sábado, 19 de agosto de 2017

Hipóteses para o vocábulo Gafanha



Das várias hipóteses que poderiam estar na origem do vocábulo Gafanha, nenhuma até hoje reuniu consenso. Indicam-se algumas, na esperança de que os estudiosos possam chegar a acordo sobre a mais plausível:

1. Gadanha, alfaia agrícola para cortar o junco, teria dado Gafanha;
2. Gafar, imposto por passagem de barco ou ponte, poderia levar a Gafanha, lugar de pagar o gafar;
3. Gafar, vaso para transportar sal, conduziria a Gafanha. Havia sal nesta região;
4. Gafo, leproso, estaria na origem de Gafanha, terra de gafos. Esta hipótese não tem consistência, por não haver qualquer registo histórico que a sustente;
5. Gafanha teria vindo de Gafaria, mas também não há qualquer vestígio histórico que nos elucide. Aliás, nas épocas seguintes à idade média já havia leprosarias para cuidar dos gafos;
6. Gafenho ou Gafanho poderia sugerir Gafanha, terra gafada, gretada, como a pele dos leprosos. A terra gretada era mais visível na maré baixa, em cujas lamas se abriam fendas com o sol;
7. A ideia de uma mulher de Aveiro, com gafa, que para esta região teria sido desterrada não passa de lenda;
8. O Gafanho ou Gafanhoto, inseto saltão, daria Gafanha? É apenas mais uma hipótese. Não havia assim tanta verdura nas dunas que justificasse a existência abundante de gafanhotos;
9. Gafano, homem impedido por doença ou outras razões de sair deste espaço, estaria na base Gafânia, donde resultaria Gafanha. 
10. Admite-se que Gafanha teve origem em Gatanho (tojo-gatão), que existia em terras dunares;
11. Gafanha poderia ter nascido de Galafanha, vocábulo surgido a partir de Gala, terra alagada, mais Fânia, espécie de junco.

Descartamos à partida o que se refere a Gafaria, Gafos e Gafanha (mulher desterrada, ao jeito dos leprosos). Não se conhece registo escrito desta lenda ou história da mulher aveirense atirada para aqui. Não se compreende a teoria da Gafaria, porque, diz João Gonçalves Gaspar, como é que «a caridade cristã medieval ou pós-medieval, nesse tempo em que até havia instituições para tratarem os referidos doentes, poderia consentir que tais pessoas, tão carecidas de cuidados, (...) fossem desamparadas nos infindos areais incultos ou nos pântanos doentios e enclausuradas entre os canais da ria sem o mínimo conforto de viver?».1
Curiosamente, Galafanha aparece no “Diccionário Geographico Abbreviado das oito províncias dos Reinos de Portugal e Algarves”, de Pedro José Marques, com data de 1853, como zona do Concelho de Vagos, quando é suposto aceitar que antes disso já existia e se falava de Gafanha.

Posto isto, é justo afirmar que temos andado no encalço de alguns estudiosos: Padre Rezende, Joaquim da Silveira, José Leite de Vasconcelos, Gonçalves Viana, João Gonçalves Gaspar, Manuel Maria Carlos, Pinho Leal e outros, com pesquisas próprias em dicionários e leituras avulsas, sem nunca termos encontrado, garantidamente, a origem da palavra Gafanha que nos convencesse. E se de facto a origem esteve mesmo na Gadanha?

Fernando Martins

(1) GASPAR, João Gonçalves, Formação da Ria e povoamento da região de Aveiro, Boletim Cultural da Gafanha da Nazaré, nº 2

Fonte: “Ílhavo Terra Milenar”

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