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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Coisas de Antigamente - 5

Igreja matriz em tempos de pouco casario


PROPRIEDADE AGRÍCOLA 

Sobre a propriedade agrícola diga-se que nos primeiros tempos do povoamento desta região ela era razoavelmente extensa. Porém, à medida que o número de famílias foi aumentando, por força de novos colonos ou dos seus descendentes, em grande número, dos primeiros gafanhões, logo a terra começou a ser retalhada. E nunca mais deixou de o ser, até hoje. Também a venda de propriedades se fazia com muita facilidade, numa prova evidente de pouco apego à terra. Daí dizer-se, por exemplo, que se trocava um terreno por uma fornada de boroa ou por uma caldeira de papas. 
Sublinha a propósito disto o Padre Resende que “ainda hoje se diz que um tal José Gafanha vendeu uma grande propriedade por... um GABÃO!” E continua: “Manuel Petinga, da Nazaré, possui uma escritura de 1807, pela qual Jacinto Francisco Sarabando tinha comprado a Luísa Maria, viúva de António Ferreira, uma terra no sítio da Chave por vinte e quatro mil reis. Apesar daquele local ser o terreno das primeiras culturas, e portanto o mais valorizado, foi vendido por este preço insignificante. Hoje [1944] ‑ continua o Padre Resende – vende-se o metro quadrado a 17$00 ao norte, a 5$00 ao centro e a 2$00 ao sul da Gafanha”. Bons tempos, dizemos nós! 

