quarta-feira, 4 de julho de 2012

Tecendo a vida umas coisitas - 297


PITADAS DE SAL – 27




OS RATOS
Caríssima/o:

Muitos de nós habituados a olhar para as marinhas como se de um postal ilustrado se tratasse, não imaginamos o quão difícil é caminhar nos muros (e o caso complica-se quando, pelas várias circunstâncias, somos forçados a correr). É um exercício de equilibrismo complicado que origina cambalhotas, saltos, pontapés na atmosfera e, quantas vezes!, quedas aparatosas e banhos forçados e inesperados.
Quem andar longe desta realidade perguntará a causa de bailado tão intrigante. A resposta fácil remete para a qualidade dos serviços de reparação … Porém, o que mais origina as roturas nos muros são os ratos; é incrível como conseguem iludir os mais sagazes. Mergulham, escavam as tocas e, de tal forma que aparecem depois com uma ninhada de ratinhos encantadores. Entretanto, o “trabalho” está feito e se o marnoto não estiver atento arranja uma carga de trabalhos…
Ora, como estamos num ecossistema que queremos perfeito, as tocas dos ratos são ocupadas por enguias que fazem as delícias dos “pescadores”: quando descobrem essas luras é quem mais arregaça a manga da camisola e atira o braço com a mão à frente e grita e salta quando agarra a enguia pela cabeça e, orgulhoso, exibe o troféu:
- Esta é das grandes! Duas destas fazem uma caldeirada!
Só que…



Verdade seja que o tio António João era um verdadeiro campeão; tinha um faro especial; sempre que saía para a pesca, trazia caldeirada e farta.
Um dia, começou a meter a mão pelos buracos dos muros da marinha e a tirar cada enguia que era um encanto... Rejubilava! Saltava! Dançava!
O pior foi quando, às tantas, meteu a mão e soltou um grande grito praguejado…
Tirou a mão e lá vinha agarrada … uma enorme ratazana que lhe deu uma valente dentada...
Era só sangue!...
Caldeirada terminada… e que ficou como lembrança.
                                                
Manuel

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