domingo, 5 de maio de 2019

Gafanha do Carmo — Breves apontamentos

Igreja da Gafanha do Carmo

A Gafanha do Carmo insere-se, por direito próprio, na região das Gafanhas, sendo inicialmente conhecida por Gafanha dos Caseiros, por razões compreensíveis: predominavam naqueles areais os caseiros, cultivando terras de proprietários provavelmente abastados ou pouco dados aos trabalhos agrícolas. Sem mais delongas, admitimos que as origens dos caseiros eram as mesmas das demais Gafanhas. Contudo, sabe-se que as suas mais naturais ligações foram com os povos da vizinha Gafanha da Encarnação, mas oficialmente aquele lugar estava formalmente integrado na freguesia de São Salvador, Ílhavo, a partir do século XIX. Antes, todas as Gafanhas pertenciam a Vagos.
Aquando da criação da freguesia e depois paróquia da Gafanha da Encarnação, em 1926 e 1928, respetivamente, gerou-se um conflito relacionado com as delimitações, o que levou o Bispo de Coimbra a decidir integrar a Gafanha dos Caseiros ou do Carmo na paróquia da Gafanha da Encarnação, por decreto de 18 de julho de 1934. Mas se assim foi em relação à paróquia, tal não se verificou em relação à freguesia, pelo que os mortos continuaram a ser inumados no cemitério de Ílhavo, com todos os inconvenientes que daí advinham.
A comunidade da Gafanha do Carmo passou a paróquia, sendo desmembrada da Gafanha da Encarnação, em 6 de novembro de 1957, por decreto de D. João Evangelista, Arcebispo-Bispo de Aveiro. Nele, D. João confirma que atendeu à petição dos chefes de família, à concordância do pároco da Gafanha da Encarnação e aos compromissos assumidos pela Comissão Promotora, quanto à côngrua a atribuir ao pároco, às obras a realizar na capela do lugar e à aquisição da residência paroquial. Decreta ainda, para além dos limites com as freguesias vizinhas, que a nova paróquia ficará integrada no Arciprestado de Ílhavo. O primeiro pároco foi o Padre José Soares Lourenço. Nessa altura, havia uma capela de pequenas dimensões, sem valor arquitetónico, que, por estar demasiado junto à via pública, foi destruída, construindo-se a atual igreja paroquial, iniciando-se as obras em 2 de junho de 1969. Foi benzida e inaugurada em 17 de novembro de 1974, por D. Manuel de Almeida Trindade.
A freguesia foi criada por Decreto-Lei n.º 43 165, com data de 17 de setembro de 1960, tendo em consideração a petição da maioria dos chefes de família do lugar da Gafanha do Carmo, havendo 297 fogos e 1155 habitantes. A Junta de Freguesia foi constituída em 26 de dezembro do mesmo ano, presidida por António Maria Louro Domingues, que, no ato de posse, proclamou: «A Junta foi legalmente constituída e é com verdadeiro júbilo, e emocionado, que tenho a honra de presidir à sua primeira reunião.»
A Gafanha do Carmo tem sido, fundamentalmente, uma povoação agrícola, mas houve sempre outras atividade. Muitos homens foram marnotos e moços de salinas, pescadores do bacalhau e da ria, trabalhadores nas companhas de pesca e na construção civil, mas ainda no comércio e indústrias locais. A emigração também foi uma opção constante para o Brasil e Estados Unidos, Venezuela e Canadá, França e Alemanha. As mulheres, contudo, as que não emigraram, laboraram na lavoura, nas secas do bacalhau da Gafanha da Nazaré, enquanto outras vendiam produtos agrícolas na Costa Nova, na época balnear, e nas feiras próximas, em especial na da Vista Alegre.

Fernando Martins

1 comentário:

José Cardoso disse...

Gostei desta publicação, se não me falha a memoria, ou porque já li em algum lado tambem foi conhecida por Gafanha dos Cardosos.
Bom Trabalho
At. JOSÉ CARDOSO

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