Fernando Martins

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Coisas de antigamente - 4


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Alfaias e tarefas agrícolas


Os cereais eram depois secos na eira durante alguns dias. De quando em vez, alguém, descalço, fazia sulcos no cereal para o sol actuar com mais eficácia. À noite a eirada era resguardada dos orvalhos ou chuvas por um tolde feito de palha de centeio. Este, como outros trabalhos agrícolas, era feito em parceria ou para ganhar tempo. Nem de outro modo podia ser, já que se tratava de tarefas muito exigentes. Por isso, não faltava a merenda retemperadora: broa, azeitonas, bacalhau cru com cebola, bem azeitado, e tudo regado com um copito de vinho ou simples água fresca. A mesma merenda se dava aos que andassem "a andar de fora", isto é, "a ganhar tardes". As tardes começavam entre as 13 e as 15 horas, conforme fosse Inverno ou Verão, e terminavam às trindades. As trindades, convite à oração da noite, eram ouvidas, ao pôr do sol, na torre da igreja matriz. Estão a cair em desuso, até porque foi mecanizado e alterado o toque característico. E falemos agora de uma ou outra alfaia agrícola mais em uso na Gafanha ,no princípio do século. O erguedor ou erguedeira para separar pelo vento provocado o grão da palha e que ainda se vê por aqui e por ali, talvez não precise de explicação, tal como o malho, a foicinha, a gadanha, a enxada, o engaço, o ancinho, o sacho, o forcado, o arado e a charrua. Ao longo dos tempos têm conservado, no essencial, a mesma forma, salvo uma ou outra alteração provocada por recentes descobertas. Parece-nos, no entanto, útil descrever o carro utilizado na Gafanha há décadas. Uma vez mais nos socorremos do Padre Resende e da sua MONOGRAFIA DA GAFANHA (edição de 1944). Diz ele: “O cabeçalho tem na extremidade anterior um buraco perpendicular onde enfia a chavelha para engate do tamoeiro da canga, e mais quatro fendas transversais na sua parte posterior, por onde passam quatro travessas, as cadeias, cujas extremidades se vão fixar em outras fendas das duas chedas laterais ao cabeçalho. As peças rectas das chedas, no ponto da última cadeia anterior, sofrem um desvio em ângulo obtuso para o cabeçalho e aí se fixam com uma travessa. Esta parte do leito do carro, interceptada e delimitada pela cadeia e pelo desvio da cheda, chama-se marmela. Por debaixo das chedas ficam as cantadoiras, às quais se aplicam as garridas fixadas pelos cocões que, por sua vez, estão cravados nas cantadoiras e nas chedas. As garridas são de ferro, mas há cerca de cinquenta anos eram de madeira, o que permitia chiar o carro quando faltava a lubrificação.
(...) Perpendicularmente à cheda, há quatro furos onde se fixam os fueiros e os taipais, a que antigamente chamavam sebes e até, indevidamente, marmelas. Todas estas peças, juntamente com as tábuas pregadas nas cadeias e paralelas ao cabeçalho, formavam o chedeiro ou leito do carro. O rodeiro é constituído por eixo e rodas. A parte principal destas é o amiule onde se crava a mecha do eixo. As cambas são duas peças semicirculares que fecham a circunferência da roda juntamente com o amiule, ao qual estão ligadas pelas relhas. Sobre as relhas, cambas e amiule, e pela parte exterior, são pregados uns semicírculos de ferro, as sobre-relhas, a reforçar a segurança das cambas ao amiule. Hoje as rodas têm rasto, isto é, são ferradas na sua circunferência, não o tendo antigamente por ser desnecessário em caminhos de areia." As cangas usadas eram muito simples, embora, como diz Rocha Madail no seu livro ETNOGRAFIA E HISTÓRIA, em edição de 1934, “mestre João Vareta, da Chave, fabrica, ainda hoje, e desde há largos anos, dois padrões de canga: a de castelo central elevado (tipo chamado de Lourosa no estudo de Leite de Vasconcelos), para uso corrente, do trabalho diário, e a tipo de Grijó, rectangular quase, que o lavrador da Gafanha aplica aos bois para as ajuntadas, dias de festa, etc”. E diz, também, que “ambos os modelos são esculturados com rosetas, cercaduras de semicírculos, peixes, chaves, corações, e um baixo-relevo, ligeiro, ao centro, tudo avivado a vermelho, amarelo e verde, e guarnecida a periferia a tufos de crina”. Refira-se ainda que as palhas dos cereais eram guardadas, depois de bem secas, em medas (centeio e cevada), e em cabanéus (milho). As medas eram montes de palha, com o diâmetro variável, de cerca de três metros, bem pisado e em torno de um tronco de pinheiro ou eucalipto espetado no solo. Cabanéus eram armações em forma de prisma triangular, tendo por base uma face lateral. As outras duas faces eram divididas por meio de ripas ou varas, pregadas paralelamente ao solo. Entre elas era colocada a palha, bastante apertada para não deixar entrar a água da chuva. Estas palhas eram utilizadas na alimentação do gado e na cama dos animais. Também se faziam montes de junco e de restolho (restos de palha dos cereais que ficavam depois do corte com foicinha).
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Fernando Martins
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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

