nas praias, sobretudo aos veraneantes. Tinha duas vizinhas que praticavam esse negócio.
Contudo, sempre que a oportunidade surgia, os homens empregavam-se nas obras da Barra, estaleiros, nomeadamente nos Mónicas (a partir de 1889), construção civil, pescas e trabalhos agrícolas, na abertura de caminhos e estradas, na Mata da Gafanha e nas áreas portuárias, quando tal se tornava possível.
Muito resumidamente, deve dizer-se que entre as populações gafanhoas se cultivava esse espírito de entreajuda nas sementeiras e colheitas, no fabrico de adobos nos areais anexos à Mata da Gafanha, no erguer das casas dos nubentes, na abertura de poços de rega, sempre no sentido de ganhar tempo. Todavia, sendo de meu conhecimento direto, nunca faltava o mestre que seria remunerado.
Nas Gafanhas, havia os Róis de Gado (bovino e suíno), ao jeito de Associação de Socorros Mútuos, «sem personalidade jurídica», como diz o Padre Rezende, mas com direitos e deveres, incluindo penalidades.

FM

NOTA: Registos da minha memória com a colaboração da Monografia da Gafanha do Padre Rezende, primeiro prior da Gafanha da Encarnação.

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