Por Maria Donzília Almeida
Lar de Idosos
«Quando
a velhice chegar, aceita-a, ama-a.
Ela é abundante em prazeres se souberes
amá-la.
Os anos que vão gradualmente declinando
estão entre os mais doces da
vida de um homem,
Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos,
estes ainda reservam prazeres.»
Séneca
«Amar uma pessoa
significa...
querer envelhecer com ela»
Com o
envelhecimento da população e a crescente participação da mulher, no mercado de
trabalho, houve a necessidade de criar infra-estruturas materiais para acolher
os idosos, no final da sua peregrinação na terra.
Assim, proliferou
por todo o país, a abertura de “armazéns” polivalentes, para albergar aquela
franja da população, que noutras épocas, não muito distantes, era levada para o
monte! Felizmente, que só para alguns, os velhinhos são reduzidos à pura
inutilidade.
Vivemos numa
cultura do show off, em que se
investem somas avultadas nas festas mundanas, mas não se acautela a herança a
deixar aos vindouros. Estes são o espelho do ambiente onde vivem e reproduzirão
um dia, para com os seus progenitores, os valores do respeito e valorização dos
avós, neles incutidos!
Como nem tudo se
pode pôr no mesmo saco, há a ter em conta que alguns idosos, quando chegam à
fase terminal das suas vidas, não têm o apoio de ninguém da família para cuidar
deles. Seja porque nunca tiveram descendência, seja porque o afastamento da
prole em terras distantes não permite a prestação desses cuidados geriátricos,
a sociedade viu-se compelida a dar resposta a essas lacunas.
Surgiu assim, a
ideia de criar a essas pessoas, o ambiente acolhedor e ao mesmo tempo prestador
de cuidados médico-sanitários, só que no coletivo! Aparecem assim os lares,
alguns com boas instalações e uma gestão dos recursos humanos e materiais, a
todos os níveis, louváveis.
Insere-se neste
âmbito, o Lar da Gafanha do Carmo, que fiquei a conhecer, em pormenor, aquando
duma visita guiada, no acompanhamento do progenitor num reencontro com um amigo
da juventude e utente desta instituição.
Fiquei,
verdadeiramente, bem impressionada com tudo o que vi: espaços amplos e com
entradas profusas de luz, que aquece o corpo e a alma. Havia muito esmero na
organização dos espaços sociais e privados e primava a higiene e o asseio.
Cores claras na decoração dos interiores que conferem certa alegria a um
ambiente marcado pela decadência humana. Não fosse a decrepitude, a tónica de
toda esta faixa etária, nas suas mais diversas manifestações e dir-se-ia que se
estava num hotel de muitas estrelas.
Construído para o
fim a que se destina, cumpre, rigorosamente os parâmetros de uma instituição de
solidariedade social.
É uma equipa de
gente jovem e dinâmica, que imprime a esta casa o ambiente afetuoso e o carinho
de que os nossos velhinhos tanto carecem.
O Centro
Comunitário da Gafanha do Carmo, abriu em outubro de 2010, e apoia idosos nas
valências de Lar, Centro de Dia, e apoio domiciliário.
Dadas as boas
condições que o lar oferece, a lista de inscrições para o centro comunitário
excede, já, o número de vagas disponíveis, havendo candidaturas de pessoas que
não pertencem à nossa região. Terão que ser definidos critérios rigorosos para
a admissão dos futuros utentes, como defende o Sr Amândio Costa.
O centro é
composto pelas valências de Lar, com capacidade para acolher 26 utentes, Centro
de Dia para 25 utentes e prestará ainda apoio domiciliário a outros 25. O
empreendimento chegou aos 1,5 milhões de euros de investimento total, sendo 350
mil euros comparticipados pelo Governo, através do programa PARES (Programa de
Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais).
Este Centro
Comunitário foi contemplado com doações de várias entidades, inclusive de alguns
dos utentes atuais. Ocorre-me à memória um deles, amigo do meu progenitor, que
aquando da visita que fizemos ao lar, foi o nosso cicerone, mostrando-nos tudo
com muita minúcia. A meio da conversa, o Sr Manuel “Brasileiro”, referiu que
tinha oferecido para o lar, a carrinha que transporta os doentes. Tentou também
convencer o seu amigo Zé, para se mudar para lá, fazendo a apologia da
instituição e a forma estremada como ali é tratado, mas o Zé...resistiu ao
canto da sereia! Afinal, não é mau estar no seio da família, quando esta
existe!
O Sr Amândio Costa, presidente da Associação de Solidariedade Social da
Gafanha do Carmo, merece aqui uma palavra de louvor, pois sempre pugnou,
denodadamente, pelos interesses dos seus conterrâneos da Gafanha do Carmo. Exemplo
de puro altruísmo, foi-lhe atribuído o mérito de concretizar o sonho antigo
destas populações. A obra aí está, com a visibilidade que o engenho do homem e a
arquitetura humana, lhe conferem.
Os nossos idosos, aqueles cujas famílias não conseguem cuidar deles,
encontrarão um espaço limpo, arejado, acolhedor, que os receberá e lhes dará
toda a dignidade que merecem.
05.08.2012
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