Avançar para o conteúdo principal

O ANO EM QUE O MEU PAI NASCEU

TEXTO DE JOÃO MARÇAL


João Maria Marçal (1912-1988)

​Quando o meu pai nasceu (7 de Maio de 1912) a terra onde viu pela primeira vez a luz do dia era freguesia havia menos de dois anos. Já muito tinha crescido o que a levou a esse facto. Não foi em vão todo o trabalho dos seus antepassados (Rochas, Patas, Varetas, Rodrigues e Marçais) e outras famílias como a dele que aqui labutaram criando a Gafanha da Nazaré.​
​Não havia electricidade e as estradas eram poucas e ensaibradas: a primeira a ser construída atravessava a Gafanha da Nazaré desde próximo dos Estaleiros Navais até à Barra. Fazia parte do plano de ligação de Aveiro à Costa Nova. A segunda ligava a Gafanha de Aquém à Chave e era muito recente. O resto eram caminhos de carroça que em alguns casos funcionavam como valas em épocas de muita chuva. Estradas florestais, nem vê-las. No entanto já se zelava pela floresta onde foram empregues muitos gafanhões no plantio de pinhal e abertura e manutenção de valas de escoamento da água da chuva.

Os trabalhos resumiam-se à Agricultura. Pesca do Bacalhau. Salinas e Construção Naval. No entanto havia progresso em curso o que espantava muita gente pela má qualidade agrícola dos terrenos à partida.
​Foi inaugurada a nova Igreja Matriz da Gafanha da Nazaré, implantada no meio da freguesia apesar de não ser aí a área mais povoada.
​Em Aveiro, no Convento de Jesus é criado o Museu de Aveiro por portaria de 7 de Junho.​
​Neste ano (1912), Portugal participou pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Verão em Estocolmo, ficando com a triste recordação da morte do maratonista José Lázaro por desidratação.
​Na Galiza um grupo de 200 monárquicos portugueses comandados por Paiva Couceiro continuava à espera de oportunidade para combater a república recentemente instalada no nosso país. Esta permanência estava a causar descontentamento em Espanha uma vez que a república havia sido aceite internacionalmente e exigia a deportação dos monárquicos.
​Em Janeiro dão-se os primeiros conflitos grevistas no Alentejo onde a Cavalaria é mandada avançar contra os rurais de Beja daí resultando um morto e vários feridos. Seguiu-se a primeira grande greve geral de âmbito nacional.
​Portugal estava então a braços com uma epidemia de tifo que alastrava sobretudo nos meios urbanos. O auge estendeu-se de Março a Maio.
​Nasceu em Saint-Jean-de-Luz (França), Maria Adelaide de Bragança, infanta de Portugal e tia do actual Duque de Bragança. Chegou aos cem anos de idade.
​Deu-se o naufrágio do transatlântico Titanic durante a sua viagem inaugural. Possuía 29 caldeiras de vapor, 2 máquinas a vapor alternativas e 1 turbina a vapor para movimentar 3 hélices que lhe conferiam uma velocidade de 23 nós. Na Gafanha da Nazaré e noutros portos do país continuavam a existir navios de propulsão só à vela.
​Nasceu Werner von Braun responsável pelo desenvolvimento dos mísseis alemães usados na 2ª Grande Guerra e mais tarde já nos EU pelos foguetes espaciais entre os quais o Saturno V que permitiu a 1ª viagem tripulada à Lua em 1969.
​Enfim, 1912 foi fértil em acontecimentos, mas para mim o mais importante foi o nascimento do meu pai em 7 de Maio, uma terça-feira.


- Posted using BlogPress from my iPad

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Gafanha em "Recordações de Aveiro"

Foto da Família Ribau, cedida pelo Ângelo Ribau António Gomes da Rocha Madail escreveu na revista “Aveiro e o seu Distrito”, n.º 2 de 1966, um artigo com o título de “Impressões de Aveiro recolhidas em 1871».   Cita, em determinada altura, “Recordações de Aveiro”, de Guerra Leal, que aqui transcrevo: (…)  «No seguimento d'esta estrada ha uma ponte de um só arco, por baixo da qual atravessa o canal que vai a Ilhavo, Vista Alegre, Vagos, etc., e ha tambem a ponte denominada das Cambeias, proxima à Gafanha.  É curiosa e de data pouco remota a historia d'esta povoação original, que occupa uma pequena peninsula. Era tudo areal quando das partes de Mira para alli vieram os fundadores d' aquelIa colonia agricola, que á força de trabalho e perseverança conseguiu, com o lodo e moliço da ria, transformar uma grande parte do areal em terreno productivo. Foi crescendo a população, que já hoje conta uns 200 fogos, e o que fôra esteril areal pouco a pouco se transformou em fertil e

Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré

Alguns subsídios para a sua história Em 1888,  inicia-se a sementeira do penisco no pinhal velho, terminando, na área da atual Gafanha da Nazaré, em 1910. Somente em 1939 ultrapassou o sítio da capela de Nossa Senhora da Boa Hora, ficando a Mata da Gafanha posteriormente ligada à Mata de Mira. (MG) A Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré foi inaugurada numa segunda-feira, 8 de dezembro de 1958, Dia da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal. Contudo, o processo desenvolvido até àquela data foi demorado e complexo. Aliás, a sua existência legal data de 16 de novembro de 1936, decreto-lei 27 207. Os estudos do terreno foram iniciados pela Junta de Colonização Interna em 1937, onde se salientaram as «condições especiais de localização, vias de comunicação e características agrológicas», como se lê em “O Ilhavense”, que relata o dia festivo da inauguração. O projeto foi elaborado em 1942 e, após derrube da mata em 1947, começaram as obras no ano seguinte. Terraplanagens,

1.º Batizado

No livro dos assentos dos batizados realizados na Gafanha da Nazaré, obviamente depois da criação da paróquia, consta, como n.º 1, o nome de Maria, sem qualquer outra anotação no corpo da primeira página. Porém, na margem esquerda, debaixo do nome referido, tem a informação de que faleceu a 28-11-1910. Nada mais se sabe. O que se sabe e foi dado por adquirido é que o primeiro batizado, celebrado pelo nosso primeiro prior, Pe. João Ferreira Sardo, no dia 11 de setembro de 1910, foi Alexandrina Cordeiro. Admitimos que o nosso primeiro prior tomou posse como pároco no dia 10 de setembro de 1910, data que o Pe. João Vieira Rezende terá considerado como o da institucionalização da paróquia, criada por decreto do Bispo de Coimbra em 31 de agosto do referido ano. Diz assim o assento: «Na Capella da Cale da Villa, deste logar da Gafanha e freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, do mesmo logar servindo provisoriamente de Egreja parochial da freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, concelho d’Ilh