domingo, 2 de dezembro de 2012

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 319

PITADAS DE SAL  - 49



 ESTÓRIAS

Caríssima/o:

O primeiro domingo do mês tem sido dedicado a relembrar cenas da «nossa» vida. E vai daí, reuni algumas imagens que nos levam para junto da Ria e das marinhas, tendo surgido então uma primeira «tentação»: convidar a/o leitor/a a olhar e remirar o que elas sugerem e contar em meia dúzia de linhas isso mesmo que lhe ocorreu. Ficava eu livre de trabalho.
Mas depois pensei que nem todos, se calhar nem um/a, o fariam e o blogue ficava com muito espaço em branco!
Vem então a segunda «tentação»: recomeçar o meu «texto» e usar uma fórmula muito batida e que agora está em voga. Seria mais ou menos assim:

“Eu ainda sou do tempo…[e, de seguida, ir falando e rememorando que contavam coisas terríveis da segunda guerra mundial… foi há tantos anos e até já muita gente pergunta o que foi isso… mas foi; e passava-se fome, da negra, olarila, muito do pouco pão que se comia já tinha bolor, etc. e tal, a lengalenga ia por aí… mas não levava a lado nenhum, afinal o que muito boa gente pensa e eu até concordo e acho bem que o pensem, mas ao menos não o digam, pronto vou fechar o parêntesis]… Mas a verdade é mesmo essa: eu ainda sou do tempo da segunda guerra mundial e passei por tudo o que disse e não disse, mas uma pergunta vos quero deixar:

Fazia a minha falecida Mãe que Deus tenha um café: cafeteira ao lume, água a ferver e há que deitar para dentro duas colheres bem abonadas de um pó castanho (mais tarde vim a saber que era chicória e que era moída lá para o Sul!), mexendo bem para ficar uma mistura perfeita. E agora a pergunta: com que se adoçava o café? (Escrevi «adoçar», pois ouvia dizer: “adoça lá isso depressa que se faz tarde!”) Como não havia açúcar, pumba, uma mão-cheia de sal caía na cafeteira que era novamente agitada.

E o/a leitor/a a pensar: pronto, acabou! Mas está enganado/a que, se me permite, vou deixá-lo/a com dois pequenos rebuçados.

Primeiro uma quadra:

O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.


Para terminar, a «Canção do sal», escrita por Milton Nascimento e que a Elis Regina canta:

Trabalhando o sal é amor é o suor que me sai
Vou viver cantando o dia tão quente que faz
Homem ver criança buscando conchinhas no mar
Trabalho o dia inteiro pra vida de gente levar


Água vira sal lá na salina
Quem diminuiu água do mar
Água enfrenta sol lá na salina
Sol que vai queimando até queimar

Trabalhando o sal pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa encontrar a família sorrir
Filho vir da escola problema maior é o de estudar
Que é pra não ter meu trabalho e vida de gente levar.

Manuel

1 comentário:

Anónimo disse...

A quadra referida pertence ao "Poema da malta das naus", do poeta António Gedeão.

A história do sal na chicória fez-me lembrar a minha experiência com a aletria... eu repetia todos os passos que a minha mãe fazia, a mesma receita, mas o resultado final deixava sempre a desejar... até que um dia ela me explicou que a pitada de sal na aletria era mais que uma pitada, era uma colherada... era mesmo o sal que faltava.

João Alberto Roque

ETIQUETAS