GAFANHA: Coisas de antigamente - 3

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As Malhadas
Depois das sementeiras e regas, com sacha pelo meio, vinham as esperadas colheitas, nem sempre abundantes. Tudo feito a poder de braço e com a ajuda de alfaias simples. A foicinha, nas mãos hábeis dos nossos avós, fazia prodígios e campos enormes eram ceifados com rapidez. O transporte em carros de vacas ou bois era feito com alegria, que o osso mais duro já estava roído. Estamos a falar de cereais, está bem de ver. As batatas, arrancadas muitas vezes à mão, com as facilidades oferecidas pela areia, eram de seguida levadas para o celeiro à espera da melhor hora para a venda. Voltemos aos cereais e às malhadas que só mudaram de técnica em 1935, altura em que começaram a ser utilizadas as malhadeiras motorizadas. Até aí, a força humana e animal é que imperou. Diz o Padre Resende e disso fomos testemunha e interveniente: “Estendido na eira o cereal a debulhar, defrontavam-se duas alas de malhadores que começavam por dar pancadas rítmicas e cadenciadas no mesmo ponto, até que saíssem da espiga o grão e a pragana; deixando de sair o grão, as alas avançavam em eitos sucessivos até percorrer toda a malhada. Aquelas pancadas rítmicas obedeciam geralmente ao comando de um dos homens das duas filas, e eram executadas a compasso de dois tempos irregulares, isto é, quando a primeira fila de malhadores dava a pancada com o malho baixo, breve e fraca, a outra actuava do mesmo modo. Quando essa primeira fila dava o pancadão, de malho alto e repuxado, demorado e fortemente, assim também o executava a segunda fila. Percorrida pela primeira vez toda a malhada com pancadas e pancadões em série de eitos, ao que chamavam quebrar a pragana, retiravam a palha solta, levadiça, e percorriam novamente a malhada a propósito, diziam. O último eito da série de percorridas da malhada que eram necessárias para completa saída do grão era constituído somente por pancadões, executados à voz de quem dirige a malhada. Este, ao começar o último eito gritava: mat’ ò rato. E todos, de músculos tensos, corpo estendido e malho repuxado, percorriam a eito toda a eira, do princípio ao fim, repetindo a frase e em grande grita”. Mas se a malhada com o malho, como é óbvio, era a mais usual, não podemos esquecer outros processos empregados para separar o grão da espiga. Um deles, por exemplo, também teve a sua época. Referimo-nos à utilização de animais (vacas, sobretudo). Caminhando em círculo sobre o cereal estendido na eira, lá iam separando o grão da espiga com uma paciência inaudita, sob o olhar atento das pessoas que, de penico ou balde na mão, impediam que os excrementos e urina caíssem sobre os cereais.
Fernando Martins
NOTA: A foto não é das Gafanhas. Não há por aí quem me ofereça uma?
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

GAFANHA: Coisas de antigamente - 2

Sementeiras e colheitas eram feitas  
em espírito de entreajuda
 
Nas primeiras décadas do século XX, a terra começa a ser repartida e dez por cento da população emigra. Os proprietários maiores (ou remediados), como afirma o Padre Rezende, constituem seis por cento da população, sendo os proprietários menores cerca de 50 por cento. Os jornaleiros são já 34 por cento da população da Gafanha. Também nesta altura surgem os Róis do Gado. Eram associação de socorros mútuos que os nossos avós criaram para se auxiliarem em caso de doença prolongada ou morte de animais. Leite de Vasconcelos sublinha que o nome destas Associações (Róis do Gado) era incorrecto porquanto também se destinavam aos donos. Sementeiras e colheitas eram feitas em espírito de entreajuda. 
Os lavradores e seus familiares ajudavam os amigos e vizinhos para ganhar tempo. Os ajudados tinham de pagar na mesma moeda. Estas reminiscências comunitárias, que num ou noutro aspecto ainda perduram, constituem prova evidente da vivência de uma certa fraternidade e das necessidades económicas por eles sentidas. É que os gafanhões de antanho não tinham dinheiro que abundasse para pagar jornas. 
As sementeiras do milho e as plantações da batata eram feitas por processos muito simples e rudimentares, já que a escassez de recursos lhes não permitia a aquisição de máquinas agrícolas. E o mesmo se diga em relação a outras sementeiras e plantações. Tudo era semeado e plantado em regos abertos na terra pelo arado, seguindo-se a cobertura com a grade de dentes de madeira. Só por volta de 1880, como afirma o nosso guia, é que as terras começaram a ser cavadas mais profundamente à enxada, por se reconhecer, talvez por qualquer experiência colhida noutras paragens, que as terras assim produziam mais. Surge então a surriba, cava profunda para bem remexer a terra.
A utilização da enxada em todos os trabalhos de sementeira justificava-se pela dificuldade económica dos agricultores. O pouco dinheiro não lhes dava possibilidades de possuir e sustentar gado para a charrua. Aliás os pastos também eram pouco abundante nas Gafanhas. E a charrua acabou por entrar na região somente em 1928. As regas não eram muito usadas porque a água não andava. As areias, muito permeáveis, impossibilitavam esse serviço.
Quando os terrenos se tornavam mais escuros, por força de humos, então sim começou a rega. Construíram-se poços com engenho por volta de 1920. Enquanto o boi ou a vaca tirava a água com os alcatruzes do engenho, um garoto ou mesmo um adulto ia deitando na água a lama previamente trazida da ria. A lama impedia a infiltração da água e enriquecia os próprios terrenos. Em 1937 construíram-se 100 poços em toda a Gafanha, mas também já havia quem regasse por meio de motor.
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Fernando Martins :

