O primeiro médico com consultório na Gafanha da Nazaré foi o Dr. José Rito, o primeiro gafanhão com um curso de medicina. Foi licenciado pela Universidade de Coimbra em 1918. Casou em Santa Maria da Feira, a 13 de Julho de 1919, com Esperança Maria Azevedo, natural de Belmonte, e fixou-se em Ílhavo, onde foi inspetor de saúde e médico municipal.
Os médicos que montaram consultório na nossa terra e que aqui exerceram clínica toda a vida foram os Drs. Joaquim António Vilão e Maximiano Ribau. O Primeiro de Figueira de Castelo Rodrigo e o segundo da Gafanha da Nazaré.
Exerceram a sua profissão em espírito de missão, muito próximos dos seus pacientes. No consultório e nas visitas domiciliárias, constantes naqueles primeiros tempos.
As consultas e os primeiros tratamentos, que não se coibiam de aplicar, tão certos estavam das dificuldades das pessoas, que bem conheciam, suscitaram muitas reações de respeito para com estes médicos.
Como era hábito nessa década, os médicos estabeleciam com as famílias uma avença ano após ano. Dinheiros não abundavam e a mais simples forma era receberem, em paga das consultas, produtos da terra.
Na época das colheitas, cada médico convidava uns amigos que percorriam a freguesia para a recolha do que as famílias ligadas por compromisso oral podiam dar. Depois, os clínicos, como é óbvio, teriam de vender os produtos recolhidos.
Paralelamente, davam consultas a não avençados e a funcionários e trabalhadores de instituições ou organizações, como a Casa dos Pescadores, a Aviação e empresas.
Quando afirmei atrás que exerciam um serviço médico próximo, quis sublinhar a dedicação com que viviam e sentiam os problemas das famílias e pessoas. Muitas vezes eram eles próprios que ofereciam medicamentos a gente mais pobre, aplicando injecções muito em voga naqueles tempos.
Estes médicos, que ainda moram indelevelmente na memória dos gafanhões mais idosos, os que com eles privaram como pacientes, ainda puseram em prática, no dia-a-dia, uma tarefa pedagógica muito importante, na luta contra a superstição e a ignorância. Importava educar para uma vida mais saudável, para uma alimentação mais correcta dentro do possível, para a vacinação e para o recurso às consultas e erradicação das mezinhas tão em voga na década de quarenta do século passado, como ainda hoje em certas famílias menos esclarecidas.
Fernando Martins
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