quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Centro Comunitário da Gafanha do Carmo


Por Maria Donzília Almeida

Lar de Idosos

«Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. 
Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. 
Os anos que vão gradualmente declinando 
estão entre os mais doces da vida de um homem, 
Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, 
estes ainda reservam prazeres.»
                                                                                          
Séneca
«Amar uma pessoa significa... 
querer envelhecer com ela»

Albert Camus


Com o envelhecimento da população e a crescente participação da mulher, no mercado de trabalho, houve a necessidade de criar infra-estruturas materiais para acolher os idosos, no final da sua peregrinação na terra.
Assim, proliferou por todo o país, a abertura de “armazéns” polivalentes, para albergar aquela franja da população, que noutras épocas, não muito distantes, era levada para o monte! Felizmente, que só para alguns, os velhinhos são reduzidos à pura inutilidade.
Vivemos numa cultura do show off, em que se investem somas avultadas nas festas mundanas, mas não se acautela a herança a deixar aos vindouros. Estes são o espelho do ambiente onde vivem e reproduzirão um dia, para com os seus progenitores, os valores do respeito e valorização dos avós, neles incutidos!
Como nem tudo se pode pôr no mesmo saco, há a ter em conta que alguns idosos, quando chegam à fase terminal das suas vidas, não têm o apoio de ninguém da família para cuidar deles. Seja porque nunca tiveram descendência, seja porque o afastamento da prole em terras distantes não permite a prestação desses cuidados geriátricos, a sociedade viu-se compelida a dar resposta a essas lacunas.
Surgiu assim, a ideia de criar a essas pessoas, o ambiente acolhedor e ao mesmo tempo prestador de cuidados médico-sanitários, só que no coletivo! Aparecem assim os lares, alguns com boas instalações e uma gestão dos recursos humanos e materiais, a todos os níveis, louváveis.
Insere-se neste âmbito, o Lar da Gafanha do Carmo, que fiquei a conhecer, em pormenor, aquando duma visita guiada, no acompanhamento do progenitor num reencontro com um amigo da juventude e utente desta instituição.
Fiquei, verdadeiramente, bem impressionada com tudo o que vi: espaços amplos e com entradas profusas de luz, que aquece o corpo e a alma. Havia muito esmero na organização dos espaços sociais e privados e primava a higiene e o asseio. Cores claras na decoração dos interiores que conferem certa alegria a um ambiente marcado pela decadência humana. Não fosse a decrepitude, a tónica de toda esta faixa etária, nas suas mais diversas manifestações e dir-se-ia que se estava num hotel de muitas estrelas.
Construído para o fim a que se destina, cumpre, rigorosamente os parâmetros de uma instituição de solidariedade social.
É uma equipa de gente jovem e dinâmica, que imprime a esta casa o ambiente afetuoso e o carinho de que os nossos velhinhos tanto carecem.
O Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, abriu em outubro de 2010, e apoia idosos nas valências de Lar, Centro de Dia, e apoio domiciliário.
Dadas as boas condições que o lar oferece, a lista de inscrições para o centro comunitário excede, já, o número de vagas disponíveis, havendo candidaturas de pessoas que não pertencem à nossa região. Terão que ser definidos critérios rigorosos para a admissão dos futuros utentes, como defende o Sr Amândio Costa.
O centro é composto pelas valências de Lar, com capacidade para acolher 26 utentes, Centro de Dia para 25 utentes e prestará ainda apoio domiciliário a outros 25. O empreendimento chegou aos 1,5 milhões de euros de investimento total, sendo 350 mil euros comparticipados pelo Governo, através do programa PARES (Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais).
Este Centro Comunitário foi contemplado com doações de várias entidades, inclusive de alguns dos utentes atuais. Ocorre-me à memória um deles, amigo do meu progenitor, que aquando da visita que fizemos ao lar, foi o nosso cicerone, mostrando-nos tudo com muita minúcia. A meio da conversa, o Sr Manuel “Brasileiro”, referiu que tinha oferecido para o lar, a carrinha que transporta os doentes. Tentou também convencer o seu amigo Zé, para se mudar para lá, fazendo a apologia da instituição e a forma estremada como ali é tratado, mas o Zé...resistiu ao canto da sereia! Afinal, não é mau estar no seio da família, quando esta existe!
O Sr Amândio Costa, presidente da Associação de Solidariedade Social da Gafanha do Carmo, merece aqui uma palavra de louvor, pois sempre pugnou, denodadamente, pelos interesses dos seus conterrâneos da Gafanha do Carmo. Exemplo de puro altruísmo, foi-lhe atribuído o mérito de concretizar o sonho antigo destas populações. A obra aí está, com a visibilidade que o engenho do homem e a arquitetura humana, lhe conferem.
Os nossos idosos, aqueles cujas famílias não conseguem cuidar deles, encontrarão um espaço limpo, arejado, acolhedor, que os receberá e lhes dará toda a dignidade que merecem.

05.08.2012

Sem comentários:

Efemérides gafanhoas

O Farol começou a ser construído neste mês Se pensarmos um pouco, descobriremos que uma terra, qualquer que ela seja, tem sempre efemérides ...