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

GAFANHA: Coisas de antigamente – 1

:Jardim e esteiro Oudinot de outros tempos

Há séculos o mar por aqui cirandava 

Qualquer gafanhão que se preze e que da Gafanha procure saber o mínimo não ignora que há séculos o mar por aqui cirandava e que estes areais, agora férteis, foram construídos pouco a pouco pelos aluviões do Vouga e pelas ofertas das correntes marinhas. Aluviões e areias brancas, com anos e paciência da natureza, formam hoje rincão apetecido, não tanto por lavradores, que esses, a cair em desuso, deram lugar a industriais e comerciantes. Agora o apetite vem mais de quem tem dinheiro para construir e investir, quer em habitação própria, quer em espaços comerciais e industriais. 
A agricultura, essa ficará para as horas de folga ou para servir de complemento à economia doméstica de operários e pequenos comerciantes e industriais. E já não será muito mau, nestes tempos em que, por exigências da UE, só os grandes agricultores terão hipóteses de sobreviver. Mas quem nos nossos dias aprecia os campos ainda verdejantes da Gafanha, embora aqui e ali não faltem campos abandonados, talvez longe esteja de pensar que há uns três século o verde tinha custado muito suor e lágrimas a implantar. 
Podemos mesmo dizer que a vida dos primeiros gafanhões constituiu odisseia muito pouco apreciada e até às vezes denegrida por pseudo-intelectuais da vizinhança. Têm procurado eles rir-se da simplicidade dos gafanhões mais antigos, da sua pouca cultura académica ou livresca e dos seus parcos conhecimentos de vida em sociedade. Hoje já não será assim, mas ainda restam vestígios dessa maneira de ver os gafanhões. 
Os gafanhões das novas gerações têm sabido impor-se com muita inteligência e dignidade, porque aprenderam com os seus avós a vencer dificuldades e a demonstrar, pelo progresso que souberam construir, que são gente de valor. A Gafanha aí está para o demonstrar. Os gafanhões das últimas décadas orgulham-se dos seus antepassados e apreciam as suas extraordinárias capacidades de trabalho e de perseverança, o seu espírito de poupança, o seu apego à terra, a sua humildade e determinação. E os que ao longo do tempo aqui se radicaram e misturaram com os primeiros também souberam, duma maneira geral, aceitar e viver o mesmo estilo de vida. São hoje tão gafanhões como os que de Vagos e Mira, sobretudo, para aqui vieram. 
O povo que se instalou na Gafanha era gente pobre. Foi no século XVII que os primeiros, como caseiros, começaram a agricultar estes areais. Acossados certamente pela fome, no dizer do Padre João Vieira Rezende, procuraram melhores condições de vida. As areias não os assustaram, já que a elas andavam de certo modo habituados. A instalação não deve ter sido difícil. Era gente não muito exigente e com grande capacidade de sacrifício e de adaptação. 
As casas de habitação eram modestíssimas. De madeira ou de barro amassado com felga, limitar-se-iam à cozinha e a um ou outro compartimento que servia de quarto de dormir. As camas seriam esteiras ou pobres enxergas estendidas sobre bicas ou junco. Outras divisões e comodidades só muito mais tarde. Mas deixemos hoje estas coisas, aliás curiosas, e falemos da agricultura dos gafanhões dos fins do século XIX. Dos outros pouco reza a história. 
Terra para cavar não lhes faltava e vontade de a fazer produzir também não. A ria logo os atraiu, não tanto para a aventura da pesca, mas para o aproveitamento do que ela de mão beijada lhes oferecia: o moliço. Rapado na borda por ancinhos de dentes de madeira, lá ia curtir nos areais à espera da hora das sementeiras. Na MONOGRAFIA DA GAFANHA, o padre Rezende sublinha a riqueza do moliço, constituído por limos, sibarro, sirgo, seba, folhada ou alface do mar, fita gorga e rabos ou rabão. Diz também que a seba e a fita desapareceram desde a Cambeia até à Murraceira com as obras da Barra em 1936. Este estrume verde constituía, pela sua composição orgânica e química, um precioso adubo que muito ajudou na transformação destas areias improdutivas em espaços verdejantes. 
Acrescenta o Padre Rezende que “nos sapais das praias de cabeço, também abundavam a junça, a bajunça e, mais para o seco, o junco e o feno, que subministravam bela cama para os estábulos e que, fermentados com os excrementos dos animais, fornecem por sua vez um óptimo adubo que, diga-se de passagem, por muito tempo era mal apreciado e se ia vender às ribeiras de Vagos, de Aradas, de Salreu e do Boco. Outro tanto acontecia às cinzas do borralho”. 
Claro que estes adubos naturais logo deixaram de ser vendidos para serem utilizados pelos gafanhões. As cinzas, por exemplo, eram empregadas como fertilizantes de cebolas e alhos. Em 1927 fizeram-se as primeiras experiências de adubações químicas, com bons resultados. Entretanto o medo da água da ria deu lugar à aventura do moliceiro e da bateira. “A maré está feita – diz de forma poética o Padre Rezende, nosso cicerone, neste como noutros trabalhos – e o barco começa a adernar. O sol aproxima‑se do zénite e os estômagos latejam em vão, estão vazios. 
O José da Luz, de ceroulas curtas, camisa de estopa, e de careca tisnada pelos raios solares, com os filhos impando de mocidade, olha sofregamente para a pequena cozinha voltada para a Ria, aguado pelas batatas e pela sardinha, e às vezes pelo carnêro... que a Luz lá lhes preparara. As telhas da choupana já não fumegam, o que é sinal certo de que o repasto já espera os laboriosos moliceiros.
Duas bombadas de vertedoiro a aliviar o barco da água escorrida do moliço e... ala para a fossa ou para a borda”. E como era a alimentação desta gente que se casou com os areais e com a ria para deles viver? Pasmem os que, nos nossos dias, têm tudo à mesa e a todas as horas e em abundância. Salienta o nosso cicerone: “A alimentação média, diária e habitual de cada família de seis pessoas, é a seguinte: ao almoço somente broa; ao meio-dia (jantar) caldo com ou sem carne; à noite (ceia) dois quilos de batatas inteiras ou cortadas, com ou sem peixe, a que se adiciona algumas vezes cebola com algumas gotas de azeite. Muitas vezes a ceia é caldo que cresceu do jantar, ou papas condimentadas com feijão e carolo de milho, cozidos no caldo que ficou do jantar. 
Esta família gasta diariamente três a três quilos e meio de broa. O vinho raramente aparece às refeições”. O carolo era feito na mó manual. E que cultivavam? Diz Amorim Girão que, aproveitando a “fertilidade do solo e os adubos que a Ria lhes ministrava, se cultiva a batata, feijão, milho, centeio e algum vinho, este, porém, de inferior qualidade”. 
O grande etnógrafo Leite de Vasconcelos diz que “se dá tal apreço à batata gafanhense, que no mercado todos a preferem à de outros sítios”. E citando o Padre Rezende, o mesmo sábio etnógrafo salienta que não só as batatas eram vendidas, mas também outros produtos. “Aos domingos vê-se uma verdadeira flotilha de barcos moliceiros no cais da cidade, que no sábado à tarde ali chegam das margens de todas as Gafanhas carregados desses géneros. 
Com o produto da venda acode-se a despesas miúdas de primeira necessidade (comestíveis, etc.). Em casos de maior vulto (compra de adubos, lenhas, transacções de gado, etc.) recorre-se à venda por atacado dos mesmos géneros a negociantes revendedores”. 

Fernando Martins
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TRADUÇÃO

GAFANHA -Séculos X-XII

O mar já andou por aqui... E se ele resolve regressar? Não será para o meu tempo, mas pode acontecer um dia!